Artigo n’ O Jornal de Natal

O sequestro de um partido. Qual o resgate?

MIRANDA SÁ, jornalista (mirandasa@uol.com.br)

Fatos cada vez mais indecorosos chegam-nos diariamente, envergonhando-nos e revoltando-nos. A gente se pergunta o que foi feito dos princípios republicanos e da ética, temendo pela frágil democracia vigente.

Frágil sim, porque o Governo-Lula, inescrupuloso, compra consciências, organizações civis e sua própria autoridade. O Poder Legislativo, além de instável é cooptado por cargos, verbas e outras benesses, submetendo-se aos caprichos do Executivo que desautoriza líderes, manda apressar votações e aprovar medidas provisórias que não preenchem os requisitos.

O Poder Judiciário está sob a crítica da opinião pública após o julgamento do caso Francenildo x Palocci e a censura baixada contra o jornal O Estado de São Paulo. Os cidadãos comuns se colocam na pele do caseiro, violentado nos seus direitos e obrigado a assistir os seus agressores gozando de injusta impunidade. E a violência antidemocrática contra o Estadão é uma ameaça às liberdades constitucionais. 

As personalidades que representam o poder teem comportamentos esquisitos e, por condenáveis, são condenados pela opinião pública.  As situações mais recentes são detestáveis. Foi nojento o Brasil assistir a ministra Dilma Rousseff ser abençoada pelo casal de “bispos” da Igreja Renascer, mal-saídos de uma prisão nos EUA, condenados por delitos praticados.

Outro acontecimento envolve o vice-presidente José Alencar um cidadão massacrado por teimosa enfermidade, mineiro e bonachão, deixa-nos tristes por vê-lo envolvido em coisas que nunca foram de sua natureza, como sua presença na FIESP traficando a criação de novo imposto do cheque contra o povo brasileiro, a CPMF rebatizada de CSS. 

Mas nada disso, porém se compara ao crime hediondo do sequestro do Partido dos Trabalhadores pela ala fisiológica do PMDB acumpliciada com um traidor, o presidente Lula.  E o resgate é doloroso

Como o questionamento é um dever do jornalista queremos saber porque o lulismo se  encarnou em Sarney e leva o partido a se modelar com aqueles picaretas que tanto condenava. Uma versão fala de governabilidade, mas governabilidade não quer dizer nada para um Presidente da República montado numa imensa popularidade.

Dizem também que Lula – que comanda a própria sucessão – está de olho no apoio peemedebista a Dilma Rousseff nas eleições do ano que entra. Como Lula não é ingênuo, os pelegos que o cercam dão nó em pingo d’ água e sua bancada parlamentar não anda, voa, é conversa prá boi dormir essa aliança com o PMDB em 2010.

Primeiro, o PMDB não  é um, mas dois partidos de peso equivalente; e depois a história eleitoral do país desengana a força das alianças eleitorais a nível nacional. Nem o PTB com o PSD, nem a UDN com o PL se deram bem em coligações. E pós-golpe militar, para maquiar uma legalidade parlamentar, Arena e MDB tiveram de criar sub-legendas para subsistir.

Há uma posição adotada por Ulysses Guimarães – obviamente  pouco comentada – que traduz o que é esse colosso informe que é o PMDB. Ele dizia que o partido elegeria quem chegasse nos rincões com uma mala e montasse palanque. Ele sofreu na própria pele não carregar malas…

Na verdade, o PMDB só  alcançou o poder federal quando Itamar Franco substituiu o impichado Collor de Mello. Essa, sim, uma herança maldita pela inflação galopante e o descrédito popular. No Governo Itamar o PMDB rachou e daí nasceu o PSDB – que elegeu Fernando Henrique. Mas o PMDB manteve-se como o maior partido do Brasil, e nessa condição cristianizou Orestes Quércia.

Pelo visto, não existe no mundo uma seguradora que avalize o apoio do PMDB em 2010 a qualquer candidato. Não adianta dar honrarias, abrir os cofres, dar cargos ministeriais e afins. Não há quem garanta os votos peemedebistas.

Assim, mais uma vez, levantamos uma questão: como não inventei nada, e os políticos estão carecas de saber dessas coisas, qual a razão do empenho desmedido de Lula a Sarney? Não tem essa de governabilidade, a palavra de Sarney é um risco n’água, e até a CPI da Petrobras, esse fantasma que ronda o Palácio Planalto, está sob controle. 

 Há uma hipótese que leva às páginas policiais dos jornais. O sequestro de um partido, cominado com pessoas lá de dentro e o resgate  que está sendo pago, a vergonha dos velhos militantes e a decepção em ver o có-autor do crime, o seu líder que já não lidera nada, refém dos seus parceiros sequestradores.