Cabeça de Juiz
MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)
A sabedoria do povo nordestino criou um provérbio que vigorou até o aparecimento das urnas eletrônicas. Rezava: “Não se pode saber o que vai sair da cabeça de juiz, das urnas eleitorais e da bunda de criança”.
Hoje, com as urnas eletrônicas sujeitas a software usadas no Brasil pela facilidade em fraudá-las, o resultado de uma eleição é previsível; enquanto da bunda de criança só depende do leite materno. Da cabeça de juiz, há advogados espertos que podem prever…
Assim, com as urnas de fora, crianças e juízes deveriam ambos usar fraldas; naquelas, no lugar adequado para prevenir diarréias, e nestes, na cabeça, para evitar que o cérebro liquefaça o Direito…
Por fraqueza moral e intelectual, há exemplos de juízes que surfam na prevaricação e muitos dos casos são influenciados pelo desvirtuamento ético reinante na República dos Pelegos. De Lalau para cá, assistimos a comportamentos reprováveis e sentenças suspeitas que nos levam a Rui Barbosa.
Escreveu o Mestre: “Medo, venalidade, paixão partidária, respeito pessoal, subserviência, espírito conservador, interpretação restritiva, razão de estado, interesse supremo, como quer que chamem prevaricação judiciária, não escaparás ao ferrete de Pilatos! O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde.”
Vale perguntar: Salvar-se-ão os juízes que soltaram os agentes da violência que mataram o cinegrafista da Band Santiago Ilídio Andrade? Este profissional foi morto por vândalos quando trabalhava cobrindo uma manifestação no Rio de Janeiro.
Discute-se juridicamente se o ato de lançar o rojão letal sobre a multidão deve ser considerado homicídio doloso ou culposo; mas será sempre homicídio. Ao dirigir o foguete em direção à concentração, há presunção de que o explosivo atingiria alguém.
…E foi o que fizeram os terroristas infiltrados nos atos democráticos. Mataram e tiveram o desplante de se comunicar com os parceiros nas redes sociais dizendo que o artefato serviria para confrontar com a polícia…
Para eles, se a vítima não fosse o jornalista, mas um policial militar estava justificado; também no âmbito político surgiram opiniões (com sectarismo) de que o delito teria ocorrido por falta de cuidado ou imperícia dos extremistas Caio Silva de Souza e Fábio Raposo. O vídeo (de cinegrafista russo) mostra que nada disso é verdade: vê-se claramente a intenção deles.
Analisando a decisão baixada pela 8ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio, vê-se a fraqueza da decisão: foram duas cabeças de juízes contra uma, o que não convence ninguém. Esses três impediram o júri popular de julgar os assassinos. Esta sentença que livrou os assassinos de Santiago Ilídio Andrade lembra as ilegalidades cometidas na mais dolorosa audiência da (In)Justiça, que a História capitulou e se encontra na página brilhante de Rui:
“No julgamento instituído contra Jesus, desde a prisão, uma hora talvez antes da meia-noite de quinta-feira, tudo quanto se fez até ao primeiro alvorecer da sexta-feira subseqüente, foi tumultuário, extrajudicial, atentatório aos preceitos hebraicos. A terceira fase, a inquirição perante o Sinedrim, foi o primeiro simulacro de forma judicial, o primeiro ato judicatório, que apresentou alguma aparência de legalidade, porque ao menos se praticou de dia”.
Foi de dia e da cabeça de juízes que se perpetrou a crucificação do Cristo.
Muito adequada sua colocação mas lembrei que meu pai comentava quando eu ainda era criança (tenho quase 80 anos) que no Rio de Janeiro ninguém vendia fiado pra Rui Barbosa pq ele tinha fama de não pagar suas dividas…
Excelente texto , parabéns !
Infelizmente, como se esperar justiça nesse país devasso, no qual até o judiciário se vendeu aos corruptores ?
Muito oportuna sua comparação c os juízes q julgaram JESUS! Vc disse uma grande verdade na calada da noite, pessoas más confabulam contra o bem…
Excelente artigo espero que os juizes se inspire na saberia dos grandes jurista e aplique a senteça correta.meus parabens mais uma vez.
E eu aqui divulgando o julgamento de quem atirou no meu amigo Repórter Investigativo/jornalista/advogado Rodrigo Neto, daí uns dias em outro amigo, o Freelance Carvalho porque tinha descoberto, foi mais rápido que a polícia. O que guiava a moto pegou apenas 12 anos, era policial civil. Como será a caneta do juiz para o executor? Leve como no outro julgamento? Meu pai dizia: cabeça d juiz é assim: – cada cabeça uma sentença.
Imagino que ficaria desesperado caso precisasse da Justiça!
LUTO, LUTO E LUTO, MAS A APATIA ME CONSOME. É COMO NADAR CONTRA A CORRENTEZA.