março 2, 2014
Crônicas de Carnaval
MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br )
- “Quanto riso, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão” – Sinto-me um deles, impotente para por nos trilhos a minha Pátria na direção do futuro que merece, com ética, democracia, desenvolvimento, honestidade, justiça e paz.
- Os dias de carnaval trazem novos ditos e novas modas. Neste, que assistimos não se vê mais a “Maria Sapatão”; passam por mim, às dezenas, as marias bigodões…
- Admiro-me com a criatividade do povo brasileiro; e o carioca, em particular, é impressionante. Mas senti falta de críticas políticas, tão comuns na minha mocidade. Apenas, excepcionalmente, máscara e capa preta de Joaquim Barbosa, com dizeres sobre a corrupção reinante no país.
- Sentei-me à mesa de calçada de um bar, olhando os passantes. De ouvidos atentos, ouvi confissões afetuosas entre amigos mal saídos do armário… E atendi a um bloco de moças “De Turbante”, vendendo sanduíches naturais…
- Entre chopes e tira-gostos ri dos muitos obesos, gordinhos e gordinhas, preocupados em morder imensos ‘joelhos’ de boteco com refrigerantes industriais, invés de cantar ou sambar.
- Observador, dou razão à filosofia de Joãozinho Trinta, afirmando que “Quem gosta de pobreza é intelectual”. Uma enormidade de proles usa coroas de reis, rainhas e princesas… Um luxo!
- Ao lado da esfuziante alegria de muitos, emocionei-me com o semblante triste de outros tantos, principalmente pessoas mais velhas, que já contornaram o Cabo da Boa Esperança…
- Registrei também a melancolia de dezenas de “minnies” em grupo ou solitárias, sem ter a companhia dos seus “mickey mouses”. E estas fantasias da Disneylândia, levaram-me à recordação e à pergunta: Onde se escondem os pierrôs às colombinas as odaliscas as jardineiras os piratas as havaianas os mosqueteiros? Só na minha memória?
- Desfilaram muitas alas jovens. Chamou-me a atenção um grande número de bruxas que, sem sacanagem, lembraram-me as feiosas e ensimesmadas ministras da Rainha da Sucata…
- Nas ruas, como para se exibir, passaram ambulâncias do Samu com sirenes altíssimas. Pareceu-me que faziam campanha eleitoral…
- Ainda vigora o charme e a graça dos “sinalzinhos” exibidos por brotinhos em flor… Estão no rosto, na barriga, nas pernas e, graças à modernidade, entrevistos no relance do glúteo…
- Invadiu-me uma saudade imensa dos bailes do meu tempo… Baile das Atrizes, dos Artistas, da Balança, do Cartola. E a folia no Automóvel Clube, no Iate, no Sindicato dos Comerciários (onde, diziam, “as calcinhas voavam”). Entrei na vida carnavalesca no High Life e fui entusiasta do “Pijama para Dois” no Hotel Colonial.
- Falar em baile soube que na Urca cobravam “de contrabando” R$ 500 pelo ingresso… E, segundo o mesmo comentário, não era do “padrão FIFA”.
- Não encontrei mais as torcidas fervorosas pelas escolas de samba, que estimulavam discussões e até brigas! Hoje aquilo é um show para turistas e novos ricos verem.
- Falei que me entristeceu ver poucas críticas políticas. Mas uma me entusiasmou, e poderia ser a única para me entusiasmar: Uma placa trazia o mapa do Brasil, em verde amarelo, como se fora a vela de um barco. E o pessoal cantava “Se essa porra não virar, olé, olé, olá, eu chego lá!”
Excelente texto. Tenho saudades de quando podíamos sair tranquilamente. Cair na folia, sem ter o desprazer de ver barbudo beijando barbudo e bigoduda beijando bigoduda.
Eu adoro crônicas.Óbvio que de pessoas que escrevem bem, que em cada linha ilustram sua inteligência, sabedoria, sagacidade, ironia e melancolia…E o que considero humildemente falando, o tão importante sentimento de vivenciarmos tudo o que o autor narrou. Sentir o que ele escreveu, viver cada palavra escrita como se fosse minha!
Simplesmente, maravilhosa! Um abraço fraterno, Miranda Sá.
como me lembro de tudo isso… saudades de me ver rapazola na Pres. Vargas assistindo o desfile da Império Serrano (os 4 bailes da historia do Rio) em 65…
Senti cada trecho como se estivesse vivenciando cada momento.Parabéns!
Bravo!Palma muitas palmas pra vc Miranda se assim o posso chamar.Vc me levou aos velhos tempos em que o carnaval era carnaval c/suas marchinhas c/muitos confetes etc.Grande abraco.