Artigo de Miranda Sá

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Barack Obama, Juscelino Kubitscheck, e a elegância

MIRANDA SÁ, jornalista (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Nos Estados Unidos, colunistas escrevem, repórteres que cobrem a Casa Branca comentam, e o mundo da moda fuxica que o presidente Barack Obama aparece nas solenidades oficiais sempre com o mesmo terno.

Não deve ser verdade. Ele deve ter muitas roupas iguais, dando a impressão de ser uma só. Já aconteceu comigo, que passei anos usando sempre jeans e camisas Hering, dando a impressão de serem sempre as mesmas.

A vestimenta de Obama não é relevante para o seu papel no mundo, mas a sua aparência cativante em mútua relação com o indiscutível carisma é, sem dúvida, uma grande fração no todo da sua popularidade.

Tivemos no Brasil uma correlação com a elegância de Obama, o presidente Juscelino Kubitscheck, sempre chique, vestisse o que vestisse. Acho que essa graça natural é produto do esqueleto…

A História (ou a lenda) fala de Lorde Brumel cujo garbo é um modelo para os homens requintados no vestir. Meu pai contava que Oscar Wilde, vaidoso na arte de se apresentar socialmente, nunca vestia uma roupa nova; passava-a primeiro a um criado para usá-la após a primeira lavagem.

Se é verdade ou não, nunca procurei comprovar, mas tem uma lógica, porque o vestuário armado fica feio, engomado, como dizemos no Nordeste. A roupa deve ter um caimento natural adaptando-se ao corpo, como ocorre com Obama.

As roupas do primeiro afro-americano a chegar à presidência da maior nação do mundo, terno, camisa e gravata são simples, não são notadas como graciosas, mas entram em harmonia com a sua oratória que, num crescendo agradável, seduzem as platéias.

Foi assim que assistimos no Teatro Municipal do Rio, quando Obama cativou a audiência com um discurso medíocre. Era ouvido em silêncio interrompido por explosões de aplausos sem dizer absolutamente nada de importante.

A visita histórica do Presidente dos Estados Unidos ao Brasil é um capítulo interessante da História Mundial recente, pela contradição entre o discurso e o comportamento. Ele falou de paz, e montou um gabinete de ação militar, declarando guerra à Líbia; realçou a importância do Brasil, e deixou o discurso político para fazer no Chile.

Enfim, na visitação cortês dos obamas, assistimos a um desfile de modas. A atração formal e a composição de Michele, cuja apresentação encantou homens e mulheres; a exibição carinhosa de uma ordem familiar comum à classe média norte-americana; e o sorriso confiante do casal que impera sobre o planeta.

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