Artigo de Miranda Sá
Lançar Dilma para perder foi de propósito
MIRANDA SÁ, jornalista (mirandasa@uol.com.br)
Não dá para saber com certeza se a idéia saiu da cabeça de Lula ou foi alopração de algum hierarca da nomenclatura petista. Há quem diga que foi Zé Dirceu, outro diz que foi Franklin Martins e mais outro fala em Marco Aurélio Garcia; da minha parte, sou capaz de apostar que foi o próprio Presidente quem traçou a estratégia de lançar Dilma para perder a eleição e sair candidato daqui a quatro anos.
Estamos assistindo o desenrolar do episódio patético teatralizado pela guerrilheira da mentira e da fraude. A fraude é fazê-la mãe dos PACs, programas midiáticos com muita teoria e pouca prática; e a mentira se viu, entre outras, no vergonhoso caso de Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal.
Quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, registra que além da fragilidade política da candidata, a presença de Lula junto é imprescindível, pois sem ele Dilma quando abre a boca deixa escapar uma cachoeira de besteiras.
Por indução, não é difícil projetar-se que Dilma passará mais da metade da campanha sozinha, e fatalmente construirá a própria derrota. Na história política deste país não temos o exemplo de um candidato capaz de desagradar seus eleitores como ela fez, ferindo a honra de centenas de perseguidos políticos do regime militar, pensando que iria atingir o adversário.
Não sei como reagiram os partidos de esquerda, transformados em tendências do PT, porque deles não saiu um pio; mas muitos democratas, socialistas e comunistas repudiaram as declarações da candidata, dizendo que foi presa e torturada pela ditadura militar, mas não fugiu, referindo-se aos que se exilaram por causa das perseguições sofridas.
José Serra, como muitos exilados da sua geração, foi um dos que deixaram o país, refugiando-se no Chile. Como era de se esperar, ele não gostou da insinuação da petista e não ficou isolado no seu protesto. As reclamações vieram de todos os segmentos sociais inclusive de militantes do PT.
Além desse besteirol, tivemos a farsa no túmulo de Tancredo Neves, a visita ao Ceará sem convidar Ciro Gomes e o assentimento à declaração de Lula comparando presos de consciência com criminosos comuns.
Exemplos como estes mostram que não será através de Dilma que Lula se reelegerá montado na popularidade auferida em pesquisas. Ele diz que esta eleição será a mais fácil de todas que participou. Mente, como sempre, para enganar o povo. Ninguém melhor do que Sua Excelência sabe que Dilma não passa de um tigre de papel.
A verdade é que se a legislação vigente for cumprida e as eleições transcorrerem sem fraudes, a derrota de Dilma é inexorável. E a desgraça da candidata oficial será a rejeição da falsidade que representa, e também o repúdio aos pelegos no poder, à sua prepotência e arrogância, aos privilégios partidários e à corrupção dos “companheiros”.
Essa projeção se vê nas reações internas do PT e da chamada “base aliada”. O campo eleitoral mais importante é Minas, e lá, petistas históricos repelem os acordos de Lula e a subserviente cúpula partidária. O ex-ministro Patrus Ananias criticou as interferências dos dirigentes nacionais do partido no estado. E o diretório mineiro mantém – contra a vontade de Lula – as prévias para a escolha do seu pré-candidato ao governo.
Entre os “aliados” está clara a dissidência de Ciro Gomes, ex-ministro do PT-governo e fiel seguidor de Lula. Ciro foi tão engabelado, enrolado com falsas perspectivas, que se revoltou e agora exige do seu partido, o PSB, um aval para ser pré-candidato à Presidência.
Esta cobrança de Ciro é um atestado de rompimento com o sistema lulo-petista. Ele lembra os princípios socialistas de “audácia e idealismo” para recusar sair a reboque da candidatura Dilma, por considerar que a polarização entre o PT e o PSDB é “uma briga provinciana dos políticos de São Paulo”.
Se o nome de Ciro for lançado, este racha prejudicará Dilma arrancando-lhe mais de 20% das atuais adesões, e isto prenuncia que se houver 2º turno, será dura a concorrência entre Ciro, Dilma e Marina Silva para enfrentar Serra. Aí se vê o propósito de Lula para perder esta eleição, de olho na próxima…
Perfeita a análise. Todos por aqui leram e aplaudiram a lúcida previsão. Congratulações