Poesia

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CHEGANDO EM CASA


Chegando em casa

com a alma amarfanhada

e escura

das refregas burocráticas

leio sobre a mesa

um bilhete que dizia:

– hoje 22 de agosto de 1994

meu marido perdeu, deste terraço:

mais um pôr de sol no Dois Irmãos

o canto de um bem-te-vi

e uma orquídea que entardecia

sobre o mar.


Affonso Romano de Santanna


“Às vezes, você perde vários poemas, porque sente uma frase, sente algo murmurado no seu espírito e não presta atenção porque está ocupado com os ruídos da vida. É necessário apurar o seu ouvido, ter a humildade de anotar a coisa mesmo quando ela não é muito boa. Pode, de repente, um texto meio nebuloso, meio esquisito, meio simplório demais, dar raiz a um poema posteriormente interessante.”

Affonso Romano de Sant’Anna é um caso raro de artista e intelectual que une a palavra à ação. Com uma produção diversificada e consistente, pensa o Brasil e a cultura do seu tempo, e se destaca como teórico, como poeta, como cronista, como professor, como administrador cultural e como jornalista.

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