Tudo nos conformes
Tudo se passou conforme o script. Sarney venceu no Senado, e Temer venceu na Câmara. O PMDB fez barba, cabelo e bigode – bigode de Sarney.
Mas se formos analisar um pouco mais de perto os resultados, poderemos chegar à seguinte conclusão: Temer ganhou mais e melhor. Sarney ganhou menos e pior.
Explico: Sarney declarou inúmeras vezes que só aceitaria ser presidente do Senado como candidato único, isto é, ungido presidente, praticamente carregado nos ombros dos senadores até a cadeira de presidente.
Não foi. Teve que se submeter à humilhação de disputar com Tião Vianna.
A tropa de choque de Sarney (Renan e seus blue caps) afirmava, ainda ontem à noite, que José Sarney teria 55 votos. Não teve. Alcançou apenas 49. O suficiente para ser eleito, mas passou raspando.
A vitória eleitoral teve um travo amargo de derrota política.
Já Michel Temer conseguiu ser eleito no primeiro turno, o que na Câmara é coisa à beça.
Os 15 partidos que se reuniram em torno de Temer possuem, no total, 422 deputados. No início da semana passada, Temer contava com 400 votos. Depois com 340. Depois com 300.
O fantasma do segundo turno começava a aparecer atrás das cortinas. A tal ponto, que foi preciso alterar as regras da eleição para garantir que não haveria surpresas. Ontem decidiu-se que a vitória em primeiro turno se daria, não pela maioria absoluta dos deputados, mas pela maioria absoluta dos votos dos presentes em plenário.
O resultado mostrou que o tapetão era desnecessário. Temer obteve 304 votos, 99 a mais do que a soma de seus dois adversários, Ciro Nogueira (129) e Aldo Rebelo (76).
Mas nada disso importava para Renan Calheiros. Vitorioso, postou-se ao lado de Sarney no beija-mão que se seguiu à proclamação do resultado no Senado, e recebeu os cumprimentos dos senadores.
Com poucos ou muitos votos, José Sarney estava eleito presidente do Senado, e ele, Renan Calheiros, estava de volta ao poder.
Tudo conforme o script.
Fonte: Lúcia Hippolito
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