Artigo para o JORNAL DE NATAL. Nas bancas

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Vamos botar as barbas de molho?

MIRANDA SÁ, jornalista
E-mail: mirandasa@uol.com.br

Como sabe a minha meia dúzia de três ou quatro leitores, não sou economista. Até tentei, mas em 1964 fui expulso da Faculdade de Ciências Econômicas da UFPb com certo orgulho, pois o meu diretor, Kleber Cruz, e o magnífico reitor Mário Moacyr Porto, também foram punidos pelos atos institucionais baixados pelo regime de exceção. Ambos eram homens admiráveis.

Por força da minha profissão fiz o que era obrigatório para os jornalistas: estudei as chamadas humanidades, onde se inclui a Economia. Já trazia do ginásio – hoje ensino médio – uma boa base de História, Geografia, um pouco de Filosofia, além do Português e do Latim.

Cumpri o princípio de que ao bom jornalista exige-se o conhecimento do idioma e uma sólida cultura geral. Sei que isso pouco importa nos dias de hoje, no meu tempo, porém, a concorrência era a nata da inteligência brasileira.

Assim, com mais de 50 anos de imprensa escrita, falada e televisiva, julgo-me em condição de dar palpites sobre a conjuntura econômica brasileira. Até como consumidor estou credenciado para isto.

Ao pedir que as cabeças pensantes botem as barbas de molho, parto de um pressentimento nascido com a crise que corrói o sistema norte-americano a partir dos problemas no mercado imobiliário e com os títulos relacionados a ele.

Quem acompanha o noticiário da imprensa – e eu faço isso diariamente – sabe que nossos poderosos vizinhos do norte vivem uma situação que abala grandes bancos, com a queda dos lucros ou prejuízos de toda ordem.

Aqui, basta olhar em volta e ver que dois bens valiosos estão sendo comprados na mesma base de créditos que ocasionou o problema nos EUA. Compra-se carro por telefone e a aquisição de imóveis para as classes média média, e média alta é abundantemente facilitada nas carteiras específicas dos bancos oficiais e privados.

A inadimplência nesses setores ainda não é significativa, como aparece nos empréstimos pessoais, cartões de crédito e cheques especiais. Entretanto não vai durar muito para as dívidas crescentes alcançarem percentuais preocupantes.

Vamos pensar também no caso da falta de cumprimento das obrigações contratuais manifestar-se num campo minado pela corrupção endêmica e epidêmica que domina a administração pública.

Pior ainda, além da perversão ética, o governo só vê no aumento de impostos e criação de contribuições e taxas a única resposta para o equilíbrio das contas públicas.

Neste panorama, temos também a inflação importada do sistema globalizado, afetado pela crise norte-americana. E o antivírus encontrado pela área econômica do PT-governo é o aumento dos juros básicos.

Nos EUA, os economistas e técnicos a serviço dos bancos e financeiras fizeram uma pajelança econométrica para amparar as agências financiadoras, garantindo as hipotecas: mas os observadores europeus não crêem na possibilidade de cobrir um rombo de US$ 15 trilhões, mais que o PIB do país.

Enquanto isso, aqui ninguém pensa em prevenir o estouro. Vamos olhar em torno de nós e ver centenas e talvez milhares de apartamentos construídos em Natal, porque é aqui que vivemos. Depois, é só avaliar o real poder monetário dos seus demandantes.

Não custa ir, também, até as feiras de carros novos e usados, financiados às escâncaras com um mínimo de garantia além da assinatura do comprador. E ter medo do que possa ocorrer com os fiados…

Quando as obrigações e títulos de crédito se acumular nas financiadoras e nos bancos, o que ocorrerá? A inaptidão e a incompetência reinantes no PT-governo responderão à altura?

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