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Blasfêmias modernas

Na Idade Média, as blasfêmias costumavam ser punidas com a fogueira. Empregou o nome de Deus em vão, invocou o Capeta, xingou um santo que deixou de atender a um pedido e já se sabia: fogo no indigitado personagem. Hoje, as blasfêmias despertam no máximo estudos sociológicos – e é muito bom que seja assim. Para o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Marco Aurélio Mello, pregar o terceiro mandato é blasfêmia.

Já o presidente Lula, mais comedido, chama a proposta de atraso. Não poderia ser diferente, porque o terceiro mandato, por enquanto, assemelha-se às bruxas: não acreditamos nelas, mas que existem, existem.

Depois de muitos alertas, a idéia emergiu através de dois deputados governistas. Ficará dormitando, mas crescendo, como se fosse algo impertinente, desimportante e que não diz respeito à maioria. Mais ou menos como o pivete encontrado nos semáforos esmolando uns trocados. Até a hora em que mete a cara e uma faca pelo vidro do carro e exige a carteira e tudo o mais.

Carlos Chagas, jornalista

OPINIÃO: Abrindo aspas para Carlos Chagas, peço atenção para o alerta que ele faz no finalzinho do texto, citando a quebra do para-brisas. Lembra Maurice Druon que na trilogia As Grandes Famílias descrevendo o temor de um garoto burguês que, ao sair da escola num carrão com motorista fardado, assistia as brincadeiras dos meninos de rua, que faziam careta e gestos de ameaça de jogar pedras. “No seu inconsciente”, escreve Druon, “ele sabia que uma pedra bem atirada quebraria o vidro que separava seu mundo da realidade, e era assim que começavam as revoluções…” MIRANDA SÁ

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