Arquivo do mês: julho 2025
DA FILOSOFIA
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Jiddu Krishnamurti, teosofista e líder espiritual contemporâneo, abria suas aulas sobre revolução psicológica, com o seguinte pensamento: – “Não há professor, não há aluno, não há líder, não há guru, não há mestre, não há salvador. Você mesmo é o professor, o aluno, o mestre, o guru, o líder, você é tudo.”
Assim se faz um Filósofo, que vai além de um diploma; para sê-lo, é preciso somente comprometer-se com o pensamento crítico, ser curioso, estar aberto ao diálogo e ler sem discriminações, principalmente os gregos antigos, Diógenes de Sínope, Heráclito de Éfeso, Platão e Sócrates.
Vieram depois, Baruch de Spinoza, David Hume, Francis Bacon, Galileu Galilei, Isaac Newton, John Locke, Kant, Nietzsche, Thomas Hobbes e, influenciando grandemente a filosofia ocidental, os franceses Bergson, Blaise Pascal, D’Alambert, Descartes, Diderot, Montesquieu e Voltaire.
A leitura dos clássicos é fácil, até porque a gente encontra a sinopse de suas obras no dr. Google; difícil é analisar ideias com profundidade, duvidar das crenças, identificar contradições e revisar as convicções diante das evidências.
Mesmo sem querer “academizar”, lembro Sócrates: “uma vida não examinada não vale a pena ser vivida”; uma norma que vale para o Filósofo e para nós outros, pessoas comuns. Chegando à Grécia antiga, é impossível esquecer Platão, que ensinou a existência de dois mundos, o mundo sensível (mundo material) e o mundo das ideias (realidade inteligível).
Isto nos leva à dialética de Heráclito, muito anterior à Hegel e aos marxistas, quando identificou as contradições e transformações vitais dizendo que “ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”.
Daí, vem a ideia do confronto que Diógenes, que pela perfeição andava durante o dia pelas ruas com uma lanterna nas mãos à procura de um homem honesto. Já imaginaram se na atual conjuntura brasileira o aprendiz de Filósofo saísse nas ruas com uma lanterna na mão procurando encontrar honestidade entre os homens públicos que ocupam o poder estatal e governamental?
O aprendiz de filósofo, bem intencionado e autônomo, sem dúvida, se arriscaria a enfrentar o desprezo e a perseguição, na busca pelo “mundo ideal”; a Filosofia o obrigaria a isto. Este questionamento sobre os valores éticos que nos cercam, porém, terminaria por leva-lo ao desdém, à ironia e ao sarcasmo. Pior, se algum dos semideuses do Olimpo Supremo se julgasse ofendido, o levaria à prisão.
A palavra Filosofia, originária do grego “Philosophia“, significa amor à sabedoria e somente este amor resolve problemas existenciais; com ele o Filósofo precisa de integridade intelectual e o uso do método dialético para dar respostas conforme a “sua” concepção….
Conhecendo mais a História e a definição do que a própria Filosofia, apreciei e recomendo aos que querem enveredar por este caminho, o livro de Jostein Gaarder, O “Mundo de Sofia” que pela sua simplicidade na argumentação fiz questão de prescrevê-lo para os meus filhos.
Sofia põe em realce o pensamento sobre todas as coisas que fazemos; considera-as atos de consciência relacionados com a realidade que nos cerca; e, se assim acreditarmos, chegaremos à meditação búdica e, com suas variadas técnicas, veremos o que se encerra na nossa consciência.
Será meditando que enfrentaremos as dúvidas que pairam sobre nós, livres do fanatismo, seja religioso ou político. Assim fazendo, sentiremos a necessidade de enfrentar a realidade escapando da ilusão.
Da minha parte, assumo e me desculpo pela insistência de lutar cotidianamente contra a corrupção que grassa em nosso País e por considerar intolerável a existência de uma polarização eleitoral entre dois populistas corruptos, apoiados irrefletidamente pelos que cultuam estas personalidades.
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DO PATRIOTISMO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Colisão de egos e desavenças geopolíticas trouxeram à baila uma velha polêmica sobre a diferença do Patriotismo com o Nacionalismo. As definições clássicas nos mostram que o Patriotismo é o amor pela pátria, pelo reconhecimento dos valores nacionais que se dispõe à sua defesa, até o sacrifício; o Nacionalismo é a subversão deste sentimento que converte o amor numa ideologia que leva ao totalitarismo.
A experiência histórica que nos leva ao século passado mostra a transformação do patriotismo à submissão cega ao regime dominante; exaltando nitidamente valores aos princípios fundamentados em concepção política e partidária, que incluem convicções, crenças, regras e punições.
Assim, viu-se no século 20 este quadro do patriotismo ser usado pelo ultranacionalismo nazista, defendendo a superioridade racial do “volk” alemão sobre todos os outros, subordinando a nação ao Führer por meio de propaganda e da violência.
Na Itália, também, o fascismo promoveu com a exaltação às glórias do Império romano a ideia do “homem novo”, do militarismo e a subordinação do indivíduo ao Estado; dessa maneira extinguiu as liberdades democráticas reprimindo os opositores.
Neste tempo pretérito assistimos no regime stalinista da URSS, a traição do princípio socialista do internacionalismo, institucionalizando o patriotismo com o forte culto à “pátria soviética” que, para impor unidade absoluta em torno do ditador, patrocinou uma repressão massiva com os chamados expurgos e processos fatais dos dissidentes.
Na conjuntura dos anos 1900 que percorremos com uma lanterna nas costas, levamos a luz para frente a fim de ver com clareza a conjuntura que inspirou o estudo do patriotismo: a ascensão de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.
No país que tem à entrada a Estátua da Liberdade, chegou à política “America First“, o projeto de construção de um patriotismo performático e excludente, voltado para o culto de um nacionalismo competitivo.
Podemos incluí-lo entre os que trocaram o amor pela pátria por discursos inflamados, marquetagem visual dos tanques em Washington, paradas militares e passeatas embandeiradas à moda de Goebbles. O pior é que este falso patriotismo a gosto da ultradireita herdeira da Ku-Klux-Klan, atravessa as fronteiras norte-americanas com ameaças a outros países.
As sanções políticas e econômicas extremadas alcançam até o aliados tradicionais e pesam mais para o circuito China-Rússia e sua área de influência alcançada pelos BRICS, chegando ao Brasil respondendo a presidente Lula que candidato, e depois de eleito, atacou e ataca pessoalmente o presidente Trump.
Como inegável, isto me leva a constatar o choque psicopático de personalidades, em que o patriotismo fica resumido a um simples slogan estratégico; e, no caso brasileiro, mostra que a patriotada verde-amarela desmascarada dos Bolsonaro foi adotada por Lula e seus seguidores, decepcionando a esquerda autêntica.
Aliás uma decepção que vem de longe, quando o crítico, biógrafo, ensaísta, poeta e lexicógrafo inglês Samuel Johnson, ilustre figura da intelectualidade britânica, atacou os oportunistas da Câmara dos Comuns que justificaram o belicismo colonial, dizendo que “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”; uma definição que desperta o desejo de usá-la contra os oportunistas de hoje.
Com relação a Trump, passo a editoria para The Washington Post, analisando que a política trumpista reduz amor à pátria a uma encenação, ignorando o que o país realmente representa.
E, no âmbito doméstico, vê-se com uma clareza meridiana que patriotismo substancial – a devoção à Pátria que mora no coração dos brasileiros – é trocado politicamente e aproveitado para revigorar a popularidade de Lula, que estava em baixa, pelos desmandos pessoais dele, preso à memória do peleguismo sindical.
… E desta maneira se iguala a Bolsonaro, que vestiu a camisa da seleção brasileira para vender seu pretenso patriotismo.
Estes dois oportunistas, Jair e Lula, que polarizam eleitoralmente, refugiam-se no sentimento patriótico nacional em proveito próprio. Esperamos que o eleitorado desperte para isto e ceda lugar a uma terceira opção que não roube como os populistas corruptos, a definição de patriotismo.
DA IMPRENSA
MIRANDA SÁ (E-mail; mirandasa@uol.com.br)
Surgida na Era Mercantilista alemã, a imprensa escrita é capitulada na História com os boletins rudimentares limitados a noticiar a entrada e saída de navios mercantes, o comércio e as finanças. Graças a prensa de Gutemberg, expandiu-se rapidamente indo para a França e a Inglaterra.
Na França assumiu um importante papel político às vésperas da Revolução de 1789. Dois jornais =foram editados por Marat, com “L’Ami du Peuple”, e Hébert, com “Le Père Duchesne”, acionados para criticar aristocratas, denunciar o governo e mobilizar os parisienses para as manifestações de rua.
Por eles, a Revolução Francesa garantiu a liberdade de imprensa, incentivando o surgimento de centenas de títulos e opiniões; e assim se espalhou como o “4º poder”, mundo a fora. Infelizmente não alcançou o Brasil colonial, onde o seu primeiro jornal, o “Correio Brasilense”, editado em Londres, circulava de forma clandestina na Colônia e em Portugal.
Fundado pelo jornalista Hipólito José da Costa, o Correio adotou as ideias liberais do Iluminismo inglês e cobriu movimentos nacionais como a Revolução Pernambucana de 1817 formando opinião entre a elite intelectual lusitana e brasileira.
A divulgação de ideias pelos jornais subversivos teve entre nós um impulso ligado aos movimentos libertários no Brasil, como a Conjuração Baiana (1798) e a Confederação do Equador (1824). O exemplo mais-do-que-perfeito é a publicação criada em 1823 pelo médico Cipriano Barata, a “Sentinela da Liberdade”, defensora da República.
Barata, como editor, era preso frequentemente e mudava o título do seu jornal aludindo às prisões que enfrentava; assim, criou em Recife a “Sentinela da Liberdade na Guarda do Quartel General” e depois, no Rio, a “Sentinela na Guarita de Villegaignon” ….
Hoje, falar de jornais impressos pouco tem a ver com a Imprensa. Esta engloba todo espectro da comunicação abrindo o leque a partir do telefone, invenção tecnológica de Graham Bell em 1877, que o Brasil foi um dos primeiros países a usá-lo com o apoio do imperador Pedro II.
A seguir, no final do século 19, tivemos a criação do sistema de telegrafia sem fio e a descoberta do rádio creditada ao italiano Guglielmo Marconi. As ondas do rádio, então, empolgaram o mundo.
Depois, no cenário da Informação surgiu a televisão, inspirada na ficção científica das séries cinematográficas de Flash Gordon (1936-1940), uma explosão de futurologia pela adaptação visual das emissões radiofônicas; o personagem transmidiático usava narrativas televisivas.
A tevê, então, consolidou exitosamente a comunicação jornalística por um longo período, até 1969, quando apareceu nos EUA com a ARPANET, método computacional que favoreceu o intercâmbio midiático entre universidades e centros de pesquisa.
Um ano depois seguiram-na, Friendster (2002), MySpace (2003), Facebook (2004) e, em 2005, o YouTube. Mais popular entre eles, o Face, antes limitado aos estudantes de Harvard, foi aberto ao público em geral em 2006, introduzindo na web o Instagram e o WhatsApp. No entremeio, foi lançado pelo Google o Orkut.
O avanço científico e tecnológico favoreceu sobremodo as redes sociais, investindo-as computadorizadamente como a Imprensa da atualidade, democratizada e popularizada pelo telefone. Hoje, quase todas pessoas possuem um celular, usando-o para se comunicar e se informar….
Este meio tecnológico firmou-se em virtude da degenerescência que o jornalismo tradicional sofreu pelo mercenarismo ou adoção partidária. Assim, a opinião pública transmitida democraticamente passou a representar a sociedade, e a sociedade não pode prescindir dela.
É por isto que o Sistema Político, corrupto e corruptor, mobiliza agentes para sufocar esta expressão livre do pensamento; sem ela não se toma conhecimento do que os ocupantes do poder praticam e a delinquência torna-se legal.
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DA EXPERIÊNCIA
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Venho atender a curiosidade dos mais jovens, sobre as memórias que trouxe no artigo “Estupidez”, lembrando o tempo antigo, o “meu” tempo, muito diferente do que convivo atualmente.
As doces (e também amargas) lembranças de quando o futuro parecia traçado mesmo com obstáculos casuais, transmito sempre a quem interessar possa…. Até considero uma obrigação fazê-lo para as gerações posteriores.
Filosofando, vejo que o olhar para o passado começa a partir das palavras; da sinonímia defasada entre “juventude” e “mocidade” que divide gerações. Castro Alves falou de “Mocidade”; três gerações após falava-se de “Juventude”. Rui Barbosa nos legou a bela “Oração aos Moços” e mais tarde, contra a guerra que nos ameaçava, adolescentes cantávamos: – “Jovens do vasto mundo/ Nós cantamos o Hino da Paz…”
Entretanto, para relembrar o passado é preciso trazer a Experiência, o armazenamento mental de coisas, fatos e pessoas, como escreveu Bertrand Russel: – “A memória que prolonga a nossa personalidade, recuando-a no tempo, é a memória da nossa experiência”.
“Experiência” como verbete dicionarizado é um substantivo feminino vindo do latim, “experientia“, derivada do verbo “experiri“, que significa “testar, experimentar”. São muitos os seus conceitos, tal como bagagem, competência, ensaio, prática, prova, significados, traquejo, vivência.
O “eu” e as suas sensações para atos e fatos concretos, não é mera conjectura e impressão, mas a conservação de informações sobre os acontecimentos; mas, por falta de um aprendizado técnico ou do mimetismo natural para gravar o cotidiano, nem todos possuem a mestria do lembrar-o-que-ocorreu.
Os cérebros de todas as pessoas são dotados igualmente de alegrias e tristezas, aversões e desejos, dores e prazeres, mas a maioria destes sentimentos se manifestam despreocupadamente. Tais acontecimentos acumulam tudo o que a formação biológica pressupõe no sistema espaço-tempo.
Muitos carregam tais lembranças na mente pensante; mas, para não “academizar”, – olha o neologismo aí, @profeborto – vejo a necessidade e a obrigação de quem as viveu, transmiti-las a quem deseje ouvi-las.
A História da Humanidade registra que nas sociedades primitivas sem escrita, havia pessoas que transmitiam de memória às crianças mitos, genealogias e tradições pela oralidade. Eram os “contadores de histórias” que exerciam um papel fundamental na preservação da memória coletiva.
Nas primeiras civilizações mesopotâmias e egípcia surgiu a escrita, e o saber ancestral passou a ser registrado em argila, pedra e pergaminho e, pela experiência adquirida, os relatos foram aprimorados, como temos na Epopeia de Gilgamesh e mais tarde, na Ilíada. Assim, os “cantadores” foram substituídos mais refinadamente pelos escribas e poetas.
Da Grécia Antiga, herdamos a História do século 5 até o século 4, de Heródoto, Tucídides, Posidônio, Políbio e Zózimo. Estudos e pesquisas revelam cerca de 856 historiadores gregos, incluídos os mitógrafos e cronistas.
As epopeias cederam lugar à História, numa transição que marca o nascimento da literatura. Passou-se a refinar a linguagem, criar personagens e refletir sobre o mundo, transformando antigas tradições orais em arte escrita. Conservou-se um rico acervo literário de contistas e fabulistas ocidentais e orientais.
Lembramos as alegorias de Esopo cujas fábulas com animais transmitem lições morais, e na Idade Moderna, La Fontaine, que adaptou esse legado à França do seu tempo. Da Índia nos chega o “Panchatantra“, coletânea de histórias de Vishnu Sharma, com forte teor pedagógico; e, na China, a adaptação da tradição oral nos “contos de sabedoria” de Zhuangzi.
Esta herança viva da literatura atende a curiosidade das novas gerações. Torna-se uma ligação temporal do presente com o passado, incorporada pela experiência reforçada pela memória e retocada pelo estilo.
Assim, mais do que palavras jogadas fora em mesa do bar nos tempos da brilhantina, no fim do trabalho ou após um filme avant garde, na madrugada, será preferível ir aos clássicos e neles encontrar lições como a que nos deixou Eleanor Roosevelt: “Se alguém trai você uma vez, a culpa é dele. Se trai duas vezes, a culpa é sua”.
Na filosofia cantada, que vem sendo lembrada no seriado que a Globoplay traz sobre Raul Seixas (embora fraca como biografia e rica de colagens repetitivas) também nos leva à experiência de enfrentar cantando o Sistema…
Muito me alegraria se a experiência conscientizasse que os jovens curiosos decidissem lutar contra a traição costumeira de Jair e Lula, e zumbizassem como a mosca de Raul na sopa desses fantoches do Sistema.
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