Últimos Posts

DA LIBERDADE

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Mal terminara a 2ª Grande Guerra, em 1946, meu pai levou-me para assistir na ABI (onde mais tarde, com muito orgulho, fui conselheiro em quatro mandatos) uma conferência do jornalista, escritor e orador Austregésilo de Athayde.

Austregésilo foi dirigente dos Diários Associados, com importante participação na Revista “O Cruzeiro” e recebeu o Prêmio Maria Moors Cabot, o Oscar da imprensa norte-americana.

O conferencista chegara a pouco dos Estados Unidos e relatou a sua estadia lá, impressionando-me ao contar que, convidado para um almoço e com o hábito de acordar cedo, fez hora visitando várias igrejas católicas e protestantes dos arredores, assistindo repetitivos sermões dos padres e pastores.

Estes pregadores cobravam dos fiéis a obrigação de defender a Liberdade. Não só a liberdade de culto, de expressão do pensamento e do jornalismo. De todas as liberdades. Curioso, durante a refeição ele perguntou aos convivas se havia alguma ameaça contra a Democracia no país.

À unanimidade, todos responderam que a defesa da Liberdade não pode ser esquecida; deve sempre ser lembrada, em todo lugar e a qualquer hora. Naqueles dias eu tinha 13 anos; mais tarde encontrei este alerta com Jean Jacques Rousseau: “Povos livres, lembrai-vos desta máxima: A liberdade pode ser conquistada, mas nunca recuperada”.

Como o filósofo libertário, pensaram assim respeitáveis personalidades da História, da Poesia, da Política e da Religião. Assim pensaram os autores do Hino da Proclamação da República, o jornalista Medeiros e Albuquerque e o compositor e maestro Leopoldo Miguez, enchendo de brio as nossas cabeças com o refrão “Liberdade! Liberdade!/ Abre as asas sobre nós!”.

Como o materialista Bakunin, sou um amante fanático da liberdade, e como o pregador cristão Martin Luther King, acho que para satisfazer a sede de liberdade devemos afastar o cálice da amargura e do ódio.

O problema é que a ciência política está vendo a humanidade ser ameaçada pelo totalitarismo ditatorial, mascarado de “Democracia Relativa” ou “Democracia Efetiva”, adjetivando e negaceando o valor que a autêntica liberdade oferece.

A liberdade com responsabilidade, que a “Tribo do Bem” vem praticando nas redes sociais, ocupando o lugar da imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta que segundo Joseph Pulitzer forma “um público tão vil como ela mesma”.

A Web oferece à cidadania as armas destinadas a defender ideias, o interesse nacional e o sonho de liberdade. Os fascistas de hoje, que se assumem como antifascistas, e os políticos, magistrados e formadores de opinião que relativizam a Democracia, aparecem intimidando o “X”, o You Tube e outras ferramentas da opinião pública.

Poeticamente, a divina Cecília Meirelles escreveu que “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”; e o supremo crítico da autocracia opressora, George Orwell é curto e grosso: “Se a liberdade significa alguma coisa, é sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir”.

A voz do povo – que é a voz de Deus – se expressou em 1989 no magnífico samba-enredo da Escola Imperatriz Leopoldinense; composto por Niltinho Tristeza, Preto Joia, Vicentinho e Jurandir, que Dominguinhos do Estácio, cantou: “Liberdade! Liberdade! / Abre as asas sobre nós! / E que a voz da igualdade/ Seja sempre a nossa voz”.

Tudo por uma Liberdade sem adjetivos. Afirmemos com Rosa de Luxemburgo que “Liberdade somente para membros do partido e do governo, não é, de modo nenhum, liberdade”.

DA VIOLÊNCIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

A Violência se alastra pelo mundo como o espetáculo e o estrondo das cachoeiras, é impossível não a ver nem a ouvir. A agressividade, o desrespeito e a ofensa se fazem presentes no noticiário jornalístico do nosso dia-a-dia.

O verbete Violência, dicionarizado, é um substantivo feminino de etimologia latina “violentia.ae” – qualidade de violento; no nosso idioma, é opressão, tirania, sujeição de uma pessoa forçando-a a fazer algo que se recusa por livre vontade. Em termos jurídicos, trata-se de constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, obrigando-o a cumprir o que lhe é imposto: violência física, violência psicológica.

A Organização Mundial de Saúde define a Violência como “o uso intencional de força física ou poder, ameaçados ou reais, contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade”.

Com vistas à Violência, o Anarquismo combate o arbítrio do Estado, cujas ações, segundo seus teóricos, constituem formas de violência de natureza estrutural, como a pobreza pela negatividade do bem-estar social com políticas que produzem e estimulam a desigualdade socioeconômica mantendo privilégios e injustiças.

Em verdade, a pobreza é sem dúvida uma violência mantida por políticas opressivas sobre grupos minoritários despossuídos de direitos legais. Com isto, surge o que os estudiosos classificam como “Violência Interpessoal”.

Esta tipologia define diferentes formas de violência: a conjugal ou familiar, que ocorre no próprio lar; e a violência comunitária, que acontece entre pessoas sem vínculos de parentesco, que podem ser conhecidas ou mesmo entre desconhecidos.

No campo da violência interpessoal se achegam as ideologias religiosas e políticas capituladas nas páginas da História da Humanidade. Encontramos curiosamente (e é um fato notório na atual conjuntura) que os estamentos eclesiais e partidários se acusam uns aos outros de violência em análogas situações.

É inegável, por exemplo, que a Bíblia judaico-cristã encerra um vasto acervo de fatos violentos, trazendo – como já disse alguém – “ao lado de exemplos de virtude, estupro e fratricídio humanizados, e os castigos da ira divina como o dilúvio, pragas do Egito e destruição de Sodoma e Gomorra”.

Encontra-se na passagem de Adão e Eva, um exemplo de violência: Jeová propondo normas de obediência e preceitos ditados pela sua autoridade; e tais normas sendo desobedecidas pelo casal primevo, levou-o à expulsão do paraíso.

O cristianismo imperial da Igreja Católica criou a “injúria de sangue” contra os judeus e os seus tribunais da Inquisição condenaram como feiticeiras as parteiras e as mulheres que se aconselhavam com elas. Ainda hoje surgem acusações de satanismo contra adeptos de religiões de origem africana ou indígena.

Ao longo da História temos diversos capítulos sobre a violência nos quatro ou cinco mil amos de civilização. Desde os tijolinhos em sânscrito da Mesopotâmia, aos papiros egípcios e os rolos da Torá, para ficar apenas no Ocidente; e, nesta banda do planeta Terra, a opressão tirânica da política e a crueldade nas guerras religiosas.

Vejo no discurso de ódio uma forma de violência na política brasileira; é, para mim, a ouverture da opereta de horror que vimos assistindo com protagonistas entre os que combatem o terrorismo. É a desfaçatez dos bolsonaristas defendendo o armamentismo como defesa; e vem fantasiada de amor pelos odientos lulopetistas contra adversários.

Este rancor cai por terra com a pregação de Mahatma Gandhi: Acusado de covarde, ele retrucou: – “A não-violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a verdadeira não-violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível”.

A “Não-Violência” é o que nós, tuiteiros independentes da polarização, praticamos.

 

 

DO IMPOSSÍVEL

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br.)

Lembro-me do pensamento, mas esqueci a origem e o nome do autor que deve ter sido um realista escrevendo que “o impossível é aquilo que acontece todos os dias”. É um prêmio da Loteria que sai para alguém, ou a prisão de fugitivos da Penitenciária de “Segurança Máxima” de Mossoró depois de 50 dias de buscas interrompidas….

A palavra Impossível dicionarizada é um adjetivo de dois gêneros e substantivo masculino, que o “Oxford Languages” define como aquilo que não pode ser, existir ou acontecer, trazendo o esdrúxulo exemplo “nascer um cavalo de uma galinha”. O nosso idioma herdou do latim “impossibĭle”, significando que não é possível; que não pode existir; que não pode realizar-se.

Há, porém, exemplos históricos desmentindo o irrealizável. Meus amigos que amam o Teatro possivelmente considerarão impossível o que a História nos conta sobre Shakespeare que sem condições pecuniárias de encenar um castelo, botava um cartaz no palco escrito; “isto é um Castelo”.

O matemático holandês Ludolph van Ceulen, que acrescentou ao famoso “Pi” algumas das suas relações decimais já calculadas, perseguiu mais uma, sem conseguir encontrá-la para juntar às outras 35 já conhecidas.  Julgou ao fim da vida ser incalculável o acréscimo; seis anos após sua morte estudiosos ingleses acharam o número 707.

Na década de 1940, quando meninos assistíamos a série Flash Gordon, com foguetes, telefones celulares no pulso à guisa de relógio, e interlocuções por vídeo em telas, achávamos inacreditável que viesse a ocorrer. A Televisão já fora inventada, foguetes foram ejetados na guerra  e levou somente 30 anos para o celular aparecer….

Os cristãos autênticos jamais imaginaram a distorção das palavras de Jesus o Mestre da Galileia. Suas parábolas sublimes ao nível popular foram mais tarde ocultas pelo latim, uma língua morta, usada pela Igreja Católica Imperial. Hoje, o papa Francisco, falando a linguagem do povo, promove avanços sócio-políticos que eram julgados como difíceis no Vaticano.

Assim se desmente o sentido da eternidade. Não são eternos os nossos entendimentos, as celebridades, as investigações científicas, nem os cânones burocráticos de uma religião.

Registra uma historieta hollywoodiana que a 20th Century Fox homenageou a atriz Greta Garbo mandando cunhar uma medalha de ouro com o perfil dela com o lema “À Glória Eterna”. Uma das minhas filhas, a que está comemorando 44 anos de idade, não sabe quem foi Greta Garbo….

Sobre o cinema, lembro que disseram que colapsaria com o surgimento da televisão; na verdade, as salas de exibição definharam; mas os produtores cinematográficos logo se adaptaram, levando os filmes para a telinha, que virou telona e manteve a arte mais viva do que nunca. O impossível aconteceu.

O incogitável também fraquejou com o Vaticano deixando de lado o Index Proibitório, que impedia a leitura de livros e punia os seus autores até com a excomunhão. Hoje, repetimos sem temor a frase de Oscar Wilde: “Não existem livros morais ou imorais. Os livros são bem ou mal escritos”.

No Brasil atual, os políticos mostram inconfessáveis extravagâncias, avanços no Erário e o desprezo pelo futuro do Brasil e das gerações vindouras. Mas não será para sempre. O genial Maquiavel, estudioso da política, previu isto, escrevendo n’ “O Príncipe” que tudo o que tem começo, tem fim.

Então, que não dure uma eternidade o final da desgraçada polarização entre Bolsonaro e Lula, populistas corruptos auto assumidos fraudulentamente como “de direita” e “de esquerda”.

Como ambos usam a religião para ludibriar. Lembramos aos cristãos seus seguidores a frase bíblica do livro de Lucas, capítulo 1, versículo 37, enfatizando que só a divindade tem a exclusividade de realizar qualquer coisa; lá está escrito: “somente para Deus nada é impossível”.

O ESPIRITUALISMO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Há quem insista em tagarelar nos nossos ouvidos conceitos sobre a vida e a morte; lembram-me uma anedota que ouvi anos atrás e nunca a esqueci pelo conteúdo sarcástico, virtuoso e educativo.

A ironia pode ser virtuosa, sim; não ofende quem quer impor a sua vontade se abstendo de aceitar opinião contrária; foi assim que se desenvolveu a historieta citada: “Na antiga Atenas, Aristóteles caminhava pela Ágora suportando comedidamente a conversa de um cidadão que fuxicava sobre algumas personalidades da época; aquele parou de repente e perguntou se a sua loquacidade não perturbava as meditações filosóficas do interlocutor.

“– ‘Em nada me aborrece’, respondeu Aristóteles, – ‘Pode continuar; eu não o escuto’’”. Foi mais elegante do que Carlos Lacerda, respondendo ao aparte de um adversário que retrucou seu discurso, dizendo: – “As suas palavras entram no meu ouvido por um lado e saem pelo outro”. Lacerda foi curto e grosso: – “É a primeira vez que o ouço esta negação da Física; o som não se propaga no vácuo”.

Ao contrário do Filósofo e do brilhante jornalista, presto muita atenção aos que trazem ideias diferentes das minhas; é o caso do Espiritualismo, a crença de que a morte não é um fim, leva à vida eterna.

Trata-se de uma polêmica que vem de muito longe. Segundo estudiosos já era aceita no período Paleolítico, com os rituais de sepultamento dos mortos e o culto aos ancestrais. Chegou ao Antigo Egito, com Livro dos Mortos atestando a sobrevivência do espírito e orientando o falecido a se preparar para isto.

O Antigo Testamento, reverenciado por judeus e cristãos, registra a mediunidade e a] proibição de Moisés à “consulta aos mortos”; assim como fez o primeiro rei de Israel, Saul, invocando o espírito de Samuel com a ajuda de uma necromante.

Na Grécia Antiga, Homero trouxe na Odisseia a crença em que as almas dos mortos habitavam o Hades e que era possível entrar em contato com eles. Não ficou só, o filósofo Sócrates acreditava na imortalidade da alma.

Na Roma Antiga, que sofreu forte influência religiosa dos gregos, homenageava-se os mortos com um festival, a “Parentália“, celebrado anualmente de 13 a 21 de fevereiro; mais tarde sob a influência do Mitraísmo, o catolicismo adotou um feriado no Calendário Juliano dedicado às visitas aos túmulos familiares.

Quando os conquistadores espanhóis chegaram ao México e à Mesoamérica, viram a comemoração do Dia dos Mortos pelos astecas e maias. Essa cultura ancestral se estende até os dias de hoje com a visita aos cemitérios . levando aos entes queridos flores, velas, incensos, alimentos e bebidas. Reverenciam “La Catrina” – a caveira –, que é o símbolo do “Día de los Muertos”.

É difícil ajuizar como o culto dos mortos chegou ao Brasil antes da conquista portuguesa, mas está comprovada no encontro das Urnas Funerárias Marajoaras que foram usadas nos rituais funerários, ícones que se faziam presentes na iniciação dos jovens guerreiros e no festival da moça nova.

Afirmam os antropólogos que as festividades das Urnas Marajoaras lembravam a morte e os antepassados. Tive a oportunidade de ver e examinar a arte das urnas marajoaras no Museu Nacional, antes do criminoso incêndio ocorrido pela negligência dos seus curadores.

As peças atraíam nosso olhar pelo seu colorido vermelho e preto sobre fundo branco, com incisões e excisões de figuras antropomórficas e zoomórficas pintadas com esmero na combinação das cores.

A pesquisa arqueológica na Ilha de Marajó ecoa os conceitos espiritualistas que vieram mais tarde Brasil com as investigações científicas de Alan Kardec, que a minha mãe adotava, participando da Federação Espírita Brasileira.

Hoje temos uma dissidência do Espiritismo Kardecista, a “Conscienciologia”, divulgada pelo cirurgião plástico e médium brasileiro Waldo Vieira. Este estudo se dedica a conscientizar as pessoas da importância das experiências extra corporais que segundo Waldo, comprovam a existência da alma e a reencarnação.

Não fora o religiosismo que acompanha o espiritualismo, eu poderia expor os meus ouvidos à defesa da vida post-mortem.

HOMO DUPLEX

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Paulo de Tarso, judeu da elite, que se tornou o mais importante agitador do Cristianismo, escreveu numa das suas epístolas: “Existem em mim dois homens”; e o foi post-mortem ao ser canonizado pela Igreja Católica, como pessoa e santo.

Assim, a tese de Émile Durkheim do “Homo Duplex” – que levou o famoso escritor inglês Joseph Conrad a se definir como tal, igualmente a São Paulo, passa a ser uma classificação antropológica na evolução da espécie humana.

Já tínhamos o quadro largamente difundido pela Antropologia Evolucionária no seriado que traz os “Homo habilis”; Homo ergaster; “”Homo erectus” e “Homo neanderthalensis” que tem início com os homídeos bi-pedalistas que usaram as mãos para fazer ferramentas até os dias de hoje, em que somos representantes do “Homo sapiens”.

Charles Darwin foi o primeiro a propor a relação de parentesco dos humanos com os antropoides (grandes macacos), e aprofundando, os estudos científicos mostram que o gênero Homo se destacou pelo desenvolvimento do sistema nervoso e da inteligência.

A evolução da espécie humana começou a seis milhões de anos, período em que a população de primatas do noroeste da África se dividiu em duas linhagens que evoluíram independentemente. O primeiro grupo permaneceu no ambiente da floresta tropical e o outro emigrou para diversas regiões planetárias.

Comprovando esta exposição, foram encontrados fósseis de ambos grupos, com os migrantes aparecendo em pesquisas arqueológicas na Europa, na Ásia e sul da Sibéria. A presença do Homo Sapiens em determinado momento da nossa história ainda não tem uma data esclarecida, mas ao tornar-se único do gênero Homo no planeta, após a extinção das outras espécies, é de cerca de 200.000 anos.

Nós somos estas criaturas que venceram e sobreviveram. Estamos classificados, segundo a Psicanálise, como “personalidades”, cerebralmente constituídas de consciente, pré-consciente e inconsciente; e é o consciente que nos dá as percepções, as memórias, os sentimentos e, segundo os freudianos, até as fantasias….

Isto, em estado normal, nos oferece todas as condições de viver em sociedade agindo nas ações intelectuais e políticas. Infelizmente, surgem problemas; um deles é aquele que chamávamos de “dupla personalidade” que os estudiosos da mente classificam hoje como Transtorno Dissociativo de Identidade.

O TDI consiste, na convicção extrema de uma ideia ou, contraditoriamente, estar sempre mudando de opinião, variando o comportamento insistentemente. Pesquisas feitas chegaram à Bipolaridade, a influência de dois polos cerebrais divergentes provocando a alternância comportamental entre euforia e depressão.

O indivíduo portador de bipolaridade sofre a oscilação do humor, manias e depressão, mostrando duplicidade e desequilíbrio inconscientes. Adotam, sem querer, atitudes inconcebíveis, como andar saltando sobre as linhas da calçada ou aperfeiçoando-se em alguma atividade até ilegal ou condenável.

Por isto, os duplex são valorizados por alguns governos pelas habilidades adquiridas. Ouvi dizer que na França e no Liechtenstein foram aproveitados antigos contrabandistas como agentes alfandegários; e com conhecimento de causa, atuaram impecáveis.

No primeiro governo de Getúlio Vargas, quando a moeda de Réis foi substituída pelo Cruzeiro, tiraram um moedeiro falso da cadeia, nomeando-o técnico na Casa da Moeda para criar o novo meio circulante metálico.

Agora, diante da realidade que nos cerca, temos que reconhecer que o Homo Duplex não está só. Os dúplices não são apenas os seres humanos, mas tudo o que nos cerca; e, além disto, as circunstâncias e as ocorrências também apresentam a sua duplicidade.

Está comprovado constantemente na chamada “grande mídia”. As pautas variam de acordo com os interesses das forças ocultas…. Variam entre a ênfase e a omissão no “Caso Marielle”, dá-se um inusitado critério ao besteirol das dormidas de Bolsonaro na Embaixada da Hungria e deleta-se as calúnias do casal Lula da Silva sobre os móveis do Alvorada.

Da Mídia Duplex, as informações variam camaleonicamente; vão do verde para o vermelho e vice-versa, com seus “especialistas” alimentando as massas bipolarizadas pelo culto às personalidades políticas.

DOS INTELECTUAIS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Recebi uma crítica nos padrões democráticos que me inspirou este artigo. Veio de um jornalista atuante nas redes sociais, condenando-me por citar a frase do general Villas Boas que “substituir uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros”.

Acho que este pensamento é irreparável, mesmo vindo de quem veio, com o perfil que apresenta, até mesmo agora, desfilando no noticiário dos jornais pela participação da esposa nas tramas golpistas de Bolsonaro.

Entretanto, concordo em gênero e número com a afirmação de que as ideologias fraudulentas do esquerdismo lulista e do direitismo bolsonarista nada contribuem para erguer o Brasil, devendo ser afastadas do cenário político, pois não conduzem como futuro digno que almejamos.

Em minha defesa, alicerço a discordância de que “um admirador das ideias de Brizola, não pode referir-se a um defensor da ditadura militar”. Esta posição traz vestígios de ódio; e o meu interlocutor poderia ter aprendido com o anarquista Malatesta, como fiz, estudando, que “devemos seguir ideias, não homens, e rebelarmo-nos contra o hábito de encarnar um princípio numa pessoa”.

Isto resume a condenação ao culto da personalidade vigente no País, adotado por frações intelectuais no atual estágio sócio-político polarizado pelos extremismos populistas. Muitas pessoas com formação educacional ou erudição autodidata perderam o senso crítico da realidade, infelicitados pelas ideologias distorcidas que estimulam o fanatismo.

O revolucionário meio de Comunicação que a Internet dispõe, traz muitos exemplos disto. Com esta observação lembrei-me que preparando-me para o Exame Vestibular, encontrei na estante do meu pai um livro do escritor francês, Julien Benda, que me chamou a atenção: “La trahison des clercs”.

Foi editado em 1927, quase 100 anos atrás; e pelas teses nele defendidas, foi largamente difundido e traduzido para o português como “A traição dos Intelectuais”, na mesma linha do alemão “Verantwortlichkeit der Intellektuellen” e do inglês “Treason Of The Intellectuals”.

Benda, que depois vim conhecer melhor, teve o perfil de questionador do autoritarismo, inimigo do nazismo e da fascista “Action Française”. Por isso, seria considerado hoje um pensador “de esquerda”; mas à sua época foi o contrário, o apontaram como conservador e até antiprogressista.

A intelectualidade viu na teoria “blendista” sobre as pessoas que trabalham e produzem exclusivamente com o intelecto, uma elucubração estranha (por nova) causando muita polêmica ao defender que o intelectual deve manter-se neutro e distanciado dos partidos; e fez mais. Exigiu de quem usa como ferramenta a mentalidade que a sua criação deve  limitar-se à defesa dos valores universais da verdade, justiça e liberdade.

Enfim, para Blenda, o intelectual deve se abster das paixões políticas; e que por sua própria natureza, o trabalho de inteligência deve conter-se de alinhamentos; que o seu protagonista deve apenas observar e analisar os movimentos políticos como o nacionalismo, do marxismo, do racismo, do sionismo, da xenofobia e do militarismo.

Considero tais proposições insuportáveis para alguns letrados brasileiros pelas heranças culturais que recebemos; acho, porém, que serve de alerta para os nossos jornalistas para não caírem na esparrela da adoção ideológica, incompatível com o exercício profissional. Prendi-me alguns vezes assim, e faço autocrítica.

O “prato feito” que sai das cozinhas partidárias com a salada mista de doutrinas falseadas e as malpassadas proteínas das inverdades, é servido para manter o sistema; e as promessas dos “líderes” partidários ou governistas, são as lavagens cerebrais que garantem a polarização, o fraudulento embate entre populistas para manter entre si a alternância no poder.

 

 

 

 

QUERIDOS PETS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Temos colegas no “X” que acham graça quando trocamos fotos e filmetes de gatos e cachorros que correm na Internet. Da minha parte vejo nestes “Pets” um dos complementos maravilhosos que a domesticação dos animais nos deu. Uso a palavra Pet, criticada pelos xenófobos antiamericanos, mas vencedora e generalizada entre nós.

É dicionarizada como substantivo masculino para designar animal de estimação; é curiosa a sua etimologia, emaranhada do latim para cá. Vem diretamente do inglês, mas teria sido herdada do francês “petit” que significa pequeno, e teria origem latina “petito/pittinus”.

Nos imperiais Estados Unidos a palavra Pet é consagrada; os franceses chamam de “animaux de compagnie”, que, em português, significa animais de companhia. No Brasil, adotou-se indiscutivelmente Pet, de onde se deriva Pet Shop, loja que vende produtos para animais.

Nossos indígenas têm para os bichinhos domésticos o nome de “Xerimbabo”, que em tupi significa “coisa muito querida”, este termo ainda é coloquial entre os habitantes dos estados do Norte; e o costume de tê-los familiarmente é sempre solicitado por crianças.

O politicamente correto, traz uma exceção no seu besteirol, adotando a expressão “Tutores” para o que antigamente chamávamos “Donos” dos xerimbabos…. Mas, por outro lado, trouxe a condenação para a domesticação de animais silvestres, uma idiotice nascida por falta de conhecimento do mundo.

Além dos cachorros e gatos que nos fazem companhia e que interagem conosco, é costume pelo mundo afora a criação de outros animais com a mesma finalidade; na África continental adotam avestruzes, camelos e cabras, em Madagascar, lêmures, na Ásia elefantes, cobras e macacos prego, na Austrália, kangurus, e, na China, pandas…

Na América central é comum criar-se camaleões e, por herança indígena, adotamos a companhia de alguns pássaros canoros, papagaios e saguis. Peixes de aquário estão presentes em todos os países; e o meu pai tinha uma estima especial por um jabuti que trouxe do Pará.

Quando morei em Natal, além de cachorros, gatos e papagaio, mantive e cuidava também de dois sapos cururus e um viveiro de mosquitos melíferos.

Considero a convivência com o animal de grande responsabilidade. Eles precisam de cuidados muito além da alimentação; devem ser observados como a melhor forma de resguardá-los de problemas com insetos, viroses e enfermidades. Meu filho  Henrique observou que um dos seus cachorros passou a beber muita água e levando-o à Clínica Veterinária, constatou-se que estava com diabetes….

Nos grandes centros, onde se goza de boa assistência médica especializada, aparecem problemas a corrigir. Por exemplo, criar cachorros em apartamentos é complicado, por que precisam necessariamente sair à rua e o cuidador deve recolher as suas fezes por educação. Vi numa Praça de São José da Costa Rica uma frase que mandei para a Prefeitura do Rio, mas fiquei sem resposta. É perfeita: “Ellos hacen por necessidad, usteds limpan por obligación”.

Com a minha mulher – que os adora – tutoramos dois gatos: Lennon e Ringo. Graças a observação deles, entendemos plenamente o porquê dos antigos egípcios os adorarem como deuses, e os celebramos Maomé por uma história que ouvi:

“O profeta estava em meditação e um gato se enroscou na manga de sua túnica e dormiu profundamente. Chegada a hora de rezar e Maomé cortou a manga com uma tesoura para não o acordar; como o gato pareceu sorrir-lhe, acariciou sua cabeça com a mão e concedeu-lhe o privilégio de somente cair sobre as próprias patas…”

Acho que quem não gosta de gato são aqueles que nunca os observaram. O poeta Ronsard deixou-nos um pensamento à reflexão: – “Os gatos são dotados de um espírito profético e os egípcios faziam muito bem divinizando-os”.

Ocorre conosco aqui em casa: quando um de nós, eu ou minha mulher adoecemos, sempre tem um que se aconchega na cama com o enfermo.

CRUZADAS & CRUZADA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Não tem razão o colega do “X” que com uma msg criticou-me pelo que considera antireligiosísmo nos meus artigos e crônicas; eu poderia responder-lhe pela mesma via, mas preferi fazê-lo publicamente no Blog.

Assumo os comentários com dúvidas e reprovação sobre as fantasias do Antigo Testamento, desacreditando que Matusalém tenha vivido 969 anos, na lenda de Adão e Eva (a não ser como metáfora) e que o príncipe egípcio Moisés abriu as águas do Mar Vermelho e tenha conversado com Deus acocorado diante de uma sarça ardente.

Isto, para mim, não é ser contra a religião. Pelo contrário, poucos defendem a liberdade religiosa como eu, que desde a pré-adolescência estudo as diversas crenças adorativas, no correr da História da Humanidade.  Até já pensei em escrever um livro sobre elas.

Conheço-as desde o animismo primitivo à dualidade do mazdeísmo na antiga Pérsia, do politeísmo nos primeiros impérios da Antiguidade, das manifestações orientais e do monoteísmo judaico-cristão.

Defensor convicto da liberdade de crença, não me furto, porém, de criticar desmandos praticados em nome de Deus; denunciando sempre a hipocrisia piedosa e o fanatismo estúpido e xenófobo. Faço-o com base em pesquisas históricas de boa origem; dos muitos estudiosos que através dos tempos mostram a adulteração do cristianismo primitivo ao se assumir como Catolicismo, religião oficial do Império Romano.

… E foi pelo imperialismo que se formou no Ocidente uma nova concepção religiosa por sua organização burocrática copiada de antigos cultos, principalmente do mitraísmo, e por coroar o humilde Jesus de Nazaré em Rei dos Reis…

Uma vez poderosa, a Igreja Católica, Apostólica e Romana assumiu historicamente horrores praticados. Quem há de negar a violência imposta na criação, exaltação e desempenho das Cruzadas? Das referências que se tem deste desvario movido para libertar a chamada “Terra Santa”, temos o fundamento do antissemitismo e antiislamismo ocidentais.

Sobre as cruzadas, encontrei um texto do escritor ítalo-argentino Pitigrilli, que não assino embaixo, mas o levo em conta para as minhas análises. Saiu no livro “O Sacrossanto Direito de não Ligar” o comentário intitulado “O malogro total das Cruzadas” que não lograram cumprir seu objetivo de libertar santo sepulcro dos muçulmanos.

A Primeira Cruzada, criada pelo papa Urbano II em 1095 para tornar os cristãos inimigos dos muçulmanos, a História registra que esta expedição reuniu “duzentos e sessenta mil maltrapilhos, esfomeados, egressos das galés e prostitutas, conduzidos por nobres feudais que tiveram o propósito de conquistar cidades orientais para si; mas o Santo Sepulcro ficou onde estava, tendo no entorno seis milhões de cadáveres.

Pittigrilli mostra que sem qualquer devoção e humanismo as Cruzadas trouxeram vantagens; para a sua formação, foram recrutados todos os aventureiros da Europa; e esses malfeitores encontraram de passagem casas para saquear, mulheres indefesas para ultrajar e gente inocente para exterminar.

E o resultado foi pior, vendo na Palestina a convivência pacifica entre judeus e árabes, os cruzados, acusaram os primeiros de “crucificar Jesus Cristo” e os outros demonizados como adeptos do “infiel” Maomé.

Entre suas consequências, surgiu a caça às bruxas, a brutal repressão contra os perseverantes seguidores das antigas religiões; uma manifestação fanática que não se restringiu aos druidas e xamãs, mas voltou-se também contra os chamados “heréticos”,  críticos dos dogmas e dos costumes licenciosos do papado.

Esta perseguição insana proporcionou em 1233 a criação da Inquisição pelo papa Gregório 9º, batizada de “Santo Ofício”, que nada teve de santo; pois foi uma ação demoníaca, cruel e desumana, comparável ao que o nazismo fez no século passado.

Há quem ignore, e é bom dizer que esta ingerência genocida não se limitou aos católicos romanos; teve também a participação de protestantes, como se viu no suplício sofrido por Calvet ordenado por Calvino, que exigiu lenha verde na fogueira que queimou o condenado, “para que ele sofresse mais”.

Com esta descritiva vem a minha adoção ao princípio de que perseguir, torturar e matar em nome de qualquer religião é crime hediondo condenável; por isto movo a minha “cruzada” para condenar as guerras religiosas, por serem o exemplo mais do que perfeito da negação de Deus.

DA JUSTIÇA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Fica difícil desenvolver o tema sem separar duas justiças, a Justiça Aplicada, dos tribunais, órgãos burocráticos de governo composto de juízes e promotores nomeados para interpretar a Lei; e a Justiça Teórica, segundo Adeodato (que os acadêmicos de Direito conhecem), “a virtude moral que rege o ser espiritual no combate ao egoísmo biológico, orgânico, do indivíduo”.

Na Justiça Aplicada, a apreciação de processos de partes em litígio, casos e pessoas, é sempre uma balança que, em tese, deveria manter o equilíbrio entre as pretensões e interesses conflitantes na vida social da comunidade.

A Justiça Teórica foi aquele passo à frente para a civilização, criada dos primeiros impérios da Antiguidade. O exemplo disto está nos contos das Mil e Uma Noites, que levou o lendário califa Harun al-Rashid à ficção.

O Califa, de acordo com historiadores, é o símbolo da Era de Ouro Islâmica. Reinou de 786 e 809, quando a Europa vivia mergulhada na Idade Média, e o Islã atravessava uma era marcando economicamente a fartura de bens materiais e o desenvolvimento cultural nos campos da Arquitetura, da Ciência com a pesquisa e tradução para o árabe das grandes obras do grego clássico, hindu e persa.

Com uma formação intelectual vasta, abrangendo economia, geografia, história, música, poesia e religião, Harun fundou a lendária biblioteca Bayt al-Hikma (“Casa da Sabedoria”) em Bagdá, e lá costumava imitar Salomão, presidindo julgamentos.

Nas Mil e Uma Noites fictícias temos a história de que ele sonhou que lhe apareceu um anjo e levou-o para o céu e lá chegando disse-lhe: – “Califa, concedeste liberdade a nove prisioneiros a pedido de amigos e familiares, mas restou um na prisão; Alah intervém por ele”.

No amanhecer do dia seguinte, Harun al-Rashid chamou o Vizir, e perguntou se havia alguém na prisão. – “Há um peregrino que foi preso junto a nove malfeitores e se diz inocente” falou o ministro.

– “Traga-o a minha presença”…. E quando o prisioneiro chegou, o Califa ordenou que falasse, ouvindo dele a história de que os policiais haviam perseguido uma quadrilha de dez indivíduos, mas um escapou e eles temeram ser acusados de ter facilitado a fuga; então prenderam-no para completar a conta, e ele que não teve quem apelasse por ele.

A historieta das Mil e Uma Noites conta que Harum sentiu a sinceridade dos inocentes no rosto e na voz do preso; ordenou a sua soltura, oferecendo-lhe um café da manhã com frutas, leite, mel, pães e queijos. Depois mandou-o banhar-se e receber roupas adequadas para conviver na sua corte para onde foi convidado.

A Justiça do esplendoroso reino de Harun al-Rashid teve uma intervenção divina para ser cumprida libertando um preso sem culpa.

Aqui no Brasil, nos dias atuais, os juízes não ouvem Deus, adoram o Bezerro de Ouro, como se vê, assistindo-se envergonhadamente um ministro do 5TF, Dias Toffoli, sentenciar em defesa dos corruptos e corruptores condenados pela Lava Jato.

Não há qualquer explicação para isto, a não ser o acumpliciamento de quem esteve envolvido nas tramoias do lulopetismo com as empreiteiras, tendo sido denunciado como usufruidor de propinas da Odebrecht sob o codinome “Amigo do Amigo do Meu Pai”.

Assim temos a Justiça dos Juízes, que vem degradando o conceito de Justiça, com ardis como o que permitem cônjuges e parentes de magistrados advogarem causas que eles julgam; e, no caso insólito de Toffoli, foi a mulher dele a autora da defesa.

A revoltante decisão monocrática de suspender o pagamento das multas reconhecidas pelos corruptos e corruptores exige a convocação do coletivo para derrubá-la. Não o fazendo o presidente da Corte passa a ser cúmplice da Injustiça.

“O QUE FAZER?”

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

O título, direto e bastante significativo, já foi usado distintamente no campo cinematográfico e na literatura marxista. As duas vertentes têm o sentido único da definição prática e teórica.

No cinema temos uma interessante combinação de drama e comédia no filme “The Angriest Man in Brooklyn”, exibido no Brasil e Portugal como “O que fazer?”. Teve a direção de Phil Alden Robinson com excelentes atores, Robin Williams, Mila Kunis, Peter Dinklage e a premiada coadjuvante, a atriz Da’Vine Joy Randolph.

A sinopse do filme relata a situação em que um médico revela ao seu paciente, portador de uma paranoia agressiva, que ele tem apenas 90 minutos de vida, sugerindo que deveria se desculpar com as pessoas com quem tenha agredido nos seus últimos momentos de vida.

“O que fazer?” é também o título de um livro que Vladimir Ilyich Ulianov – o revolucionário russo Lênin –, que em 1900 serviu de base para a aliança com Georgi Plekhanov, e a criação do jornal Iskra para divulgar o programa que uniu todas as correntes anti-czaristas.

A teoria exposta por Lênin traz a crítica ao “sindicalismo estreito” (trade-unionismo) e o acervo combate ao economicismo dos reformistas. O livro foi usado mais tarde para defender os insustentáveis desvios stalinistas.

Quem, no correr da vida, nunca se fez a pergunta “o que fazer?”. Até mesmo nas pequenas dificuldades do cotidiano, busca-se uma saída para a normalidade.

Embora com a idade avançada, preocupa-me hoje a possibilidade de deflagração de uma nova guerra mundial. Sei que as novas gerações, mesmo entre os inconformistas, não sentem o mesmo que eu, e não lhes importa o que os mais velhos pensam.

Para eles, eu gostaria de lembrar uma coisa antiquíssima da filosofia grega, em que Aristóteles e Hipócrates julgavam que a juventude se estende aos 35 anos e até os 40 anos o homem está apto a ir para guerra.

Tal pensamento não mudou muito daquele tempo para os nossos dias. A convocação para a batalha será dos jovens.

Vejam que os belicistas – não são poucos – aplaudiram o presidente francês Emmanuel Macron ao declarar numa entrevista que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) analisou a situação ucraniana e não descarta o envio de soldados para enfrentar os russos.

A resposta do Kremlin foi imediata, reagindo contra tal possibilidade e declarando que o envio de contingentes dos países da OTAN à Ucrânia, “se é uma probabilidade, é igualmente a inevitabilidade de um conflito direto”.

Esta reação levou vários membros da Aliança a negar planos de mobilização de tropa e muito menos envia-las para a zona de conflito. Nos alegra a participação do chanceler alemão Olaf Scholz nesta posição, apoiado pela Espanha, Itália, Países baixos, Polônia, Reino Unido e República Tcheca.

Em campanha eleitoral, Joe Biden, em nome dos EUA disse que o país não tem pretensão de se envolver diretamente na contenda com a Rússia. Ainda bem. Esta posição (ou recuo?) é um passo importante para desanuviar as ameaças de uma 3ª Guerra, porque na Era Atômica ela representaria o extermínio da civilização.

Então, pensando n’ “O que fazer”, respondo que para mim, é a defesa da Paz a todo custo, lembrando o gênio profético de Einstein que alertou: “Depois de uma 3ª Guerra, a próxima terá uma nova arma secreta, a atiradeira de arremessar pedras’.

Sem sombra de dúvida. Imaginemos uma volta à Idade da Pedra e que com esta tragédia a Humanidade teria que se reinventar.