Poesia

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A harpa

 

Prende, arrebata, enleva, atrai, consola

A harpa tangida por convulsos dedos,

Vivem nela mistérios e segredos,

É berceuse, é balada, é barcarola.

 

Harmonia nervosa que desola,

Vento noturno dentre os arvoredos

A erguer fantasmas e secretos medos,

Nas suas cordas um soluço rola…

 

Tu’alma é como esta harpa peregrina

Que tem sabor de música divina

E só pelos eleitos é tangida.

 

Harpa dos céus que pelos céus murmura

E que enche os céus da música mais pura,

como de uma saudade indefinida.

 

Cruz e Sousa

 

O Poeta

 

De formação parnasiana, da qual nunca se afastou totalmente, Cruz e Sousa aliou um grande poder verbal e imagístico à musicalidade e às preocupações espirituais, características que o incluem entre os maiores poetas simbolistas brasileiros.

 

João da Cruz e Sousa nasceu em Desterro, atual Florianópolis SC, em 24 de novembro de 1861. Filho de escravos foi criado pelos antigos senhores de seus pais até 1870, quando seu protetor morreu. Terminados os estudos, dedicou-se ao magistério e publicou alguns poemas em jornais da província. Empenhado na campanha abolicionista, redigiu, durante vários anos, a Tribuna Popular. Fixou-se no Rio de Janeiro RJ em 1890, aderindo ao simbolismo.

 

Em Broquéis (1893), livro que deu início concreto ao simbolismo no Brasil, o poeta não realizou totalmente seu ideal estético devido aos laços com o formalismo parnasiano. Na segunda fase, representada por Faróis (1900), abandonou o esteticismo para cultivar um confissionismo revoltado. Somente na fase final, fixada em Últimos sonetos (1905), realizou o ideal simbolista de exploração do poder pleno da palavra.

 

Sua ânsia de infinito e verdade e seu agudo senso estético levam-no a uma poesia original e profunda. Foi também um dos primeiros que se dedicaram na literatura brasileira à prosa poética. O sociólogo Roger Bastide situou-o ao lado dos grandes simbolistas franceses, salientando, porém, a diferença da expressão da raça.

 

Tendente à sublimação por um lado, como em “Siderações” (“Para as estrelas de cristais gelados / as ânsias e os desejos vão subindo”), o poeta negro, por outro, revela acentos sombrios de protesto, como em “Litania dos pobres” (“Ó pobres, o vosso bando / é tremendo, é formidando! / Ele já marcha crescendo / o vosso bando tremendo!”).

Conhecido como o “poeta negro”, Cruz e Sousa viveu seus últimos anos em infortúnio e miséria e sua trajetória humana e poética foi marcada por densa angústia. Morreu em Sítio MG, onde a tuberculose o fez recolher-se, à procura de um melhor clima, em 19 de março de 1898.

Uma resposta para Poesia

  1. Lhiardy disse:

    Olá!

    Entrei no seu Blog para adquirir informações sobre o poema Siderações, de Cruz e Souza e de pronto me surpreendi com uma imagem forte, a descrição do ambiente de um escritor.

    Simplesmente impactante a disposição dos inseparáveis parceiros do escritor: a máquina datilográfica (cúmplice), o teclado de computador, a binga de cigarro, o copo com um resto de bebida dentro, uma caneca de café, óculos de sol e uma claridade sobre a mesa que não percebo se é o raio de sol ou o aconchego da luminária.

    Você não tem noção de o quanto esta imagem me fez refletir.

    Ma-ra-vi-lho-so!