Hilda Hilst

Comentários desativados em Hilda Hilst
Compartilhar

Sonetos que não são

 

 Aflição de ser eu e não ser outra.

 

Aflição de não ser, amor, aquela

 

Que muitas filhas te deu, casou donzela

 

E à noite se prepara e se adivinha

 

 Objeto de amor, atenta e bela.

 

Aflição de não ser a grande ilha

 

Que te retém e não te desespera.

 

(A noite como fera se avizinha.)

 

 Aflição de ser água em meio à terra

 

E ter a face conturbada e móvel.

 

E a um só tempo múltipla e imóvel

 

 Não saber se se ausenta ou se te espera.

 

Aflição de te amar, se te comove.

 

E sendo água, amor, querer ser terra.

 

 Hilda Hilst

 

 Autora de 41 livros, entre eles “O Caderno Rosa de Lori Lamby”,
com teor pornográfico, Hilda Hilst nasceu em Jaú, no interior de São Paulo,
mas morava na Casa do Sol, chácara próxima a Campinas.
Formada em direito pela Faculdade São Francisco, da USP,
Hilda escreveu aos 20 anos seu primeiro livro de poesias, “Presságio”.
Em 1997, sua última obra, “Estar sendo Ter sido”, foi publicada.

A escritora, que teve textos traduzidos para o francês, o inglês, o italiano e
o alemão, recebeu importante prêmios, com o de melhor livro do ano, c
oncedido pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), por
“Ficções” (1977), e o Jabuti, em 1984, por “Cantares de perda e
predileção” (1983), e em 1993 por “A obscena senhora D. Qadós” (1993).
Faleceu em 2004, aos 73 anos.

Os comentários estão fechados.