DA POLARIZAÇÃO

[ 2 ] Comments
Compartilhar

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Meditando na bela Pirâmide de Cristal em Brasília, recuei ao tempo juvenil do Ginásio quando estudava Geografia (aula que adorava!). Então lembrei-me que a Cartografia traça linhas no desenho do globo terrestre para o estudo planetário dos Meridianos, das Paralelas e da Linha do Equador que divide o planeta nos hemisférios Norte, em cima, e o Sul, abaixo.

Localizados nos extremos norte e sul do globo temos os Polos Geográficos, originados pela inclinação do eixo terrestre, somada ao movimento de rotação. Sua observação é antiga, do Egito dos faraós aos gregos antigos, como Anaximandro e Eratóstenes, que os estudaram e se fascinaram por eles.

O interessante é que os polos, além do que seu papel físico desperta, cria uma metáfora bastante usada, a polarização, que divide nações entre elas e também internamente. No Exterior, vê-se as disputas insanas dos atuais e medíocres chefes de Estado; e, no plano interno, assiste-se uma disputa de facções políticas pela soberania sobre as outras.

Os políticos polarizados, principalmente os governantes, não ligam para os direitos e os deveres legais que a Soberania comporta, e o povão concebe que apenas os governos, pela imagem do poder que apresentam, a detém.

Na condição de Estado, o conceito de Soberania não precisa da balança da Justiça para defini-la; limita-se ao poder do Estado sobre seu território, sobre o sistema jurídico, a Nação e os recursos econômicos.

Como os polos do planeta marcam pontos cardeais, vivemos um período histórico que pela mediocridade dos líderes mundiais, a política se degenera por falta de princípios éticos, e os povos são arrastados para animosidades recíprocas dispondo-se a se polarizar por frivolidades.

Esta condenável divisão leva teoricamente à matemática e à física, porque polarizar é estabelecer extremos opostos em relação a um centro — princípio que se estende à filosofia e à política.

No mundo do pensamento, as ideias do bem e o mal, direita e esquerda, também se estruturam por contraste. Por isto, é preciso compreender a divisão que das quatro operações aritméticas é a mais complicada.

A divisão nos cálculos básicos da matemática é a única operação que pode gerar frações ou restos inteiros. Dessa maneira, a sua representação não pode ser intuitiva, mas simbólica, obrigando-nos a entender que a divisão é o inverso da multiplicação.

Se na matemática isto é apenas um raciocínio, na vida real e na política em particular, o resultado fracionário traz perdas irreparáveis para a sociedade humana.

Um país não pode se organizar com uma sociedade dividida; torna-se um cenário de erros e de insegurança jurídica como temos sofrido sob o domínio real da polarização entre os dois populistas, Bolsonaro e Lula.

Isto está comprovado nas pesquisas de opinião pública. A inversão dos valores morais e éticos passou a ser uma regra, como ocorre no conceito estabelecido em que o mundo do trabalho paga o assistencialismo populista que mascara a compra de votos e abre o caminho para a preguiça e o vício.

A crueza deste raciocínio choca muitas pessoas. E, para minha tristeza, são pessoas cujo sentimento humanitário se deixam enganar pela demagogia discursiva do horrível populismo.

Anos atrás, estudante sonhador, despertei para a reflexão do economista Roberto Campos, que eu considerava à época um baita reacionário (nós o chamávamos de “Bob Fields”). Ele disse numa entrevista: “O que os governos populistas latino-americanos desejam é um capitalismo sem lucros, um socialismo sem disciplina e investimento sem investidores estrangeiros”.

Este background socioeconômico descrito com clarividência e humor apurado, mostra a que serve a polarização colonialista que se vê tendo de um lado com os bolsonaristas defendendo a matriz norte-americana e, do outro, lulopetistas compartilhando com um bloco dominado por regimes autocratas.

Para finalizar, volto aos cartógrafos e geógrafos que estabeleceram no desenho do Globo Terrestre denominando “Coordenada Geográfica” o ponto em que um paralelo cruza com um meridiano.

Na rotação do Brasil polarizado há um ponto coordenado pelo Judiciário cruzando com o Executivo para usurpar as funções do Legislativo; este, dominado por picaretas, aceita de bom grado o desequilíbrio constitucional….

2 respostas para DA POLARIZAÇÃO

  1. WELTON REIS DOS SANTOS disse:

    Li os dois últimos artigos e aprendi muito como de costume. O diabo brasileiro não encontrou nas medidas longitudinais e das latitudes o seu tridente disfarçado de legislativo, executivo e judiciário a serviço do populismo. Quem sabe um dia as pontas sejam aparadas e assim não ferir quem quer seja. Ah! O diabo é vermelho, será esquerdista ou ficou assim de tanta vergonha?

  2. Oliveira WA disse:

    Miranda, tomo a liberdade de acrescentar à sua brilhante reflexão, que num passado recente, o Brasil sendo representado pelo IBGE, teve a ousadia de apresentar no exterior, o mapa mundi de cabeça para baixo, o que combina para realmente reforçar, como eles interpretam a geografia que tanto nos auxiliou na compreensão do mundo, nos idos dos bons tempos escolares que vivemos, entre mapas de linhas paralelas e os Meridianos… Hoje de fato resisto, mas não posso deixar de considerar que vivemos a realidade cruel, onde gestores e instituições, estão há muito efetivamente deixando nosso Brasil, de cabeça para baixo. Triste realidade.