Notícias
Manuel Bandeira
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
- Comentários desativados em Manuel Bandeira
- Tweet This !
OS 5 W
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“A ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro” (Gabriel García Márquez)
Pouco familiarizado com a língua inglesa, papeando aqui, mimicando lá, lembrei-me aqui em Nova Iorque das minhas primeiras lições de jornalismo perdidas no demérito da imprensa atual, empresarial e politiqueira. Eram naquele tempo quatro “W”, agora são discutíveis cinco “W”.
O W que entra no esquema da reportagem correta, vem do inglês; as quatro interrogações que eram exigidas no meu tempo para uma informação completa eram who, (quem?); why, (como?); when, (quando?); e, where, (onde?). Veio depois, what, (o quê).
Com este bê-á-bá que o jornalismo norte-americano ensinou para o mundo da notícia, venho escapando aqui em Nova Iorque. Além disso, reforço a minha consciência de que a liberdade da imprensa nos EUA é sustentada por publicações independentes e os diários das cidades do interior.
Vejo também que o idealismo do jornalista subsiste aqui, embora os tentáculos da influência do dinheiro despejado pela Soros Fund Management cheguem a certas publicações, coincidentemente aquela ‘meia dúzia’ de três ou quatro jornais que são citados no Brasil pela mídia oposicionista.
O interessante é que as informações locais são sempre corretas e seguidas por todos numa megalópole como Nova Iorque. Embora os taxistas (na maioria indianos ou latinos) sejam apressados, obedecem às regras de trânsito.
O pedestre nunca desobedece aos sinais luminosos (quase nunca, corrigindo) atravessa a rua fora das faixas, e respeita o caminhar à direita e à esquerda nas calçadas e no metrô; o que surpreende quem vem do Rio de Janeiro…
Em locais de convivência, hall de hotéis, teatros, museus, bares, restaurante e parques as pessoas se cumprimentam, guardando o respeito à privacidade do outro. Nas lojas e supermercados observa-se duas coisas importantes: compra-se apenas o necessário e se nota preocupação com a economia, observando os preços das mercadorias.
A política aqui é mais intensa nas manchetes dos jornais escritos ou televisados (ainda não ouvi o rádio) e as manifestações não reúnem mais de 100 pessoas.
Desde ontem já se nota a atuação de segurança policial nas imediações do prédio da Onu, em preparação da próxima Conferência, quando cabe ao Brasil a sua abertura, que este ano terá o discurso do presidente Jair Bolsonaro.
É a primeira vez – e possivelmente a última – que venho a Nova Iorque, mas como sou enxerido, aconselho a todos que façam os que os populistas, auto assumidos representantes da esquerda brasileira adora fazer, vir aos Estados Unidos. Inimigos do capitalismo, lulopetistas dos cinquenta tons de vermelho veem observar as desgraças deste regime odiento, reforçando-lhes a convicção de que vale a pena manter a defesa dos paraísos cubano e venezuelano.
Estou vivendo, sem dúvida, uma experiência social emocionante, observando o comportamento consciente e disciplinado dos nova-iorquinos (aqui nascidos ou chegados de todos os quadrantes mundiais) em respeito ao outro.
Como velho jornalista que aprendeu a brigar pela informação correta, como um direito do povo, vou desligar o microfone e falar ao pé-de-ouvido dos amigos do Twitter, obedecendo ao princípio do “off the record” para uma confidência: O que vi de ruim não vou contar em respeito aos que me receberam com respeito e amabilidade…
Olavo Bilac
Via Láctea
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” e eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
- Comentários desativados em Olavo Bilac
- Tweet This !
CONSELHO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“Se você é capaz de distinguir entre o bom e o mau conselho, então não precisa de conselho”
(Edward Murphy)
Quando deixei de ser menino, mas ainda não me tornara adulto, ouvi uma lição que trago até hoje nos ouvidos: “Se conselho fosse bom não seria gratuito, cobrar-se-ia muito caro por ele”… Poucos da minha geração seguiram este ensinamento, ouvindo-os e distribuindo-os com outros…
Talvez estivessem certos. É inconveniente pedir conselhos, mas deve-se recebe-los com agrado, e sendo bons, passa-los adiante para quem encontre utilidade neles.
No meu caso, guardo com carinho o valor das palavras que ilustram os pensamentos, elas são os instrumentos adequados para garimpar sabedoria. Aprendi com o grande Confúcio: “Eu não procuro saber das respostas, procuro compreender as perguntas. ” As palavras, escritas ou faladas são moedas de troca das experiências.
Perguntar é uma obrigação de quem quer aprender. Lembro uma história antiga que ouvi, mas não sei se expressa uma passagem histórica ou uma lenda; como é elucidativa, memorizei-a e registro-a em linguagem corrente. Ei-la:
“Na primeira vez em que foi convidado a falar num comício, Alcebíades, o grande orador e político da antiguidade grega, sofreu um medo danado de enfrentar o auditório. Sentiu aquilo que a gíria teatral chama “trac”, a vacilação em enfrentar o público. O seu tio Péricles mandou-o procurar o conselho de Sócrates, o sábio.
Expressando ao Mestre o que ocorria, Alcebíades ouviu dele: – “Acaso te acanharias em falar cara a cara com o feirante Ariston? ” – “Não”, respondeu o jovem.
“O filósofo insistiu: – “Terias medo de conversar cara a cara com o sapateiro Leandro? ” – “Evidente que não! ”, enfatizou o político principiante.
“Sócrates então resumiu o seu julgamento sobre a multidão: – “Nesse caso, o que pode te causar preocupação a ideia de vê-los ambos multiplicados por cem ou por mil? ”
Esta tirada filosófica substituiu o “Conselho” o substantivo masculino originário do latim, (concilium, ii) com significado de associação, reunião, assembleia, concílio. A palavra vulgarizada passou também a ser pessoa que dá conselhos; quem aconselha, orienta, dá direcionamentos a outrem; aconselhador, guia.
Conselho pode ser um aviso, um parecer ou um grupo de pessoas com funções deliberativas, como “conselho de família”, “conselho de ministros” ou “conselho de guerra”. Parece estranho, mas estão corretos os verbetes conselho (com “s”) e concelho (com “c”) na língua portuguesa.
Esta troca-letras é corriqueira e frequente na gramática e usual na advocacia, na magistratura e no parlamento. Registra-se com ela a vitória do ministro Sérgio Moro sobre os jornalistas comprometidos em criticá-lo e metidos a conhecer a língua lusófona. Participando de uma audiência pública no Congresso, Moro usou a palavra “Conge” sendo criticado pela mídia como se tivesse cometido um erro.
Esse exemplo mais do que perfeito da crítica ignorante teve efeito entre os ignorantes lulopetistas ávidos em apontar erros do juiz da Lava Jato, mas não entre os estudiosos do idioma…. Agentes midiáticos não pesquisaram o novo acordo ortográfico, nem estudaram a redução de sílabas átonas na linguagem coloquial.
Para o respeitado gramático, doutor Ernani Terra, a palavra “Conjugue” na terminologia jurídica, tem como raiz “jugo”, trazendo em si o conceito de vínculo matrimonial. Deslizou na linguagem comum para “Conge”. Terra, ironicamente, apela para outro jargão advocatício, o “benefício da dúvida”, que deveria ser dado a Moro…
Na minha opinião, como Sérgio Moro é Sérgio Moro, caber-lhe-á até o direito de criar neologismos… por isso, o Dicionário informal sempre presente no Google, apressou-se a registrar o verbete como variação falada de “conjugue”, referindo-se à pessoa com quem se mantém relacionamento matrimonial.
Para os cretinos que atacam Moro para defender o arquicorrupto Lula da Silva, preso por corrupção e lavagem de dinheiro, deixo-lhes Machado de Assis: “Ouçam-me este conselho: em política, não se perdoa nem se esquece nada”.
Fernando Pessoa
Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu ?”
Deus sabe, porque o escreveu.
- Comentários desativados em Fernando Pessoa
- Tweet This !
Paul Verlaine
Canção do outono
Os longos sons
dos violões,
pelo outono
me enchem de dor
e de um langor
de abandono.
E choro, quando
ouço, ofegando,
bater a hora,
lembrando os dias
e as alegrias:
e ais de outrora.
E vou-me ao vento
que, num tormento,
me transporta
de cá p’ra lá,
como faz à
folha morta.
tradução de Onestaldo de Pennafort
- Comentários desativados em Paul Verlaine
- Tweet This !
Cora Coralina
Considerações de Aninha
Melhor do que a criatura,
fez o criador a criação.
A criatura é limitada.
O tempo, o espaço,
normas e costumes.
Erros e acertos.
A criação é ilimitada.
Excede o tempo e o meio.
Projeta-se no Cosmos
- Comentários desativados em Cora Coralina
- Tweet This !
Fernando Pessoa
FRESTA
Em meus momentos escuros
Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quanto a vida dá ou tem,
Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longínquo horizonte
Cheio de sol posto ou nado
Revivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusão
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.
Cecília Meireles
ENCOMENDA
Desejo uma fotografia
como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.
Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.
Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia…
Não… Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.
- Comentários desativados em Cecília Meireles
- Tweet This !
Carlos Drummond de Andrade
O MUNDO É GRANDE
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
- Comentários desativados em Carlos Drummond de Andrade
- Tweet This !
Comentários Recentes