Artigo

DAS PAIXÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Civilização significa tudo aquilo que os seres humanos desenvolveram ao longo dos anos para se sobrepor à ancestral condição animalesca. Trata-se de uma arquitetura social para atender à humanidade nas suas necessidades.

O processo da evolução civilizatória levou as nações a se organizarem com um esquema jurídico para manter as instituições governamentais e proteger a cidadania contra o poder monocrático das ditaduras.

É por isto que a civilização deve ser defendida contra o individualismo. São impulsos individuais de lideranças políticas que adotem qualquer rótulo ideológico seja de “direita” ou de “esquerda”.

Só visando a coletividade é que as nações podem cumprir a tarefa de aproveitar o que a Natureza oferece, visando produzir bens para o bem estar social. Assim pensando, desde os tempos remotos, nasceram sonhos utópicos fazendo a festa dos filósofos….

As utopias visam regimes perfeitos que só podem existir teoricamente. Uma sociedade excepcional, igualitária, distributiva e justa é o modelo inatingível que o filósofo, escritor e humanista inglês, Tomás Morus, criou em 1516 junto com o próprio termo, “Utopia”.

A tese de um sistema ideal das condições e relacionamento humano defendida por Morus foi possivelmente inspirada no antecessor, o filósofo grego Platão, que trouxe no seu livro “Atlântida”, uma cidade governada por filósofos, onde o Saber e a Justiça orientariam a vida coletiva.

Entre os sonhos de uma sociedade perfeita funcionando como um todo surgiu cem anos depois da “Utopia”, em 1602, a “A Cidade do Sol”, a projeção de uma sociedade teocrática e científica organizada pela cooperação intelectual, foi defendida pelo frade dominicano Tomazo Campanella; e, no mesmo século, em 1627, o filósofo Francis Bacon escreveu a “Nova Atlântida”, exaltando o papel da ciência e da pesquisa por instituições de governo respeitáveis como base para o progresso.

Este conjunto imaginário por uma sociedade perfeita ressurgiu na agitação intelectual da Revolução Francesa e radicalizou cem anos depois (1871) na Comuna de Paris, um governo popular formado por operários sob influência anarquista que durou 72 dias.

A Utopia, levada à prática pela primeira vez pelos communards, implementou reformas que mais tarde foram adotadas na comunidade internacional, como o ensino gratuito e a autogestão de fábricas.

Esta experiência anarquista foi sufocada pelo exército francês resultando em milhares de mortos e 43.522 presos incluindo entre eles 1.054 mulheres; tal violência acendeu as paixões políticas na Europa e de lá, se expandiu mundialmente.

O espírito da contradição entre revolucionários e governos opressores levou Helvétius, filósofo francês, maçom e literato, a observar que há paixões originárias da Natureza e as que se tornam a bandeira das revoltas contra ambições, corrupção e a desigualdade social e política.

Interessante é que Helvétius concluiu que estas duas espécies de paixão produzem uma terceira, aquela que leva o ser humano a adotar “amor por um” e “ódio pelo outro” ….

Com esta tese, caímos no caso brasileiro da nojenta polarização eleitoral atualmente reinante e assumindo a forma caricata da paixão, o culto da personalidade. Veja-se que assentados no favoritismo e nos privilégios, os polarizadores Jair e Lula partilham da ideia dos “programas sociais” que mascaram a compra de votos com o dinheiro público.

Isto provoca o contraponto entre o desenvolvimento social, econômico e político e a estagnação que favorece uma minoria; esta distorção mantém a política populista que subtrai valores do mundo do trabalho para favorecer o não-trabalho. É o fascismo com a fantasia do socialismo, trocando o princípio “quem não trabalha não come”, por outro: “ganhe uma bolsa e vote na gente”.

Assim, as paixões do sistema de alternância eleitoralista tornam-se ridículas vendo-se a disputa de ambos lados para conquistar a simpatia de Trump; a direita bolsonarista puxando o saco na copa e cozinha da Casa Branca e a esquerda lulista chamando o presidente dos EUA de “cumpanhero Trump” ….

DAS PROIBIÇÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Na ditadura militar que durou de 1964 a 1979 censurando a expressão do pensamento, cantou-se a canção de Caetano Veloso “É Proibido Proibir” como resistência. O autor parece até ter s’esquecido disto, pois não protesta contra a censura que o Governo Lula quer; mas os verdadeiros democratas, não.

Lembro-me de uma entrevista em que Caetano disse que o tema se inspirou num pichamento em muros, durante as revoltas estudantis de 1968 de Paris: “É Proibido Proibir”, palavra-de-ordem que se tornou um slogan nos países em que a liberdade é sufocada.

Desafiar proibições é da natureza humana; sofre, porém, a comezinha repressão desde a primeira infância, quando se é impedido de chupar o dedo na fase do prazer oral, e se torna rotineira ao longo da vida pelos costumes sociais e leis impostas pelos governos.

Algumas proibições no Brasil, por exemplo, são inusitadas… É ininteligível que um jovem de 15 anos tenha o direito de votar para presidente e não possa tirar a carteira de motorista.

Na minha mocidade, com menos de 18 anos, sofri a proibição de frequentar os salões de bilhar, e embora jogasse sinuca com destreza elogiável nos clubes sociais ficando, porém, impedido de disputar torneios públicos.

Revoltei-me logo cedo contra proibições estudando o que os escravocratas brasileiros criaram e deixaram uma preconceituosa herança para nós. Negava aos escravos comer à noite, inventando que é venenoso chupar manga e beber leite, que açúcar faz mal e banana dá prisão de ventre…. Tem até um ditado: “Banana de manhã é ouro, de tarde é prata, de noite mata…”.

Os males da escravatura são vigentes até hoje, com conceitos firmados, opiniões sem base sólida ou conhecimento científico aprofundado, sempre de forma negativa ou desfavorável.

As proibições são intolerantes, discriminatórias, opressivas e xenófobas, como termo literal de prejulgamento; com isto, estabelecem uma distopia simulada e repressiva contra as tendências sociais, políticas e tecnológicas discordantes do Sistema de Governo.

Esta constatação nos leva ao anarquista espanhol que chegou em país inóspito e perguntou a um nativo: – “Hay Gobierno nesta Tierra?”. “No”, respondeu o receptor; ele então foi veemente: – “Precisamos hacer-lo para después combater-lo!….”

No “Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr” o Humorista mostra revolta por ser governado. Diz: “Ser governado é ser inspecionado o tempo todo, ser espionado, legislado absurdamente, regulamentado, condicionado, doutrinado, estampilhado e proibido”.

Uma opinião bem diferente dos artistas que se submetem à opressão, por nostalgia de grilhões escravocratas ou porque se vendem pelos trinta dinheiros que o poder oferece com leis tipo Rouanet. Eles nos levam ao lamento de Maquiavel: “Como é perigoso tentar libertar um povo que prefere a escravidão!”.

Trazemos dos estudos da Mitologia Grega a dureza das proibições no Mito de Prometeu, Titã que simpatizava com os humanos e enfrentou o poderoso Zeus, que proibiu aos homens de possuírem o fogo. Vendo os viventes frágeis comendo alimentos crus e sofrendo frio, Prometeu rouba o fogo do Olimpo e o dá à humanidade, permitindo-lhe cozinhar, aquecer-se, desenvolver artes, ofícios e civilização.

Para puni-lo, Zeus manda acorrenta-lo a uma rocha onde um abutre diariamente lhe rasga a barriga e come-lhe o fígado, que à noite se regenera para que a tortura se repita eternamente.

O anedotário histórico conta que o dramaturgo francês Tristan Bernard contou esta lenda para seu netinho, que exclamou: – “Coitado do abutre!”. Bernard, surpreso, perguntou: -Como? Porque tens pena do abutre e não de Prometeu? A criança insistiu: – “Do abutre, sim, porque deve ser horrível comer fígado todos os dias…”

Vindos para legalizar as proibições, juízes interpretam as leis, nem sempre conforme determinou o legislador, e quando proíbem qualquer coisa fazem muitas vezes por interesses pessoais ou políticos.

… E as proibições nos levam a Montesquieu, curto e grosso: “Não há tirania mais cruel do que aquela que se perpetua sob o escudo da lei e em nome da Justiça”.

 

 

DE MURMÚRIOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Só ouvi a palavra “Murmúrios” em letras de boleros e tangos. É visceral; o seu intimismo é raro. Dicionarizada, a palavra Murmúrio é um substantivo masculino que indica a ação ou efeito de falar baixinho, sussurrar; tem o sentido de queixa e lamentação. No seu lado negativo é um comentário malicioso que se faz cheio de insinuações.

Tenho um exemplo para a maledicência: um primo mineiro metido na política das Minas Gerais pretendeu candidatar-se a deputado. Escreveu aos parentes pedindo ajuda para o projeto; ao pai, meu tio João, pediu um jipe, que é econômico, seguro e indispensável para deslocamentos interioranos.

Do Pai recebeu uma carta – naqueles tempos de telefonemas difíceis, sem celular e sem Internet– que considero antológica; num conselho de inesperada frieza perguntou se o filho estava preparado para ser chamado de “viado”, “corno” e “ladrão” na campanha eleitoral;  e assim descreveu a realidade murmurante do nosso mundo político cheio de falsas acusações, calúnias e difamações que, depois de publicadas, são como uma flecha; depois de disparada não tem volta.

Fuxicos, cartas anônimas e pichações contra alguém, lembram o que encenou Shakespeare com Hamlet e Ofélia, a advertência sobre a inevitabilidade da calúnia. O “Murmúrio” não caminha pela “Terra Plana”, não fala a linguagem neutra, nem pode ser considerado fake news. Levá-lo ao anedotário fica de bom tamanho; e um deles corre ao pé do ouvido entre os camitas e os semitas sacaneando uns aos outros.

Um amigo recém chegado de Nova Iorque contou-me uma anedota ocorrida no Inverno nevoento nova-iorquino, com temperatura abaixo de zero quando dois judeus saíram de um café aquecido e deixaram a porta aberta. Lá de dentro gritaram: – “Fechem a porta, mal educados!”; dai, Davi virou pra Jacó: – “Ouviste como estão atrevidos estes racistas  antissemitas?”.

A anedota foi contada na casa de um amigo que namora uma judia; ouvindo a piada, retrucou com o caso de um palestino que morria de medo em viajar de avião e ouviu de um colega, fundamentalista: – “Alá (bendito seja o nome do profeta!), se quiser te levar, sabe onde encontra-lo…. E o medroso argumentou:  – “Certíssimo, meu caro. E se Alá (glória ao nome de Alá!) quiser levar o piloto do avião?”

Estes murmúrios levados para fora do Oriente Médio são mais políticos do que xenófobos; nós conhecemos facécias de outros povos. Ouvi uma, referindo-se que os escoceses são o povo mais pão-duro do mundo; e relata que um deles estava se penteando e exclamou: – “Que desgraça!”, e falou à esposa: – “Quebrei um dente do pente e vou precisar comprar outro…” Aí a mulher, dos tradicionais MacListers, acudiu: – “Não podes deixar para depois?” …. E ouviu do marido; – “Não, não dá, minha querida, era o último dente!”.

Da Europa para o Extremo Oriente tem a chistosa cena ocorrida do japonês pedindo a um amigo brasileiro indicar nome para seu filho que estava para nascer, e o amigo se prontificou, dizendo: – “Sugiro que seja Sérgio”. E o futuro pai, agradecido: – “Ótimo! Gostei muito de ‘Sugiro’!” ….

No Hemisfério Sul, do lado Oeste do Atlântico, na Pindorama, ouvem-se murmúrios ecoando desde o Planalto Central; não chegam a tsunamis, mantêm-se como marolas espumantes de verdades que parecem mentiras e mentiras que se assemelham a verdades sobre a descondenação de Lula e a sua eleição, promovidas pelo STF.

De lá, as varreduras para livrar condenados, réus confessos pela Lava Jato estão enriquecendo parentes de ministros que usam e abusam de sentenças monocráticas em julgamentos cheios de suspeição.

Às direitas, a trama golpista dos militares amantes da ditadura e revanchistas insatisfeitos pela derrota eleitoral, provam a reprovação dos mesmos nos quesitos Estratégia e Tática; traçaram a condução de um golpe de Estado com uma ignorância flagrante, imperdoável, tanto como atentado ao Estado de Direito como pela antológica burrice dos Bolsonaro.

Surfando na “soberania lulopetista” multiplicam-se os murmúrios sobre a clamorosa mentira de Lula desvendada em plena assembleia geral da ONU: depois de repetir sete vezes que Trump não queria um diálogo, foi convidado por ele para uma reunião na Casa Branca, e se arregou covardemente….

No deserto de patriotismo que empoeira o Legislativo tivemos agora, com a reprovação de 76% dos brasileiros e brasileiras a PEC. da Blindagem, um louvor ao crime organizado com diploma de corporativismo da picaretagem delinquente.

Enfim, insinuam que o presidente da Câmara Federal, Hugo Motta, ouve como uma homenagem o bolero de Rafael Cardenas / Rubén Fuente, que Gregório Barrios cantou – “Que murmurem, / No mi importa que murmurem/ No mi importa que lo digam/ Ni que lo pensem la gente….”

DOS SISTEMAS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Surpreendeu-me encontrar entre as mensagens que recebo, oito delas pedindo uma resposta pelas minhas inúmeras citações sobre “Sistema Corrupto” nos artigos que venho publicando.

“Sistema”, sem adjetivação, é definido nos dicionários como um conjunto de elementos inter-relacionados e interdependentes agindo na mesma direção para conquistar um objetivo comum. Explicá-lo sofreu uma busca antiga, vem dos Vedas orientais até chegar a Kant ou Hegel, vindos nos ombros dos gigantes Platão e Aristóteles que filosofaram sobre o “todo” que se sobrepõe às partes comprometidas.

Traduzindo esta procura pela explicação dos sistemas, encontramos uma organização, “um todo”, em que a ação é superior à soma dos elementos particulares. No século18 o pensamento iluminista concluiu que a Natureza é um sistema, “um todo” fracionado com partes interdependentes, mas perfeitamente sincronizadas num concerto harmônico.

Assim surgiu a teoria da Interdependência, propondo que nenhum elemento de um Sistema funcione isoladamente, seja na organização ou no planejamento. Baseados neste postulado, os matemáticos trazem por meio de modelos formais, sistemas axiomáticos que compõe a consideração do que é certo ou errado.

Em paralelo, os psiquiatras e psicólogos exploram sistemas mentais, culturais e cognitivos para compreender crenças, identidade e mudanças, frequentemente utilizando conceitos como feedback, autorregulação e mentalidade conformada.

Nessa perspectiva, fica estabelecida uma arquitetura simbiótica de princípios, ideias e práticas, onde num Sistema é comparado com uma sociedade anônima, onde não há um comando personalizado, a chefia é oculta.

Assim concluímos que a divisão das tarefas de um Sistema é uma cadeia de comando coletivo unanimemente focado no objetivo desejado. Estudando, encontramos o Sistema de Governo com o poder político dividido de acordo com as funções sistêmicas de diferentes poderes. Conforme o regime adotado o Sistema sempre mantém um poder Executivo e um poder Legislativo; nas repúblicas democráticas aparece o Judiciário.

Os sistemas de governo têm um profundo impacto na forma como os cidadãos vivem, trabalham e interagem em uma sociedade. Sua estrutura e os seus princípios definem teoricamente as liberdades, direitos, deveres e o bem-estar dos cidadão. Indo à realidade conjuntural a cidadania está inserida e influenciada pelo Sistema de Governo através do qual as nações são organizadas e governadas.

De maneira geral, os sistemas de Governo agregam à administração pública diversos subsistemas, formando assim um novo sistema visto como parte de um sistema ainda maior, em alguns contextos, um suprassistema.

A complexidade e diversidade desses subsistemas refletem a natureza multifacetada da cidadania e a própria estrutura social. Ludwig von Bertalanffy na década de 1940 formulou a Teoria Geral dos Sistemas, buscando princípios universais aplicáveis a diferentes domínios científicos.

Pela teoria ludwiguiana se enquadra o crime organizado como um Sistema que funciona como um empreendimento econômico e político, com estrutura hierárquica, divisão de tarefas, uso de tecnologia e busca por lucro.

Facções criminosas, como o CV e o PCC no Brasil são exemplos de sistemas criminosos que atuam praticando diversas atividades ilícitas inclusive o terrorismo; na sua complexidade infiltra-se no Governo e no próprio Estado, corrompendo instituições políticas e funcionários públicos cobiçosos.

É por isso que não são isoladas as atividades criminosas dentro do Sistema de Governo, mas como um conjunto de ações coordenadas que se conectam, exemplificadas pelos perdões que o STF vem concedendo aos delinquentes sentenciados e punidos pela Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro.

Dessa maneira, poder invisível o Sistema de Governo Corrupto mostrou-se de corpo inteiro no caso do INSS, acobertando a fraude de entidades sindicais corruptas e tendo  o fantoche Lula da Silva acumpliciando-se com a pelegagem sindical que roubou os aposentados e pensionistas.

 

DA POLARIZAÇÃO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Meditando na bela Pirâmide de Cristal em Brasília, recuei ao tempo juvenil do Ginásio quando estudava Geografia (aula que adorava!). Então lembrei-me que a Cartografia traça linhas no desenho do globo terrestre para o estudo planetário dos Meridianos, das Paralelas e da Linha do Equador que divide o planeta nos hemisférios Norte, em cima, e o Sul, abaixo.

Localizados nos extremos norte e sul do globo temos os Polos Geográficos, originados pela inclinação do eixo terrestre, somada ao movimento de rotação. Sua observação é antiga, do Egito dos faraós aos gregos antigos, como Anaximandro e Eratóstenes, que os estudaram e se fascinaram por eles.

O interessante é que os polos, além do que seu papel físico desperta, cria uma metáfora bastante usada, a polarização, que divide nações entre elas e também internamente. No Exterior, vê-se as disputas insanas dos atuais e medíocres chefes de Estado; e, no plano interno, assiste-se uma disputa de facções políticas pela soberania sobre as outras.

Os políticos polarizados, principalmente os governantes, não ligam para os direitos e os deveres legais que a Soberania comporta, e o povão concebe que apenas os governos, pela imagem do poder que apresentam, a detém.

Na condição de Estado, o conceito de Soberania não precisa da balança da Justiça para defini-la; limita-se ao poder do Estado sobre seu território, sobre o sistema jurídico, a Nação e os recursos econômicos.

Como os polos do planeta marcam pontos cardeais, vivemos um período histórico que pela mediocridade dos líderes mundiais, a política se degenera por falta de princípios éticos, e os povos são arrastados para animosidades recíprocas dispondo-se a se polarizar por frivolidades.

Esta condenável divisão leva teoricamente à matemática e à física, porque polarizar é estabelecer extremos opostos em relação a um centro — princípio que se estende à filosofia e à política.

No mundo do pensamento, as ideias do bem e o mal, direita e esquerda, também se estruturam por contraste. Por isto, é preciso compreender a divisão que das quatro operações aritméticas é a mais complicada.

A divisão nos cálculos básicos da matemática é a única operação que pode gerar frações ou restos inteiros. Dessa maneira, a sua representação não pode ser intuitiva, mas simbólica, obrigando-nos a entender que a divisão é o inverso da multiplicação.

Se na matemática isto é apenas um raciocínio, na vida real e na política em particular, o resultado fracionário traz perdas irreparáveis para a sociedade humana.

Um país não pode se organizar com uma sociedade dividida; torna-se um cenário de erros e de insegurança jurídica como temos sofrido sob o domínio real da polarização entre os dois populistas, Bolsonaro e Lula.

Isto está comprovado nas pesquisas de opinião pública. A inversão dos valores morais e éticos passou a ser uma regra, como ocorre no conceito estabelecido em que o mundo do trabalho paga o assistencialismo populista que mascara a compra de votos e abre o caminho para a preguiça e o vício.

A crueza deste raciocínio choca muitas pessoas. E, para minha tristeza, são pessoas cujo sentimento humanitário se deixam enganar pela demagogia discursiva do horrível populismo.

Anos atrás, estudante sonhador, despertei para a reflexão do economista Roberto Campos, que eu considerava à época um baita reacionário (nós o chamávamos de “Bob Fields”). Ele disse numa entrevista: “O que os governos populistas latino-americanos desejam é um capitalismo sem lucros, um socialismo sem disciplina e investimento sem investidores estrangeiros”.

Este background socioeconômico descrito com clarividência e humor apurado, mostra a que serve a polarização colonialista que se vê tendo de um lado com os bolsonaristas defendendo a matriz norte-americana e, do outro, lulopetistas compartilhando com um bloco dominado por regimes autocratas.

Para finalizar, volto aos cartógrafos e geógrafos que estabeleceram no desenho do Globo Terrestre denominando “Coordenada Geográfica” o ponto em que um paralelo cruza com um meridiano.

Na rotação do Brasil polarizado há um ponto coordenado pelo Judiciário cruzando com o Executivo para usurpar as funções do Legislativo; este, dominado por picaretas, aceita de bom grado o desequilíbrio constitucional….

DO DIABO

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Vitor, santo católico nascido na Sicília, viveu à época dos imperadores romanos Diocleciano e Maximiniano e das perseguições aos cristãos. Morreu como mártir da Igreja, e, se não me engano, é padroeiro da cidade de Praga.

Em vida, São Vitor pregava a palavra e os milagres de Jesus Cristo, e principalmente o enfrentamento d’Ele com o Diabo, expulsando a legião de demônios que dominavam um pobre homem.

Foi talvez o primeiro pregador do cristianismo a ilustrar o episódio do Cristo de não se deixar seduzir pelo Diabo, conforme Lucas expôs: – “… E o Diabo mostrou-Lhe num instante do tempo todos os reinos do mundo, e disse-Lhe: ‘Tudo será teu se me adorares’; e Jesus respondeu irado: – ‘Vai-te, Satanás; porque está escrito: – ‘Adorarás o Senhor Deus e só a ele seguirás’.

Reconhecendo a existência do Diabo, a Bíblia diz: – “… E isso não é de admirar, pois até Satanás pode se disfarçar e ficar parecendo um anjo de luz. Portanto, não é nada demais que os servidores dele se disfarcem, apresentando-se como pessoas que fazem o bem. (2 Coríntios 11:14-15).

Isto suscita uma pergunta importante:  Por que Deus criaria Satanás, um diabo ‘ruim’ (o nome significa ‘sedutor’) para corromper a humanidade? Deus prometeu a redenção no início dos tempos segundo Abraão e através de Moisés; e a realizou com a ressuscitação de Jesus de Nazaré, morto na cruz.

O que encontramos nos textos bíblicos é que o Diabo, ao contrário, faz tudo para enganar as pessoas negando as promessas divinas e para se apossar das suas almas impedindo-as de entrar no reino dos céus.

Não sei como os teólogos católicos, cismáticos e evangélicos atuais têm abordado a existência do Diabo, embora constate que esta figura sinistra se faz presente no imaginário dos sectários religiosos de todas igrejas.

O povo em geral vê o Diabo como um ente do mal. Sua referência aparece em não-sei-quantos sinônimos; dicionários de gíria e termos populares registram anjo mau, ardiloso, belzebu, canhoto, capiroto, cão, chifrudo, cornudo, demônio, lúcifer, maldito, maligno, malvado, satanás, tinhoso…

É corrente também a crença nas possessões. De vez em quando aparece alguém com o diabo no corpo, situação reconhecida por todas as denominações evangélicas ao manter pastores exorcistas. Com padres católicos é muito explorada no cinema.…

Assim, parece ser fácil encontrar-se endemoniados entre os políticos brasileiros, que reconhecemos pela atuação eleitoralista junto às igrejas e na proliferação de clérigos atuantes nos poderes republicanos. Existe até uma “bancada evangélica”!

Vimos isto no Governo Bolsonaro, o ministro-pastor Milton Ribeiro, da Educação, revelando um diabólico esquema de corrupção praticado pelo colega pastor Gilmar dos Santos, responsável por distribuir verbas para prefeituras.

Não se sabe se foi Deus ou o Diabo em nome do qual foi criado um “gabinete paralelo” no Ministério da Educação. Foi o lado “religioso” dos desmandos da ala direitista mais radical no Governo Bolsonaro, na Pasta ocupada pelos pastores Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura. Vimos que o Ministro-Pastor era uma marionete nas mãos de colegas.

Cismado, vejo com apreensão investidas do lulopetismo para conquistar os pastores evangélicos cabos-eleitorais, enganando-os como fez com o clero católico. Criaram para isto “cursos de formação” para os militantes. Por votos, o Governo Lula vai acolher adoradores do bezerro de ouro, falsos intermediários da Palavra.

Lula, megalomaníaco e mentiroso compulsivo, se assumiu como um salvador, afirmando que está corrigindo o castigo baixado por Deus sobre os sertanejos nordestinos, dizendo: – “Deus deixou o Sertão sem água” porque “sabia” que eu me tornaria presidente e iria trazer água para cá….”

Neste confronto de Deus e o Diabo na Terra do Sol, que encontrei na genialidade de Glauber Rocha, assisti nas redes sociais demoníacos cultuadores de Belzebu com efusivos aplausos a esta injúria.

Assim se vê que se intrometendo e corrompendo na religião, os populistas Bolsonaro e Lula comprovam que são iguais no satanismo, vendo no “bolsopetismo”, seguidores decorando passagens bíblicas e lulopetistas querendo recrutá-los…. Gostaria que ambos lessem Shakespeare, que escreveu: – “O diabo pode até citar as Escrituras quando isso lhe convém…”.

DA CIÊNCIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

O saber natural começou a se diferenciar das visões míticas e religiosas evoluindo pela investigação científica a partir da Alquimia estudada por Hermes Trismegisto e exposta na Tábua da Esmeralda com a visão holística do cosmos e fundacional da alquimia.

Dos textos do Pai da filosofia hermética, da alquimia e da magia foram herdados pelos filósofos pré-socráticos da Grécia antiga, que lançaram as bases da Ciência tal como a conhecemos atualmente.

A Ciência na Antiguidade foi da filosofia natural à prática experimental, graças a Aristóteles, discípulo de Platão, usando o método filosofal primitivo, formalizando raciocínio e a observação como caminhos do conhecimento.

Historicamente se comprova que a partir de Aristóteles o helenismo viveu um esforço coletivo para aproveitar a sabedoria egípcia e babilônica; e assim, o raciocínio lógico alicerçou a observação, tornando a Filosofia a base da Ciência para sistematizar astrologia, a biologia, a geometria, a física e a metafísica.

Enfim, Tales de Mileto (século VI a.C.) previu eclipse solar; Euclides, Arquimedes e Eudoxo de Cnido desenvolveram provas geométricas com a matemática, criando modelos astronômicos e daí veio Eratóstenes que usando sombras em duas cidades diferentes, mediu com precisão a circunferência da Terra.

Infelizmente, tudo isto foi esquecido e negado na Idade Média dominada pelo cristianismo imperial católico e romano,  baseado numa estreita interpretação literal da Bíblia, defendendo o modelo geocêntrico que põe a Terra no centro do universo.

Isto levou Galileu Galilei à prisão domiciliar perpétua por sua defesa do modelo heliocêntrico de Copérnico, que coloca o Sol no centro do sistema planetário; e o seu livro “Diálogo sobre os Dois Sistemas Mundiais” foi proibido pelo reacionário Index Librorum Prohibitorum.

A Idade Moderna que cobriu o período entre a queda de Constantinopla em 1453 até a Revolução Francesa em 1789, marcou uma virada na concepção científica graças aos instrumentos técnicos, telescópio, microscópio, termômetro e barômetro, que ampliaram as observações e as medições quantitativas.

Isto marcou a presença de proeminentes figuras como Johannes Kepler, Francis Bacon e René Descartes. Kepler descreveu o movimento elíptico dos planetas ao redor do Sol formulando três leis planetárias; Bacon sistematizou o método científico indutivo, composta por observação, hipótese, experimentação e conclusão baseada em evidências; e Descartes fundou o racionalismo moderno, introduzindo a geometria analítica e a dúvida metódica como parte do processo científico.

Ainda no século XVIII, Antoine Lavoisier consolidou a revolução química, refutando a Teoria do Flogisto e formulando a lei da conservação da massa e a nomenclatura moderna da Química.

Da máquina a vapor para cá, a Revolução Industrial trouxe ao século 20 a eletricidade, a informática e a automação, caminhando em direção à inteligência artificial; mas por outro lado, estabeleceu a Era Atômica, revelando o imenso poder de destruição contido no átomo inaugurando uma nova etapa na História da Ciência e da Tecnologia.

Assim, a Ciência moderna tornou-se uma força de transformação do conhecimento e na prática social, lançando as bases do mundo contemporâneo com o poder da Comunicação com o rádio, o telefone, a tevê e a Internet. Infelizmente trouxe também a mediocridade dominante entre lideranças globais, especialmente nos EUA e na Rússia.

Esta mediocridade revelou o esvaziamento da política e a polarização de personalidades despreparadas, trocando as concepções de direita e esquerda pelo populismo oportunista, sem qualquer formação de estadistas, e, negativamente, a tomada das decisões, depende deles.

Só o apoio dos governantes tornará a Ciência o fundamento para levar qualidade de vida às nações; mas, com  a mediocridade que se reflete entre nós, o bem comum é desprezado no protagonismo polarizador da incultura que ocorre com Bolsonaro e Lula, ambos sem a instrução necessária a um presidente da República.

Confirmemos que o que recebemos deles em termos científicos foi o estúpido negativismo da Ciência contra as vacinas, pelo bolsonarismo; e, do outro lado, a corrompida iniciativa dos lulopetistas criando a tomada de três pinos para obter propinas…

 

DA FILOSOFIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Jiddu Krishnamurti, teosofista e líder espiritual contemporâneo, abria suas aulas sobre revolução psicológica, com o seguinte pensamento: – “Não há professor, não há aluno, não há líder, não há guru, não há mestre, não há salvador. Você mesmo é o professor, o aluno, o mestre, o guru, o líder, você é tudo.”

Assim se faz um Filósofo, que vai além de um diploma; para sê-lo, é preciso somente comprometer-se com o pensamento crítico, ser curioso, estar aberto ao diálogo e ler sem discriminações, principalmente os gregos antigos, Diógenes de Sínope, Heráclito de Éfeso, Platão e Sócrates.

Vieram depois, Baruch de Spinoza, David Hume, Francis Bacon, Galileu Galilei, Isaac Newton, John Locke, Kant, Nietzsche, Thomas Hobbes e, influenciando grandemente a filosofia ocidental, os franceses Bergson, Blaise Pascal, D’Alambert, Descartes, Diderot, Montesquieu e Voltaire.

A leitura dos clássicos é fácil, até porque a gente encontra a sinopse de suas obras no dr. Google; difícil é analisar ideias com profundidade, duvidar das crenças, identificar contradições e revisar as convicções diante das evidências.

Mesmo sem querer “academizar”, lembro Sócrates: “uma vida não examinada não vale a pena ser vivida”; uma norma que vale para o Filósofo e para nós outros, pessoas comuns. Chegando à Grécia antiga, é impossível esquecer Platão, que ensinou a existência de dois mundos, o mundo sensível (mundo material) e o mundo das ideias (realidade inteligível).

Isto nos leva à dialética de Heráclito, muito anterior à Hegel e aos marxistas, quando identificou as contradições e transformações vitais dizendo que “ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”.

Daí, vem a ideia do confronto que Diógenes, que pela perfeição andava durante o dia pelas ruas com uma lanterna nas mãos à procura de um homem honesto. Já imaginaram se na atual conjuntura brasileira o aprendiz de Filósofo saísse nas ruas com uma lanterna na mão procurando encontrar honestidade entre os homens públicos que ocupam o poder estatal e governamental?

O aprendiz de filósofo, bem intencionado e autônomo, sem dúvida, se arriscaria a enfrentar o desprezo e a perseguição, na busca pelo “mundo ideal”; a Filosofia o obrigaria a isto. Este questionamento sobre os valores éticos que nos cercam, porém, terminaria por leva-lo ao desdém, à ironia e ao sarcasmo. Pior, se algum dos semideuses do Olimpo Supremo se julgasse ofendido, o levaria à prisão.

A palavra Filosofia, originária do grego “Philosophia“, significa amor à sabedoria e somente este amor resolve problemas existenciais; com ele o Filósofo precisa de integridade intelectual e o uso do método dialético para dar respostas conforme a “sua” concepção….

Conhecendo mais a História e a definição do que a própria Filosofia, apreciei e recomendo aos que querem enveredar por este caminho, o livro de Jostein Gaarder, O “Mundo de Sofia” que pela sua simplicidade na argumentação fiz questão de prescrevê-lo para os meus filhos.

Sofia põe em realce o pensamento sobre todas as coisas que fazemos; considera-as atos de consciência relacionados com a realidade que nos cerca; e, se assim acreditarmos, chegaremos à meditação búdica e, com suas variadas técnicas, veremos o que se encerra na nossa consciência.

Será meditando que enfrentaremos as dúvidas que pairam sobre nós, livres do fanatismo, seja religioso ou político. Assim fazendo, sentiremos a necessidade de enfrentar a realidade  escapando da ilusão.

Da minha parte, assumo e me desculpo pela insistência de lutar cotidianamente contra a corrupção que grassa em nosso País e por considerar intolerável a existência de uma polarização eleitoral entre dois populistas corruptos, apoiados irrefletidamente pelos que cultuam estas personalidades.

DA IMPRENSA

MIRANDA SÁ (E-mail; mirandasa@uol.com.br)

Surgida na Era Mercantilista alemã, a imprensa escrita é capitulada na História com os boletins rudimentares limitados a noticiar a entrada e saída de navios mercantes, o comércio e as finanças. Graças a prensa de Gutemberg, expandiu-se rapidamente indo para a França e a Inglaterra.

Na França assumiu um importante papel político às vésperas da Revolução de 1789. Dois jornais =foram editados por Marat, com “L’Ami du Peuple”, e Hébert, com “Le Père Duchesne”, acionados para criticar aristocratas, denunciar o governo e mobilizar os parisienses para as manifestações de rua.

Por eles, a Revolução Francesa garantiu a liberdade de imprensa, incentivando o surgimento de centenas de títulos e opiniões; e assim se espalhou como o “4º poder”, mundo a fora. Infelizmente não alcançou o Brasil colonial, onde o seu primeiro jornal, o “Correio Brasilense”, editado em Londres, circulava de forma clandestina na Colônia e em Portugal.

Fundado pelo jornalista Hipólito José da Costa, o Correio adotou as ideias liberais do Iluminismo inglês e cobriu movimentos nacionais como a Revolução Pernambucana de 1817 formando opinião entre a elite intelectual lusitana e brasileira.

A divulgação de ideias pelos jornais subversivos teve entre nós um impulso ligado aos movimentos libertários no Brasil, como a Conjuração Baiana (1798) e a Confederação do Equador (1824). O exemplo mais-do-que-perfeito é a publicação criada em 1823 pelo médico Cipriano Barata, a “Sentinela da Liberdade”, defensora da República.

Barata, como editor, era preso frequentemente e mudava o título do seu jornal aludindo às prisões que enfrentava; assim, criou em Recife a “Sentinela da Liberdade na Guarda do Quartel General” e depois, no Rio, a “Sentinela na Guarita de Villegaignon” ….

Hoje, falar de jornais impressos pouco tem a ver com a Imprensa. Esta engloba todo espectro da comunicação abrindo o leque a partir do telefone, invenção tecnológica de Graham Bell em 1877, que o Brasil foi um dos primeiros países a usá-lo com o apoio do imperador Pedro II.

A seguir, no final do século 19, tivemos a criação do sistema de telegrafia sem fio e a descoberta do rádio creditada ao italiano Guglielmo Marconi. As ondas do rádio, então, empolgaram o mundo.

Depois, no cenário da Informação surgiu a televisão, inspirada na ficção científica das séries cinematográficas de Flash Gordon (1936-1940), uma explosão de futurologia pela adaptação visual das emissões radiofônicas; o personagem transmidiático usava narrativas televisivas.

A tevê, então, consolidou exitosamente a comunicação jornalística por um longo período, até 1969, quando apareceu nos EUA com a ARPANET, método computacional que favoreceu o intercâmbio midiático entre universidades e centros de pesquisa.

Um ano depois seguiram-na, Friendster (2002), MySpace (2003), Facebook (2004) e, em 2005, o YouTube. Mais popular entre eles, o Face, antes limitado aos estudantes de Harvard, foi aberto ao público em geral em 2006, introduzindo na web o Instagram e o WhatsApp. No entremeio, foi lançado pelo Google o Orkut.

O avanço científico e tecnológico favoreceu sobremodo as redes sociais, investindo-as computadorizadamente como a Imprensa da atualidade, democratizada e popularizada pelo telefone. Hoje, quase todas pessoas possuem um celular, usando-o para se comunicar e se informar….

Este meio tecnológico firmou-se em virtude da degenerescência que o jornalismo tradicional sofreu pelo mercenarismo ou adoção partidária. Assim, a opinião pública transmitida democraticamente passou a representar a sociedade, e a sociedade não pode prescindir dela.

É por isto que o Sistema Político, corrupto e corruptor, mobiliza agentes para sufocar esta expressão livre do pensamento; sem ela não se toma conhecimento do que os ocupantes do poder praticam e a delinquência torna-se legal.

 

 

DA EXPERIÊNCIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Venho atender a curiosidade dos mais jovens, sobre as memórias que trouxe no artigo “Estupidez”, lembrando o tempo antigo, o “meu” tempo, muito diferente do que convivo atualmente.

As doces (e também amargas) lembranças de quando o futuro parecia traçado mesmo com obstáculos casuais, transmito sempre a quem interessar possa…. Até considero uma obrigação fazê-lo para as gerações posteriores.

Filosofando, vejo que o olhar para o passado começa a partir das palavras; da sinonímia defasada entre “juventude” e “mocidade” que divide gerações. Castro Alves falou de “Mocidade”; três gerações após falava-se de “Juventude”. Rui Barbosa nos legou a bela “Oração aos Moços” e mais tarde, contra a guerra que nos ameaçava, adolescentes cantávamos: – “Jovens do vasto mundo/ Nós cantamos o Hino da Paz…”

Entretanto, para relembrar o passado é preciso trazer a Experiência, o armazenamento mental de coisas, fatos e pessoas, como escreveu Bertrand Russel: – “A memória que prolonga a nossa personalidade, recuando-a no tempo, é a memória da nossa experiência”.

“Experiência” como verbete dicionarizado é um substantivo feminino vindo do latim, “experientia“, derivada do verbo “experiri“, que significa “testar, experimentar”. São muitos os seus conceitos, tal como bagagem, competência, ensaio, prática, prova, significados, traquejo, vivência.

O “eu” e as suas sensações para atos e fatos concretos, não é mera conjectura e impressão, mas a conservação de informações sobre os acontecimentos; mas, por falta de um aprendizado técnico ou do mimetismo natural para gravar o cotidiano, nem todos possuem a mestria do lembrar-o-que-ocorreu.

Os cérebros de todas as pessoas são dotados igualmente de alegrias e tristezas, aversões e desejos, dores e prazeres, mas a maioria destes sentimentos se manifestam despreocupadamente. Tais acontecimentos acumulam tudo o que a formação biológica pressupõe no sistema espaço-tempo.

Muitos carregam tais lembranças na mente pensante; mas, para não “academizar”, – olha o neologismo aí, @profeborto – vejo a necessidade e a obrigação de quem as viveu, transmiti-las a quem deseje ouvi-las.

A História da Humanidade registra que nas sociedades primitivas sem escrita, havia pessoas que transmitiam de memória às crianças mitos, genealogias e tradições pela oralidade. Eram os “contadores de histórias” que exerciam um papel fundamental na preservação da memória coletiva.

Nas primeiras civilizações mesopotâmias e egípcia surgiu a escrita, e o saber ancestral passou a ser registrado em argila, pedra e pergaminho e, pela experiência adquirida, os relatos foram aprimorados, como temos na Epopeia de Gilgamesh e mais tarde, na Ilíada. Assim, os “cantadores” foram substituídos mais refinadamente pelos escribas e poetas.

Da Grécia Antiga, herdamos a História do século 5 até o século 4, de Heródoto, Tucídides, Posidônio, Políbio e Zózimo.  Estudos e pesquisas revelam cerca de 856 historiadores gregos, incluídos os mitógrafos e cronistas.

As epopeias cederam lugar à História, numa transição que marca o nascimento da literatura. Passou-se a refinar a linguagem, criar personagens e refletir sobre o mundo, transformando antigas tradições orais em arte escrita. Conservou-se um rico acervo literário de contistas e fabulistas ocidentais e orientais.

Lembramos as alegorias de Esopo cujas fábulas com animais transmitem lições morais, e na Idade Moderna, La Fontaine, que adaptou esse legado à França do seu tempo. Da Índia nos chega o “Panchatantra“, coletânea de histórias de Vishnu Sharma, com forte teor pedagógico; e, na China, a adaptação da tradição oral nos “contos de sabedoria” de Zhuangzi.

Esta herança viva da literatura atende a curiosidade das novas gerações. Torna-se uma ligação temporal do presente com o passado, incorporada pela experiência reforçada pela memória e retocada pelo estilo.

Assim, mais do que palavras jogadas fora em mesa do bar nos tempos da brilhantina, no fim do trabalho ou após um filme avant garde, na madrugada, será preferível ir aos clássicos e neles encontrar lições como a que nos deixou Eleanor Roosevelt: “Se alguém trai você uma vez, a culpa é dele. Se trai duas vezes, a culpa é sua”.

Na filosofia cantada, que vem sendo lembrada no seriado que a Globoplay traz sobre Raul Seixas (embora fraca como biografia e rica de colagens repetitivas) também nos leva à experiência de enfrentar cantando o Sistema…

Muito me alegraria se a experiência conscientizasse que os jovens curiosos decidissem lutar contra a traição costumeira de Jair e Lula, e zumbizassem como a mosca de Raul na sopa desses fantoches do Sistema.