Artigo publicado n’ O METROPOLITANO. Nas bancas
Voto obrigatório, urnas suspeitas e falsas promessas
MIRANDA SÁ, jornalista
E-mail: mirandasa@uol.com.br
No tempo em que Brizola estava vivo e, conseqüentemente, o PDT não era apenas uma legenda a gente levantava suspeitas sobre o processo eletrônico de votação. Não era uma acusação nem mesmo uma denúncia, mas queríamos que houvesse um registro do voto para dirimir desconfianças.
É inegável que as urnas informatizadas são modernas, ágeis e impedem os antigos vícios herdados do coronelato, dos envelopes fechados e o ato de votar se fazia sob o olhar de cabos eleitorais policialescos.
O eleitor se sente confiante votando. É pena que jamais saiba se o seu voto será computado tal como foi digitado. Não há registros. Os piratas da informática – chamados hackers – são capazes de tudo; até já invadiram os computadores do Pentágono, os mais seguros do mundo.
Este engenho tecnológico fica sob suspeita por não comprovar a posteriori o sufrágio, que pode ser deturpado, não por manipulação das antigas juntas apuradoras mas pela intervenção de exímios técnicos de pirataria (que podem até ter apoio oficial).
Se vejo suspeição nas urnas eletrônicas, considero ainda mais duvidosas e falsas as promessas dos candidatos. É claro que não são todos os candidatos. Isto, para justificar a regra das exceções…
A maioria, porém, não merece fé, porque sequer mostra fidelidade partidária. Se não acata o partido nem honra a legenda que o elegeu, como respeitar o eleitor? Além disso, o grande número de profissionais da política se enreda com os detentores do poder. Há candidatos que aparecem de retrato no vídeo e deixa os outros falarem por ele.
São inegáveis, também, as ligações dos competidores com o poder econômico, ongs estranhas e mal vistas e até com o crime organizado. O poder econômico, as ongs de araque e as organizações criminosas querem ter representantes nos executivos estaduais e municipais e se infiltrar nos legislativos.
Quando a Associação dos Magistrados do Brasil defendeu a recusa de registro para pessoas com fichas sujas, isto é, condenações em primeira instância e processos intermináveis em outros níveis do judiciário, recebeu meu apoio e de outros milhões de democratas e patriotas.
Infelizmente a nossa legislação parece que foi feita para livrar a cara de bandidos; um candidato pertencente ou apoiado pelo mundo do crime está livre para mostrar a cara na televisão e enganar o leitor desavisado.
Assim, as urnas suspeitas e as falsas promessas nos levam ao terceiro princípio da minha concepção de voto livre e democrático, a condenação do comparecimento obrigatório às urnas. Se o sistema não merece crédito, porque devemos ser obrigados a participar dele?
Este raciocínio nos leva a repetir mil vezes a minha convicção de que só o voto distrital poderá – a médio e longo prazos combater a bandidagem. Porque de uma certa maneira a gente tem noção da veracidade dos votos computados pelo candidato e dispor de condições para controlá-lo, caso seja eleito.
O voto distrital cria uma representação real por dar aos eleitores, munícipes e contribuintes em geral, a autoridade sobre o político. A adoção desse sistema obriga o político a viver no mesmo distrito se quiser ser candidato.
Morando junto aos eleitores, enfrentarão as mesmas dificuldades, os problemas cotidianos, as necessidades mais presentes da comunidade. E para se reeleger tem que cumprir os programas defendidos. Talvez dessa maneira fosse interessante votar espontaneamente…
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