Artigo de Miranda Sá
Visão acanhada de 2010, falível
pela imprevisibilidade
MIRANDA SÁ, jornalista
E-mail: mirandasa@uol.com.br
Nesta análise inicial sobre o futuro do Brasil, avaliamos que o tempo que nos separa da eleição de 2010 não justifica o investimento de Lula da Silva na candidatura de Dilma Rousseff, desconhecida do eleitor médio. É possível que o objetivo seja preencher os espaços da oposição desde logo explorando as vulnerabilidades do PSDB e do DEM.
Pode ser também porque Dilma não decolou nas pesquisas e porque o Planalto definições dos partidos aliados na formação das chapas estaduais para 2010. Essas duas táticas preocupam a mídia e os meios políticos, mas a última experiência eleitoral mostrou que ajustes antecipados ou sofrem mudanças de rumo, ou revezes incorrigíveis.
Vale a pena, por isso, examinar alguns casos de associação entre o poder estabelecido e candidatos impostos de cima para baixo. Lembremos primeiro, que a expressão “eleger um poste” nasceu nas eleições municipais de 1996, quando os governos bem-sucedidos de Paulo Maluf (PPB-SP) e César Maia (PFL-RJ) buscaram a continuidade administrativa por meio da eleição de seus principais secretários municipais.
Naquele tempo não havia a famigerada reeleição, restando ao governante esse único recurso para manter a gestão seguinte sob controle. Quatro meses antes da eleição, em julho de 1996, o candidato de Maluf, Celso Pitta tinha nas pesquisas 19% das intenções de voto, atrás de Luiza Erundina. 30 dias depois, com o programa eleitoral pela tevê, Pitta subiu para 29%. E na boca-de-urna passou à frente da adversária.
No Rio, a imposição de César Maia foi mais difícil, porque Luiz Paulo Conde, o candidato, era mais pesado do que um mastodonte. Conde apresentou 4% das intenções de voto m julho de 1996 e em agosto atingiu 24%, chegando a 36% na arrancada final da campanha que o elegeu.
Recentemente, nas eleições do ano passado, vigorando a reeleição, Sérgio Cabral no Rio arrancou um candidato nos porões do anonimato e, em São Paulo, José Serra igualmente teve o seu “poste”, Gilberto Kassab, que completou seu mandato na prefeitura paulistana.
Candidatos desconhecidos do eleitorado às vezes são ajudados pelo descomprometimento com o passado. Quem não se lembra a extraordinária eleição de Fernando Collor? Disso se aproveitam os governantes com apoio popular, para tirar do bolso o seu preferido.
Há, porém, nessas situações, o fator “imprevisibilidade”. Muitos casos – e seria enfadonho enumerá-los – terminaram com resultados negativos. O exemplo mais próximo foi a última eleição para prefeito de Natal. Lula, no gozo da sua popularidade, impôs ao partido a candidatura da deputada Fátima Bezerra. O PT conseguiu o apoio para Fátima da governadora Wilma de Faria, ainda mais popular (e confiável) do Lula.
Mas povo natalense refugou a combinação autoritária. Vigorou na opinião pública a reação dos aposentados à traição de Fátima apoiando a reforma previdenciária; valeu o carisma de Micarla de Souza; e pesou a infeliz interferência local de Lula, atacando injustamente a candidata adversária e, com rixa pessoal, agrediu o senador José Agripino.
Com base no conhecimento histórico de ocorrências políticas impositivas, acho que Lula com essas antecedências quer testar o julgamento eleitoral do seu governo e de si próprio. Conforme o resultado, a candidatura de Dilma poderá ir para o lixo da História abrindo caminho para a estratégia dos pelegos, o continuísmo. Dessa forma renascerá a tese do 3º mandato…
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