Artigo de Miranda Sá
Uma lembrança: a guerra secreta pelo petróleo
MIRANDA SÁ, jornalista (mirandasa@uol.com.br)
Eu lembro, não-sei-quantos-anos atrás, ainda estudante, quando li um livro (não me lembro o autor) intitulado “A Guerra Secreta pelo Petróleo”. Meu pai usava conosco uma tática perfeita para nos levar à leitura: apontava na estante um volume que dizia ser “proibido” para meninos, levando-nos a devorá-los.
A “Guerra Secreta pelo Petróleo” contava a história das Sete Irmãs, empresas petrolíferas que dominavam o mundo pela espionagem, subornos, golpes de estado e manu militari. Eram a Standard Oil of New Jersey, atualmente Exxon; Royal Dutch Shell; Anglo-Persian Oil Company, hoje BP Amoco; Standard Oil of New York, agora ExxonMobil; Texaco e Standard Oil of California, que se fundiram na Chevron; e, a Gulf Oil, que se associou com outras.
O livro trazia um mapa mostrando as posses de grandes reservas do óleo fóssil (o Brasil ficava de fora, embora Monteiro Lobato, que papai acompanhava, afirmasse a existência de petróleo aqui). E foi através da geopolítica petrolífera que aprendi a conhecer o barril de pólvora que é o retalhamento do Oriente Próximo, o Irã e o Afeganistão.
O Irã, a Pérsia das Mil e Uma Noites, escreveu um capítulo vigoroso da guerra pelo petróleo com Moammad Mossadegh, personagem notável do nacionalismo persa, precursor das idéias nacionalistas (não religiosos) do Irã moderno.
Não se pode apagar da História a atuação do colonialismo francês na Argélia e na Tunísia, e as aventuras patéticas da Itália na Líbia… E como a Líbia está na ordem-do-dia trago à lembrança Kadafi, Gaddafi, Gathafi ou Qaddafi como chamem e adotem…
Como prefiro Kadafi, vá lá. A sua revolução foi romântica e o início da sua ocupação do poder teve a melhor das intenções. A Líbia era dominada por um consórcio formado pela British Petroleum (Amoco) e a Shell e meia dúzia de sanguessugas.
A Grã-Bretanha e a Holanda, expulsos os italianos na Segunda Guerra, sustentavam um governo monárquico, feudal, cujo poder se estendeu até 1969. Nesse período, Kadafi, jovem tenente do Exército Líbio, foi estudar na Inglaterra.
Em Londres, assistiu o esbanjamento dos príncipes e mandatários do seu País. Diz-se que viu o rei perder um milhão de libras num cassino. Quando regressou à pátria, já capitão fundou, com outros militares, um grupo islâmico secreto, chamado “Oficiais Livres”.
Com seus camaradas, deu um golpe de estado e tomou o poder sem derramamento de sangue. Seu governo prometeu justiça para o povo, mas pelo continuísmo e acomodação, transformou-se numa ditadura totalitária e burocrática assentada sobre refinarrias. Daí para a degenerescência moral, sustentada peloslucros do petróleo, foi um passo.
Chegaram à Líbia com caráter popular, marcado de forte nacionalismo e desconfiança ante a Europa e os EUA os ares do movimento “Cheiro de Jasmim”, que derrubou as ditaduras tunisina e egípcia.
A luta contra a ditadura me conquistou. Diante da conjuntura, vejo a grande contradição empreendida pela chamada “Coalizão”, intervindo na rebelião líbia. Fosse para impedir o massacre de civis e assassinatos de líderes oposicionistas, tudo bem. Mas uma intervenção terra a terra é duvidosa, irão trocar seis por meia dúzia. Por isso, ainda é cedo avaliar a posição da Alemanha e dos Bric.
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