Artigo
Reforma política, uma enrolada em carretel
MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)
Trago-lhes um artigo cujo título obriga-me a uma divagação: a meninada de hoje – meninos e meninas – sabe o que é carretel? Era coisa comum no meu tempo, os meninos faziam carrinhos com ele e as meninas usavam-nos aprendendo a costurar…
Ainda hoje dá o nome ao molinete das varas de pesca modernas. Trata-se de um pequeno cilindro, antigamente era de madeira com rebordos, para enrolar fios de linha ou náilon, retrós, fita e arames finos; lembro-me quando apareceram os de plástico…
Com o carretel, entendemos a enrolada da reforma política que os detentores de mandato envolvem, traçam, embaraçam e eles próprios atrapalham-se nas propostas levadas à discussão, como levantei no último texto, “Quer conhecer um vilão? Ponha-lhe um cargo na mão!”.
O PT, por exemplo, levou à Câmara dos Deputados uma proposta de reforma política e acabada. Visava eternizar os lulo-petistas no poder federal, como já fazem nos sindicatos, cujos estatutos são feitos sob medida para nunca perderem uma eleição. Sabidérrimos, os deputados federais recusaram-na, sem sequer discuti-la, à unanimidade.
Entretanto, a reforma política é uma exigência nacional, não apenas na organização partidária, eleições e exercício dos mandatos, mas abrangendo comportamento e ética. Uma nova forma de se fazer política como é pensada há muito tempo.
Os reformistas não querem uma re-arrumação dos partidos, nem a ampliação da representação parlamentar, nem o financiamento público de campanhas. O que se quer em relação aos partidos é que assumam uma posição ideológica e defendam um programa aprovado nas bases; que o número de senadores, deputados federais e estaduais e vereadores diminua; e não deve haver verbas públicas para as legendas, ficando o financiamento das campanhas com o dinheiro do contribuinte.
Com isso, diminuiria o número de legendas; desapareceria a picaretagem do aluguel de candidaturas. Acabaria com o absurdo de termos 29 partidos no Brasil. Semana passada, um editorial do Estadão, levantou um fato que nos obriga à reflexão: “(;…) se, nos tempos de chumbo, em vez de dois partidos tivéssemos 29, certamente ainda estaríamos mergulhados na ditadura”.
Essas duas recentes associações aprovadas no TSE, o PSD e o PPL, entraram no vácuo de um sistema abusivo de alianças partidárias que loteia os cargos do governo e da ausência de oposição, que só existe no discurso, ou pontualmente por esta ou aquela liderança…
O buraco negro, imantado pelos vícios que vigoram no Brasil, estimula também a possibilidade da multiplicação de vereadores pelo país, desnecessários e ineficientes, trazendo com eles representação, viagens, auxiliares, assessores, indicações políticas, tudo pago com o dinheiro do contribuinte.
A multiplicação dos vereadores só não é pior do que a falta de fiscalização dos prefeitos. Com uns vem o desperdício burocrático do orçamento das prefeituras; com outros, o assalto inevitável das verbas que chegam às atividades-fins da administração municipal.
E ainda se fala em facilitar a criação de novos municípios, na maioria incapazes de se sustentar e carentes de recursos repassados pela União e pelos estados, até para pagar o funcionalismo. Esses gastos inflam a descrença dos letrados, melhor informados, na “democracia populista” vigente.
O dispêndio dos municípios é um reflexo das despesas inúteis – a popular gastança – dos estados e do governo central. Cabe-nos agir contra isso e principalmente combater a corrupção, que se enrola no carretel das jogadas políticas, de cá, de lá, de praticamente quase todos os políticos.
Emaranhando-se no Planalto, no Congresso e até mesmo nos tribunais superiores, a defesa de interesses de cada qual, não vê o monstro da inflação voltando, não ouve os protestos populares contra a carestia de vida. Sequer lêem os dados oficiais contidos no IPCA, principal índice de preços do país.
Os números mostram que a inflação cresceu 7,31% nos últimos 12 meses e a feira nossa de cada dia (ou de cada semana) está mais cara, com preços absurdos do açúcar, feijão, frango e lacticínios. Esta a razão das greves reivindicatórias que o PT-governo finge não ver…
Miranda Sá, eu sou do tempo do carretel, do tempo que ele era utilizado para armazenar linha que usávamos para empinar pipas, ou artefato que a maioria das crianças quase nem conhecem. Quando queríamos que a pipa ficasse mais alta ou mais longe dizíamos: “da linha! dá linha!”.
Ao meu ver, estão “dando linha” para a Reforma Politica. Eles a querem alta e mais longe que puder de seus olhos. Parabéns pelo artigo.
Como sempre seu artigo é simples, direto e explícito! A verdadeira reforma nunca veremos! As mazelas da nossa Lei Eleitoral, que permite suplente de senador, coligação com voto proporcional, reeleição sem limite no legislativo, fundo partidário! Nada vai acabar porque tem o poder de mudar não vai querer perder privilégios e se algum Homem de Bem chegar ao Congresso com vontade de mudar isto, vai ser execrado, isolado e até quem sabe “Acidentado”!