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Não sei qual a droga pior, o crack ou a corrupção

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Há uma discussão séria, importante, nos círculos intelectualizados do País: a internação compulsória para tratamento de viciados no crack. Já dei minha opinião no Blog e no Twitter a favor da medida que, em verdade, atropela alguns princípios médicos, inclusive o que era considerado fundamental, o consentimento espontâneo do drogado.

Os especialistas julgavam que seria indispensável a colaboração voluntária do dependente químico na primeira fase da abstinência, consciente do sofrimento pessoal pelo organismo sujeito ao uso da droga.

Tudo bem. Isto valeu nas primeiras incursões da Medicina no mundo do álcool, maconha, cocaína e medicamentos causadores de dependência, como inalantes e comprimidos soporíferos, tranqüilizantes ou excitantes.

Hoje a coisa mudou de figura. Há uma epidemia de consumo de drogas, as citadas e mais o terrível, o crack, accessível a todos, de mendigos a financistas… É aterrorizante por enlouquecer, transmitir e matar. Assim, qualquer tentativa é válida para conter este malefício.

Há também outras drogas que prejudicam como nunca na história deste País: são os subprodutos da política, como o crack o é da cocaína. É o partidarismo sectário, a distorção ideológica, a demagogia mentirosa e a corrupção, esta última, a pior delas.

Confesso que não sei qual das drogas é a pior, o crack ou a corrupção, mas sugiro – ou melhor – exijo, que ambas recebam um tratamento de choque obrigatório. O partidarismo sectário, a distorção ideológica e a demagogia mentirosa até podem ser curadas democraticamente, pelo voto.

Mas a corrupção, não. Estudemos a conjuntura nacional e os seus pontos de atrito e crise. Há problemas com a presença do “ex” Lula; com o Código Florestal, com a Comissão da Verdade, e até na troca ministerial de rima ruim, do Jobim pelo Amorim. Nenhuma dessas questões, porém, é tão crucial como o enfrentamento da corrupção.

A presidente Dilma – primeira mandatária da Nação – está quase refém dos corruptos e corruptores. Acho, sinceramente, que deve inquietar-se, exigindo de si um cuidado diuturno com a ameaça permanente dos 300 picaretas do Congresso Nacional, aos quais se somaram muitos dos seus companheiros de partido estimulados pelo seu antecessor.

Esta ameaça é real e iminente, que cresceu durante oito anos de uma parceria público-privada para a perversão dos valores éticos e morais, com Lula acoitando e passando a mão na cabeça dos assaltantes do Erário.

Durante oito anos, Lula e o lulo-petismo investiram contra a liberdade de imprensa, por que só a imprensa exercita uma fiscalização eficaz e o controle da administração pública. É a reportagem investigativa o pertinaz inimigo da corrupção municipal, estadual e federal.

Sorte para o Brasil que “elles” não conseguiram calar a imprensa livre; infiltraram jornalistas chapas-brancas nos meios de comunicação, contrataram mercenários e criaram centenas de órgão instrumentais da informação, inclusive na Rede Social.

Mas, embora com quadros rarefeitos, a mídia independente (e a espontaneidade da cidadania nas ferramentas da Internet) levanta dados e informações sigilosas que auxiliam o combate às autoridades cegas, surdas e mudas, que não veem, que não ouvem ou se calam perante as denúncias.

É diante desse quadro assustador, mas não incorrigível, que Dilma deve atuar, submetendo o governo ao seu controle, liderando o seu partido e enfrentando enxuta e verdadeiramente a opinião pública.

No governo, deve demitir e ordenar ação policial e judiciária para punir os possíveis ladrões do Erário; no partido, evitar a depravação total da organização, mantendo os princípios ideológicos originais, como no caso da democracia interna que o lulo-petismo quer exterminar.

O PT não pode continuar fingindo que é um partido de novo tipo. Deve, isto sim, estimular a luta interna – que o fortalece – e não se sujeitar ao caudilhismo, reduzindo-se a obediência dos pelegos arrivistas, como Lula quer fazer na capital paulistana.

Com tais medidas a Presidente pode ficar cara-a-cara com a Nação Brasileira.

 

 

2 respostas para Artigo

  1. Marcos Pontes disse:

    Na atual fase da “faxina”, vê-se a residente tentar uma dissociação da imagem de tolerante que o ex tinha em relação aos seus amigos envolvidos em falcatruas. poucas foram as vezes em que Lula tomou alguma atitude mais enérgica de afastar os que eram manchetes nos jornais por atos de improbidade, tráfico de influência, locupletação, amoralidades ou o que fosse. Dos mensaleiros ao “top top” do Garcia, de imediato só vem o afastamento de Palocci porque tonou-se insustentável sua manutenção.
    Dilma não titubeia por muito tempo. Novamente Palocci, e aí ela aprendeu uma grande lição, depois de passar 32 dias para mandá-lo pegar o boné e cantar em outra freguesia.
    Hoje estoura o escândalo do Turismo. Caem como dominó as figuras do ministério, mas o ministro, utilizando-se da defesa ensinada pelo ex-presidente, alega que nada sabia do que se passava sob seu nariz e mantém-se, mesmo sem qualquer expressão política, no cargo.
    Esses corruptos são o crack, o oxi e a cocaína da política nacional e, em se tratando do tratamento de dependentes, o governo faz exatamente o que prega: redução de danos. este programa, defendido pela esquerda, não só a petista, comprovadamente não é a melhor maneira de se combater o vício. Acompanho de perto a questão e não tenho dúvida que o tratamento pela “tolerância zero” é bem mais efetivo.
    Na política, idem. redução de danos é fazer de conta que não se veem os desmandos e trocar as pedras do tabuleiro de forma que cause poucos estragos no governo e em sua política. Tolerância zero com os roubos é atitude impensada para nossos comandantes.

  2. Poliver disse:

    Excelentes os artigos, como de costume. O ponto nodal da questão, todavia, não é internar ou não internar. Há uma tormentosa preliminar: Onde internar? Não temos resposta. A não ser que sejam ‘depositados’ em sítios medievais como são nossas ‘casas de detenção’. Ficarão á mercê de pessoas despreparadas para tal assistência. Então virão os abusos, os estupros. Meninas atiradas em celas de homens para serem vítimas de violência sexual. De qualquer forma, vale levantar tais celeumas para o debate aprofundado. Abs.