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Será que o Congresso quer reformas políticas?

MIRANDA SÁ, e-mail: mirandasa@uol.com.br

Toda vez que ouço falar, ou leio a respeito das reformas políticas (tão necessárias para aperfeiçoar a Democracia) eu me pergunto: “Será que o Congresso quer reformas políticas?”. Fico com as minhas dúvidas.

Entre os mais honestos parlamentares que conheci – e conheço – são raros os que arregaçaram – ou arregaçam – as mangas para enfrentar a complexa e trabalhosa busca da fórmula ideal de se fazer as reformas de forma consensual.

Eles achavam – e acham –, e eu também acho que o consenso é impossível. O conjunto dos interesses individuais é uma salada de xiquexique e urtiga; e que pode até sair um arremedo de reforma, jamais a ideal para que se permita uma eleição honesta e mandatos exercidos por fichas limpas.

Constatamos que entre os letrados que se interessam pela vida pública há uma grande expectativa pelas reformas no sistema político. São vários temas, entre os quais os estudiosos e ousados preocupam-se pelo fim da reeleição, o voto distrital misto, as listas fechadas e o fim do voto obrigatório.

Enfocando estes itens, a palavra italiana “imbróglio” (embrulho) muito usada nos escritos políticos, é perfeita para definir a contradição entre o Senado e a Câmara. As duas entidades não se entendem: quando uma aprova algo, a outra rejeita. E vice-versa.

O caso mais flagrante é o fim da reeleição, que os deputados aprovaram, mas o Senado, sob pressão de governadores e prefeitos, desaprova. Na contramão, os senadores, sujeitos à força do PT, deverão aprovar a “lista fechada”, a mais antidemocrática entre as propostas mais debatidas.

A lista fechada proporcionou setenta anos de uma ditadura partidária no México, e é isto que o PT, em aliança com os 300 picaretas quer.  O Partido Institucional Revolucionário, em nome de um nacionalismo populista, manteve-se no poder desde 1928 até quase o fim do século passado.

Também sob influência do PT, o Senado poderá não aceitar a flexibilização da fidelidade partidária, que vai ao encontro de deputados de pequenos partidos, e aqueles eleitos pela oposição que querem aderir ao governo…

Tirando os quatro itens sem consenso, temos algumas iniciativas periféricas, como o caso dos suplentes de senador; excluídos os parentais, “esqueceram” de acabar com a suplência, o mandato mais antidemocrático entre outros. E um jogo de datas, como a desimportante troca da data de posse presidencial do primeiro dia do ano para o dia 10 de janeiro.

Mesmo vagando no limbo das sugestões aleatórias, as duas casas do Congresso, se reúnem, encenam debates, e alimentam o noticiário político da imprensa escrita, falada e televisiva…

Certamente a movimentação parlamentar pouco ou quase nada produz. O que se vê são parlamentares expondo muito e nada produzindo, e cada vez mais nos leva a compreender que eles buscam acertar os ponteiros pelos interesses próprios, se lixando para o eleitorado, a opinião pública e para atingir um grau superior no sistema eleitoral.

Dessa maneira, podemos prever que não sairá uma reforma, e sim um remendo que, sem dúvida, ajudará os políticos profissionais a manter e conquistar seus mandatos. Se for assim, responderemos a pergunta que está em todas as cabeças pensantes do País: “Será que o Congresso quer reformas políticas?”, com um bombástico “Não!”

4 respostas para Artigo

  1. Christina disse:

    Caríssimo como  fã de suas colocações gosto de tecer alguns comentários pois acredito incentivar ainda mais o Blog. Apesar de feliz com a existência de pessoas que se preocupam, de forma genuína, com a reforma política, confesso que o desânimo também me abate. Política, e principalmente reforma política, é primazia de uma nação sensata e desenvolvida e não vejo isto no Brasil atual. Cadê as pessoas sensatas do passado? Será que a ditadura de tão cruel calou os filhos destas pessoas? Como levar adiante uma reforma política sem a pressão da população? Os governantes fazem o que querem exatamente pela ausência dela. Se fossemos politizados ou se Moral e Cívica fosse tão indispensável quanto o Português e a Matemática aí sim estaríamos a um passo das reformas que precisam ser feitas. Num pais em que a lei da ficha limpa apesar de lei não barra candidatos de assumirem cargos só me resta concluir que  Charles de Gaulle estava correto: “O Brasil não é um pais sério” Como podemos mudar este panorâma? Como uma otimista te pergunto o que podemos fazer para que a reforma política seja de interesse nao só do Congresso mas de todos?
    Grande abraço   

  2. mirandasa08 disse:

    Obrigado pela sua atenção e preciosas condiderações. Gostei das lembrança de De Gaulle, tão rechaçadas pelos ufanistas na época. Ainda bem que os autênticos patriotas reconhecem a insinceridade reinante entre os políticosa e, principalmente no núcleo de poder…

  3. Mara disse:

    Ola Miranda! Gostei muito de seu artigo, oferece uma visão clara sobre as movimentações da reforma política no congresso, porém discordo de um dado. Creio que sim, o congresso quer a reforma política. Ele só não quer a boa reforma, a reforma que boa parte da população quer, a reforma que aprofundaria nossa democracia, quer a reforma que, como voce escreve, corresponda aosseus interesses pessoais. Evidenciando, mais uma vez, a distância entre congresso e povo, entre os interesses do povo e dos políticos, divergência que vc também aponta.

  4. mirandasa08 disse:

    Caro Kramer: agradeço e seu acesso e ainda mais o seu comentário, cujas informações e projeções acrescentam doses de lucidez e patriotismo ao nosso texto. Grato