Artigo
Acabou-se a invejada democracia interna do PT
MIRANDA SÁ, jornalista (mirandasa@uol.com.br)
A decadência do movimento comunista refletiu-se nos partidos criados à imagem e semelhança do Partido Comunista da União Soviética, que adotava o princípio do centralismo democrático – um eufemismo que justificava a ditadura da direção partidária, herança do stalinismo.
Muitos comunistas brasileiros, desencantados com o “socialismo real”, sua burocracia hipertrofiada e o atordoamento dos dirigentes face à situação internacional, foram atraídos pelo partido de novo tipo que era o Partido dos Trabalhadores. E o eletro magnetismo da democracia interna adotada.
Também os trotskistas foram puxados por este imã. A facilidade de opinar nas decisões, o direito de expressar pontos de vista e a eleger livremente do comando partidário, surgiram como um novo processo político baseado na democracia interna.
Não dá para a gente localizar historicamente o momento em que isto enfraqueceu e se degenerou. A linha de demarcação é a eleição de Lula e o excessivo pragmatismo da negação da negação, onde venceu o fingimento dele ao duvidar dos erros e desacreditar as denúncias contra os hierarcas do governo.
Esta situação negativa evoluiu para acabar com a democracia interna e a diáspora das tendências minoritárias que atuavam na militância partidária e nos movimentos populares e sindicais. A passagem para o autoritarismo apontou a terceirização dos equívocos, desregramentos e ilícitos.
Tudo acobertado pelo Presidente, que tem o desplante de se voltar contra a liberdade de imprensa, acusando-a de distorcer os fatos e confundir a opinião pública. Agora mesmo, a nomenclatura governamental diz que a imprensa errou ao publicarr o espancamento dos produtores de arroz de Roraima, ordenada por ele próprio.
O início de um estado policialesco não se trata de uma decisão partidária, porque em termos de decisão o PT já não existe. Se os idealistas que permananeceram no partido pudessem opinar, não concordariam com isto.
Também não aceitariam a aliança espúria com a ala fisiológica do PMDB, envolvida com atos corruptos em empresas estatais e fundos de pensão. A parceria, na realidade, não passa do recuo final de Lula abandonando os restos de ética e moralidade que nortearam o PT por muitos anos.
É igualmente evidente que – se a democracia interna persistisse – a imposição da candidatura de Dilma Rousseff não passaria nas gargantas roucas dos lutadores pela democracia, do decoro e da honestidade da velha militância.
Interessante é que uma coisa tem muito a ver com outra. Dilma e os fisiológicos do PMDB se confundem na paisagem de 2010 desenhada por Lula. A defesa que ela fez de Sarney não tem explicação a não ser pela palavra “nojenta”.
A hipótese de Dilma eleger-se graças a aliança formal com Sarney, Renan, Jáder Barbalho e as desavergonhadas tropas de choque e do cheque passa bem longe do idealismo crítico da esquerda que ainda permanece no PT.
Um fato concreto é inegável: Lula, nem Tarso, nem Berzoini, nem Paulo Bernanrdo, nem Palocci podem dizer que não estão assombrados com a situação criada pela saída de Marina Silva do partido e a quase certeza do lançamento dela como candidata à presidência da República pelo PV.
No mínimo criou alvoroço na “base governista”, estimulando os ensaios de Ciro Gomes no PSB e de Cristóvam Buarque no PDT, pleiteando uma candidatura própria dos seus partidos. E dentro do PT já se conspira para votar em Marina, cristianizando Dilma.
Os petistas decentes que permanecem, preparam um ato de “desobediência” diante dos responsáveis pelos desvios de rumo que mergulharam o partido num mar de escândalos.
Muito bom o artigo, como não poderia ser, mas melhor ainda foi a conclusão.