Na patriótica campanha de esclarecimentos que vimos desenvolvendo denunciando a pelegada que se locupletou movimento sindical para práticas ilícitas e enriquecimento fácil, trazemos um texto límpido e preciso da jornalista Dora Kramer, esclarecendo o relacionamento covarde do Parlamento com os pelegos. Vamos abrir aspas para a brilhante articulista do Estadão. Miranda Sá
De braço dado com o acusado
Junto com o processo por quebra de decoro parlamentar contra o deputado Paulo Pereira da Silva, começará no Congresso o espetáculo da indignação inerente a essas ocasiões. Contra as peripécias do colega, muitas já registradas pela Polícia Federal, várias vozes se levantarão.
Convém, porém, que o colegiado não se esqueça de que não faz muito, cerca de dois meses, cedeu a poderoso lobby – Paulo Pereira à frente – contra o fim do imposto sindical.Manteve o trabalhador, sindicalizado ou não, obrigado a pagar um dia de salário por ano e garantiu receita de R$ 1,3 bilhão aos sindicatos. Parte do dinheiro, R$ 100 milhões, vai para as centrais sindicais, recentemente regulamentadas.
Só isso permitiu ao presidente da República o veto que liberou os sindicatos da fiscalização do Tribunal de Contas da União. Uma ação conjugada: de um lado asseguram-se os recursos, de outro a gastança é liberada a título de preservação da autonomia sindical.
Na esperta corporação chamada Parlamento, certamente não há excelência que ignore a relação entre o caixa dessas entidades e a (boa) vida financeira de vários de seus dirigentes.Quem por descuido desconheça, recomenda-se uma entrevista do deputado Paulo Pereira, ainda aos primeiros acordes do escândalo em curso.
Na televisão, ao repudiar a suspeita de ter recebido propinas no valor de R$ 325 mil do “esquema” BNDES, o deputado disse o seguinte: “Alguém, como eu, que preside entidade com o número de filiados da Força Sindical, não precisa de dinheiro, muito menos de 300 mil reais.”
Nada mais lhe foi perguntado; ele tampouco entrou em detalhes sobre a ligação entre a quantidade de associados da Força e a qualidade de suas finanças. Ficou assim uma coisa meio pesada no ar.Nesta altura dos relatos dos fatos investigados pela PF já deu tempo de a Câmara ligar a conduta do dirigente à dinheirama adicional por ela assegurada aos cofres das entidades.
Dora Kramer, jornalista
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