Magali Alabau

Comentários desativados em Magali Alabau
Compartilhar

Aqui

 
Aqui 
os lençóis e colchas são trincheiras.
Se eu fosse Aladim
desceria na praia ardente de minha infância. Te visitaria.
Ainda pintas o cabelo?
No armário estarão as cartas de tua amante, minhas
          fotografias de menina opaca,
postais de escolas, lembranças que sentam 
          comigo no metrô.
Quero respirar Havana, recuperar o mistério 
          de minha vida.
Ver as luzes e a maresia contra as pedras do calçadão.
O frio me paralisa.
Nesta cidade não se ouvem sinos, 
os doces são inodoros, nem é quente o pão.
Quisera tomar garapa, mirar as palmeiras, ouvir
          o pregão das mangueiras.
Me congelo na sujeira dos sacos plásticos entre 
          os ruídos e o odor infecto.
Quisera percorrer as ruas do Prado,
visitar os hotéis —guaridas da noite—
tocar o mármore nas poças de água,
molhar-me no chuvisco, encharcar-me.
Comer o meio-dia o arco-íris e os papagaios de papel.
Ver levar nas tinas, correr depois de beber rum,
visitar os amigos, contar-lhes
dizer-lhes que minha língua não fala este idioma
travada a ilusão estranha as palavras
as palavras, as palavras
não é a mesma coisa dizer window que janela
não é a mesma coisa dizer house do que lar.

 (Tradução de Antonio Miranda)

Biografia de Magali Alabau aqui.

Os comentários estão fechados.