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A UNE já não é a mesma. Apelegou-se e é servil
Miranda Sá E-mail: mirandasauol.com.br
Em nenhuma parte do mundo, o servilismo e a bajulação foi característica da juventude, muitíssimo menos da juventude estudantil. A História do Brasil registra a grandeza dos estudantes desde as revoltas coloniais.
Essa participação saiu das primeiras escolas jesuítas, nascendo com o nativismo. O povo paulista reuniu-se no Pátio do Colégio para aclamar Amador Bueno, rei do Brasil, e os maranhenses registraram a Revolta de Beckman.
Vibrantes cores desenham a Guerra dos Mascates em Pernambuco, nas Minas Gerais tivemos a Revolta de Felipe dos Santos e a Guerra dos Emboabas – quando pela primeira vez se falou em “República”.
Estudantes chegados da Europa e dos Estados Unidos conspiraram e participaram da Conjuração Mineira, da Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, da Revolta dos Alfaiates, na Bahia, e na Confederação do Equador, as lutas pernambucanas da independência.
Como deixar de registrar os heróis da luta anti-escravagista nas escolas de Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo? O modelo original do estudante contestador nasceu com Castro Alves e Tobias Barreto.
Nos meados do século XIX e no alvorecer do século XX iniciaram-se os conflitos inspirados nos princípios libertários, democráticos e humanistas da Revolução Francesa, e o alagoano Silvio Romero já divulgava idéias socialistas.
Ao lado dos sindicatos de inspiração anarquista vieram as primeiras associações estudantis, e conspirações de jovens militares que marcaram na memória dos patriotas os movimentos de vinte e dois e vinte e quatro.
Voluntários na Primeira Grande Guerra e instigadores da participação do Brasil no combate ao nazi-fascismo, os estudantes já conheciam a sua entidade máxima, a União Nacional dos Estudantes.
Foi em nome dessa entidade, reverenciada por várias gerações, que um grupo de pelegos cooptados pelo PT-governo através de verbas, passagens e outros mimos, fizeram um congresso em Goiânia, Goiás.
Este encontro, antagônico ao de Ibiúna e ao movimento dos caras-pintadas, recebeu milhões de reais das empresas estatais e, por baixo do pano, do próprio governo federal. Só a Petrobras entrou com quatro milhões de reais…
O ineditismo não ficou somente na subalternidade ao poder, na ausência de críticas, e sem nenhum comentário sequer sobre a qualidade do ensino, a escola pública e o imobilismo das universidades federais: foi incomum, nunca antes visto neste país a presença do ex-presidente Lula, que se representa como exemplo da vitória do semi-analfabetismo no Brasil.
Poderia ser outro operário, como tantos outros autodidatas, que jamais negaram que alisar os bancos escolares é um mérito individual e social, a base do conhecimento que constrói o futuro.
Tivemos no Congresso vários representantes da classe trabalhadora. Um deles, o ex-deputado comunista Roberto Morena era marceneiro, e participou da guerra republicana espanhola.
Morena estudou línguas, História e Economia e escrevia para várias publicações. Impedido de se reeleger por um tribunal fascista na década de cinqüenta, despediu-se da tribuna de agradecendo ao destino, que lhe deu a oportunidade de fazer as cadeiras da Câmara Federal e, um dia, ter sentado numa delas.
Houve muitos outros e ainda hoje há alguns operários que estudam e defendem um Brasil democrático e livre de injustiças. Ao contrário de Lula, que aproveitou os holofotes do Congresso Chapa Branca para atacar a liberdade de imprensa e a expressão do pensamento.
Esses ataques a jornais e jornalistas, registram uma tendência totalitária, aquela que fez Mussolini trair o sindicalismo e abandonar o Partido Socialista Italiano para estabelecer a ditadura fascista.
A História dá este exemplo para muitos. Mas não para os delegados ao congresso da UNE, entre os quais não houve um só que defendesse a liberdade de imprensa e de expressão. É neste solo fértil de ignorância histórica que se planta a semente dos regimes de partidos únicos e do culto da personalidade…
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