Artigo
É impossível parar de falar da crise nos Transportes
MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)
Como deixar esfriar as labaredas do escândalo que derrubou um ministro e cinco membros do segundo escalão do governo federal? Até na chamada “grande imprensa”, a notícia ainda se mantém nas primeiras páginas, apesar das manchetes reduzirem o tamanho da fonte e mudarem de lugar…
O destemido e independente jornalista Carlos Newton, num dos seus últimos artigos, escreve que diante da absurdez das ocorrências no Ministério dos Transportes “(…) os nossos políticos acabam de criar o Governo do Absurdo, que parece destinado a ter grande sucesso”.
Nada além da verdade, Carlos Newton. Qualquer observador da cena política por mais míope e surdo que seja não poderia deixar de ver e ouvir que Alfredo Nascimento, incompetente e corrupto, ganhou o ministério para ceder o mandato de senador ao amigo e companheiro de farra de Lula, o ridículo suplente João Pedro.
Com este modelo especial de ministro, não foi vexame a presidente da República passar por cima dos costumes e das normas, demitindo, sem consultá-lo, os seus auxiliares diretos, Luiz Antônio Pagot, Mauro Barbosa, Luiz Tito Bonvini e José Francisco das Neves, o Juquinha, menino de recado do notório deputado Valdemar Costa Neto.
Tal medida não configurou apenas um desrespeito, mas, sobretudo o temor do governo das denúncias se expandirem, atingindo outros órgãos da administração pública, pela ramificação do modus operandi de um ministério enfeudado por um partido.
Estes dias fotografaram um enorme retrato de Luiz Antonio Pagot, diretor em gozo de férias do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Este senhor resistiu à ordem de demissão da presidente Dilma: revoltou-se, esbravejou, ameaçou e tirou férias.
Suas insinuações sobre o ministro Paulo Bernardo e veladas ameaças ao Planalto foram registradas, alimentando o sensacionalismo de alguns jornais e renovando as esperanças de mudança para os que querem passar o Brasil a limpo.
Convidado a depor no Senado, criou incomum expectativa, mas o que se viu foi a montanha parir um rato… Foi decepcionante vê-lo à frente das câmeras da TV-Senado, ensaiado para transformar o dito pelo não dito, rechaçando as denúncias de corrupção e fazendo copiosos elogios ao governo.
Foram os foguetes para anunciar a corrida dos picaretas do Congresso Nacional em sua defesa. Blairo Maggi, seu padrinho, Cândido Vacarezza, líder do governo na Câmara e o vice Michel Temer, defendem sua permanência no Dnit…
Uma coisa curiosa, que caracteriza o “Governo do Absurdo” foi sua explicação sobre as férias que tirou desafiando a demissão decretada: “Recebi instrução para entrar de férias. O meu afastamento foi publicado nas revistas, mas minha instrução foi para sair de férias. Se vou continuar de férias só depende de Dilma”, disse.
Este balancete das duas últimas semanas apresenta um saldo altamente negativo para Dilma, como pessoa e como presidente da República. Não se fala mais da “gerentona”, e sim da mulher que se diz triste no que vê, mas oferece coquetéis para chaleirar chantagistas corruptos.
De improviso em improviso, a Presidente nada afirma nem desmente. Elogia os frágeis ministros de conveniência, submete-se a patrocinar a um hilário “casamento” do PT com o PMDB e por três vezes em declarações públicas faz inexplicáveis e afetadas louvaminhas a Lula.
Que é isto, companheira? Sabe-se e comenta-se nos corredores do Planalto que no ministério há vários candidatos a deixar o cargo; que a aproximação PT-PMDB é uma falsidade; e, seus elogios a Lula não passam de tentativas de abrandar o mau-humor daquele, com ciúmes de FHC…
Enfim, do mesmo jeito que é impossível parar de falar nos Transportes, também é muito difícil não fazer a crônica social da corte brasiliense, descrevendo o cenário de corrupção e realçando a constrangida, quixotesca e triste figura de dona Dilma Rousseff, a mãe do PAC.
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