Artigo
Pode, no Brasil, haver oposição para valer?
MIRANDA SÁ, jornalista (E-mail: mirandasa@uol.com.br)
No campo libertário do Twitter mantive com a comunicadora @silvianetto um debate sobre o convite da presidente Dilma Roussef ao sociólogo e ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, para o almoço oferecido a Obama.
Silvia defendeu a ida, achando que é hora de FHC entrar na cena “pop”. Eu discordava; via o contrário, com a recusa de Lula em comparecer. Um opositor junto ao governo lhe daria armas para apontar em seu espelho distorcido e grande rival, como leviano e oportunista, desmerecendo-o.
O caso é que a intelectual paranaense @silvianetto tinha razão. O Sociólogo é uma personalidade única, não pode ser confundido com a oposição. Eu me auto-critiquei junto a minha debatedora.
Registro que considero imperdoável o capítulo da reeleição que FHC protagonizou, mas não lhe nego a armadura intelectual e moral que veste. Sua ida ao almoço de Obama e o brinde trocado com Dilma, valorizaram-no.
A oposição é um caso à parte. Nenhum dos seus líderes pode vacilar; devem atuar dentro do princípio que diz que “a mulher de César não precisa apenas ser honesta, mas parecer honesta”.
Não temo enfrentar as críticas que fatalmente virão (como chegam desde que voltei a escrever artigos) ao declarar que não me conformo com a oposição parlamentar. Vejo-a desnorteada, frouxa e inconsciente da sua função – agora definida pelo senador José Agripino ao escrever que “quem não vence eleições deve exercer o papel de oposição, fiscalizar o governo de modo responsável, e propor alternativas”
O modo responsável de comportamento não é votar em Tiririca para a Comissão de Cultura, nem em Maluf e Jaqueline Roriz para fazer a reforma política… Não é calar-se ao ver a Comissão de Ética punir Erenice Guerra com uma advertência, nem ver mensaleiros desfilarem impunes no Congresso.
A oposição parlamentar precisa atuar em várias frentes e saber distinguir quando mira no Poder Executivo precisa mensurar a representação de Dilma – em começo de governo e diferente de Lula. Deve estudar a política econômica analisando-a para discutir com segurança os seus erros, desvios e riscos.
Outra frente é a disputa pela opinião pública, precisando diferenciar-se da massa governista, enfrentando e ferindo a maciça propaganda governamental. Cada ação, cada discurso, cada entrevista, não suportam improvisos. Os princípios ideológicos e programáticos deverão ser uma marca registrada.
Faz-se necessária uma visão comum e homogênea sobre a reforma política, lembrando que os 44 milhões de eleitores que votaram como oposição ao governo Lula e ao lulo-petismo, não podem ser decepcionados.
É duro para o político profissional fazer oposição. Por isso, não gosto de políticos profissionais, crendo que a carreira política não necessita de “profissionalismo”, mas de vocação e sensibilidade.
Finalmente, é preciso olhar a História. Do Império até hoje, passando pela República Velha, ditaduras civis e militares e até o arremedo do que foi a “Nova República”, tivemos uma oposição honesta, sem colaboracionismo, nem oportunismo. Isto é o mínimo que esperamos da atual oposição. Que seja para valer..
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