Poesia

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Tristeza

 

Eu perdi minha vida, e o alento,

e os amigos, e a intrepidez,

e até mesmo aquela altivez

que me fez crer no meu talento.

Vi na Verdade, certa vez,

a amiga do meu pensamento,

mas, ao senti-la, num momento

o seu encanto se desfez.

Entretanto, ela é eterna, e aqueles

que a desprezaram – pobres deles!

Ignoraram tudo talvez.

Por ela Deus se manifesta.

O único bem que ainda me resta

e ter chorado uma ou outra vez.

 

Alfred Musset

(Trad. de Guilherme de Almeida)

O Poeta

Louis-Charles-Alfred de Musset nasceu em 11 de dezembro de 1810, em Paris. Antes dos vinte anos, publicou os poemas de Contes d’Espagne et d’Italie (1830), que ainda mostravam influência de Victor Hugo e Charles Nodier. Animado por Hugo, estreou em 1830 a comédia em um ato La Nuit vénitienne (A noite veneziana), em que quis integrar suas tendências clássicas e românticas. O fracasso inibiu-lhe a encenação de outras peças, mas não a composição de pequenos dramas somente para leitura, que ajudaram a amadurecer seu estilo.

Em 1833 Musset iniciou a acidentada ligação com a romancista George Sand, que lhe inspirou um drama shakespeariano, Lorenzaccio (1834), e a peça On ne badine pas avec l’amour (1834; Com o amor não se brinca).

 A crítica, porém, preferiu a série de quatro poemas líricos Nuits (1835-1837; Noites), em que o poeta dialoga com sua musa; a Lettre à Lamartine (1836; Carta a Lamartine), em que afirma ser o amor a fonte principal da arte; e o famoso romance autobiográfico Confession d’un enfant du siècle (1836; Confissão de um filho do século), em que se refere pela primeira vez ao mal du siècle, estado de desencanto e vaga melancolia, típico do romantismo.

Eleito em 1852 para a Academia Francesa, Musset morreu em Paris em 2 de maio de 1857.

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