Arquivo do mês: outubro 2025
DO FANATISMO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Desde que passei a divulgar os meus textos, artigos, comentários e crônicas, tenho repetido uma definição de Voltaire que considero perfeita: “Quando o fanatismo gangrena o cérebro de alguém, a doença é quase incurável”.
O “quase” do grande pensador francês do Iluminismo foi, sem dúvida, uma concessão aos seus contestadores jansenistas, inoculando-lhes a esperança de cura; discordo, eu nunca vi uma só pessoa, contaminada pelo fanatismo, seja político ou religioso, livrar-se desse mal.
Trata-se de um vírus epidêmico no campo do pensamento para o qual a Filosofia não inventou uma vacina e nem as normas de comportamento social possuem a necessária eficácia para combate-lo.
O fanatismo atua nos cérebros infectados como uma droga alucinógena. Pela minha observação nas redes sociais acho que alguns ignoram a própria condição enfermiça não se dando conta disto; também em sua maioria desconhecem que são usados por trapaceiros.
Esses exploradores são falsos intérpretes da palavra de Deus que se assumem como seus intermediários, vendendo as alegrias do paraíso; ou são militantes partidários e pelegos sindicais que roubam o Erário (e no nosso caso, assaltam até aposentados e pensionistas do INSS).
Este quadro funesto se estende pelo mundo inteiro (com raras exceções, para justificar a regra…); mas no Brasil, mesmo contaminado, tornou-se um quadro hilariante visto por Millôr Fernandes ao dizer que aqui “os ratos põem a culpa no queijo”.
É o que assistimos no caso do assalto às velhinhas e velhinhos do INSS apoiado pelo Governo Lula numa cumplicidade explicita que chega ao ponto de usar o dinheiro do contribuinte para ressarcir o crime.
Isto é indesmentível pelas declarações de ministros e líderes partidários governistas e pelos seus seguidores fanáticos que empunham a vassoura da estupidez e se encarregam de varrer a sujeira deixada pelos “cumpamheros” nos corredores da delinquência.
É o que se vê até nas redes sociais; quando lhes falta argumento, os fanáticos repisam acusações aos críticos e denunciantes, e assim chegamos mais uma vez à conclusão de que o fanatismo está em relação da paixão pelos seus ídolos e o ódio pelos seus oponentes.
Como o etanol usado criminosamente na bebida cega o consumidor, a cegueira do fanatismo para a ética tornou-se um princípio extremista que nega o ensinamento da Antropologia que a Natureza diferencia o ser humano dos outros animais, aos que se prendem apenas ao instinto de sobrevivência e, no cio, ao acasalamento reprodutivo.
Este aprendizado leva-me à uma história que exemplifica esta diferença ambígua da animalidade; protagoniza uma cadela que vê um cão, seu irmão, ser dilacerado por uma fera e não tem o pejo de apropriar-se de um pedaço ensanguentado dele como alimento; entretanto, esta mesma cadela defenderá a sua cria e morrerá lutando para salvá-la.
Hoje e agora no Brasil, só se assiste entre os políticos a primeira expressão daquele comportamento animal. Aqui, vemos como antropofagia as mútuas acusações trocadas pelos populistas corruptos, Jair e Lula, auto assumidos mentirosamente como “de esquerda” e “de direita”.
Estes digladiam-se no ring eleitoral, mas se igualam ao assumirem o poder. Assim estimulam a devoção fanática dos seus cultuadores que rejeitam o diálogo e até justificam a violência em nome da “verdade” que defende. Perdem, dessa maneira, o poder de pensar independentemente, robotizados pelo fanatismo.
No quadro da polarização eleitoral dos populistas corruptos, o que temos é uma salada mista em que fé religiosa e a convicção política se misturam, tendo de um lado o bolsonarismo teocrático medieval e do outro o lulopetismo stalinista se acumpliciando com o crime organizado a ponto de considerar traficantes de drogas vítimas dos usuários.
Os dois populistas e seus seguidores são os exemplos mais-do-que-perfeitos do fanatismo que temos no infeliz Brasil dominado por um Sistema Corrupto que estimula o egoísmo, a falta de patriotismo, a ganância e a locupletação no governo em benefício próprio, Chega!
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DA ÉTICA
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Entre os méritos que não deixo de lembrar e elogiar, a antiga Editora Abril nos deu a coleção Os Pensadores, cujos livros folheio de vez em quando para pescar assuntos merecedores de entrar na pauta da reflexão e da polêmica.
Nesses dias, fui ao filósofo George Edward Moore, um inglês realista parecido com os colegas alemães…. No seu livro “Estudos Filosóficos”, Moore revela ideias tiradas das teses inovadoras do austríaco Ludwig Wittgenstein que muito contribuíram para a moderna filosofia; nos “Princípios Éticos” ele vai à terminologia com divagações sobre palavras relacionadas à Ética, como “bom”, “dever”, “direito”, “mau”, “obrigação”, “virtude” e “vício” ….
A herança deixada por Wittgenstein com as suas reflexões sobre o múltiplo uso de termos na linguagem e na lógica; neste acervo, avalia a dicotomia das palavras usuais, como que é “bom” ou “mau”, “virtude” ou “perversão”.
O herdeiro, Moore, considera também que as expressões linguísticas desempenham um papel fundamental na comunicação, embora caindo na dependência do caso e do contexto; foi assim que levantou a tese da Casuística.
A Filosofia Analítica em relação à linguagem comum, chamada também de “filosofia da linguagem ordinária” ou do senso comum, recebeu a proposta de Moore para esclarecer como é usada no cotidiano, destacando-se contra as abstrações idealistas e céticas, recomendando ver-se o casuísmo como efeito da linguagem.
A Casuística Filosófica traz certezas simples como “a mão pega na asa da xícara” ou “hoje acordei cedo” e tais afirmações são indiscutíveis ao contrário das definições abstratas como “bom” e “mau”.
O contexto tempo-espaço oferece confusões casuísticas pelas diferentes funções verbais do verbo “Ser”, que levam à identificação inadequada do que é “bom” por seus predicados naturais; esta casual imprecisão linguística carrega implicações filosóficas problemáticas.
Nestas situações encontramos a diferença entre linguagem e proposição, vendo que as proposições são entidades abstratas que as frases exprimem, nem sempre correspondendo à verdade.
Pelo uso corrente da linguagem e a sua valorização pelo costume ancestral, torna-se difícil termos uma visão clara do que é a Ética e sua contradição entre a “filosofia da linguagem comum” em oposição à lógica simbólica.
Assim, vemos esta diferença na cosmogonia a partir da narrativa sobre a origem e a organização do universo, enquanto a teogonia a narrativa vai à origem, genealogia e organização dos deuses ou seres divinos.
Pondo os pés no chão e acendendo, como Diógenes, uma lanterna para procurar a Ética no campo da política, encontramos uma cena muito diferente na 2ª Guerra Mundial quando reuniu Churchil, Roosevelt e Stálin, diferentes em tudo, a se aliar contra o nazifascismo.
Diferente da mediocridade que vemos hoje no concerto internacional reinava a ética no mundo livre, que assistiu por vezes estes encontros na Conferência de Teerã em 1943, na Conferência de Yalta, além de reuniões individuais de Roosevelt e Churchill com Stalin em 1944.
Pulando do século passado para a conjuntura atual, e do passado global para os nossos dias e nossa realidade, a assistência ao palco político brasileiro vê um cenário vazio de Ética, este verbete que, dicionarizado é um substantivo feminino de etimologia do grego antigo “ethos” significando originalmente caráter e costume.
Como adereços e mobiliário que fazem parte da peça protagonizada pelos políticos brasileiros deveria complementar a Ética como importante ramo da Filosofia, que
tem por objetivo refletir sobre os princípios morais, distinguindo o bem e o mal como elementos presentes na sociedade humana.
Tratando-se de valores negativos da moral de grupo ou de indivíduos, confirma-se que, por exemplo, a Ética inexiste entre os polarizadores eleitorais Jair e Lula, ausência que contamina os rebanhos fanáticos que os cultuam….
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FALANDO GREGO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br)
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.om.br)
Clássico é clássico; não foi por acaso que Shakespeare criou expressões que entraram na linguagem popular em todos idiomas do mundo…. N’ “A Tragédia de Júlio César” (1599) temos no ato 1, cena 2, Cássio perguntando a Servíllio Casca o que Cícero havia dito, e este responde: “De minha parte, era grego para mim”.
Casca não havia entendido o que Cícero dizia porque este, realmente, estava falando em grego, mas a imagem de “falar grego”, passou a manifestar algo incompreensível a outra pessoa.
No Brasil – às escondidas de pessoas alheadas – a genialidade de Lima Barreto trouxe um magnífico conto, “O Homem que Sabia Javanês”, mostrando o fascínio bacharelesco dos letrados pela falsa erudição.
Lima observou que os círculos jurídicos, sociais e políticos da sua época limitavam-se num vazio intelectual, fato que os anos não deletaram da vida pública, ao contrário, acumularam no “quartinho dos fundos” da História.
Frases de sonoridade imperceptível ao ouvido nos levam a um conto do escritor, editor e crítico literário Edgar Allan Poe. A narrativa leva à denúncia coletiva de uma vizinhança que ouviu gritos de pavor na madrugada, concordando todos que se tratava de vocábulos alemães notadamente a palavra “Ja”, sim, partícula afirmativa.
Poe lembra, porém, que o “Ja”, embora comum ao idioma alemão, é usado em sueco, no dinamarquês, no flamengo, no holandês, no húngaro, em alguns dialetos italianos e na linguagem coloquial dos norte-americanos.
Embora todas testemunhas imputarem a um alemão a gritaria, comprovou-se por fim que os gritos eram guinchos que partiam de um macaco…. Neste contexto factual refletimos que estamos vivendo no século 21, portanto o besteirol ininteligível deveria tornar-se extinto.
Infelizmente, a experiência de viver mostra que a conjuntura política e social fala grego aos cérebros doentios que mantêm larvas de fanatismo que, como diz Voltaire, é uma doença contagiosa como a varíola.
O discurso versátil referindo-se às circunstâncias ambientais é uma droga consumível pela massa ignara, diferentemente de um conjunto de informações que expressam a realidade que os ouvidos broncos não conseguem distinguir.
A analogia das palavras ilusórias e o populismo não têm valor histórico, não passam de relíquias neuróticas cujos cultuadores concebem como verdade, identificando-a como um conceito abstrato.
Sobre o julgamento de Jesus nos Evangelhos, Pilatos, o governador romano, questionou: – “O que é a verdade?”. Cristo nada respondeu.
O silêncio muitas vezes substitui um relato verossímil de pormenores, e, ao contrário da passagem evangélica (escrita em grego) a verdade chega à política através de ideologias distorcidas, da esquerda populista e da direita nada conservadora.
Assistimos pela facilidade das informações que a Internet e a Inteligência Artificial oferecem (e é por isto que os governos arbitrários querem suprimi-las) nos levam a crer que o Brasil se enroscou num redemoinho de inverdades que os três poderes da República turbinam.
Falta um penetra dos andares de cima do condomínio jurídico, uma pessoa com discernimento para falar aos semideuses togados que ali habitam para deixar de lado a defesa da “demogracinha” e atuem como juízes autênticos, defendendo a Democracia como fizeram os déspotas esclarecidos do século dezoito, também absolutos senhores do poder, mas adotando ideias iluministas.
Entre os mais notáveis destas figuras foram Catarina II da Rússia, Frederico II da Prússia, José II da Áustria e o Marquês de Pombal em Portugal. Temos o exemplo marcante de Democracia num fato em que a História registra com Frederico II:
Em razão de um burburinho de rua, Frederico encerrou uma reunião e perguntou ao seu ajudante de ordens o que havia. O oficial disse que alguém fixara um cartaz ofensivo à monarquia, mas colou muito alto e o povão estava tendo dificuldade de ler; acrescentou que iria mandar a guarda armada dispersar a multidão.
O Monarca negou esta ordem e foi à janela; para ser ouvido pela aglomeração, ordenou em voz bem alta ao sentinela à porta do palácio: – “Abaixa o cartaz para que todos possam ler!”. Provocou dessa maneira risadas na multidão que se dispersou aclamando-o….
No Brasil, em pleno século 21, o Complexo STF-Lula é incapaz de um gesto desta grandeza; ao contrário, uma crítica aos semideuses togados do Supremo Olimpo, vai a julgamento como agressão ao Estado…
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DAS PAIXÕES
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Civilização significa tudo aquilo que os seres humanos desenvolveram ao longo dos anos para se sobrepor à ancestral condição animalesca. Trata-se de uma arquitetura social para atender à humanidade nas suas necessidades.
O processo da evolução civilizatória levou as nações a se organizarem com um esquema jurídico para manter as instituições governamentais e proteger a cidadania contra o poder monocrático das ditaduras.
É por isto que a civilização deve ser defendida contra o individualismo. São impulsos individuais de lideranças políticas que adotem qualquer rótulo ideológico seja de “direita” ou de “esquerda”.
Só visando a coletividade é que as nações podem cumprir a tarefa de aproveitar o que a Natureza oferece, visando produzir bens para o bem estar social. Assim pensando, desde os tempos remotos, nasceram sonhos utópicos fazendo a festa dos filósofos….
As utopias visam regimes perfeitos que só podem existir teoricamente. Uma sociedade excepcional, igualitária, distributiva e justa é o modelo inatingível que o filósofo, escritor e humanista inglês, Tomás Morus, criou em 1516 junto com o próprio termo, “Utopia”.
A tese de um sistema ideal das condições e relacionamento humano defendida por Morus foi possivelmente inspirada no antecessor, o filósofo grego Platão, que trouxe no seu livro “Atlântida”, uma cidade governada por filósofos, onde o Saber e a Justiça orientariam a vida coletiva.
Entre os sonhos de uma sociedade perfeita funcionando como um todo surgiu cem anos depois da “Utopia”, em 1602, a “A Cidade do Sol”, a projeção de uma sociedade teocrática e científica organizada pela cooperação intelectual, foi defendida pelo frade dominicano Tomazo Campanella; e, no mesmo século, em 1627, o filósofo Francis Bacon escreveu a “Nova Atlântida”, exaltando o papel da ciência e da pesquisa por instituições de governo respeitáveis como base para o progresso.
Este conjunto imaginário por uma sociedade perfeita ressurgiu na agitação intelectual da Revolução Francesa e radicalizou cem anos depois (1871) na Comuna de Paris, um governo popular formado por operários sob influência anarquista que durou 72 dias.
A Utopia, levada à prática pela primeira vez pelos communards, implementou reformas que mais tarde foram adotadas na comunidade internacional, como o ensino gratuito e a autogestão de fábricas.
Esta experiência anarquista foi sufocada pelo exército francês resultando em milhares de mortos e 43.522 presos incluindo entre eles 1.054 mulheres; tal violência acendeu as paixões políticas na Europa e de lá, se expandiu mundialmente.
O espírito da contradição entre revolucionários e governos opressores levou Helvétius, filósofo francês, maçom e literato, a observar que há paixões originárias da Natureza e as que se tornam a bandeira das revoltas contra ambições, corrupção e a desigualdade social e política.
Interessante é que Helvétius concluiu que estas duas espécies de paixão produzem uma terceira, aquela que leva o ser humano a adotar “amor por um” e “ódio pelo outro” ….
Com esta tese, caímos no caso brasileiro da nojenta polarização eleitoral atualmente reinante e assumindo a forma caricata da paixão, o culto da personalidade. Veja-se que assentados no favoritismo e nos privilégios, os polarizadores Jair e Lula partilham da ideia dos “programas sociais” que mascaram a compra de votos com o dinheiro público.
Isto provoca o contraponto entre o desenvolvimento social, econômico e político e a estagnação que favorece uma minoria; esta distorção mantém a política populista que subtrai valores do mundo do trabalho para favorecer o não-trabalho. É o fascismo com a fantasia do socialismo, trocando o princípio “quem não trabalha não come”, por outro: “ganhe uma bolsa e vote na gente”.
Assim, as paixões do sistema de alternância eleitoralista tornam-se ridículas vendo-se a disputa de ambos lados para conquistar a simpatia de Trump; a direita bolsonarista puxando o saco na copa e cozinha da Casa Branca e a esquerda lulista chamando o presidente dos EUA de “cumpanhero Trump” ….
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