Arquivo do mês: setembro 2013

João Cabral de Melo Neto

Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

 

Biografia aqui.

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Chamadas de 1ª página nos jornais desta 2ª-feira, 9.set.13

FOLHA DE SP – Sul e Sudeste têm 19 das 25 melhores universidades

C. BRAZILIENSE – “Marolinha” de 2008 ganha força em 2013

O GLOBO –  Clima de tensão entre Câmara e Senado

J. DO COMMERCIO (PE) – Petrobras espionada pelos americanos

VALOR –  Protestos têm vandalismo e centenas de detidos

ESTADO DE MINAS – Blindada, Dilma acredita ter escapado de protestos

ESTADÃO – Corrupção é crime que mais ocupa PF

ZERO HORA – Divulgar deputados custa o mesmo que 1,9 mil moradias

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Mário Quintana

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…

 

Biografia aqui.

Chamadas de 1ª página nos jornais deste domingo,8.set.13

FOLHA DE SP – Protestos no país têm baixa adesão, confronto e detidos

C. BRAZILIENSE – Protestos, confrontos e depredação em Brasília

O GLOBO –  Dia de protestos pelo país

ZERO HORA Dia de desfile, protestos e vandalismo

J. DO COMMERCIO (PE) – Independência e protestos

ESTADO DE MINAS – Pouco desfile. Muitos protestos. Dezenas de prisões

ESTADÃO – Dia de protestos pelo país

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Elizabeth Bishop

CADELA ROSADA

Sol forte, céu azul. O Rio sua.
Praia apinhada de barracas. Nua,
passo apressado, você cruza a rua.

Nunca vi um cão tão nu, tão sem nada,
sem pêlo, pele tão avermelhada…
Quem a vê até troca de calçada.

Têm medo da raiva. Mas isso não
é hidrofobia  é sarna. O olhar é são
e esperto. E os seus filhotes, onde estão?

(Tetas cheias de leite.) Em que favela
você os escondeu, em que ruela,
pra viver sua vida de cadela?

Você não sabia? Deu no jornal:
pra resolver o problema social,
estão jogando os mendigos num canal.

E não são só pedintes os lançados
no rio da Guarda: idiotas, aleijados,
vagabundos, alcoólatras, drogados.

Se fazem isso com gente, os estúpidos,
com pernetas ou bípedes, sem escrúpulos,
o que não fariam com um quadrúpede?

A piada mais contada hoje em dia
é que os mendigos, em vez de comida,
andam comprando bóias salva-vidas.

Você, no estado em que está, com esses peitos,
jogada no rio, afundava feito
parafuso. Falando sério, o jeito

mesmo é vestir alguma fantasia.
Não dá pra você ficar por aí à
toa com essa cara. Você devia

pôr uma máscara qualquer. Que tal?
Até a quarta-feira, é Carnaval!
Dance um samba! Abaixo o baixo-astral!

Dizem que o Carnaval está acabando,
culpa do rádio, dos americanos…
Dizem a mesma bobagem todo ano.

O Carnaval está cada vez melhor!
Agora, um cão pelado é mesmo um horror…
Vamos, se fantasie! A-lá-lá-ô…!

Biografia aqui.

Chamadas de 1ª página nos jornais deste sábado, 7.set.13

FOLHA DE SP – •’Black blocs’ protestam no Rio sem utilizar máscaras

C. BRAZILIENSE – Dilma de volta ao centro dos protestos

O GLOBO – Exército pode usar força para proteger desfile

ZERO HORA “A população tem direito de se indignar”, diz Dilma

J. DO COMMERCIO (PE) – Tensão no Dia da Pátria

ESTADO DE MINAS – De um povo heróico brado retumbante

ESTADÃO – Passe Livre rejeita manifestações anticorrupção

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Jorge de Lima

AS PESSOAS DE MIRA-CELI


O avô tinha sido um ancião convencional,
que se enterrou de sobrecasaca, e polainas;
e a avó 
 uma menina pálida que morreu ao pari-la;
o pai fez algumas baladas;
contam que tinha uma luneta para olhar ao longe.
Daí 
 a mão dobra a página do livro,
e a história da tetraneta finda com uma estocada
[ no ventre:
há destinos travados, lenços quentes de lágrimas,
algum incesto, uma violação sobre um sofá antigo.

Quando a mão dobra a página, há rastros de sangue
[ no soalho.
Esta é a mais nova das cinco.
Veja que os seios são como neve que nós nunca
[ vimos
e ninguém nunca viu o pai que lhe fez um filho;
e o filho desta menina é este moço de luto.
Agora vire a página e olhe o anjo que ele possuiu,
veja esta mantilha sobre este ombro puro,
e estes olhos que parecem contemplar as nuvens
através da luneta avoenga. Veja que sem o fotógrafo
[ querer
as cortinas dão a impressão de caras
[ impressionantes
por detrás da gravura: um estudante de cavanhaque
[ e outro de capa.
Repare bem o braço que ninguém sabe de onde
circunda o busto da moça e a quer levar para um
[ lugar esconso.
Fixe bem o olhar com o ouvido à escuta para
[ perceber a respiração grossa,
os gritos, os juramentos… A saia negra parece
[ um sino de luto,
e o decote é a nau que a levou para sempre. E este
[ fundo de água
pode ser o mar muito bem; mas pode ser as
[ lágrimas do fotógrafo

Biografia aqui.

Chamadas de 1ª página nos jornais desta 6ª-feira, 6.set.13

ESTADÃO – Barbosa rejeita recursos, mas adia fim do mensalão

ESTADO DE MINAS – Fôlego para os condenados

VALOR – Barbosa vota contra infringentes

O GLOBO – Mensalão: STF adia decisão sobre recurso

ZERO HORA – STF suspende discussão que pode levar a um novo julgamento

FOLHA DE SP – STF mantém penas por quadrilha no mensalão

C. BRAZILIENSE – Condenados pelo STF já ensaiam a despedida

J. DO COMMERCIO (PE) – Recursos no Supremo têm apreciação adiada

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ARTIGO

7 de setembro: A Marcha dos Excluídos

M IRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br

Organiza-se para sete de setembro, o Dia da Pátria, a 19º Marcha dos Excluídos, manifestações tradicionalmente realizadas para chamar atenção nacional da exclusão social no País. Começou como o “Grito dos Excluídos”, projeção de um protesto simbólico suprapartidário, com participações individuais ou coletivas.

Levantou inicialmente tendências diversas: contra a discriminação racial, de gênero e homofóbica; defendendo a justiça social e o mercado de trabalho aberto e remunerado com justeza; defendendo a Democracia contra a permanente ameaça do capitalismo selvagem e a disposição de grupos político-partidários de centralizar o poder.

Sem ser um movimento ou uma campanha pontual, a Marcha dos Excluídos esteve sempre aberta para a participação ampla da cidadania. Principalmente agora com o anseio de mudanças que levou o povo às ruas espontaneamente contra a corrupção e a impunidade.

A indignação que está em todas as cabeças concentra-se em duas vertentes republicanas: Um Congresso desligado da população e compromissado por interesses corporativos, individuais, grupistas e partidários e um Judiciário devedor de indicações presidenciais.

Os deputados ainda estão com os nervos formigando por terem cometido grave traição nacional com a absolvição de um colega presidiário, condenado pelo STF por desvio de verbas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

O Judiciário – na sua cúpula, o Supremo – está sob pressões externa e interna no julgamento da Ação 470 que condenou a quadrilha organizada para o assalto ao Erário, onde as figuras mais notórias são ex-dirigentes do PT, José Dirceu, José Genoino, JP Cunha e o ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares.

Com eles, o parceiro e sócio Marcos Valério, experiente executor de desvios de dinheiro público. O STF, norteado pelo espírito jurídico e em conformidade com o Direito, puniu-os com penas que somam pouco mais de 40 anos de prisão na sentença condenatória

Esta decisão do Supremo, aplaudida pelo povo brasileiro, encontra-se ameaçada por chicanas de todos os tipos e forte influência do lulo-petismo sobre indivíduos incultos, influenciáveis ideologicamente ou obrigando-se a agradecer pela ocupação de cargo pelos detentores do poder político.

Esta intimidação ao plenário do STF para se consumar uma revisão do julgamento, obedece a uma fórmula simples: basta a mudança de um voto entre os ministros que participaram do julgamento ou do voto pela absolvição do novo ministro Teori Zavascki.

Assim os mensaleiros petistas seriam beneficiados pela aceitação dos embargos infringentes e cumpririam as punições por corrupção ativa ou passiva, além de peculato, em regime semi-aberto.

É por isso que o dia 7 de setembro, sábado próximo, precisa de manifestantes contra a corrupção e a impunidade, somando-se à Marcha dos Excluídos, porque todos seremos excluídos se a justiça se partidarizar enaltecendo a impunidade.

A presença popular nas ruas assusta por vários motivos. Denuncia o neo colonialismo da FIFA e a roubalheira da Copa/14, reclama por mobilidade urbana com transportes accessíveis aos trabalhadores, combate à corrupção generalizada e evidenciar a incompetência governamental de gerir a Educação, a Saúde e a Segurança Pública.

Os poderes da República vêem afluir a força do povo e conhecem a experiência histórica da tomada da Bastilha. Dessa maneira ficam temerosos e com complexo de culpa; o Palácio do Planalto então mobiliza um inusitado número de agentes para a proteção das autoridades, e as arquibancadas mais próximas ao palanque de Dilma serão tomadas por partidários dela.

Mas nada disso impedirá que a voz rouca das ruas ecoe nos quatro cantos do mundo. E desta vez, se elevará sem que agentes provocadores infiltrados façam badernas. Os atos previstos para 135 cidades em todo território nacional já contam com a adesão de milhares de internautas.

… E as redes sociais devem capitanear o ato patriótico do Dia da Pátria. A página do ‘Maior protesto da História do Brasil’ no Facebook, organiza e programa as manifestações. #VempraRua você também!

Cecília Meireles

Fio


No fio da respiração,
rola a minha vida monótona,
rola o peso do meu coração.

Tu não vês o jogo perdendo-se
como as palavras de uma canção.

Passas longe, entre nuvens rápidas,
com tantas estrelas na mão…

— Para que serve o fio trêmulo
em que rola o meu coração?

Biografia aqui.

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