Arquivo do mês: janeiro 2008

Olho nos cartões corporativos

A ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, deverá ser convocada pelo Senado para explicar gastos com cartão corporativo do governo. O uso desses cartões é limitado a despesas emergenciais, mas Matilde utilizou o seu até para compras em freeshop. Os gastos do governo com tais cartões somam R$ 75,6 milhões.

NOTICIÁRIO

1 – Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo esperam gerar até o fim do ano os primeiros coelhos transgênicos do Brasil. Eles deverão produzir no leite uma proteína usada contra hemofilia.
2 – A crise internacional começa a fazer vítimas no mercado de renda fixa brasileiro. A turbulência dificulta a definição das taxas e já causou a suspensão de duas emissões de debêntures.
3 – Se a economia do Brasil crescer mais de 4,8% este ano, no cenário atual de chuvas insuficientes, haverá risco de racionamento de energia elétrica em 2009, que contraria o otimismo do presidente Lula. A conclusão é de um relatório da Empresa de Pesquisa Energética e do Operador Nacional do sistema. O governo prevê crescimento econômico superior a 5% este ano.
4 – O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil manteve a taxa básica de juros em 11,25% – decisão conservadora esperada com a crise na economia americana. A tensão voltou aos mercados, um dia depois de os EUA promoverem o maior corte de juros em duas décadas.
5 – A Agência Nacional de Aviação Civil montará no carnaval e de 6 a 10 de fevereiro uma operação especial contra atrasos, nos aeroportos. Além de fiscalizar áreas de check in, agora os funcionários da agência atuarão diretamente nas salas de operação de TAM, GOL, Varig e OceanAir, observando as empresas.
6 – Os mercados internacionais viveram ontem mais um dia de pessimismo, com forte instabilidade e comportamento errático nas principais Bolsas. O alívio só veio no final da tarde após uma reunião em Nova York chamada às pressas para discutir uma injeção de capital para seguradoras de créditos, empresas fortemente expostas ao risco de empréstimos no país.
7 – Após dois anos de avanço limitado por problemas climáticos, as exportações brasileiras de frutas cresceram 45% em 2007 e superaram os US$ 3,3 bilhões em receita. A Europa manteve-se como o maior comprador.

INFORMAÇÃO

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter ontem, por unanimidade, a taxa Selic em 11,25% ao ano, sem indicação de viés. A decisão, em linha com as expectativas do mercado, veio um dia depois de o Fed (banco central dos EUA) reduzir o juro em 0,75 ponto, para 3,5% ao ano. Há quatro meses o colegiado do Banco Central não mexe na taxa, alvo de 18 cortes consecutivos desde setembro de 2005.

MEIO AMBIENTE

A floresta amazônica sofreu, no segundo semestre de 2007, a maior devastação desde que os dados começaram a ser monitorados começaram a ser monitorados pelo governo. Os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectaram a derrubada de 3.235 quilômetros quadrados de floresta entre agosto e dezembro, mas o governo estima que o estrago tenha sido o dobro. Só em Mato Grosso foram devastados 1.786 quilômetros quadrados. As taxas de desmatamento vinham caindo há três anos. “Nunca havíamos visto isso na Amazônia”, disse Gilberto Câmara, diretor do Inpe.

CRISE ECONÔMICA

O mercado financeiro viveu ontem mais um dia de instabilidade, apesar do corte de juros anunciado em véspera pelo Fed, o banco central dos EUA. A Bovespa caiu 3,32%. As bolsas de valores da Europa também tiveram quedas expressivas, com destaque para a de Frankfurt, que perdeu 4,9%. Nos Estados Unidos, as bolsas abriram igualmente em baixa, mas se recuperaram no final do pregão. A de Nova York fechou em alta de 2,5% pro causa da caça a barganhas – investidores decidiram comprar maciçamente papéis cujas cotações caíram muito. No Fórum Econômico Mundial, na Suíça, a maioria dos debatedores avalia que os bancos centrais perderam o controle da situação.

FEBRE AMARELA

Foi confirmada ontem, em Goiânia, a nona morte por febre amarela no país. Oficialmente, porém, foi a primeira pessoa morta desde o surgimento de novos focos da doença – o óbito foi em 30 de dezembro, antes, portanto, dos demais casos. As outras oito mortes ocorreram neste ano -todos os que morreram com suspeita de febre amarela teriam contraído a doença no Estado de Goiás. De acordo com o último boletim do Ministério da Saúde, 18 pessoas já contraíram a doença no Brasil, sendo 14 em Goiás, duas no Distrito Federal e duas em Mato Grosso do Sul.

MANCHETES de hoje_24.jan.08


FOLHA DE SÃO PAULO – Em dia instável. Bovespa e Europa caem; Nova York fecha em alta

TRIBUNA DA IMPRENSA – Consenso em Davos: economia dos EUA já está em recessão

ESTADO DE MINAS – Bolsas voltam a despencar e BC mantém a taxa de juros

JORNAL DO BRASIL – Cedae desafia Dilma e aposta no carro a gás

CORREIO BRAZILIENSE – Febre amarela: o maior avanço em quatro anos

VALOR ECONÔMICO – Governo rejeita operação da Vale para comprar a Xstrata

JORNAL DO COMMERCIO – Concurso na saúde vai abrir 1.500 vagas

DIÁRIO DE NATAL – Apesar da presença de PMs a casa do americano é violada

TRIBUNA DO NORTE – PMs teriam sido os últimos a ver americano com vida

O ESTADO DE SÃO PAULO – Devastação na Amazônia dispara

O GLOBO – Desmatamento é recorde após três anos de queda

GAZETA MERCANTIL – ADR de emergentes sofrem com a ameaça de recessão

ZERO HORA – Cautela mantém taxa de juro em 11,25%

POESIA

Visio

Eras pálida.
E os cabelos,
Aéreos, soltos novelos,
Sobre as espáduas caíam…
Os olhos meio-cerrados
De volúpia e de ternura
Entre lágrimas luziam…
E os braços entrelaçados,
Como cingindo a ventura,
Ao teu seio me cingiram…
Depois, naquele delírio,
Suave, doce martírio
De pouquíssimos instantes
Os teus lábios sequiosos,
Frios trêmulos, trocavam
Os beijos mais delirantes,
E no supremo dos gozos
Ante os anjos se casavam
Nossas almas palpitantes…

Depois… depois a verdade,
A fria realidade,
A solidão, a tristeza;
Daquele sonho desperto,
Olhei… silêncio de morte
Respirava a natureza
—Era a terra, era o deserto,
Fora-se o doce transporte,
Restava a fria certeza.
Desfizera-se a mentira:
Tudo aos meus olhos fugira;
Tu e o teu olhar ardente,
Lábios trêmulos e frios,
O abraço longo e apertado,
O beijo doce e veemente;

Restavam meus desvarios,
E o incessante cuidado,
E a fantasia doente.
E agora te vejo.
E fria
Tão outra estás da que eu via
Naquele sonho encantado!
És outra, calma, discreta,
Com o olhar indiferente,
Tão outro do olhar sonhado,
Que a minha alma de poeta
Não vê se a imagem presente
Foi a imagem do passado.

Foi, sim, mas visão apenas;
Daquelas visões amenas
Que à mente dos infelizes
Descem vivas e animadas,
Cheias de luz e esperança
E de celestes matizes:
Mas, apenas dissipadas,
Fica uma leve lembrança,
Não ficam outras raízes.
Inda assim, embora sonho,
Mas sonho doce e risonho,
Desse-me Deus que fingida
Tivesse aquela ventura
Noite por noite, hora a hora,
No que me resta de vida,
Que, já livre da amargura,
Alma, que em dores me chora,
Chorara de agradecida!

Machado de Assis, escritor

FRASE DA VEZ_1/23

“O PT diz ter um programa operário. Mas é um programa de radicais de classe média que imaginam representar a classe operária, e não os operários, porque estes querem mesmo é se integrar à sociedade de consumo, ter empregos, boa vida, etc. Não lhes passa pela cabeça coisas como socialismo.”

Paulo Francis, jornalista

Caetano Veloso

Canta “Maria Bonita”, canção do disco “Fina Estampa”.