Arquivo do mês: dezembro 2007
Artigo saído n’O JORNAL DE NATAL. Hoje, nas bancas
Rio São Francisco: faltou um debate técnico
MIRANDA SÁ, jornalista
E-mail: mirandasa@uol.com.br
Por razões de toda ordem, a transposição das águas do Rio São Francisco está em todas as cabeças pensantes deste país. Políticos, teólogos, ambientalistas e artistas, correm na pista intelectual; religiosos, sindicalistas, estudantes, quilombolas e índios preenchem a faixa social; poetas, trovadores e revolucionários projetam-se liricamente para o futuro. Este Brasil brasileiro parece estar completo, mas para mim está faltando alguma coisa. Um debate técnico.
Vem de longe esta minha necessidade de ser conquistado por um dos lados que se opõem o dos que defendem intransigentemente a transposição e o dos que combatem apaixonadamente o desvio das águas do Velho Chico – o rio da integração nacional. Gostaria de argumentos científicos para tomar posição.
Minhas incertezas não são novas. Nos meus vinte anos, na era triunfalista de Juscelino Kubistcheck, ouvi falar pela primeira vez de um projeto grandioso de irrigação do polígono das secas. O Clube de Engenharia realizou uma série de seminários sobre o tema. Lá, na sede do clube, ouvi a exposição de uns engenheiros soviéticos que realizaram estudos, percorrendo o Nordeste a convite da Frente Parlamentar Nacionalista. Assisti, também, a conferências de engenheiros e técnicos israelenses que vieram prestar assessoria ao DNOCS.
Esta minha memória foi transmitida ao jornalista Aluízio Alves, personalidade histórica do Rio Grande do Norte e então ocupante do Ministério do Interior, e entusiasta da transposição. Contei para Aluízio o plano dos russos, da construção numa primeira etapa do canal São Francisco – Parnaíba e, depois, uma obra de engenharia de interligação do sistema com o Tocantins. Um projeto grandioso de estrutura ciclópica, feito por deslumbrados que acabavam de construir a Represa de Assuan, no Alto Egito. (Que não deu certo, diga-se de passagem).
Pedi que Aluízio tentasse localizar o ex-deputado paraibano José Joffily Bezerra, que poderia contribuir com qualificação dos estudos que estavam começando. O Ministro, apesar do arrebatamento, irrequietude e pressa, produziu um importante documento descritivo e detalhado com um parecer de respeitáveis especialistas. Não sei se este material ainda rola nos birôs do PT-governo e até sugiro que os colaboradores de Aluízio na época divulguem-no. Igualmente os que têm outro modo de pensar, conceitos e opiniões diferentes do projeto lulista devem apresentá-los à opinião pública.
Um dos contestadores é o bispo de Barra, dom Luiz Cappio. Li o seu artigo saído na Folha de São Paulo e publiquei-o no meu Blog. Para defender a sua posição, dom Luiz apresenta argumentos técnicos convincentes – não contra a transposição, mas contra o projeto do Governo Lula. Ele poderia capitanear um certame nacional para esclarecimento geral, mas preferiu uma ruidosa e sensacional greve de fome.
Aí a coisa descambou para uma discussão subjetiva que envolveu todo Brasil. Até o papa Benedito escreveu uma carta a pedido de Lula apelando que o salesiano não fosse ao martírio. Ocorre que o apelo emocional produziu um ruidoso fato político, mas não esclareceu a Nação. Não chegou ao povo, nobreza e clero o pensamento dos técnicos independentes, preteridos – pelo PT-governo – por peritos pagos e até funcionários de empreiteiras interessadas em assumir as obras.
Ninguém desmascarou os argumentos balofos das “agruras da seca” e do “nordestino sofrido”, os mesmos chavões que a indústria da seca usou duzentos anos para carrear verbas para os bolsos dos coronéis e políticos desonestos. Hoje os argumentos sentimentalóides servem para as grandes empresas agroindustriais e corporações multinacionais da fruticultura que aguardam ansiosas s distribuição de água em abundância e a baixo custo…
O Supremo Tribunal Federal decidiu açodadamente, e por 6 a 3 manteve as obras de transposição do Rio São Francisco. Os três votos contrários, dos ministros Ayres de Britto, Cezar Peluso e Marco Aurélio coincidindo em pedir o aprofundamento de estudos sobre o impacto ambiental, melhor esclarecimento da concessão de licença prévia e de que cabe ao Poder Legislativo a decisão para o projeto de integração.
O Ministério Público e os ambientalistas defendem também a necessidade de aprofundar o estudo de impacto ambiental para orientar a concessão das obras. A intervenção dos cientistas, economistas, engenheiros e técnicos, e geógrafos, mostra que drenar as águas prejudicará o meio ambiente, e chegará muito cara ao destino, além de bastante deteriorada.
Enquanto isto os “teólogos chapa branca” condenam dom Luiz Cappio, ouvindo o Guia Genial que afirmou que o governo “não pode ceder” à greve de fome do religioso. “Se o Estado cede, o Estado acaba. E o Estado precisa funcionar” diz o “estadista”. De outro lado, o teólogo Geraldo Hackmann, professor da PUC-RS e único brasileiro na Comissão Teológica Internacional do Vaticano diz que a greve de fome tem amparo bíblico, pois é uma forma pacífica de se pedir uma mudança.
Saindo da metafísica para a prática, vemos que a transposição tornou-se irreversível pelo empenho pessoal de Lula da Silva, sua arrogância e autoritarismo. Somente no futuro serão avaliados objetivamente os danos causados à natureza; em curto prazo assistiremos a vitória políticas dos ocupantes do poder e os lucros carreados para o cofre dos empreiteiros e repassados a políticos corruptos.
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CAIXA DO CORREIO
Gazeteiro
Lamentável. Apesar de já ter pago sua “dívida” com a sociedade, ficando inelegível por oito anos, o hoje senador Fernando Collor de Mello novamente envergonha a Nação. Além de ter sido o mais faltoso do Senado Federal (gazeteou em 44 das 119 sessões), afirmou que não deve satisfações a ninguém por isso. Pena que senador não possa ser cassado por impeachment, ficando este ônus para seus pares. Fabio Tavares (24790153@bol.com.br)
Fanfarrão
Perguntar não ofende: Fernando Collor, como grande gazeteiro, recebia o salário como se não faltasse às sessões do Senado? Elle continua o mesmo fanfarrão e arrogante de sempre, como se depreende de sua resposta ao ser indagado sobre suas faltas. Ademir Ribeiro de Andrade (angelogica@tricor.com.br)
Jejum
Sobre o jejum do bispo, discordo do Estado em duas coisas. Primeira: se ele abusa da autoridade da Igreja, usa as mesmas armas de Lula, que usa a sua imagem de homem do povo para desqualificar quem não concorda com suas sandices. Segunda: se em tempo de liberdade de expressão as pessoas acatam a autoridade moral da Igreja mais que a do governo, é porque o governo não está agindo com a transparência necessária para ganhar o respeito da sociedade. Daniel Aversa (daniel.aversa@unibanco.com.br)
Circo aéreo
Recomeçou o circo do caos aéreo. A incompetência do governo federal se mostra mais uma vez. O senhor ministro da Defesa (ex-deputado, ex-ministro do STF, ex-ministro da Justiça – o homem é um supra-sumo) pode entender de política, mas de turismo e de empresas aéreas, não. Nem a senhora chefe da Anac nem ninguém de lá. É o Brasil: enquanto pessoas gastam tempo, dinheiro, saúde, estudando para se tornarem especialistas em setores específicos, nossos governos nomeiam para cargos técnicos quem não tem a menor idéia de como funciona um aeroporto. Cristiano Macedo (moiseshorta@estadao.com.br)
Descrédito
Peço mil desculpas ao senhor ministro Nelson Jobim por ter acreditado nele quando afirmou a toda a mídia que haveria “ressarcimento de dinheiro” quando os vôos atrasassem, ou fossem cancelados. Eu estava errado em acreditar em algo desse governo. José Guilherme Santinho (msantinho@uol.com.br)
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FRASE DA VEZ_1/23
“Esse é um bom resumo de 2007. Se estivéssemos num romance de Chico Buarque, eu diria que, no instante em que cumprimentei Paulo Henrique Amorim, o ano inteiro passou diante de meus olhos. O Brasil mergulhou de vez na chanchada”.
Diogo Mainardi, jornalista
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NOTICIÁRIO
1 – Os novos reis da produção de álcool no Brasil em nada se parecem com os antigos usineiros. São grandes investidores dispostos a correr riscos para embolsar fortunas com projetos de etanol. A lista inclui o milionário George Soros e o banco Merril Lynch.
2 – Para profissionais de área de artes, a saída para o Masp é a transferência de sua gestão para o governo. “Por mais precário que seja o Estado, tem mais perspectiva do que uma gestão dessas”, diz Ronaldo Bianchi, secretário-adjunto de Cultura do Estado. “A gente topa gerir o Masp.”
3 – O preço do feijão acumulou alta de mais de 150% em um ano. É o grande vilão da inflação em dezembro, com alta de 30,45% em apenas uma semana. A instabilidade dos preços é uma das causas para a queda no plantio do grão no Estado.
4 – Caos nos aeroportos aumenta o medo de voar: Três em cada 10 vôos tiveram problemas de atraso nos principais aeroportos do país, ontem. Em Brasília, quatro foram cancelados. Insegurança dos passageiros cresce com os transtornos.
5 – Tem gringo no PAC – Grupos estrangeiros estão dispostos a investir bilhões na infra-estrutura brasileira e têm colocado pressão para reduzir as tarifas das concessões públicas.
6 – …E a eficiência vai para o ralo: Estudo mostra que o Brasil desperdiça 85 dias por ano devido à baixa produtividade. Mas aí está a chance de aumentar a produção sem grandes investimentos.
7 – Evo Morales: Os imigrantes brasileiros que ajudaram a transformar a economia da Bolívia agora se sentem ameaçados pelo surto nacionalista que arrebata o país.
8 – Remédios nos tribunais: Dispara o número de ações judiciais que obrigam o governo a fornecer gratuitamente medicamentos caros. A despesa deverá chegar a R$ 600 milhões.
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HISTÓRIA (CPMF)
Ao longo de dez anos, a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) injetou R$ 102 bilhões no Orçamento da União, especificamente para a saúde. Mas todo esse dinheiro, equivalente a 88% das fontes de recursos do setor, produziu poucos efeitos. Ainda hoje, 13 milhões de hipertensos e 4,5% milhões de diabéticos não têm acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS). Estima-se que 25% dos portadores de tuberculose, malária e hanseníase estejam sem tratamento. Dez milhões de obesos não são atendidos de forma adequada no sistema público. Na fila das próteses há 1 milhão de pessoas. Marcos Bosi Ferraz, da Universidade Federal de São Paulo, diz que o problema com o imposto do cheque é que foi usado para tapar buraco com a perda de outras formas de financiamento.
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ANALFABETISMO
Crianças que não sabem ler frases simples e sequer conseguem fazer um ditado formam um contingente estimado em 12% dos alunos da rede pública entre a 1ª e a 4ª série, segundo o Instituto Ayrton Senna, informam Maia Menezes, Isabela Martin e Letícia Lins. “O analfabetismo é um dos principais sintomas da má qualidade do ensino”, diz Margareth Goldemberg, coordenadora do instituto que tem programas de alfabetização em 527 cidades. Professores alertam que não há como ensinar o conteúdo de matérias a quem não saber ler. No Ceará, a direção de uma escola reforçou a alfabetização depois de ouvir o apelo de Nayara, de 14 anos: “Eu me sentia inferior. Achava que nunca ia aprender.” O MEC inicia em 2008 avaliação da alfabetização de alunos de 6 a 8 anos.
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MANCHETES deste domingo_23.dez.07
O POTI (RN) – Para mais de 40% da população gestões de Carlos Eduardo e Wilma são positivas
TRIBUNA DO NORTE – Prefeituras vêem dificuldades para adotar o ensino integral
JORNAL DO COMMERCIO – Comércio espera 1,3 milhão de clientes
ESTADO DE MINAS – Fim da CPMF engorda o caixa das empresas
JORNAL DO BRASIL – Militares encaram o drama das drogas
FOLHA DE SÃO PAULO – Um terço dos vôos sofre problemas
O ESTADO DE SÃO PAULO – R$ 102 bilhões da CPMF mudaram pouco a saúde
O GLOBO – Ensino de 1ª a 4ª série tem 12% de alunos analfabetos
CORREIO BRAZILIENSE – Brasil está pronto para o espetáculo da economia
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REVISTAS SEMANAIS
VEJA
Capa: A fé no terceiro milênio – A resistência da religiosidade em um mundo marcado pela descrença * Entrevista: José Murilo de Carvalho aponta os riscos do projeto de Brasil potência e diz que o país está mais longe dos ideais republicanos do que durante o Império.
ÉPOCA
Capa: Telefonia 3G – Como a nova geração do celular vai mudar sua vida em 2008 * Mais velocidade para baixar músicas e navegar na Internet * Melhor transmissão de filmes e vídeos * Novos serviços de localização e comércio móvel
ISTOÉ
Capa: Por que você vai viver melhor em 2008 – A combinação de crescimento econômico com inflação baixa e democracia oferece oportunidades inéditas para os brasileiros. Entenda o que vai mudar no emprego, na educação, na moradia, na medicina, na tecnologia, na cultura e nos esportes.
ISTOÉ DINHEIRO
Capa: Especial – Por que o Brasil é a bola da vez no mercado global e como as empresas brasileiras podem ganhar com isso. * Entrevista/Jim O’Neill – “Dos BRICs, o Brasil é o mais promissor” – Aquilo que os ingleses chamam de “insight” e aqui se traduz como uma mistura de intuição e “sacada” foi o que ocorreu ao economista Jim O’Neill, chefe da área de pesquisa da Goldman Sachs, em 2001. Ao criar a palavra BRICs, que reúne Brasil, Rússia, Índia e China, ele mudou os rumos do debate econômico * O Brasil é o BRIC da vez – Retomada do crescimento leva o País a, finalmente, disputar com Rússia, Índia e China o papel de emergente mais cobiçado da economia global.
CARTA CAPITAL
Capa: O pobre paga mais impostos: Enquanto as taxas sobre o consumo são altas, o IR favorece a concentração de renda * Ideal é viver de renda, assim você paga quase nada. A carga pune quem produz * A carga tributária brasileira é injusta e pesa mais no bolso dos pobres.
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PIADA DE MAU GOSTO
Quem sabe o nome dos ministros?
Virou piada, e de mau gosto, a pergunta feita no Congresso, onde, de 81 senadores e 513 deputados, não se encontrarão cinco parlamentares capazes de dizer o nome de cada um dos 38 ministros que batem cabeça em Brasília. Evitando o constrangimento de citações pessoais, e até reconhecendo que nem nós, jornalistas, conseguimos relacionar os ministros, vale apenas registrar o vazio que marca o governo neste final de ano.
Ministros existem que não despacham com o presidente Lula há mais de seis meses. Outros que só cumprimentam o chefe nos jantares de fim de ano ou em solenidades específicas. Estes cumprem simples rotina amanuense, aqueles permanecem sem um projeto ou um objetivo definido.
Há exceções, é claro, mas o conjunto não passa de sofrível.
(Carlos Chagas, jornalista)
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IMPRENSA
O jornalista Pedro Porfírio assumiu a vaga de vereador que era de Brizola neto, eleito deputado federal. Já tentaram tirar o mandato dele e agora o desembargador Nascimento Povoa, cumprindo ordens dos que dominam o TJ, cassou o mandato do bravo jornalista.
Pedro Porfírio vai recorrer e ganhar, todos eles sabem disso, é só arrogância. O crime de Pedro? Escrever na Tribuna da Imprensa, que eles não podem submeter. Não podendo submeter, perseguem. (HF/MS)
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