Arquivo do mês: agosto 2007

Comentário (IV)

A hipocrisia senatorial

“Ontem, na Comissão de Constituição e Justiça, a hipocrisia aberta e ostensiva na aprovação do nome de Carlos Alberto Direito para a vaga do Supremo. Não examinam nada, fingem, dizem amem, adianta? Hoje, 24 horas depois Artur Virgilio vai ler o próprio discurso, que pena. Como é que aqueles senadores apressados, que sabiam que precisavam aprovar o nome enviado pelo Planalto-Alvorada, sabiam de notável saber jurídico e reputação ilibada? Pode até ter, mas o Senado não se interessou. E quem referenda esse Senado?”

Hélio Fernandes, jornalista

Informação (3)

Está difícil se esconder

“Em conversa telefônica na noite de anteontem, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, reclamou de suposta interferência da imprensa no resultado do julgamento que decidiu pela abertura de ação penal contra os 40 acusados de envolvimento no mensalão. ‘A imprensa acuou o Supremo’, avaliou Lewandowski para um interlocutor de nome ‘Marcelo’. ‘Todo mundo votou com a faca no pescoço.’

Ainda segundo ele, ‘a tendência era amaciar para o Dirceu’. Lewandowski foi o único a divergir do relator, Joaquim Barbosa, quanto à imputação do crime de formação de quadrilha para […] José Dirceu, descrito na denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, como o ‘chefe da organização criminosa’”.

Vera Magalhães, jornalista

Informação (2)

De mulher para mulher… Marisa!

“Indicado pelo ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, Enrique Ricardo Lewandowski teve o apoio da primeira-dama Marisa Letícia para ser nomeado ministro do STF pelo presidente Lula.A mãe de Lewandowski, Karolina, é amiga de Marisa. Elas se conheceram em São Bernardo do Campo (SP), onde o hoje ministro foi criado e formou-se em direito.Auxiliares de Lula admitem que a amizade ajudou, mas não teria sido decisiva. O aval de Bastos e de juristas de São Paulo é que teria feito o presidente decidir por ele após analisar mais de 11 nomes. Os defensores do hoje ministro elogiaram sua “sólida formação jurídica” e o fato de ser professor titular da Faculdade de Direito da USP. O próprio Lewandowski procurou Bastos para manifestar seu desejo de ocupar a vaga”.

Valdo Cruz, jornalista (de Brasília)

FRASE DA VEZ_3/30

“Pergunto aos. senadores, voto secreto ou voto escondido? Voto secreto ou voto covarde? Voto secreto ou voto hipócrita?”

Victor Germano Pereira (victorgermano@uol.com.br)

Comentário (III)

A bola da vez

“Hoje, quinta-feira, é chegada a hora de a onça beber água: veremos se a pizza Calheiros vai ser servida ou vai continuar assando por mais tempo no forno da imoralidade, da falta de ética e de caráter. Não consigo entender por que Renan Calheiros ainda continua no comando do Senado. Gostaria de saber quem o protege tanto e por que deixar um cidadão como esse sentado na cadeira de presidente do Congresso Nacional. É uma vergonha para nós, brasileiros que trabalhamos e pagamos escorchantes impostos para sustentar gente dessa laia. Será que ele se considera mais importante que o Brasil? A que rei ele presta contas? É para ficar indignado, depois da enxurrada de denúncias, ele ainda continuar firme e forte no comando do Senado Federal, zombando de todos nós, otários, que ficamos de braços cruzados, inertes ante tudo o que acontece. Até quando teremos de engolir essa corja de corruptos que se esconde atrás do manto do poder e do foro privilegiado? Nossa paciência está chegando ao fim”.

Turíbio Liberatto (turibioliberatto@hotmail.com)

FRASE DA VEZ_2/30

“O Renan perdeu o contato com a realidade”.

Tasso Jereissati, senador

O Senado está nu

“Foi preciso que um funcionário do Senado decidisse reatar relações com a própria consciência para suas excelências perceberem o óbvio: que há três meses o presidente da Casa, Renan Calheiros, usa o cargo e a estrutura da instituição escancaradamente em proveito próprio. Como os senadores não são lesos, cegos nem surdos, as reações de surpresa ao pedido de exoneração do secretário-adjunto da Mesa, Marcos Santi, destinam-se única e tão somente a justificar a posteriori a complacência dos senadores para com os usos e abusos em série protagonizados à vista de todos pelo presidente do Senado.

Santi demitiu-se em função da orientação de Renan Calheiros para que a consultoria técnica preparasse parecer em favor da votação secreta dos relatórios do processo de quebra de decoro parlamentar contra o presidente. Postas as cartas na mesa, exposta a ferida, os senadores reagiram indignados. Consideraram “muito grave” a denúncia do funcionário e passaram a desconfiar seriamente da hipótese de a interferência de Renan Calheiros significar por si só ato parlamentar indecoroso. O secretário-adjunto fez a conhecida constatação sobre a nudez do rei e acabou desnudando também os súditos. Três meses, três processos abertos e inúmeras evidências depois, sejamos claros: Renan Calheiros só continua na presidência porque o Senado assim o permitiu”.

Dora Krammer, jornalista

OPINIÃO: Como se vê, tem razão o pernambucano Jarbas Vasconcelos; o Senado fede. A catinga de podre se espalha pela Casa já deteriorada pelos senadores sem voto – que primam pelo desembaraço forçado e cínico de alguns deles, como Wellington Salgado, que envergonha a representação mineira de tão ricas tradições. O cadáver putrefato de Renan Calheiros está insepulto porque falta de coragem ou despudorado comprometimento da maioria para enterrá-lo. Com honrosíssimas exceções de personalidades que poderiam assumir a liderança nacional por um novo Brasil, eu diria que se o Senado fechasse não faria falta ao país. MIRANDA SÁ

PT-governo analisa mensalão

“Em público, o Planalto faz as contemporizações de praxe. Em privado, porém, reconhece que o resultado do exame da denúncia do mensalão pelo Supremo saiu pior que a encomenda, e não apenas pela homogeneidade no acolhimento da peça do procurador-geral da República. “Os debates foram especialmente ruins para o governo”, diz um jurista simpático a Lula. Neles, os ministros avançaram no mérito de uma série de questões, contrariando o discurso das defesas de que apenas receberiam – ou não – a denúncia. Falaram claramente em “compra de apoio” e fizeram referências explícitas à existência do mensalão. No mínimo, será difícil sustentar doravante o bordão oficial de que ele foi invenção “das oposições e da mídia”.

Renata Lo Prete, jornalista

OPINIÃO: …Para uso externo, além do mantra “eu não sabia de nada”, “eu não sabia de nada”, “eu não sabia de nada”, Lula da Silva agora reproduz um novo bordão dizendo que foi julgado pelas urnas em 2002. Ora, desde quando voto absolve criminoso? Além disso, o voto foi em Lula, no Bolsa Família, nos cargos obtidos pelo aparelhamento, contra os restos de lembrança de FhC e no embalo das promessas muitas vezes repetidas embora nunca cumpridas. MIRANDA SÁ

TOME NOTA:

1 – O parecer pelo voto secreto na Comissão de Ética do Senado antecipa o clima tenso no julgamento do caso de Renan Calheiros. Na Câmara, em casos similares, o voto é aberto. O autor do documento denunciara pressões dos aliados do presidente do Senado, mas ontem recuou. Os dois relatores da oposição ameaçam não apresentar o voto na reunião de hoje.

2 – O Conselho de Ética julgará o pedido de cassação do presidente do Senado, Renan Calheiros em meio a denúncias de que ele usou o cargo para tumultuar o processo. Para Jarbas Vasconcelos, a Casa virou uma “bagunça

3 – Parlamentares de vários partidos ameaçam se rebelar caso o presidente do Senado consiga impor o voto secreto no Conselho de Ética. A manobra é a única chance que Calheiros tem de escapar de um relatório recomendando sua cassação.

4 – Coroado por elogios de senadores da oposição e do governo, Carlos Alberto Direito teve sua indicação ao cargo de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) aprovada ontem pelo Senado. O parecer que defendeu a indicação ressaltou, entre outras coisas, a “notória religiosidade e a inquebrantável fé” de novo ministro.

5 – Ao colher quase todas as denúncias contra os 40 participantes do mensalão, o STF desferiu o primeiro golpe, que será sentido pela corrupção que ainda mantém abertas as veias do erário.

6 – O presidente Lula afirmou ontem que a decisão do STF de abrir processo sobre o mensalão não atinge seu governo. “Tentaram me atingir, e 61% do povo deu a resposta na eleição”, disse.

7 – Estudo do IBGE revela a brutal diferença de renda entre ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres. Piores índices estão em Alagoas: elite gasta até 15,6 vezes mais do que classe menos favorecida.

8 – Um taxista trabalha nove dias para pagar a CPMF, o equivalente a um desembolso de R$ 241,65 ao ano. Um caminhoneiro, idem. Estudo divulgado ontem pelo IBPT mostra que, em média, o brasileiro trabalha sete dias do ano só para pagar o tributo – em 1997 eram três dias. Para profissionais da saúde e liberais, serralheiros, mecânicos e artistas, são seis dias ao ano (R$ 161,10).

9 – Depois de quatro anos e meio no comando da Polícia Federal, o delegado Paulo Lacerda assumirá a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, será o novo diretor da PF. A escolha de Lacerda, cujo trabalho tem sido elogiado por Lula, deverá diminuir o controle militar sobre a Abin e aumentar a cooperação com a PF.

10 – O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que as Forças Armadas não reagirão ao livro lançado pelo governo culpando-as por morte e tortura: “Não haverá indivíduo que possa reagir e, se houver, terá resposta”.

Comentário (II)

“O Lula que Lula quer que os brasileiros enxerguem: “Eu talvez seja o presidente mais tranqüilo que já passou pela República brasileira. Acho que nenhum presidente da República teve a tranqüilidade que eu tenho hoje. Estou muito tranqüilo.” Pelo visto, reencarnou em Brasília ninguém menos do que o célebre personagem de Voltaire – o dr. Pangloss, para quem tudo, invariavelmente, ia “pelo melhor dos mundos possíveis”. (Agência Estado)