crônica
AS QUATRO FASES DA LUA
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
No Carnaval de 1962 (eu brincava participando de blocos) a cantora Ângela Maria que completaria 100 anos no último 31 de agosto, lançou a marchinha “A Lua é dos Namorados”, que fez o maior sucesso. A letra se inspirou na missão soviética Vostok 1 levada à órbita da Lua tripulada pelo cosmonauta Iuri Gagarin.
Viu-se na arte musical um exemplo de reconhecimento ao avanço científico; também nos EUA, em plena guerra fria contra a URSS, a banda The Marcels homenageou o voo de Gagarin regravando uma das mais lindas canções norte-americanas, “Blue Moon”, de Richard Rodgers e Lorenz Hart, lançada em 1934.
No Brasil, todo o Rio de Janeiro cantou “Todos eles/ Estão errados/ A lua é/ Dos namorados” e agora, 61 anos depois, assistimos saudosos em agosto ao fenômeno batizado pelos astrônomos de “Super Lua” – um momento em que o satélite fica mais próximo da Terra.
Diz o meu amigo @profeborto que eu exploro metáforas; é verdade. Na cosmografia lunar faço-o para dizer que na política brasileira, os ocupantes dos poderes republicanos vivem no “Mundo da Lua”; e não pelas músicas, nem com os astrônomos observando através do Telescópio Gigante Magalhães. É pela loucura que a picaretagem impõe ao País.
A nossa política vive uma verdadeira psicose, dominada pela fraude e a mentira, numa polarização eleitoral que se parece com as lapinhas natalinas dividindo o público entre o cordão azul e o cordão encarnado.
Assistimos o atual presidente, Lula da Silva, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, se engalfinhando, acusando-se do que fazem. Xingam-se de demagogos, populistas e corruptos, e ambos têm razão.
Também a capital da República elege uma senadora cujo único mérito é afirmar que viu Jesus sentado no galho de uma goiabeira. Este discernimento eleitoral dos brasilienses lembra-me a história do antigo fabulista turco Nasresddin Hadja, que indo pegar água num poço viu a lua se refletindo na água e resolveu pescá-la, jogando a linha da vara de pescar n’água com o maior anzol que dispunha; este se prendeu no fundo por alguma razão.
Então Nasresddin puxou tão fortemente o anzol que a linha arrebentou e ele caiu de costas. De cara para o céu, vê a lua e se emociona: – “Que Alá seja louvado!”, pensou, “levei a lua para onde ela deve estar!”
A exultação do islamita mostra que a lua é adorada pelos árabes desde antes de Maomé, que se aproveitou disto, fazendo da Lua Crescente o símbolo da sua religião, evocando a morte e a ressureição. Como se sabe, a Lua passa por quatro fases: nova, crescente, cheia e minguante, e o ocultismo vê na Lua Minguante a “Fase de Olhar para as Sombras”, sugerindo o recolhimento para a reflexão sobre a vida.
Vemos então que a realidade desencanta. Com o homem pisando na Lua, os mistérios vão-se deletando. E o pioneiro desta presença, Neil Armstrong, legou-nos uma frase antológica: “Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade”.
Este salto humano transpõe todos obstáculos da ilusão. Precisamos então refletir sobre o futuro do Brasil e decidirmos como devemos nos libertar da psicose polarizadora das falsas “Direita” e “Esquerda” que se assumem como tal para enganar os trouxas.
PIADAS…
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“Rir é o melhor remédio” (Seleções de Reader’s Digest)
Em meio à calamidade trazida pela pandemia do novo coronavírus, em contradição aos lamentos lutuosos, surgem piadas divertidas – principalmente de humoristas e cartunistas – que desanuviam a dor e as preocupações.
As anedotas proliferam nas redes sociais, somando-se aos postadores negativistas do bando de Bolsonaro, que em si são piadas humanas (ou desumanas) pela condenação da Ciência e o cego fanatismo pela insana postura do Chefe.
Motivo de riso entre o episcopado católico corre a história da visita de um piedoso bispo do interior mineiro a uma clínica psiquiátrica, e lá ouviu de um asilado o pedido para intervir na sua internação, “feita por uma filha e um genro para apossar-se dos seus bens”. Sua Eminência se convenceu da argumentação e prometeu se interessar pelo caso.
“Volto na próxima 2ª-feira, trazendo a resenha que vai tirar-lhe daqui”, disse o Bispo, ao que ouviu uma surpreendente intervenção do paciente: – “Não, Eminência, na 2ª-feira, não, porque sou o presidente Bolsonaro e na 2ª-feira terei reunião do Comitê da Crise”….
Houve uma época que não havia o politicamente correto e as piadas de loucos foram moda. Lembro de uma em que dois alienados foram ajudar na pintura do hospício e um deles trepado numa escada pintava uma parede e pediu ao outro que guardasse a escada. – “Como? Se eu tirar a escada, você cai…” disse o auxiliar; que ouviu do colega: – “Que nada, eu me apoio no pincel preso à parede! ”.
… E tem a historieta da entrevista de um psiquiatra com um maníaco depressivo visando dar-lhe alta. Testando o paciente, disse: – “Lá fora você tem um bom dinheiro na sua conta bancária, e o que fará com ele? ”. O asilado respondeu sem pestanejar: – “Vou comprar um envelope com selos do Quirguistão”. – “O quê?”, retrucou o médico, em qualquer Filatelia esses selos custam baratíssimos…”
O paciente, colecionador de selos, então perguntou: – “Meu dinheiro dá para comprar um avião? ”; – “Dá, sim”, disse o doutor: – “… E por que você quer um avião? ”. Sem titubear o entrevistado revelou: – “Eu iria para Bishkek, capital do Quirguistão, e comprarei selos lá no Correio…”.
Outro dia, numa dessas rádios religiosas que grassam no Rio de Janeiro, um repórter de rua, que intervém no noticiário da manhã, trouxe uma notícia fúnebre;- “Na Praça Seca, encontraram o cadáver de um homem morto nesta madrugada…”
Na sua viagem à China o genial humorista Henfil descobriu que o budismo precedeu o nazismo no uso da cruz gamada. Encontrou desenhada num templo antigo, da dinastia Sung, ostentando uma suástica na porta de entrada; contando esta observação a um amigo, ele perguntou: – “E daí? ”. Henfil respondeu: “Conclui que Hitler era budista! ”….
Um querido amigo norte-rio-grandense, o poeta, escritor e pesquisador do folclore, Celso da Silveira, que já se foi, trouxe uma pilhéria intitulada “Susto”, no seu livro “Tempo de Rir”, contando que um advogado de Natal, dado a umas carraspanas chegou certa vez em casa, de madrugada, “mais prá lá do que prá cá”, e quando a empregada abriu a porta, passou a mão na bunda da mulher, pensando que era a esposa.
A mulher se recusou, batendo-lhe fortemente na mão, o que lhe fez ver o erro cometido e estudou uma desculpa. No dia seguinte, bate à porta o marido da empregada e manda chama-lo; ele se achegou morrendo de medo, e ouviu do homem: – “Patrão, a sua mulher me contratou para pintar a casa e venho lhe pedir que compre as tintas ainda hoje…” O Advogado aliviado, nem titubeou: – “Espere”; saiu e voltou trazendo dois mil reais e disse: – Tome, compre-as e fique com o troco…”
Como se vê, mesmo sofridos pela doença e pelas mortes, há sempre uma nesga de esperança, trazendo motivos para rir. Comentei com a minha irmã Lúcia sobre a tragicômica existência dessas chacotas e ela contou-me que uma amiga anda tão desesperada com a situação do Brasil que revelou a vontade de procurar uma clínica psiquiátrica e pedir para ser internada: – “É melhor conviver com os doidos de verdade do que estes doidos fakes que estão governando o Brasil! ”
OS TOLOS
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
“Para fazer um tolo compreender é necessário dar-lhe cocorotes na cabeça, enquanto para o inteligente basta uma palavra” (Provérbio persa)
Sem cocorotes, torna-se muito difícil aos tolos compreenderem o trágico momento da pandemia. Tangidos por negacionistas no poder, levantam a justa bandeira da liberdade religiosa para defender igrejas de portas abertas, sem ver que se trata de uma medida emergencial e temporária para defender vidas. A Liberdade é um bem.
Antes disto, estes mesmos patetas, ouvindo “a voz do dono” (antiga propaganda da RCA/Victor), combatiam os avanços científicos das máscaras, do distanciamento, do isolamento e cuidados nos contatos familiares, mas contra as medidas preventivas evocam um deus restrito a quatro paredes das igrejas….
Dando um triste exemplo, assistimos os malabarismos negacionistas do presidente Bolsonaro, se desdizendo para esconder a sua obsessão de enfrentar a lógica preventiva. Foi assim que convocou uma reunião com empresários, em que esteve representada ficcionalmente a empresa Lúcifer & Cia. Ltda., que explora os tolos em transações necrófilas.
O Anjo Caído, que preside o Conselho Diretor da L&C, sabe melhor do que ninguém que “os tolos representam quatro quintos da humanidade” conforme constatou Marc Twain, e para eles dá 50% de desconto na compra do produto da moda, o negacionismo.
Assim, vê-se formarem filas de néscios para comprar o negacionismo luciferiano, uniformizados com a camiseta do besteirol e gestos que agradam o aprendiz de ditador, para exibi-lo nas redes sociais. Ao receberem uma crítica, agridem quem os contradiz indignados e raivosos.
São organizados sob o comando de um esperto, poucos, mas ruidosos, repetindo as palavras-de-ordem do interesse do poder; quando ouvem “um chega prá lá” recebem de imediato a solidariedade dos colegas que compõem os quatro quintos da humanidade….
Perguntem a estes boçais qual é a diferença entre um berrante gaúcho e o shofar judeu, e ele certamente abordará o formato ou o som produzido, embora envolvido neste contexto. Adianto-lhes: ambos são feitos de chifres e emitem sons parecidos; e a diferença é que o shofar é tocado em serviços religiosos e o berrante para recolher o gado….
Alguém já disse – perdoem-me esquecer quem foi -, que “vale mais uma hora de sábio que a vida inteira de tolo”, pensamento lúcido que infelizmente não chegou ao ouvido dos brasileiros e por isso os broncos se juntam aos picaretas e ganham as eleições chegando ao poder. E logo se colocam acima das leis e da consciência social.
Um dos presidentes da República eleito e reeleito pelos palermas dos quatro quintos brasileiros – Lula da Silva –, além das medidas provisórias vendidas e das propinas recebidas, cometia os erros idiomáticos do linguajar de pelegos sindicais, e era aplaudido por acadêmicos.
Entre inúmeras condecorações recebidas, esse sentenciado em duas instâncias por corrupção e lavagem de dinheiro, foi brindado por várias universidades com o título “Doutor Honoris Causa”; e agora, sob aplausos dos lorpas socialisteiros, foi inocentado por firulas jurídicas no STF garantindo-lhe a impunidade, não pelo analfabetismo, mas pela desvairada corrupção.
O atual presidente, chefe da seita que se auto assume como “de direita” e “conservadora” é, no outro extremo, um apedeuta grosseiro e presumido, e também com desvios rasteiros de corrupção pelas “rachadinhas” e “cheques do Queiroz”, e nem para deleitar os tolos fanáticos que o seguem, não rem moral para queixar-se do seu adversário…
Neste quadro insólito de cinquenta tons desarmonizados, eu gostaria de vacinar os tolos azuis e vermelhos que protagonizam o avesso pastoril da politicagem; mas como disse Voltaire: – “É difícil livrar os parvos das correntes que eles próprios veneram”.
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