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DO ISOLACIONISMO

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Para se ter uma ideia de sociedade e, consequentemente, da cidadania, temos em mão a interessante concepção materialista do historiador britânico nascido em Alexandria, Eric Hobsbawm; ele mostra a socialização dos seres humanos através de uma metáfora.

Hobsbawm proferiu numa palestra: “Imaginemos um selo colado numa moeda poeta em cima do Obelisco Lateranense, do Egito Antigo, moldado em granito vermelho, com 45,7 metros de altura e ainda em pé; pressupondo que ele represente a idade da Terra, a espessura da moeda representaria os 350 mil anos em que o homem surgiu, e o selo configura o tempo em que se civilizou”.

Com esta tese, vemos que limite civilizatório do Homo Sapiens é tão pequeno que não escondeu sua necessidade de se coletivizar para sobreviver, abandonando a economia da caça e da colheita selvagens para se fixar no solo, plantando e domesticando animais.

Recebeu o exemplo da Natureza com a variação de estio e chuvas, promovendo assim a evolução e fortalecimento de animais e plantas; quanto ao ser humano, a “meteorologia social” fez o mesmo.

O contrário disto, temos o Isolacionismo.  O exemplo está no livro “Robinson Crusoé”, clássico da literatura escrito por Daniel Defoe. Historiadores afirmam que a aventura romanceada não foi ficção. Baseou-se no caso do náufrago escocês Alexander Selkirk, que viveu durante quatro anos numa ilha do Pacífico situada na costa chilena.

A Ilha de Robinson era selvagem e desabitada e ele teve a sorte do mar revolto trazer à praia os escombros do navio soçobrado na tempestade. De lá o náufrago retira além de alimentos não-perecíveis e barris de rum, vários utensílios de uso corrente. Na cabine do comandante pega armas, projéteis, pólvora, facas, navalhas e tesoura. Na cabine do comandante acha, num cofre, libras e as barras de ouro e prata.

Depois de tudo arrumado numa gruta habitável que encontrara, Robinson olha para o dinheiro e os metais preciosos e num rasgo filosófico, pensa e clama em voz alta: – “Oh! Vaidade das vaidades, vil metal impostor, para que serves?”; leva tudo à praia atirando-os ao quebra-mar.

Com este gesto, o Isolado apontou o mal da sociedade que do lado capitalista da servidão ao dinheiro. É a única vantagem do isolamento: mostrar o lado negativo da sociedade, mantido pelo sistema estatal repressor e a minoria privilegiada dos governantes.

Em conformidade com isto, vemos então que aquele selinho, colado à moeda e posto sobre o vértice do Obelisco Lateranense registrou historicamente avanços notáveis no campo das ciências, mas não logrou implantar o sentimento de solidariedade que levou os seres humanos a incluir-se socialmente.

É que o processo evolutivo da organização comunal foi da propriedade coletiva, mantendo o direito de todos aos produtos produzidos, para a propriedade privada cuja economia criou classes e exigiu o trabalho escravo, primeiro, como conquista de guerras e mais tarde com a revoltante comercialização do servilismo africano.

Visto o exemplo, a Sociologia Histórica nos leva a buscar nas estantes teorias da filosofia social que foram ofuscadas pela volumosa propaganda marxista; e lá encontramos um livro amarelado de Gabriel Tarde.

Este filósofo francês, sociólogo, psicólogo e criminologista, nos traz a compreensão da relação individual com a sociedade com relações interpsíquicas, exemplificada no processo desenvolvido na História Social. Segundo Tarde, a troca de experiências pessoais é um ciclo infinito de criações com base na imitação.

Ao contrário do coletivismo teórico, é uma tese que defende a precedência do indivíduo como responsável pela troca de informação que valorizam a força do trabalho no processo produtivo. Assim, o percursor da psicologia social no século 19, defende que a atividade social depende conscientização das pessoas e não do poder de coerção que o Estado lhes impõe.

Paralelamente completa-o a dialética de Paul Lafargue, autor do manifesto “O Direito à Preguiça”, publicado em 1883. Lafargue analisa o mundo do trabalho e vê a tendência do trabalhador em ampliar o seu tempo livre, encerrando o ciclo da produção e do lazer; levando-nos à compreensão do valor das políticas sociais-democráticas nórdicas que obtêm maior produtividade com o “direito à preguiça”.

Refletimos dessa maneira que Isolacionismo é cúmplice do mecanismo estatal que explora o trabalhador, como trabalhador, e é contra o cidadão como cidadão: faz um amálgama do produtor e a máquina, e do eleitor o escravo de um regime inimigo.

 

DOS VENENOS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Para falar de venenos dou uma volta ao passado, ir a Natal, Rio Grande do Norte, nos anos 1980, recordando uma conversa de que participei em torno de canecas de chopp; éramos cinco amigos e, não-sei-lá-porquê, falamos sobre venenos.

O assunto veio da triste lembrança sobre o nazismo, que promoveu o extermínio de eslavos, ciganos, homossexuais e judeus nas câmaras de gás de Auschwitz, onde foi usado Zyklon B, comprimido que dissolvido em água se transformava em gás letal.

Então o assunto chegou aos maiores venenos do mundo, sendo primeiramente citado o Sarin, veneno que deixa as vítimas cansadas e sem conseguir respirar; outro lembrou a Estricnina, um poderoso tóxico ainda usado na eutanásia de animais de estimação. Levantou-se também o Cianureto, ou Cianeto, o ácido que é fatal para humanos após 10 minutos de exposição.

Daí, um dos presentes, o psiquiatra Maurilton Morais, que me autorizou a citá-lo, nos apresentou a tese de que o pior veneno para o ser humano é psíquico; e deu exemplos, entre os quais o de uma moça, sua cliente, que se suicidou emocionada após ouvir a Sinfonia n.º 6 do extraordinário compositor russo Piotr Ilitch Tchaikovski.

E acrescentou o Médico que ele próprio se sensibiliza e se comove ao ouvir a Abertura 1812 do mesmo autor, a quem atribui o talento de provocar o auto envenenamento mental com a melodia.

Bem, não pretendo discutir a teoria musical e seus efeitos melódicos sobre a cabeça das pessoas, mas reportar jornalisticamente a tese de que o veneno é um fenômeno mental inoculado e ativado pela emoção.

Encontrei tempos após a conversa em Natal, um argumento a favor do tema do veneno psíquico. Um milenar conto árabe traz uma historieta investida da seriedade que as fábulas trazem para aconselhar e educar.

A narrativa é simples e direta. Descreve que “a Peste veio correndo no deserto e alcançou uma caravana que se dirigia para Bagdá. O chefe caravaneiro enfrentou-a perguntando-lhe o motivo de tanta pressa; e a Senhora dos Flagelos respondeu que estava chegando a hora de ceifar cinco mil vidas numa localidade adiante.

“Passados três dias e a caravana vindo de volta, ocorreu um novo encontro com a Peste e outra vez o chefe dos cameleiros dirigiu-se ousadamente para ela: – ‘Mentiste! Nós comprovamos, em vez de cinco mil vidas levaste 30 mil’. A Mãe das Epidemias foi pronta e veemente em responder: – ‘Nunca minto, senhor, na verdade recolhi apenas as cinco mil almas cumprindo a minha tarefa; as outras levou-as o Medo’.

Esta passagem registra a presença letal do Veneno-Medo, que pode intoxicar qualquer um, a mim e aos leitores dos meus textos. Não importa o sexo, a idade, a adoção filosófica ou credo religioso.

Atravessando os desertos orientais alcançamos a doutrina humanista do libertador da Índia, Mohandas Gandhi, que amedrontou os colonialistas ingleses com a arma da não-violência, deixando-nos a lição sobre os receios humanos: “o medo tem alguma utilidade, mas a covardia não”.

Como estímulo à sobrevivência humana, o medo é certamente um estímulo que nos protege de riscos naturais e acidentais; é um comportamento necessário à vida na Natureza; mas, quando se trata da sociedade, obrigando-nos às vezes a enfrentar o mal devemos usar contra este terrível inimigo o medo na sua função homeopática.

Se o veneno do medo dissolvido nas paixões mundanas ajudou a para libertar uma grande Nação como a Índia, poderá derrotar no Brasil os bandos criminosos seguidores de políticos corruptos e golpistas.

Estes delinquentes investem contra a livre expressão do pensamento adotando a censura e ameaçando acabar com as redes sociais que a Internet proporciona. O medo de perderem o poder fazem-nos extremistas.

Contra eles eu gostaria que mil sapinhos amazônicos Phyllobates terribilis, capazes de matar até dez adultos com uma pequena dose do seu veneno (o mais mortífero do mundo), se manifestem saltando diante dos três poderes da República assustando os inimigos da Liberdade.

 

 

 

 

DAS ATITUDES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Muitos anos estão acumulados desde que uma dessas reformas idiotas do ensino acabou com os cursos Primário, Ginasial, Científico e Clássico, fáceis de distinguir nos seus currículos. E entre o Primário e o Ginásio, havia ainda o Complementar, para ajudar os que eram reprovados no Exame de Admissão ao Ginásio.

Recordando meus tempos de estudante, faço-o para lembrar que fiz o Clássico, e nele tive às mãos uma interessante história traduzida do grego.

“O espartano Phedarete concorreu às eleições para o Conselho dos 300 e quando voltou para casa, mostrando um sorriso nos lábios, ouviu da mulher o comentário – “Estou vendo pela sua alegria que foi vencedor!”, a que ele respondeu que havia sido preterido. A mulher insistiu: – “… E porque estás tão alegre?”; então o patriota Phedarete replicou: – “Estou satisfeito por saber que em Esparta há 300 homens mais virtuosos do que eu!”

Uma atitude dessas é quase impossível nos tempos que atravessamos; o que vemos é a perda de caráter dos políticos e suas brigas por cargos públicos, disputas partidárias, luta interna nos governos pelo poder e a desgraçada polarização eleitoral entre grupos populistas.

Infelizmente são raros no Brasil os exemplos de dignidade e patriotismo como de Phedarete. Chegam aqui apenas as ideologias que quando estão bem velhinhas na Europa, atravessam o Atlântico e vêm para o Brasil…. Viram moda entre imbecilizados e fingem que são antagônicas para polarizar ludibriando o eleitorado paspalhão.

Aliás, a “Atitude” não se limita à maneira de posicionar o corpo; é sobretudo o modo de assumir uma posição que exige definições perante a sociedade ou mesmo no relacionamento entre pessoas ou entidades. O procedimento pessoal também deve retratar a disposição para enfrentar problemas pessoais ou diante de uma situação que envolva outras pessoas ou se refira a objetos, instituições etc…

Assistimos atitudes individuais em todos os setores do cotidiano. No terraplanismo jurídico ficou marcada a sentença do ministro do STF Dias Toffoli livrando a multa dos corruptores condenados pela Lava Jato. O peso desta decisão entra num dos pratos da balança em que o nome deste Togado esteve presente nas planilhas de propina da Odebrecht com o codinome de “Amigo do amigo do meu pai”.

Folheando o “vade mecum” que interpreta o modo de proceder dos ministros do STF, apareceu subitamente a condenação da Internet, vinda do também togado Alexandre de Moraes, que declarou sem embaraço, “que antes das redes sociais era feliz e não sabia”.

Feliz, porquê? Na cabeça de quem pensa assim, deve se sentir inseguro, sem poder fazer bobagens nem cometer delinquências, porque o terceiro olho da comunicação acompanha o comportamento das pessoas públicas.

Na contracapa do Livro encontramos a atitude do ex-presidiário corrupto, José Dirceu, condenado por assalto à Petrobras. Sentado entre os picaretas da Câmara Federal, sem mais nem porquê, declarou desavergonhadamente que ‘Até por justiça, mereço voltar à Câmara’. Disse-o e foi aplaudido sem pudor pelo coletivo…

… E, politicamente, para não ficar apenas na faixa do populismo lulopetista, chegou-nos a notícia de uma visita de Eduardo Bolsonaro ao parlamento alemão, posando para fotos com Beatrix Von Storch, neta de Hitler. É indesmentidamente uma atitude que comprova as suas simpatias com o nazismo.

Temos desta maneira, magistrados lenientes com a corrupção, políticos corruptos e empresários corruptores fortalecendo as atitudes dos ex-condenados pela Lava Jato e dos fascistóides golpistas que se mostram de corpo inteiro.

Isto, nos “andares de cima”, mostra cenas imorais e não o show de Madonna como a idiotia religiosa aponta; os ocupantes do poder nos levam às raias da impaciência ao constatar insegurança jurídica, o descalabro dos corruptos e a exibição da camisa hitlerista, sem encontrar resistência.

Poucas são as atitudes pessoais arriscando-se a lutar contra o regime policialesco instalado pelos “antifascistas” no poder. Esta minoria audaciosa somos nós, que usamos ferramentas da Internet no combate aos “porquês” dos que investem contra o “X”, refúgio da Liberdade. As atitudes corajosas estão nas redes sociais aonde se exerce a livre expressão do pensamento, o alicerce da Democracia.

DOS ROBÔS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Nos dias de hoje os robôs estão presentes em toda parte; saíram dos laboratórios de pesquisa para conviver no cotidiano das ruas, das escolas, do trabalho e em casa… Poucos, porém, sabem que eles vêm de longe no tempo e no espaço.

Num período histórico em que a Europa vivia em estado selvagem, mais ou menos 3.000 a.C, os chineses faziam surpreendentes descobertas e ensaiavam os primeiros avanços tecnológicos. Quatro das suas grandes invenções, a bússola, a pólvora, a fabricação de papel e a impressão, só chegaram ao ocidente no final da Idade Média.

O que nos interessa, falar de robôs, estes também tiveram existência mecânica por lá e têm relação com outra das criações chinesas, a xilogravura, a primeira cultura impressa, produzindo livros, deixando-nos como herança a referência aos autômatos que se movimentavam, batiam tambores e tinham expressões faciais como mexer com os olhos.

No século 17, o filósofo inglês Francis Bacon, trouxe na sua famosa obra “Novum Organum” o crédito à velha China pelas grandes mudanças que a humanidade recebeu dela, “coisas que nenhum império, nenhuma seita, nenhuma estrela parecem ter exercido maior poder e influência nos assuntos humanos do que as descobertas chinesas”.

Chegando à contemporaneidade, a palavra Robô surgiu em 1920 numa experiência teatral do dramaturgo checo Karel Čapek. Na peça “R.U.R. – Robôs Universais de Rossum” –, em que as máquinas entram em cena com aparência humana com mais eficiência do que seus colegas humanos. Čapek deu-lhes o nome de “rabota”, que em checo significa “trabalho”.

A partir daí a Ciência e a Tecnologia libertaram para a humanidade a criação dos robôs, que trouxeram para a nova realidade uma salada variada de admiração, curiosidade, desejo, oportunismo, ansiedade e temor do que eles podem vir a fazer.

Os robôs modernos são máquinas que estão em constante desenvolvimento e pela Inteligência Artificial aplicada aprendem com seus erros; é, aliás, a IA e seus aplicativos que levam os robôs ao universo da ficção científica.

Entrou na literatura com o best-seller “Eu, Robô” de Isaac Asimov publicado em 1950, sendo o pioneiro mundial na introdução do assunto, que estendeu ao cinema um filme com o mesmo nome, mostrando o seu lado ameaçador.

Projetando ameaças, imagina-se que os robôs produzirão os seus próprios semelhantes e ocuparão o emprego dos humanos; podendo se revoltar contra os seus fabricantes, este é o lado mal: temos do outro lado, porém, um ponto de vista que vê a presença deles facilitando a vida social e uma segura relação com o trabalho produtivo.

Este aspecto veio também com a arte cinematográfica com a interessante película “O Homem Bicentenário” feito sob orientação de Asimov e direção de Chris Columbus com magnífica atuação de Robin Williams e Wendy Crewson.

Esta fantasia traz um robô doméstico com características humanas ligado a uma família e, enriquecendo com o produto de trabalhos artesanais, financia um técnico em mecânica de androides para se humanizar, e acasalar-se com uma descendente do primeiro patrão… O resto, confiram, está em alguns streamings.

Enfim, temos uma realidade de já existirem máquinas inteligentes, incorporadas de forma humanoide, mas, também, como aspiradores de pó, lavadores de pratos e a frequência quase indispensável da Alexa, que nos obedece para ligar e desligar a luz, a tevê, o ar condicionado e atender pedidos de notícias, música e piadas…

Intolerável é a atuação dos robôs no campo da política, presentes nas redes sociais para divulgar fake news e mesmo tendo usurpadas suas personalidades por pessoas de carne e osso…. Mercenários e fanáticos capazes de tudo.

Explica-se isto com a equação formulada por Einstein para a sua teoria da relatividade, E = mc², aplicando-a comparativa para juízes que prendem criminosos e juízes que os soltam, com advogados que buscam a Justiça e advogados que a subornam, corrompendo-a.

Os fanáticos e mercenários travestidos de robôs nas redes sociais atuam para comprometê-las e comprometer os próprios robôs, dando argumento para os inimigos da livre expressão do pensamento atentarem contra os aplicativos de Comunicação; e devem ser punidos severamente por isto.

 

 

DO ESCAPISMO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

A genialidade do dramaturgo, poeta e filósofo alemão Bertolt Brecht, estrela ofuscante da arte teatral no século 20, condenou o “Escapismo”, lembrando “que continuando a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem “.

Brecht deu como exemplo o “analfabeto político”, a pessoa que não ouve, não fala, nem acompanha as ações de governo. “Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas”, escreveu.

Como verbete dicionarizado, “Escapismo” é um substantivo masculino, significando a tendência de se afastar de situações ruins considerando-se incapaz de resolve-las; é a fuga da realidade ou do cotidiano por meio da abstração, da fantasia. Vem do inglês, “escapism” que no brasilês se formou com escapar + ismo.

Alguns estudiosos atribuem esta palavra ao célebre mágico Harry Houdini, famoso pelo ilusionismo como a arte de escapar de prisões consideradas intransponíveis. Por isto, chamavam-no “escapologista”.

Daí o termo entrou para a cultura contemporânea, expressando-se notadamente na literatura pelo romantismo baseado em situações imaginárias de fuga de problemas aparentemente reais.

No cinema, encontramos a chamada ficção especulativa que traz à telona fantasias, terror e a atraente ficção científica. Especialistas dizem que isto expressa a excelência do “escapismo”.

Aliás, a cultura norte-americana é riquíssima em escapismo, que notadamente se difundiu após a “grande depressão” – a quebra do mercado de ações em 1929. Alan Brinkley, autor do badalado livro sobre este fato que abalou o mundo, “Culture and Politics in the Great Depression”, considera que historicamente foi o escapismo que ajudou o povo norte-americano a atenuar o medo da retração econômica, e escapar mentalmente da pobreza em massa surgida no país.

Assim se viu no jornalismo, nos filmes e matérias radiofônicas. O melhor exemplo é a revista Life, que se tornou popular pelas entrevistas otimistas, reportagens romantizadas sobre os esportes e belas fotos de jovens mulheres na praia. Tudo, menos pobreza e desemprego.

Os EUA escaparam da miséria pelo New Deal de Roosevelt, mas a tendência ao escapismo se revigorou após a Segunda Guerra Mundial e recentemente após o 11 de Setembro.

Freud considerou uma dose de fantasia escapista como um elemento necessário na vida dos humanos: “Eles não podem prescindir da satisfação de extorquir da realidade”. Infelizmente isto é obtido muitas vezes pelo uso de drogas, perversões sexuais e ideação suicida.

Constatamos tristemente que isto vem ocorrendo entre nós. Fugir à realidade e à rotina, é um pensamento que grassa entre os mais jovens que encontram motivos para escapar das decepções e emoções desagradáveis.

A violência reinante, social e politicamente, provoca a deserção para se salvar do caldeirão aonde ferve a corrupção parlamentar e judicial, e dos governos populistas demagógicos que se alternam pela satânica polarização eleitoral.

Não quero que se estabeleça a sociedade dos “Elói” formada por indivíduos indiferentes ao seu entorno, como nos mostrou o filme “A Máquina do Tempo”, baseada no livro de H.G. Wells do mesmo nome; condeno por isto o escapismo dos que não lutam contra o sistema estabelecido.

Não combater a corrupção, o desleixo na administração pública e a injustiça na conjuntura que atravessamos, como fazem os escapistas por conveniência pessoal, covardia ou fanatismo partidário, torna-os cúmplices da maligna realidade criada pelos ocupantes dos três poderes republicanos que se misturam diabolicamente.

Muitos desses evadidos da honestidade e do patriotismo estão anestesiados pela imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta, divulgadora do escapismo. A chamada “grande mídia” nos dá o exemplo mais do que perfeito disto com a descarga de reportagens nos jornais e revistas e a copiosa cobertura televisiva do show de Madonna…. Influenciam pessoas com apenas um ovo da geladeira a se deslocar para Copacabana e vê-la na janela do Hotel.

Graças à lavagem cerebral do escapismo brasileiros comem nas mãos dos polarizadores populistas mesmo enfrentando a carestia de vida, os altos preços dos remédios, sem ter Educação, sem uma Justiça confiável e sem Segurança.

Atentem: Não é por acaso o combate contra as redes sociais independentes, que mostram a realidade, que criticam, denunciam e reivindicam.

 

 

DOS ANIMAIS

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com,br)

É emocionante o vídeo postado pela “Sexteto 4 Patas” como epitáfio pela morte do cachorro Joca, o Golden Retriever de 5 anos que faleceu durante um transporte aéreo pela irresponsabilidade da empresa Gollog, da Gol.

O grupo ‘Sexteto de 4 Pratas’ é de Fortaleza e composto por 10 animais: um poodle, cinco golden retrievers, três gatos e um cachorro sem raça definida. Solidários com Joca fazem um protesto pelo tratamento dado aos animais de estimação que acompanham seus tutores em viagens.

Foi ótima esta participação dos Pets, mais sentida e mais honesta do que a imunda politização do caso pelos conhecidos perfis de ocupantes do poder. Dos ministros togados do STF, passando por parlamentares e ecoando com a primeira dama, Janja da Silva e ministros subalternos.

Cobradas as providências apressou-se o ministro Silvio Costa Filho dos Portos e Aeroportos, cobrando da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a instauração de um processo administrativo para apurar a falha do transporte aéreo.

No rabo do foguete midiático, como não poderia deixar de ser, achegaram-se a esta performance conhecidas figuras da oposição entre as quais os filhos 01, 02, 03 e 04 de Bolsonaro que não perdem oportunidade de acender a fogueira da polarização.

A evocação do triste episódio teve um desfile de oradores nas duas câmaras do Congresso e consternados sermões de padres católicos e pastores protestantes. Não foi notícia a participação da extremamente evangélica Michele Bolsonaro.

Estas manifestações em nome dos princípios religiosos, porém, não exaltaram o santo Pobrezinho de Assis, Francisco – o padroeiro dos animais. Fica claro que também não citariam o profeta Maomé, encoberto pelas discriminações ao islamismo tão condenado quanto o judaísmo sofrendo ambos o desprezo dos amorosos cristãos de fancaria….

A trivialidade dos políticos e religiosos brasileiros e a ignorância geral não lhes permite tomar conhecimento do que passa em outras culturas e possivelmente não tomaram conhecimento do Velho Testamento que ao mesmo em que exalta “animais que vivem na terra e são comestíveis, e hostiliza os que tem casco fendido e dividido em duas unhas e que rumina”.

Quanto a Maomé já escrevi outro dia uma passagem que ouvi muitos anos atrás e conta que o Profeta estava em meditação e um gato se enroscou na manga de sua túnica e dormiu profundamente. Chegada a hora de ir à Mesquita Maomé cortou a manga com uma tesoura para não o acordar; como o gato pareceu sorrir-lhe, acariciou sua cabeça com a mão e concedeu-lhe o privilégio de somente cair sobre as próprias patas…”

Além do benefício sobrenatural dado aos felinos, há outra lenda sobre Maomé que conquista a simpatia de quem ama os animais. Ressalta que ele amava realmente os animais e estes lhe retribuíam com amor: “um dia Maomé tirou cuidadosamente uma aranha que caíra num pote de mel. Lavou e lhe colocou numa folha de parreira ao sol para que secasse.

“Certa vez, tendo o Profeta que fugir dos seus inimigos entrou numa caverna, onde as aranhas trabalharam estendendo teias sobre a entrada. Os perseguidores entraram em todas as cavernas, mas passando por esta, passaram direto pois o tecido brilhando ao sol denunciariam se ali ele houvesse entrado.”

A gratidão dos animais é marcante. Muito diferente do comportamento de certos animais humanos que desprezam seus irmãos mesmo com os ouvidos engravidados pelas parábolas que pregam o amor ao próximo.

Assim se viu no silêncio absoluto dos políticos e religiosos no caso do pré-adolescente autista que sofria constantes bullyings, numa violência crescente que ocasionou a sua morte. Este episódio ocorreu na Escola Estadual “Júlio Pardo Couto”, em Praia Grande, litoral paulista.

 

 

 

 

DA TECNOLOGIA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Observei numa rachadura das pedras de uma calçada na minha vizinhança o nascimento vigoroso de uma plantinha, que pelas folhas encorpadas me parece uma leguminosa, quem sabe, um pé de feijão ou ervilha….

Escreveu um poeta que a força vital vence o cimento armado; e eu passei a acreditar nisto, como creio que a Internet e a Inteligência Artificial nasceram para aprimorar a vida humana.

Pouco m’importa se há pessoas que não pensam assim; pois sei que estas não são do time que acarinha um gato e vê brotar uma semente no caminhar pela rua. A gente vem encontrando no dia-a-dia muitos indivíduos cuja alegria fenece diante do novo.

Olhando pelo retrovisor da História um dos deuses da Jurisprudência Olímpica disse outro dia que antes da Internet proporcionar a democracia das redes sociais “era feliz e não sabia”. Concluímos que a sua noção de felicidade se baseia, não no bem-estar social, mas num público amordaçado para não exprimir opiniões.

Será isto uma espécie de ideologia, surgida da nostalgia de um passado analógico, correlato à submissão aos antigos meios de informação que decidiam, pelo interesse do sistema dominante, o que é bom e o que é ruim.

Esta realidade é encontrada na ficção que o filme “Coringa” nos trouxe – a premiada película dirigida por Todd Phillips, com Joaquin Phoenix no papel de Arthur Fleck e Robert De Niro interpretando o apresentador televisivo Murray Franklin.

Arthur Fleck, que trabalhava como palhaço e sonhava em participar de shows humorísticos era uma pessoa isolada, desconsiderada e agredida no ambiente de trabalho e convivia com uma mãe carente e psicótica.

Assistindo num carro do Metrô às provocações de três rapazes, e o assédio deles a uma passageira, sofre uma gargalhada nervosa, doentia, e é agredido pelos ultrajantes, o que desperta a sua personalidade criminosa, matando-os com tiros de revólver.

Pela divulgação por vídeo de uma comédia dele fracassada, é convidado a participar do programa de televisão de Murray, que o ridicularizara pela apresentação ridícula; então comparece à entrevista maquiado de palhaço e com os cabelos coloridos.

Pede para ser chamado de “Coringa”; e no seu discurso final confessa o triplo assassinato, protestando contra o poder político porque vem dele a definição do que é comédia, humor e tragédia.

Arthur encerra seu discurso sobre a sociedade que o marginalizou culpando a televisão por isto; levanta-se e dispara dois tiros em Murray, que morre na hora. O programa é interrompido com ele se dirigindo para a câmera um, se despedindo com o slogan usual: – “Esta é a vida”.

Termina preso, e graças a um desastre com o carro de polícia que o conduzia, é salvo por pessoas usando máscaras de palhaço e é aplaudido pela multidão manifestando protesto.

Como a tevê do Coringa, a tecnologia no Brasil vem sendo condenada pelo sistema, na mesma mistura de realidade e ficção. É, felizmente distinguível, pois vem de um poderoso figurante do Poder Judiciário, o ministro Alexandre de Moraes, ecoando nas bases lulopetistas com um surpreendente apoio.

A surpresa ocorre por contradizer a História da Política, que durante muitos anos mostrou a “esquerda” como progressista e a “direita” como conservadora. Agora, este capítulo traz apenas a mediocridade de uma esquerda populista polarizando com uma direita populista, na disputa pelo poder.

A “esquerda lulista” – que não estudou a dialética – revigora-se no culto à personalidade de Lula –, mas ignora a contradição que nega aos desavisados que o seu líder representa a “vanguarda do atraso” e não do progresso nacional.

Assim, os ofendidos e humilhados pela ignorância vigente na Era Lulopetista não se conformam em ver setores do PSOL atuarem contra o uso da inteligência artificial no sistema educacional do Estado de São Paulo.

Os verdadeiros democratas se revoltam em ver o deputado Orlando Silva do Partido Comunista do Brasil, agora transformado num puxadinho do PT, dizer que é “inevitável” a regulação das redes sociais.

Felizmente podemos exaltar a Tecnologia em nome dos estudantes brasileiros do Sesi Araras (SP) que conquistaram uma vitória inédita no Champion’s Award, o maior torneio de robótica do mundo realizado em Houston, EUA.

Mas temo por eles. Pode até ser que em vez de aplausos na sua volta ao Brasil, sejam presos, porque a Tecnologia é criminalizada pelos fundamentalistas do obscurantismo jurídico.

DA FELICIDADE

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

A busca da Felicidade é uma fantasia diversionista para fazer esquecer as agruras do dia-a-dia das pessoas que vivem nos andares de baixo do edifício social. Ou esquecidas no subsolo, o porão da miséria.

Esta procura tem uma campanha massiva provocando enquetes e até incentivou países a criar um Ministério da Felicidade; e vem de longe. O meu bisavô português João da Costa Fortinho, que foi pupilo de Camilo Castelo Branco e era político, adotava a consigna “A República resume a felicidade de uma Nação”. Foi um dos 33 da independência uruguaia.

Assim, para mim, a Felicidade entra ancestralmente na política, e emerge agora no Brasil com o ministro togado Alexandre de Moraes, olhando pelo retrovisor da História diz que quando não havia a Internet “era feliz e não sabia” …. O Juiz assume com esta declaração a sua abominação pela democracia nas redes sociais,

O besteirol descabelado traz na sua enorme cretinice uma ressalva elogiável: Lembrou o samba clássico de saudoso Ataulfo Alves, “Meus Tempos de Criança” que encerra nas estrofes com “Eu Era Feliz e Não Sabia”.

Na poesia, a Felicidade acalenta um sentimento de alegria e satisfação, contentamento e a premissa de ser feliz, características ressaltadas no belo poema de Mário Quintana “Da Felicidade”.

Este sentimento poético é atemporal e não se arrasta na virada dos séculos, quando as redes sociais não existiam; e é por isto que Alexandre de Moraes se expõe como um saudosista da época em que os políticos ficavam livres das críticas, das denúncias de corrupção, das farsas eleitorais e das truculências repressivas….

Para quem interpreta a Constituição de um País, é uma saudade estranha da Idade de Ouro das Falcatruas, em que a Felicidade constituía na facilidade de se obter o êxito pessoal duvidoso, o sucesso dos interesses partidários e grupistas, e o enriquecimento dos que misturavam o público e o privado para obter propinas.

Nas redes sociais não valem os cem anos de segredos de Bolsonaro e Lula e os processos sigilosos do STF; nenhuma perversão fica escondida após surgirem na Web as ferramentas de expressão do pensamento, Facebook, Instagram, Telegram, YouTube, Tic-Toc, WhatsApp e o “X”, rebatizo do Twitter.

Facilitada a liberdade de expressar opiniões e divulgar coisas do interesse geral provoca lamentos dos corruptos, dos seus cúmplices e dos publicistas mercenários a serviço do populismo demagógico.

Assim, a poderosa corporação dos andares do alto, onde pavoneia Alexandre de Moraes, relembra as várias formas da felicidade perdida, lástima dos especialistas da GloboNews que entraram na corrente saudosista revelando que eram mais felizes na era analógica….

Também eram felizes os lulopetistas que assaltaram a Petrobras em conluio com empreiteiras corruptoras; idem os que passavam incólumes de prestar contas do dinheiro público desviado. E eram felizes os seus tutores, ministros do STF, de quem Moraes é porta-voz; praticavam o “garantismo” favorecendo o crime e os criminosos sem conhecimento público.

O conceito de Felicidade se encontra no dicionário Aurélio significando o estado de espírito de quem está alegre ou satisfeito; e que deste substantivo nasceu o adjetivo Feliz, originário do latim “felix, felīcis”, associado a fértil, “fertĭlis”, o que provoca alegria, contentamento e júbilo.

Uma sociedade feliz seria encontrada na teoria de Campanela. De Cícero, de Swift, de Platão e Morus que inventaram repúblicas e reinos ideais onde são mais interessantes as exclusões do que as admissões.

As utopias sonhadas erguiam monumentos à palavra Felicidade; a homenagem a este verbete que me leva ao mestre Machado de Assis: “Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução”; e dele, levando-nos à reflexão pelo momento de atravessamos, o genial pensamento: “O tempo é um químico invisível, que dissolve, compõe, extrai e transforma todas as substâncias morais.

DA LIBERDADE

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Mal terminara a 2ª Grande Guerra, em 1946, meu pai levou-me para assistir na ABI (onde mais tarde, com muito orgulho, fui conselheiro em quatro mandatos) uma conferência do jornalista, escritor e orador Austregésilo de Athayde.

Austregésilo foi dirigente dos Diários Associados, com importante participação na Revista “O Cruzeiro” e recebeu o Prêmio Maria Moors Cabot, o Oscar da imprensa norte-americana.

O conferencista chegara a pouco dos Estados Unidos e relatou a sua estadia lá, impressionando-me ao contar que, convidado para um almoço e com o hábito de acordar cedo, fez hora visitando várias igrejas católicas e protestantes dos arredores, assistindo repetitivos sermões dos padres e pastores.

Estes pregadores cobravam dos fiéis a obrigação de defender a Liberdade. Não só a liberdade de culto, de expressão do pensamento e do jornalismo. De todas as liberdades. Curioso, durante a refeição ele perguntou aos convivas se havia alguma ameaça contra a Democracia no país.

À unanimidade, todos responderam que a defesa da Liberdade não pode ser esquecida; deve sempre ser lembrada, em todo lugar e a qualquer hora. Naqueles dias eu tinha 13 anos; mais tarde encontrei este alerta com Jean Jacques Rousseau: “Povos livres, lembrai-vos desta máxima: A liberdade pode ser conquistada, mas nunca recuperada”.

Como o filósofo libertário, pensaram assim respeitáveis personalidades da História, da Poesia, da Política e da Religião. Assim pensaram os autores do Hino da Proclamação da República, o jornalista Medeiros e Albuquerque e o compositor e maestro Leopoldo Miguez, enchendo de brio as nossas cabeças com o refrão “Liberdade! Liberdade!/ Abre as asas sobre nós!”.

Como o materialista Bakunin, sou um amante fanático da liberdade, e como o pregador cristão Martin Luther King, acho que para satisfazer a sede de liberdade devemos afastar o cálice da amargura e do ódio.

O problema é que a ciência política está vendo a humanidade ser ameaçada pelo totalitarismo ditatorial, mascarado de “Democracia Relativa” ou “Democracia Efetiva”, adjetivando e negaceando o valor que a autêntica liberdade oferece.

A liberdade com responsabilidade, que a “Tribo do Bem” vem praticando nas redes sociais, ocupando o lugar da imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta que segundo Joseph Pulitzer forma “um público tão vil como ela mesma”.

A Web oferece à cidadania as armas destinadas a defender ideias, o interesse nacional e o sonho de liberdade. Os fascistas de hoje, que se assumem como antifascistas, e os políticos, magistrados e formadores de opinião que relativizam a Democracia, aparecem intimidando o “X”, o You Tube e outras ferramentas da opinião pública.

Poeticamente, a divina Cecília Meirelles escreveu que “Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”; e o supremo crítico da autocracia opressora, George Orwell é curto e grosso: “Se a liberdade significa alguma coisa, é sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir”.

A voz do povo – que é a voz de Deus – se expressou em 1989 no magnífico samba-enredo da Escola Imperatriz Leopoldinense; composto por Niltinho Tristeza, Preto Joia, Vicentinho e Jurandir, que Dominguinhos do Estácio, cantou: “Liberdade! Liberdade! / Abre as asas sobre nós! / E que a voz da igualdade/ Seja sempre a nossa voz”.

Tudo por uma Liberdade sem adjetivos. Afirmemos com Rosa de Luxemburgo que “Liberdade somente para membros do partido e do governo, não é, de modo nenhum, liberdade”.

DA VIOLÊNCIA

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

A Violência se alastra pelo mundo como o espetáculo e o estrondo das cachoeiras, é impossível não a ver nem a ouvir. A agressividade, o desrespeito e a ofensa se fazem presentes no noticiário jornalístico do nosso dia-a-dia.

O verbete Violência, dicionarizado, é um substantivo feminino de etimologia latina “violentia.ae” – qualidade de violento; no nosso idioma, é opressão, tirania, sujeição de uma pessoa forçando-a a fazer algo que se recusa por livre vontade. Em termos jurídicos, trata-se de constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, obrigando-o a cumprir o que lhe é imposto: violência física, violência psicológica.

A Organização Mundial de Saúde define a Violência como “o uso intencional de força física ou poder, ameaçados ou reais, contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade”.

Com vistas à Violência, o Anarquismo combate o arbítrio do Estado, cujas ações, segundo seus teóricos, constituem formas de violência de natureza estrutural, como a pobreza pela negatividade do bem-estar social com políticas que produzem e estimulam a desigualdade socioeconômica mantendo privilégios e injustiças.

Em verdade, a pobreza é sem dúvida uma violência mantida por políticas opressivas sobre grupos minoritários despossuídos de direitos legais. Com isto, surge o que os estudiosos classificam como “Violência Interpessoal”.

Esta tipologia define diferentes formas de violência: a conjugal ou familiar, que ocorre no próprio lar; e a violência comunitária, que acontece entre pessoas sem vínculos de parentesco, que podem ser conhecidas ou mesmo entre desconhecidos.

No campo da violência interpessoal se achegam as ideologias religiosas e políticas capituladas nas páginas da História da Humanidade. Encontramos curiosamente (e é um fato notório na atual conjuntura) que os estamentos eclesiais e partidários se acusam uns aos outros de violência em análogas situações.

É inegável, por exemplo, que a Bíblia judaico-cristã encerra um vasto acervo de fatos violentos, trazendo – como já disse alguém – “ao lado de exemplos de virtude, estupro e fratricídio humanizados, e os castigos da ira divina como o dilúvio, pragas do Egito e destruição de Sodoma e Gomorra”.

Encontra-se na passagem de Adão e Eva, um exemplo de violência: Jeová propondo normas de obediência e preceitos ditados pela sua autoridade; e tais normas sendo desobedecidas pelo casal primevo, levou-o à expulsão do paraíso.

O cristianismo imperial da Igreja Católica criou a “injúria de sangue” contra os judeus e os seus tribunais da Inquisição condenaram como feiticeiras as parteiras e as mulheres que se aconselhavam com elas. Ainda hoje surgem acusações de satanismo contra adeptos de religiões de origem africana ou indígena.

Ao longo da História temos diversos capítulos sobre a violência nos quatro ou cinco mil amos de civilização. Desde os tijolinhos em sânscrito da Mesopotâmia, aos papiros egípcios e os rolos da Torá, para ficar apenas no Ocidente; e, nesta banda do planeta Terra, a opressão tirânica da política e a crueldade nas guerras religiosas.

Vejo no discurso de ódio uma forma de violência na política brasileira; é, para mim, a ouverture da opereta de horror que vimos assistindo com protagonistas entre os que combatem o terrorismo. É a desfaçatez dos bolsonaristas defendendo o armamentismo como defesa; e vem fantasiada de amor pelos odientos lulopetistas contra adversários.

Este rancor cai por terra com a pregação de Mahatma Gandhi: Acusado de covarde, ele retrucou: – “A não-violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a verdadeira não-violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível”.

A “Não-Violência” é o que nós, tuiteiros independentes da polarização, praticamos.