DO ISOLACIONISMO

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MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Para se ter uma ideia de sociedade e, consequentemente, da cidadania, temos em mão a interessante concepção materialista do historiador britânico nascido em Alexandria, Eric Hobsbawm; ele mostra a socialização dos seres humanos através de uma metáfora.

Hobsbawm proferiu numa palestra: “Imaginemos um selo colado numa moeda poeta em cima do Obelisco Lateranense, do Egito Antigo, moldado em granito vermelho, com 45,7 metros de altura e ainda em pé; pressupondo que ele represente a idade da Terra, a espessura da moeda representaria os 350 mil anos em que o homem surgiu, e o selo configura o tempo em que se civilizou”.

Com esta tese, vemos que limite civilizatório do Homo Sapiens é tão pequeno que não escondeu sua necessidade de se coletivizar para sobreviver, abandonando a economia da caça e da colheita selvagens para se fixar no solo, plantando e domesticando animais.

Recebeu o exemplo da Natureza com a variação de estio e chuvas, promovendo assim a evolução e fortalecimento de animais e plantas; quanto ao ser humano, a “meteorologia social” fez o mesmo.

O contrário disto, temos o Isolacionismo.  O exemplo está no livro “Robinson Crusoé”, clássico da literatura escrito por Daniel Defoe. Historiadores afirmam que a aventura romanceada não foi ficção. Baseou-se no caso do náufrago escocês Alexander Selkirk, que viveu durante quatro anos numa ilha do Pacífico situada na costa chilena.

A Ilha de Robinson era selvagem e desabitada e ele teve a sorte do mar revolto trazer à praia os escombros do navio soçobrado na tempestade. De lá o náufrago retira além de alimentos não-perecíveis e barris de rum, vários utensílios de uso corrente. Na cabine do comandante pega armas, projéteis, pólvora, facas, navalhas e tesoura. Na cabine do comandante acha, num cofre, libras e as barras de ouro e prata.

Depois de tudo arrumado numa gruta habitável que encontrara, Robinson olha para o dinheiro e os metais preciosos e num rasgo filosófico, pensa e clama em voz alta: – “Oh! Vaidade das vaidades, vil metal impostor, para que serves?”; leva tudo à praia atirando-os ao quebra-mar.

Com este gesto, o Isolado apontou o mal da sociedade que do lado capitalista da servidão ao dinheiro. É a única vantagem do isolamento: mostrar o lado negativo da sociedade, mantido pelo sistema estatal repressor e a minoria privilegiada dos governantes.

Em conformidade com isto, vemos então que aquele selinho, colado à moeda e posto sobre o vértice do Obelisco Lateranense registrou historicamente avanços notáveis no campo das ciências, mas não logrou implantar o sentimento de solidariedade que levou os seres humanos a incluir-se socialmente.

É que o processo evolutivo da organização comunal foi da propriedade coletiva, mantendo o direito de todos aos produtos produzidos, para a propriedade privada cuja economia criou classes e exigiu o trabalho escravo, primeiro, como conquista de guerras e mais tarde com a revoltante comercialização do servilismo africano.

Visto o exemplo, a Sociologia Histórica nos leva a buscar nas estantes teorias da filosofia social que foram ofuscadas pela volumosa propaganda marxista; e lá encontramos um livro amarelado de Gabriel Tarde.

Este filósofo francês, sociólogo, psicólogo e criminologista, nos traz a compreensão da relação individual com a sociedade com relações interpsíquicas, exemplificada no processo desenvolvido na História Social. Segundo Tarde, a troca de experiências pessoais é um ciclo infinito de criações com base na imitação.

Ao contrário do coletivismo teórico, é uma tese que defende a precedência do indivíduo como responsável pela troca de informação que valorizam a força do trabalho no processo produtivo. Assim, o percursor da psicologia social no século 19, defende que a atividade social depende conscientização das pessoas e não do poder de coerção que o Estado lhes impõe.

Paralelamente completa-o a dialética de Paul Lafargue, autor do manifesto “O Direito à Preguiça”, publicado em 1883. Lafargue analisa o mundo do trabalho e vê a tendência do trabalhador em ampliar o seu tempo livre, encerrando o ciclo da produção e do lazer; levando-nos à compreensão do valor das políticas sociais-democráticas nórdicas que obtêm maior produtividade com o “direito à preguiça”.

Refletimos dessa maneira que Isolacionismo é cúmplice do mecanismo estatal que explora o trabalhador, como trabalhador, e é contra o cidadão como cidadão: faz um amálgama do produtor e a máquina, e do eleitor o escravo de um regime inimigo.

 

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