Arquivo do mês: abril 2019

ESTUPIDEZ

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Nada no mundo é mais perigoso que a ignorância sincera e a estupidez conscienciosa”.
(Martin Luther King)

Anos atrás o jornalista norte-americano Michael Moore fez sucesso com o seu livro “Stupid White Men” (“Estúpidos Homens Brancos”) que correu o mundo e teve boa repercussão no Brasil. Mas aqui a palavra “Estúpido” que antigamente era muito usada, não voltou à moda.

Dicionarizado, “Estúpido” é um adjetivo que, segundo o Caldas Aulete, significa “o que provoca emburrecimento e/ou tédio; que não é inteligente. Figuradamente o vocábulo pode ser modo excessivo; demasiado.

A origem é latina, “stupidus,i”, que derivou de “stupere”, ‘ficar atônito, espantado, inerte ou pasmado diante de algo fora do comum’. Daí saiu estupidez, exprimindo ‘sem ação’, ‘incapacitado’, sem discernimento ou falta de inteligência. E por extensão, ação grosseira, incivil.

Com certa ironia, encontra-se na literatura conclusões de que a estupidez humana obedece a leis constantes, como aquela Lei da Gravitação Universal que a gente decorava no ginásio: “a matéria atrai a matéria na razão da sua massa e inversamente proporcional ao quadrado da distância”…

A toda hora e em todo lugar a regra da estupidez se comprova. É o grafiteiro que rabisca os monumentos ou as vitrines de uma loja; é o vândalo que risca a porta de um carro estacionado; são aqueles que nos trens do Metrô e nos ônibus, fazem os mesmos gestos, repetem as mesmas frases, ou ficam alheados com atenção fixa no celular.

Constata-se também a presença da estupidez no mundo político, onde sempre se observa picaretagens visando o assalto ao Erário, como temos assistido à mobilização dos estúpidos – sempre com apoio da mídia – exigindo “articulação” para aprovação da Nova Previdência. “Articulação” em picaretês é o velho “toma lá, dá cá”…

Na estupidez de alguns parlamentares, o futuro é uma ficção…  Não são poucos entre os ditos representantes do povo sem a consciência de que daqui a cinco anos os aposentados e pensionistas ficarão sem receber os benefícios por falta de dinheiro.

E como não pode deixar de ser, os estúpidos se assumem como “especialistas”, “experientes” e “técnicos”, sendo entrevistados pelos jornalistas similares para responder tudo que lhe for indagado. Atuam como os infalíveis juris dos programas de auditório.

Por falar em programas de auditório, lembro-me que o meu pai me contou a história de uma promoção, em Hollywood, do concurso para os imitadores de Carlitos com um prêmio milionário. Sob aplauso de centenas de estúpidos, o júri de “especialistas” pôs Charles Chaplin, que se inscrevera incógnito, em 19º lugar como seu “imitador”…

Pelas coisas descritas, creio que exista uma organização da estupidez como sociedade secreta, tipo Máfia italiana, Yakusa japonesa, Tríade chinesa e mesmo os nossos Comando Vermelho, Primeiro Comando da Capital e Milícia Fluminense…

Os estúpidos são organizados, e estendem seus tentáculos por todo aparelho de Estado. É por causa deles, que assistimos a Justiça negada por magistrados ao soltar bandidos; nos revoltamos com as molecagens de deputados em audiência com um Ministro; e desdenhamos os que fazem campanha para libertar um corrupto condenado e preso.

Eles têm uma audiência do tipo daquela que se comporta nos cinemas diante da logomarca (será que se chama assim?) de uma produtora cinematográfica mostrando um abutre num galho que voa até o anagrama da empresa. De início, o auditório grita “xô” para espantar a ave e depois a acompanha com interjeições inaudíveis…

Giácomo Leopardi

CANTO XXVIII – A SI MESMO

Repousa para sempre,

Meu coração cansado. O engano extremo

Que acreditei eterno – é morto. Sinto

Em nós de enganos puros,

Não que a esperança: o desejo já extinto.

Dorme até nunca – e o muito

Que pulsaste. Não vale coisa alguma

O impulso teu, nem de um suspiro é digna

A terra: amarga e balda

É a vida, mais que tudo – e lama o mundo.

Aquieta-te, não creias

Numa outra vez. Ao querer nosso o fado

Paga em morte: despreza-te, por fim,

E à natureza, e ao mudo

Poder que – ingente – à comum perda leva,

E à infinita vaidade de tudo.

 

(Traduções de Renato Suttana)

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Giácomo Leopardi

O INFINITO

Sempre cara me foi esta colina  Erma, e esta sebe, que de tanta parte  Do último horizonte, o olhar exclui.  Mas sentado a mirar, intermináveis  Espaços além dela, e sobre-humanos  Silêncios, e uma calma profundíssima  Eu crio em pensamentos, onde por pouco  Não treme o coração. E como o vento  Ouço fremir entre essas folhas, eu  O infinito silêncio àquela voz  Vou comparando, e vêm-me a eternidade  E as mortas estações, e esta, presente  E viva, e o seu ruído. Em meio a essa  Imensidão meu pensamento imerge  E é doce o naufragar-me nesse mar.

(Tradução: Vinícius de Moraes – Rio de Janeiro , 1962)

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SELFIE

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Faz-se leprosários para leprosos, manicômios para os loucos e prisões para os criminosos, mas não há um asilo fechado para os imbecis” (Pittigrilli)

Não me lembro onde e quando tomei conhecimento de que a equipe permanente da Enciclopédia Britânica aprovou a composição da palavra selfie. Esse neologismo da língua inglesa que até 2016 não havia sido dicionarizado no Brasil; mas apareceu na linguagem coloquial como farinha em feira.

Há expressões que possuem uma grande facilidade em se fixar na linguagem comum, e há também palavras que entram na cabeça da gente sem nenhuma explicação, como selfie, que somou ao substantivo “self” (“eu” ou “a própria pessoa”, em inglês) ao sufixo diminutivo “ie” (“-inho (a)”), resultando, em tradução direta, “euzinho (a)”.

A Wikipédia, enciclopédia livre que navega no Google, define Selfie como fotografia, comumente digital, que uma pessoa tira de si própria e às vezes envolve outras pessoas, as “selfies em grupo”.

Historiadores meticulosos ligam à selfie ao secular “autorretrato”, atribuindo a primeira versão deste a Robert Cornelius, que em 1839 tirou-o do lado de fora de sua loja na Filadélfia, EUA. Na época, imaginem, ele teve que permanecer em pé por mais de 15 minutos para conseguir a foto!

Em 1920, o fotógrafo nova-iorquino Joseph Byron tirou uma selfie dele com amigos em um terraço sem que nenhum deles soubesse aonde a câmera estava; e são conhecidas diversas experiências dessas fotografias diante de um espelho, quem sabe, feitas por alguns de nós do Twitter…

A moda obedece a leis sociais que, com as novas tecnologias se tornam cada vez mais instáveis e mais velozes; hoje, em qualquer país do mundo, nos mais recônditos locais da África, da Amazônia e de Bornéu, se fazem selfies.

Passei a vista num estudo sobre pessoas que tiram selfies sem nenhum treinamento em fotografia e se adaptam espontaneamente às regras clássicas da composição fotográfica, como a regra dos terços….

Apesar dos avanços intelectuais e técnicos as selfies têm seu lado negativo, a obsessão de muitos, entrando deste modo nos estudos da mente, mobilizando psicanalistas e psicólogos. As análises psicopatológicas iniciais incluem narcisismo, baixa autoestima, solidão, egocentrismo e comportamentos de busca de atenção, sendo ainda mais graves as postagens em redes sociais.

Para enriquecer esses estudos, sugiro que se façam amostragens nos antros da politicagem parlamentar, onde um imenso número de pessoas se acotovela para tirar selfies com os seus corruptos favoritos.

Mesmo não tendo o conhecimento médico do cérebro humano, arrisco dar opinião sobre a interação eleitor-político, cuja exibição de intimidade é, ao meu ver, mais do que um transtorno mental, uma demonstração de acumpliciamento…

Lembro que lá nos EUA, fonte imperial das fake news, dos antifas, do racismo pelo avesso e das feminazis, uma revista sensacionalista publicou que artistas famosos apagaram selfies tiradas ao lado de Kevin Spacey durante a entrega do Oscar de 2014, quando o assediador brilhava.

Será que se envergonham aqui na colônia, os milhares de cariocas que fizeram selfies com Lula, Cabral, Dilma e Pezão, a quadrilha que arrasou o Rio de Janeiro? Podem se somar às vidas apagadas dos que caíram de precipícios, sacadas de edifícios e atropeladas em linhas de estrada de ferro para não perder a oportunidade de fazer uma selfie.

Isto exposto, dou razão ao escritor ítalo-argentino Pittigrilli: faltam, realmente, asilos fechados para os imbecis…

GALARDÃO

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“O galardão das boas obras é tê-las feito de fato. Por isso, não pode haver melhor prêmio” (Sêneca)

Viciado na leitura da poesia, intoxico-me muitas vezes relendo Carlos Drummond de Andrade, de quem guardo uma lição: “Penetra surdamente no reino das palavras, / Lá estão os poemas que esperam ser escritos”. Por isso sou incansável no aprendizado do vocabulário.

Outro dia, procurando uma palavra, encontrei em estado terminal na UTI da Gramática, o termo “Galardão”. Não o via mais nos escritos, nem o ouvia nas conversas desde os meus anos escolares. No Aurelão está classificado como substantivo masculino, sinônimo de prêmio. Só.

Aprendi agora que o termo aparece diversas vezes na Bíblia, que fala de um galardão nos céus que cada crente receberá de acordo com o seu trabalho aqui na Terra. O escritor Silvino Candido Da Silva diz que nas Escrituras não foi revelado aos homens o que seria o galardão, mas segundo ele, deve ser coisa boa.

Então resolvi usar o verbete Galardão para falar sobre a briga entre pessoas e entidades para serem reconhecidas como os únicos responsáveis pela vitória eleitoral do presidente Jair Bolsonaro.

Sinceramente, eu não dedicaria este prêmio a nenhum deles, ao presidente do PSL e à própria sigla, nem o filósofo de si mesmo, Olavo de Carvalho; nem o pastor dos políticos Silas Malafaia; nem os generais da reserva. Muito menos, como querem os analistas da grande imprensa, restrita ao Facebook…

Com mais de 70 anos de observação do cenário político, esbanjando experiências à esquerda e à direita, não caio nesta cantilena personalista de cabos eleitorais e, no caso específico da campanha de Bolsonaro, deixar de dizer que a vitória conquistada se deveu quase exclusivamente ao povo.

A adesão popular foi superior a que assistimos com Jânio Quadros e depois com Fernando Collor, uma conquista inolvidável. Buscando na memória, e pesquisando a História, o suporte dos brasileiros recebido pelo Capitão, só pode ser comparável com a volta de Getúlio Vargas em 1950.

Nas campanhas de um e de outro pouco valeram os partidos e personalidades das finanças, da mídia e da política, mas uma tarefa coletiva do eleitorado farto da politicagem; e, com Bolsonaro, combatendo a incompetência e a corrupção dos governos lulopetistas.

Como os tempos são outros, registrou-se a presença espontânea dos revoltados nas redes sociais, surpreendendo a imprensa tradicional e atropelando a minoria ruidosa do narcopopulismo bolivariano.

Foram milhares de participantes do WhatsApp que conquistaram o espaço dantes monopólio dos jornalistas e artistas famosos; do rádio e da televisão; e, principalmente, da tradicional influência dos Institutos de pesquisas de opinião pública.

A livre opinião individual e voluntária foi usada nas redes sociais e aprimorada pelos “zés ninguém”, empunhando a ferramenta no sistema de intermídia da Internet. Esta ferramenta, como ensina o autor da “Reinvenção da Política”, Diego Beas, subtrai dos poderosos o domínio sobre a opinião pública.

Assim, o Facebook e o Twitter enfrentaram mercenários, pagos para repetir slogans, os preguiçosos aparelhados em cargos públicos, ataques sorrateiros das fake news e os empanturrados com a mortadela ideológica apodrecida sob os escombros do Muro de Berlim.

Não se pode minimizar também a força do antipetismo já referida, uma repulsa nacional a quase tudo o que representou o governo fraudulento de Dilma Rousseff, dolosamente mentiroso e corrupto.

… E é igualmente inegável a força idealista do Centro Democrático, entrando na campanha antes da definição eleitoral e, sem dúvida, colaborando e fortalecendo a candidatura Bolsonaro. Os liberais continuam mantendo o apoio ao Governo, sobretudo pela participação de Paulo Guedes e Sérgio Moro, fundamentos que se põem acima das picuinhas desprezíveis do carreirismo. É deles o “Galardão”.

 

PESQUISAS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

“Não existe opinião pública, existe opinião publicada. ” (Winston Churchill)

Que as pesquisas mentem, eu não tenho nenhuma dúvida disto; mas dos estertores do funesto governo Dilma até hoje, por mais que fosse do interesse dos seus financiadores, os institutos não conseguiram baixar de 80% a repulsa do povo brasileiro à corrupção institucionalizada nos governos do PT.

Como exemplo, basta lembrar as últimas eleições registrando a imoral projeção do Ibope nas Minas Gerais, apontando Dilma como eleita para o Senado com larga vantagem sobre seus oponentes Carlos Viana e Rodrigo Pacheco

Também na disputa para presidência da República, nas pesquisas, a avaliação de CNT/MDA, DataFolha e Ibope, foi criminosa. Hoje, a gente vê a fraude nos números mentirosos apresentados.

Para o 2º turno, o CNT/MDA mostrou um empate técnico pela margem de erro entre Bolsonaro e Haddad, 28% a 25%; e para o Datafolha, nas simulações divulgadas no dia 28 de setembro, Bolsonaro ficou atrás de todos os candidatos.

Mais do que vergonhoso ou imoral – chegando às raias da criminalidade, o Ibope trouxe a 6 de setembro que Ciro e Alckmin venceriam no 2º turno e Haddad empatava com Bolsonaro: Ciro 48% x Bolsonaro 38%; Alckmin 45% x Bolsonaro 38%; e Haddad 45% x Bolsonaro 45%.

Dezoito dias depois (18.09.2018) o Ibope voltou a publicar outro resultado sobre o 2º turno, onde Bolsonaro só ganharia de Marina, cuja participação na campanha foi pífia. Os demais concorrentes o derrotariam.

Como se vê, pelo menos no Brasil – submetido politicamente aos institutos de pesquisa e às fake news – não se pode levar a sério o espelho da opinião pública baseado nas amostragens de opinião divulgados bombasticamente pela mídia.

Agora, em apoio ao esforço midiático para sabotar o Governo Bolsonaro, vem a pesquisa DataFolha mostrando a queda de popularidade do Presidente, quando, ao contrário, só se vê nas ruas e nas redes sociais, otimismo nas principais vertentes governamentais, Economia e Segurança Pública.

Mais divulgados (positiva ou negativamente) pela mídia, Paulo Guedes e Sérgio Moro se destacam no Ministério, mas é igualmente louvável a atuação de Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura.  E, embora enfrentando pesadas críticas, é indesmentível o destaque positivo nas Relações Exteriores (Ernesto Araújo) e nos Direitos Humanos (Damares Alves).

Assiste-se as mudanças nos bancos públicos e nas empresas estatais, somando-se ao enfrentamento da inflação e o combate ao desemprego, para justificar as expectativas de melhora na Economia, arrasada nos governos petistas.  E a esperança aumenta com a perspectiva da Nova Previdência ser aprovada no Congresso.

É apreciável o apoio que os brasileiros dão à Lava Jato na guerra contra o crime organizado, o tráfico de drogas e a corrupção política. A Operação que recebe aplausos gerais é reforçada pela presença do juiz Sérgio Moro do Ministério da Justiça, obtendo 82,6% de aprovação popular.

De Moro espera-se que olhe para as defesas de pena de morte e da maioridade penal dos menores infratores. E recebe apoio pela disposição em defender a prisão após condenação na 2ª Instância.

Finalmente, para a picaretagem que ainda ulula no lodo do Congresso, fica transparente a reprovação popular aos deputados e senadores que desejam manter a antipopular e antinacional “velha política”. Não há melhor pesquisa do que aquela “não publicada”. É a voz do povo.

Mário Quintana

TORRE AZUL

É preciso construir uma torre

– uma torre azul para os suicidas.
Têm qualquer coisa de anjo esses suicidas voadores,
qualquer coisa de anjo que perdeu as asas.
É preciso construir-lhes um túnel
– um túnel sem fim e sem saída
e onde um trem viajasse eternamente
como uma nave em alto-mar perdida.

É preciso construir uma torre…
É preciso construir um túnel…
É preciso morrer de puro,
puro amor!…

(Poema do livro Baú de Espantos, retirado de Poesia Completa – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 587)

Manoel de Barros

Memórias inventadas – As Infâncias de Manoel de Barros

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.