DOS INTELECTUAIS
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Recebi uma crítica nos padrões democráticos que me inspirou este artigo. Veio de um jornalista atuante nas redes sociais, condenando-me por citar a frase do general Villas Boas que “substituir uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros”.
Acho que este pensamento é irreparável, mesmo vindo de quem veio, com o perfil que apresenta, até mesmo agora, desfilando no noticiário dos jornais pela participação da esposa nas tramas golpistas de Bolsonaro.
Entretanto, concordo em gênero e número com a afirmação de que as ideologias fraudulentas do esquerdismo lulista e do direitismo bolsonarista nada contribuem para erguer o Brasil, devendo ser afastadas do cenário político, pois não conduzem como futuro digno que almejamos.
Em minha defesa, alicerço a discordância de que “um admirador das ideias de Brizola, não pode referir-se a um defensor da ditadura militar”. Esta posição traz vestígios de ódio; e o meu interlocutor poderia ter aprendido com o anarquista Malatesta, como fiz, estudando, que “devemos seguir ideias, não homens, e rebelarmo-nos contra o hábito de encarnar um princípio numa pessoa”.
Isto resume a condenação ao culto da personalidade vigente no País, adotado por frações intelectuais no atual estágio sócio-político polarizado pelos extremismos populistas. Muitas pessoas com formação educacional ou erudição autodidata perderam o senso crítico da realidade, infelicitados pelas ideologias distorcidas que estimulam o fanatismo.
O revolucionário meio de Comunicação que a Internet dispõe, traz muitos exemplos disto. Com esta observação lembrei-me que preparando-me para o Exame Vestibular, encontrei na estante do meu pai um livro do escritor francês, Julien Benda, que me chamou a atenção: “La trahison des clercs”.
Foi editado em 1927, quase 100 anos atrás; e pelas teses nele defendidas, foi largamente difundido e traduzido para o português como “A traição dos Intelectuais”, na mesma linha do alemão “Verantwortlichkeit der Intellektuellen” e do inglês “Treason Of The Intellectuals”.
Benda, que depois vim conhecer melhor, teve o perfil de questionador do autoritarismo, inimigo do nazismo e da fascista “Action Française”. Por isso, seria considerado hoje um pensador “de esquerda”; mas à sua época foi o contrário, o apontaram como conservador e até antiprogressista.
A intelectualidade viu na teoria “blendista” sobre as pessoas que trabalham e produzem exclusivamente com o intelecto, uma elucubração estranha (por nova) causando muita polêmica ao defender que o intelectual deve manter-se neutro e distanciado dos partidos; e fez mais. Exigiu de quem usa como ferramenta a mentalidade que a sua criação deve limitar-se à defesa dos valores universais da verdade, justiça e liberdade.
Enfim, para Blenda, o intelectual deve se abster das paixões políticas; e que por sua própria natureza, o trabalho de inteligência deve conter-se de alinhamentos; que o seu protagonista deve apenas observar e analisar os movimentos políticos como o nacionalismo, do marxismo, do racismo, do sionismo, da xenofobia e do militarismo.
Considero tais proposições insuportáveis para alguns letrados brasileiros pelas heranças culturais que recebemos; acho, porém, que serve de alerta para os nossos jornalistas para não caírem na esparrela da adoção ideológica, incompatível com o exercício profissional. Prendi-me alguns vezes assim, e faço autocrítica.
O “prato feito” que sai das cozinhas partidárias com a salada mista de doutrinas falseadas e as malpassadas proteínas das inverdades, é servido para manter o sistema; e as promessas dos “líderes” partidários ou governistas, são as lavagens cerebrais que garantem a polarização, o fraudulento embate entre populistas para manter entre si a alternância no poder.
Excelente texto do qual me sinto também representada. As pessoas estão presas ao dualismo político.
Seus potenciais seguidores não têm apoiado suas principais metas de política externa, e alguns de seus vizinhos questionam até mesmo a sua supremacia material. Ao jogar a carta regional para alcançar fins globais, o Brasil acabou em uma situação inesperada: enquanto sua liderança regional cresceu no discurso, tem sido enfraquecida na prática. Hoje, o país é grande demais para deixar que o estado amarre suas mãos, mas ainda pequeno para saltar para o mundo sem se preocupar com o potencial de dano de sua vizinhança.