Arquivo do mês: abril 2013

Sá de Miranda

Soneto

 

 O sol é grande, caem coa calma as aves,

Do tempo em tal sazão que sói ser fria:

Esta água, que dalto cai, acordar-me-ia,

Do sono não, mas de cuidados graves.

 

Ó coisas todas vãs, todas mudaves,

Qual é o coração que em vós confia?

Passando um dia vai, passa outro dia,

Incertos todos mais que ao vento as naves!

 

Eu vi já por aqui sombras e flores,

Vi águas, e vi fontes, vi verdura;

As aves vi cantar todas damores.

 

Mudo e seco é já tudo; e de mistura,

Também fazendo-me eu fui doutras cores;

E tudo o mais renova, isto é sem cura.

 

Biografia de Sá de Miranda aqui.

Chamadas de 1ª página nos jornais de hoje, 6ª-feira, 26.abr.13

O GLOBO – Confronto entre STF e Congresso se agrava

J. DO COMMERCIO (PE) –  Câmara e Senado reagem ao Supremo

FOLHA DE SP – Congresso acusa Supremo de ‘intromissão’ e amplia crise

C. BRAZILIENSE – Esquenta guerra entre Congresso e Supremo

ESTADÃO – Senado reage e classifica decisão do STF de ‘invasão’

ZERO HORA – Supremo reage e faz Câmara voltar atrás

EST. DE MINAS – STF x Congresso: Guerra entre poderes em novo front

VALOR – Conflito entre Poderes nunca foi tão tenso

  • Comentários desativados em Chamadas de 1ª página nos jornais de hoje, 6ª-feira, 26.abr.13

César Vallejo

POEMA PARA SER LIDO E CANTADO

 

Sei que há uma pessoa

que, dia e noite, me busca em sua mão,

encontrando-me, a cada minuto, em seu calçado.

Ignora que a noite está enterrada

atrás da cozinha com esporas?

 

Sei que há uma pessoa composta de minhas partes,

que eu completo sempre que o meu vulto

cavalga sua exacta pedrazinha.

Ignora que ao seu cofre

não voltará nenhuma moeda que saiu com seu retrato?

 

Sei o dia,

mas o sol escapou-me;

sei o acto universal que fez na cama

com alheia coragem e essa água morna, cuja

superficial frequência é uma mina.

Tão pequena é, acaso, essa pessoa

que até seus próprios pés assim a pisam?

 

Um gato é a fronteira entre eu e ela,

mesmo ao lado de sua malga de água.

Vejo-a pelas esquinas, abre e fecha

sua veste, antes palmeira interrogante…

que poderá fazer senão mudar de pranto?

 

Mas ela busca-me, busca-me. É uma história!

 

Biografia de César Vallejo aqui.

Chamadas de 1ª página nos jornais de hoje, 5ª-feira 25.abr.13

VALOR – CCJ aprova projeto que submete STF ao Legislativo

O GLOBO – Câmara dá 1º passo para tentar tirar poder do STF

J. DO COMMERCIO (PE) – Congresso e Supremo em rota de colisão

FOLHA DE SP – Poderes à beira de um arranca-rabo

C. BRAZILIENSE – CCJ da Câmara submete o STF ao Congresso

ESTADÃO – Alves pede cautela após votação de regra que tira poder do STF

ZERO HORA – Câmara propõe limites a decisões do Supremo

ESTADO DE MINAS – Legislativo quer avalizar o Judiciário

  • Comentários desativados em Chamadas de 1ª página nos jornais de hoje, 5ª-feira 25.abr.13

Vinícius de Moraes

A partida


Quero ir-me embora pra estrela
Que vi luzindo no céu
Na várzea do setestrelo.
Sairei de casa à tarde
Na hora crepuscular
Em minha rua deserta
Nem uma janela aberta
Ninguém para me espiar
De vivo verei apenas
Duas mulheres serenas
Me acenando devagar.
Será meu corpo sozinho
Que há de me acompanhar
Que a alma estará vagando
Entre os amigos, num bar.
Ninguém ficará chorando
Que mãe já não terei mais
E a mulher que outrora tinha
Mais que ser minha mulher
É a mãe de uma filha minha.
Irei embora sozinho
Sem angústia nem pesar
Antes contente da vida
Que não pedi, tão sofrida
Mas não perdi por ganhar.
Verei a cidade morta
Ir ficando para trás
E em frente se abrirem campos
Em flores e pirilampos
Como a miragem de tantos
Que tremeluzem no alto.
Num ponto qualquer da treva
Um vento me envolverá
Sentirei a voz molhada
Da noite que vem do mar
Chegar-me-ão falas tristes
Como a querer me entristar
Mas não serei mais lembrança
Nada me surpreenderá:
Passarei lúcido e frio
Compreensivo e singular
Como um cadáver num rio
E quando, de algum lugar
Chegar-me o apelo vazio
De uma mulher a chorar
Só então me voltarei
Mas nem adeus lhe darei
No oco raio estelar
Libertado subirei.

Texto extraído da antologia “Vinicius de Moraes – Poesia completa e prosa”.

Biografia de Vinícius de Moraes aqui.

 

  • Comentários desativados em Vinícius de Moraes

Chamadas de 1ª página nos jornais de hoje_4ª-feira, 24.abr.13

ESTADÃO – PF vai pedir quebra de sigilo de assessor de Lula

ZERO HORA – Corte de taxa não garante etanol barato

ESTADO DE MINAS – Pacote do etanol longe dos postos

VALOR – Tramitação de MP dos royalties é suspensa

O GLOBO – Mensalão: Lewandowski diz que não há pressa

J. DO COMMERCIO (PE) – Usineiros recebem ajuda federal

FOLHA DE SP – Pacote do etanol não garante preço menor nos postos

C. BRAZILIENSE – Brasileiro diz que driblar a lei é fácil

  • Comentários desativados em Chamadas de 1ª página nos jornais de hoje_4ª-feira, 24.abr.13

Mário de Andrade

Eu Sou Trezentos…

 

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,

As sensações renascem de si mesmas sem repouso,

Ôh espelhos, ôh ! Pirineus ! Ôh caiçaras !

Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro !

Abraço no meu leito as milhores palavras,

E os suspiros que dou são violinos alheios;

Eu piso a terra como quem descobre a furto

Nas esquinas, nos táxis,

nas camarinhas seus próprios beijos !

 

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,

Mas um dia afinal toparei comigo…

Tenhamos paciência, andorinhas curtas,

Só o esquecimento é que condensa,

E então minha alma servirá de abrigo.

 

Biografia de Mário de Andrade aqui.

 

 

  • Comentários desativados em Mário de Andrade

Chamadas de 1ª página dos jornais de hoje, 3ª-feira,23.abr.13

ESTADÃO – Condenados do mensalão podem ter novo julgamento

ZERO HORA – O papel de Dirceu na visão dos ministros

ESTADO DE MINAS – Sumiço de bate-bocas abre brecha para defesa

VALOR – Acórdão do mensalão tem 1.336 supressões

O GLOBO – Mensalão: Acórdão tem 1.335 falas omitidas

J. DO COMMERCIO (PE) – Acórdão do mensalão com 1,3 mil cortes

FOLHA DE SP – STF publica votos da corte no julgamento do mensalão

C. BRAZILIENSE – Brecha para mensaleiros

  • Comentários desativados em Chamadas de 1ª página dos jornais de hoje, 3ª-feira,23.abr.13

Alejandra Pizarnik

A JAULA

 

Lá fora faz sol.

Não é mais que um sol

mas os homens olham-no

e depois cantam.

 

Eu não sei do sol.

Sei a melodia do anjo

e o sermão quente

do último vento.

Sei gritar até a aurora

quando a morte pousa nua

em minha sombra.

 

Choro debaixo do meu nome.

Aceno lenços na noite

e barcos sedentos de realidade

dançam comigo.

Oculto cravos

para escarnecer meus sonhos enfermos.

 

Lá fora faz sol.

Eu me visto de cinzas.

 

tradução de Virna Teixeira

 

Biografia de Alejandra Pizarnik aqui.

  • Comentários desativados em Alejandra Pizarnik

Artigo

Pela responsabilidade penal do “dimenor”

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Relembrando as lições do ginásio (acho que hoje é ensino médio), as idades da História nos mostram a evolução da sociedade humana. Iniciando pelas “Pedra lascada” e “Polida”, pré civilizatórias, que duraram mais de um milhão de anos, até a Antiguidade Clássica dos grandes impérios e seus códigos disciplinadores.

Com essas leis ‘divinas’, demos pulos seculares, passando pelas idades Média e Moderna, que esboçaram a cultura por nós herdadas nas artes, literatura, códices, e, graças às grandes navegações e descobertas, costumes se globalizaram.

Assim chegamos à Idade Contemporânea com o peso das revoluções Francesa, Americana e, moldada no fogo das forjas, a Revolução Industrial. Daí se consolidaram os pensamentos ainda hoje vigorando.

Mesmo com as imposições filosóficas, políticas e religiosas que herdamos, não é difícil registrar as mudanças do comportamento humano no tempo e no espaço. Os homens e as mulheres de hoje não são àqueles dos séculos 18, 19 e 20. Crianças, adolescentes e idosos, também não.

Então, como aceitarmos princípios legais instituídos no passado? E, o pior, princípios que nos obrigam a conviver com bandidos em função da sua pouca idade? Que idiotice ‘politicamente correta’ é esta, a defender criminosos? Se o crime é crime, se há leis e penas que o tipificam, por que distinguir o criminoso pela idade biológica?

Vejamos, por exemplo, a situação recentemente vivida pelos brasileiros. Um malfeitor, a três dias de completar 18 anos, assassinou barbaramente outro jovem em São Paulo. Declararam-no “dimenor” e ele ficará sem castigo, impunemente, livre para praticar outros crimes, pela índole monstruosa exibida.

A tese de que adolescentes não devem ser penalizados porque ainda não têem noção de limites comportamentais é defasada e, perdoem-me os humanistas hipócritas, a impunidade é que é desumana.

Nosso Código Penal data de 1940 fixando 18 anos para a responsabilidade penal. Será que entra na cabeça de alguém que o jovem dos anos 40 do século passado foi igual ao de hoje?

Causa estupefação que intelectuais não vejam e não sintam as mudanças sociais ocorridas – e mutações de cada indivíduo – pelo acesso à parafernália tecnológica. Quando foi elaborado o Código de 40, não havia televisão, o cinema mal saía da mudez e da rotação a mão, e o próprio telefone era privilégio de poucos…

Como uma cabeça juvenil daquele mundo ficaria desativada diante da copiosa informação e dos estímulos do computador, o correio eletrônico e a Rede Social? E as mensagens intensas e violentas do cinema? E o processo midiático, onde crimes e guerras são sempre manchetes?

Além da discussão temática, reúno também a experiência brasileira na mentalidade dos jovens, diferente em cada região do país. No Norte e no Nordeste um adolescente de 14 tem a formação de um adulto; ocorrendo algo semelhante nos interiores das Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Dizer-se que aos 16 anos o jovem é incapaz de compreender a disciplina das relações sociais e de controlar suas reações, é negar a realidade que nos cerca. É querer tapar o sol com uma peneira. No Exterior, deve ser motivo de chacota.

Vejamos: No estado de Oklahoma, nos EUA, a responsabilidade chega aos sete anos, e nos demais estados vigora a tipificação do crime e não a responsabilização penal. Esta, na Irlanda, é de 10 anos, no Japão aos 14 e nos países escandinavos – Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia, é de 15.

Na América Latina os maiores limites são unicamente, o brasileiro e o colombiano, 18 anos, sendo que no país andino, dependendo do crime, adolescentes de 12 a 17 anos estão sujeitos a procedimentos legais correcionais.

A legislação comparada não fala tão alto quanto a lição das páginas policiais do jornal, registrando agressões, estupro, mortes e tortura com crueldade, e quando o agente dessas barbáries recebe voz de prisão, grita que é “dimenor”. Aí, os policiais recuam amedrontados diante dessa fórmula mágica de impunidade.

Horrível, tristemente horroroso, é ver-se o argumento do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em defesa da manutenção da responsabilidade penal aos 18 anos, justificando que é para “evitar o risco de sobrecarregar os presídios”. Pobre ministro, infeliz Brasil!