PRESENTES

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MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

   “Se lhe derem como presente um “cavalo de Tróia” desmanche-o e torne a fazer dele um navio” 
(Janes Fidélis Tomelin)

Nos solstícios festejados milenarmente, o de Inverno no hemisfério norte e o do Verão no hemisfério sul, adotados pelo cristianismo como a festa da natividade de Jesus Cristo, a finalidade ritual e religiosa se faz presente com bebedeiras, comilança e troca de presentes.

Sem uma explicação na Sociologia nem na Teologia, as divindades ficaram num segundo plano. Bebidas e comidas são como coceira, para muitos basta começar para se coçarem…. a troca de presentes é coisa que ocorre em círculo restrito.

Não sei se é uma jaboticaba brasileira, mas aqui se institucionalizou a troca de presentes em grupos sociais, escolares, empregatícios e familiares numa brincadeira conhecida como “Amigo Secreto”.

O verbete “Presente”, dicionarizado, é substantivo e adjetivo de dois gêneros, uma palavra de etimologia latina “praesentia”, que expressa algo que está ao alcance de alguém.

No nosso idioma, os adjetivos significam o que existe ou acontece no passado, presente ou futuro; e, como substantivo, é uma doação, a dádiva de um objeto como prova de afeto ou respeito. Figuradamente, é qualquer coisa que se concede.

Ao contrário do Presente que comprova afeto, altruísmo, beneficência e lembrança, a História registra-o como exemplo de traição, com Homero descrevendo a guerra de Tróia nos livros “Ilíada” e “Odisseia”.

Homero foi, todavia, muito sucinto; depois dele, outros escritores detalharam a tática traiçoeira dos gregos; desmanchando um navio, fizeram com as tábuas um enorme cavalo e simulando uma rendição e recuo no cerco à Tróia, ofereceram o artefato como presente ao rei Príamo, postando-o na porta da fortaleza.

A estatuária era oca, escondendo no seu interior um comando militar preparado que, uma vez dentro das muralhas, abriria os portões da fortaleza permitindo a invasão inesperada que facilitou a conquista e a destruição da cidade.

Embora admitindo que a guerra tenha realmente ocorrido como foi descrito pelos antigos, alguns registros sobre Troia consideram que o famoso cavalo é uma lenda, alegando que “cavalo” era uma máquina de guerra, o aríete, construído na forma do animal.

A história, fantasiosa ou não, deu ao mundo a expressão “cavalo de Tróia” aplicada na Internet, usada na computação como “Trojan horse”, ou, simplesmente “trojan”, um malware que engana os usuários sobre sua verdadeira intenção. Há inúmeros tipos de trojan; e malware classifica todo tipo de software malicioso que causa prejuízo.

Assim, “Cavalo de Troia” sempre significa alguma coisa que parece bom a princípio, mas depois se revela ruim. Esbarramos com ele muitas vezes ao longo da vida, seja iludindo nossos sentimentos seja traindo a nossa confiança em pessoas em que acreditamos.

Ocorre comumente com personalidades políticas a quem delegamos nossa representação nos círculos decisórios, tanto executivos como magistrados e parlamentares.

Não há um presente de grego mais exemplar do que após votar em Jair Bolsonaro confiando no seu discurso contra a corrupção e vê-lo depois combater a Operação Lava Jato para blindar os filhos das “rachadinhas”.

A corrupção bolsonarista, infelizmente, deu-nos outro trojam, ao ver Sérgio Moro, eleito senador, trair seus eleitores escolhendo um entre dois corruptos, apenas por questão pessoal.

A aparência enganosa do discurso populista não nos ilude mais. Não são socialistas, nem conservadores, são apenas disfarces. A nossa independência exige permanente vigilância para impedir qualquer simulacro de Cavalo de Tróia como o presente que Bolsonaro nos deixou, o terrorismo praticado por milícias fanatizadas, simulacro da farsa do Rio Centro….

Por isto acompanhamos a observação de Janes Fidélis Tomelin, dizendo que: “se lhe derem como presente um Cavalo de Tróia, torne a fazer dele outro navio. E navegue com altivez.

 

 

 

 

 

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