Artigo saído n’ O METROPOLITANO. Nas bancas
Mercosul ou loja de conveniência?
MIRANDA SÁ, jornalista (mirandasa@uol.com.br)
O neoliberalismo, reconhecemos, tem vantagens e desvantagens. Uma dos aspectos positivos é o reconhecimento da inevitável globalização e sua decorrente abertura dos nossos portos para o mundo. Louve-se, portanto, a sacada de mestre do Governo Itamar criando e implantando o Plano Real.
O Plano elegeu Fernando Henrique que, justiça se lhe faça, obteve notáveis sucessos na macroeconomia, além de empreender políticas decorrentes da estabilização monetária através de uma administração competente.
Este reconhecimento leva a outro, a herança recebida pelo PT-governo que Lula da Silva tentou negar mas se aproveitou dela, apesar das imperfeições que por incompetência surgiram na administração pública. A auto-suficiência e nenhuma autocrítica da área econômica do PT-governo, porém, agregaram equívocos minimizados pela ação do Banco Central.
No âmbito interno, a arquitetura sócio-econômica aproveita-se de uma planta única, traçada para eximir Lula da Sila de responsabilidades diretas, exceto na formulação das políticas sociais que dão certo. As que fracassaram como 1 milhão de empregos,e os programas Fome Zero e Primeiro Emprego, são deletadas da História.
Seja de que maneira for, a gente encontra o respaldo de amplas camadas da população, apesar do uso metódico das meias verdades para explicar a troca de planos objetivos pelo discurso demagógico. Talvez seja isso que a massa goste. A louvação da astúcia e das trapaças para obter vantagens.
No circo do PT-governo, as acrobacias e prestidigitações parecem bem vindas para o grande público, mas o mesmo não acontece no âmbito das pessoas letradas, paricularmente nas alianças despudoradas de Lula com os 300 picaretas e o acolhimento implícito da corrupção e do patrimonialismo.
Reprovam os cidadãos bem informados, por pariotismo e visão do futuro, a política exterior conduzida pelo comissário Marco Aurélio Garcia que favorece a aproximação com governos e personalidades antidemocráticas. Temos um exemplo marcante na contradição que, de um lado aceita-se ditadores africanos e, do outro, condena-se o governo constitucional de Honduras implantado por afastar um golpista que desejava se perpetuar no poder.
Ditaduras africanas e ditaduras populistas latinoamericanas embrutecem a diplomacia brasileira em proveito único e exclusivo do personalismo de Lula. O fato mais concreto á a relação perigosa (e suspeita) com o coronel Chávez, que o PT-governo quer impor no Mercosul.
Não há justificativa política para isto. Só chavões em economês mostrando benefícios que o comércio de bens e serviços poderia trazer no futuro. O argumento morre com a história meio confusa da Refinaria de Abreu e Lima, onde a palavra de Chávez foi um risco n’água.
Os defensores palacianos – fora do Planalto só Zé Dirceu – que infundem e sustentam a adesão da Venezuela ao Mercosul escondem propositalmente que as transações comerciais Brasil-Venezuela são inexpressivas, que o Governo Chávez comercia mais com os “inimigos” norte-americanos do que conosco.
Menos de 10% das exportações brasileiras representam a resposta que recebemos da Venezuela, ao importar produtos brasileiros. Esse desequilíbrio em nada favorece a nossa economia exterior, que já sofre com as manhas argentinas e a retração chilena. Assim não podemos transformar o Mercosul numa loja de conveniência.
Quanto ao aspecto político do problema – negaceado pelos socialistas de opereta – é a constatação de que a Venezuela de Chávez é um planeta antidemocrático, com um congresso garroteado e os meios de comunicação sob ameaças da polícia política.
Os socialisteiros do PT-governo não se iludem com o “bolivarianismo” venezuelano; simplesmente tiram proveito dele usando palavras de ordem revolucionárias para mascarar a traição aos princípios históricos da esquerda brasileira, que ajudaram Lula a se eleger para trai-la depois.
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