Arquivo do mês: fevereiro 2016

Pressentimento – Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho

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Manuel Bandeira

Canção da parada do Lucas

Parada do Lucas
— O trem não parou.

Ah, se o trem parasse
Minha alma incendida
Pediria à Noite
Dois seios intactos.

Parada do Lucas
— O trem não parou.

Ah, se o trem parasse
Eu iria aos mangues
Dormir na escureza
Das águas defuntas.

Parada do Lucas
— O trem não parou.

Nada aconteceu
Senão a lembrança
Do crime espantoso
Que o tempo engoliu.
 

Ronaldo Cunha Lima

Imortal

 

 

Pode até meu amor já ter morrido.

Podes dizer que teu amor morreu.

Só não pode morrer, nem faz sentido,

aquele amor que nosso amor viveu.

 

 

Palmyra Wanderley

Fortaleza dos Reis Magos

                  

 

Em frente o mar, fervendo e espumando de ira,

na nevrose do ódio, em convulsões rouqueja

e contra a Fortaleza imprecações atira

e blasfema e maldiz e ameaça e pragueja.

Todo ele se baba. E se arqueia e delira,

na fervente paixão de vencê-la…Peleja.

Ergue o dorso e se empina e se estorce e conspira

e cai, magoando os pés daquela que deseja.

 

A Fortaleza altiva, agarrada às raízes,

nem parece sentir as fundas cicatrizes,

dos golpes com que o mar o seu corpo tortura.

 

Evocando o passado, avista as sentinelas,

no cruzeiro do sul a cruz das caravelas

a as flechas de Poti rasgando a noite escura.

 

Biografia de Palmyra Wanderley aqui

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Mário Quintana

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…
Leia a biografia de Mário Quintana aqui

 

O ESPELHO

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Eu preferia ser louco com a verdade a ser sadio com as mentiras” (Bertrand Russel)

Para quem tem lido os meus artigos e crônicas, conhecendo o meu estilo, é evidente que não espera que eu venha discorrer sobre a Física e sua complexa vertente, a Ótica, escrevendo “O Espelho”

O espelho – palavra originária do latim, speculum – é uma superfície reflexiva com uma direção definida. Há vários tipos de espelhos, plano, esférico, côncavo e convexo – estes últimos fazendo-nos rir nos parques de diversão.

O lago em que Narciso se mirava era um espelho; mas os espelhos artificiais, segundo historiadores, surgiram a 6.000 a.C.. Eram pedaços de obsidiana ou placas de bronze polidos com areia. No Egito e na Mesopotâmia foram feitos de cobre e na China com cristais.

Os primeiros espelhos de vidro apareceram no antigo Líbano com uma camada de ouro no lado posterior; de lá foram para Roma e bem mais tarde, no Renascimento, artesãos alemães criaram um processo substituindo o ouro por uma fina amálgama de mercúrio. Depois veio o uso da prata e do estanho tal como conhecemos.

A imagem humana refletida no espelho é tema de várias manifestações culturais; no cinema temos um filme recente de 2013 “O Espelho” (lançado no Brasil em 2014) dirigido por Mike Flanagan, um drama psicológico, que indico aos cinéfilos.

O nosso genial Machado de Assis tem um conto com o título “O Espelho” no seu livro “Papéis Avulsos” – oferecendo uma interessante abordagem psicossocial. Sua teoria gira sobre a personalidade produzida pelas forças sociais que, por sua vez, existem graças à personalidade…

Machado nos inspira a espelhar a realidade e o nosso epigrafado, Russel (pensador da minha admiração pessoal) nos faz olhar o espelho para distinguir a verdade e a mentira.

Assim chegamos à política brasileira onde transborda a lama da mentira, que vem de cima para baixo, em conseqüência do rompimento das barragens da honestidade e da ética.

A impostura dos governantes que não engana mais ninguém é defendida apenas por 7% dos brasileiros comprometidos com a grande fraude lulo-petista; são os aparelhados sem concurso na administração pública, ou conformados com os restos do banquete da corrupção.

Na visão da esmagadora maioria dos brasileiros o PT-governo espelha o oposto do reflexo luminoso da verdade. Temos na presidência da República uma impostora criada pelo marketing fraudulento e astucioso, eleita por propinas e promessas eleitorais mentirosas.

O lado posterior da imagem real do espelho nacional, a camada de prata, foi surrupiada pelos pelegos no poder, na prática desonesta que vai da destruição da Petrobras, a venda criminosa de medidas provisórias até o furto da coisa pública, como fez Lula da Silva levando bens do Palácio da Alvorada para uso pessoal.

No filme “O Espelho” a protagonista (Kaylie) acredita na existência de um espelho assombrado e convence seu irmão (Tim) a quebrá-lo, acabando com a maldição que ele contém.

Proponho que quebremos o espelho do poder lulo-petista no Brasil, para dar um fim nas mentiras, na roubalheira e na hipocrisia reinante. Dizem que quebrar um espelho dá sete anos de azar; mas, da minha parte, me disponho a correr o risco…

 

Adélia Prado

Dia

As galinhas com susto abrem o bico
e param daquele jeito imóvel
– ia dizer imoral –
as barbelas e as cristas envermelhadas,
só as artérias palpitando no pescoço.
Uma mulher espantada com sexo:
mas gostando muito.

Para ler a biografia de Adélia Prado clique aqui

Lêdo Ivo

O cavalo

No campo matinal
um cavalo assediado
pelo zumbir das moscas
mastiga avidamente,
o capim do universo.
Os insetos volteiam
no anel azul do mundo
– esfera sem passado
nos ares momentâneos.
Não há mitologia
espalhada na relva
que é verde, sem caminhos,
longe das longes terras.
E o cavalo sobrado
da inenarrável guerra
e da paz defendida
à sombra das espadas
mata a fome no campo
onde não jazem mortos
nem retroam clarins.
Sua crina estremece.
E seus cascos escarvam
a plácida planície
coberta pelos pássaros.
Já sem fome, relincha
para os céus que não guardam
as fanfarras e flâmulas
e a fumaça da História,
e se muda em estátua.

 

Saca-rolha – Zé da Zilda, Waldir Machado (1953)

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RESSACA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Os homens têm clamado por liberdade, justiça e respeito”
(Jacob Bronowski)

“Ressaca” é uma onda que cai sobre si mesma quando recua da arrebentação. A palavra vem do espanhol “resaca”, a “volta da onda”. Quando é usada depois de um porre para males do fígado e estômago, dor de cabeça, náusea, vômitos, os médicos definem como “veisalgia”, palavra que vem do norueguês “kveis”, refluxo.

A “grande imprensa” ficou de ressaca por excesso na cobertura do Carnaval que durou duas semanas, um período nunca antes ocorrido neste País. É que o circo, mesmo sem pão, faz bem à massa, com todas as classes sociais juntas e misturadas…

A ‘massa’ é muito mais do que uma concentração de pessoas; é o ajuntamento humano com a perda da consciência individual. É um rebanho conduzido por influência externa e levado pelo modismo, para “aquilo que todo mundo usa” (Will); enfim, é a tropa dos “maria vai com as outras”.

O Carnaval de Rua – com seus blocos e cordões – é um exemplo disto. Nele não há espontaneidade como fazem crer os “sociólogos televisivos”. Atende, na verdade, ao comando da famosa indústria cultural, que propaga o que é do interesse do poder dominante para conduzir o povão.

Não é coisa nova. O “herr doctor Goebles” usou magistralmente essa indução pelos meios de comunicação para mobilizar as massas, e fez o povo alemão marchar a passo de ganso reverenciando o insano Hitler; também os marqueteiros tupiniquins elegeram Dilma – o poste de Lula – persuadindo os brasileiros no carnaval eleitoral com os confetes, as lantejoulas e os paetês da mentira.

A psicologia registra que após a mobilização das massas vem uma ressaca coletiva. Foi assim com o nazismo, o culto à personalidade de Stálin e as lisonjas socialisteiras da medicina cubana.

Assim foi também com a Ku-Klux-Klan e a caça às bruxas do macartismo e, no reverso da moeda, com a reação ao fascismo norte-americano pelo movimento hippie; e os dois, mostraram o mesmo extremismo. Observando isto, o teatrólogo inglês Arnold Wesker chamou Woodstock de “manifestação fascistinha”.

Temos também a ressaca do carnaval – bebidas à parte – a ressaca mental, com a volta dos indivíduos para si mesmos, pagando seus pecados, ou pela contrição religiosa da Quaresma ou conferindo a lista de despesas e das contas a pagar.

O nosso epigrafado, o escritor Jacob Bronowski, fala da busca inconsciente – quase irracional – da pessoa humana pela liberdade; assim, mudando o que deve ser mudado, a liberdade é de certa maneira conquistada na bacanal carnavalesca. Mas seu preço é altíssimo: a posterior tomada de consciência da realidade.

Por exemplo: tonteia-nos a ressaca da inflação, que é o samba enredo dos blocos lulo-petista; da carestia de vida que tem como carro alegórico as mentiras de Dilma, e do imposto de renda sob o estandarte do Dragão da Receita.  Estas ressacas transmitem uma dor de cabeça que não tem sonrisal que combata.

E pior, muito pior do que a ressaca da quarta-feira de cinzas é o tenebroso cenário da corrupção institucionalizada pelo PT-governo, e, pior ainda, o cinismo doentio dos seus defensores.

Enquanto se vê o grande gabiru Lula da Silva enrolado em vendas de MPs, compra de caças, triplex, sítio, ilha, escambáu, vem a marxista dos irmãos Marx, Jandira Fegali, criar a campanha do “Em Lula eu Confio”…

Não tem onda havaiana, fumo de rolo, cachaça braba, uísque falsificado, maionese deteriorada, nem chato de galocha, que produza indisposição maior do que assistir o Brasil afundar, e os ínfimos 5% de pelegos pendurados nas tetas do Erário cheirar o fedor cadavérico de um governo que acabou. Como o Carnaval.