Arquivo do mês: abril 2015

Fernando Pessoa

Chove

 

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva

Não faz ruído senão com sossego.

Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva

Do que não sabe, o sentimento é cego.

Chove. Meu ser (quem sou) renego…

 

 

Tão calma é a chuva que se solta no ar

(Nem parece de nuvens) que parece

Que não é chuva, mas um sussurrar

Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.

Chove. Nada apetece…

 

 

Não paira vento, não há céu que eu sinta.

Chove longínqua e indistintamente,

Como uma coisa certa que nos minta,

Como um grande desejo que nos mente.

Chove. Nada em mim sente…

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Os ovos e a omelete

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)  

De volta da linda cidade de Rosário, onde passei a Páscoa, almocei na querida Buenos Aires apreciando uma omelete após os encontros profissionais e debates corporativos com colegas periodistas.

A capital portenha, tão rica na sua gastronomia e com restaurantes que dão inveja até aos paulistanos, sempre me leva à especialidade do Florida Garden, que fica ali, no coração da cidade velha, na esquina da Florida com a Paraguai.

Diz-se que a omelete veio da antiga Pérsia, à base de ovos misturados á ervas e batidos até endurecer e amorenar, permitindo o corte à faca. Percorreu o mundo árabe e chegou à Europa, mais precisamente na Espanha, onde virou a famosa torta e inspirou as tortillas das colônias americanas.

Na França foi batizada de “omelette”. Seu cheiro, sabor e textura transporta-me à infância, não a omelete francesa – cujo nome se popularizou de uns tempos para cá, mas como fritada (da italiana “frittata”), como era chamada por minhas avós, mãe e tias. Um prato trivial da classe média nordestina.

Fazer a omelete requer uma elaboração especial, enquanto a fritada não tem requinte: mistura-se o que tiver à mão com os ovos, mexe-se bem e leva-se à frigideira com óleo, banha ou manteiga até endurecer, vira-se pro outro lado e está pronta.  As semelhanças entre as duas são muitas, mas a fundamental é que nenhuma se faz sem quebrar os ovos…

O genial Millôr escreveu que “Assim como não se faz uma omelete sem quebrar os ovos, não se faz uma revolução sem quebrar os ovos”.  Este pensamento mostra que o PT é uma farsa, porque o partido nunca teve coragem de quebrar os ovos, mostrando que sua “revolução” é apenas uma retórica para acobertar a pelegagem e a corrupção.

Complementando Millôr na observação da fraude lulo-petista, Brizola observou que “O PT é uma galinha que cacareja para a esquerda e põe ovos na direita”…  Banqueiros e empreiteiros que o digam.

A omelete petista do governo federal é uma crise permanente e ininterrupta que mistura arrogância com vitimologia, numa dialética cujas contradições personificam Dilma, alheia aos reclamos populares e às repetidas vaias recebidas onde anda. Em sua defesa acorre seu criador, o pelegão Lula da Silva, pedindo (imaginem!) “educação e respeito no exercício na política”.

Este piedoso apelo não vem só. O Pelegão aprimora o cinismo acusando “as elites paulistas”, omitindo que os protestos ocorrem no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, no Paraná e no Mato Grosso do Sul, e agora já gravadas nas pesquisas que derrubam o PT-governo em todas as regiões do País.

Não discuto sobre a habilidade manhosa de Lula, a mais do que perfeita malandragem dos pelegos sindicais; reconheço-a sempre, mas não me engano com ele, que a usa para o mal. Sua falta de credibilidade não merece atenção, a não ser dos apedeutas como ele, ou das mal-amadas que cultuam a sua personalidade.

Lula jogou Dilma no Palácio da Alvorada certo de que ela fracassaria no primeiro mandato, mas errou feio; ela atravessou o período aos trancos e barrancos, talvez por obra do diabo que invoca… Se ela malograsse, ele voltaria triunfante surfando na indiscutível popularidade que conquistou navegando nas águas tranquilas do Plano Real.

O fracasso da Gerentona veio após uma campanha de mentiras que escondeu a conjuntura econômica do País financiada pelas propinas recolhidas na Petrobras e em outras estatais, descobertas na Operação Lava-Jato.  Essa corrupção escancarada fez Lula perder a aposta do retorno e o bonde da História.

Assistimos agora, ao som ensurdecedor dos apupos e do bater de frigideiras vazias, o repúdio nacional a Dilma, a Lula e ao lulo-petismo. Constamos que a omelete “revolucionária” deles não passa de um mexido grosso, com a gordura rançosa da ladroagem e a farinha mofada da inaptidão. Repelida pelos brasileiros conscientes.

 

 

Geraldino Brasil

CLASSE MÉDIA

 

Um médico.

Ótimo na família

 

Um executivo.

Ótimo

 

Um engenheiro.

Um arquiteto.

Um magistrado.

Ótimo

 

Um poeta.

Melhor na família dos outros

 

 in “Bem Súbito”

Biografia de Geraldino Brasil aqui

Rita Lee – Coisas da Vida

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Nossa Páscoa

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br

Eu, distante, gostaria de celebrar a Páscoa ao lado dos patriotas brasileiros que estão sob o jugo da mentira e roubados pela corrupção lulo-petista. Enquanto esperamos o dia 12, seria a nossa Páscoa, a festa da libertação.

Aproveitando a poética de Lupicínio Rodrigues, meu pensamento está voltado para o Brasil, e “como é que a gente voa, quando começa a pensar” matutei sobre as distorções da antiga tradição familiar de setenta e tantos anos atrás.

Embora meu pai fosse positivista (e talvez por isso) lá em casa se respeitava os símbolos pascais primitivos, o peixe, o ovo e o cordeiro. Comíamos peixe na sexta-feira da Paixão e cordeiro assado no sábado; mamãe pintava ovos e os espalhava pelo jardim para que nós os achássemos…

Também a ganância do comércio ainda não havia desvirtuado a Páscoa para obter lucro, com o peixe virando bacalhau importado; o ovo chocolate e o cordeiro passando por uma mutação inexplicável, transformado em coelho…

A Páscoa de que fala a Bíblia só ocorre entre os judeus ortodoxos que a festejam lembrando a história do seu povo, levando á mesa o pão ázimo, ervas amargas e o cordeiro é abatido deixando o sangue escorrer. Servem-se do pão sem o fermento, que é condenado pela contaminação, de ervas amargas lembrando a escravatura no Egito, e o cordeiro é a paga do sacrifício exigido por Jeová.

Hoje, se nos reuníssemos como tanto eu desejo, o nosso banquete seria político: brindaríamos com um bom vinho argentino que, aqui em restaurante, custa R$ 16,00, enquanto em supermercado do Rio custa R$78,00… E falaríamos mal da carestia e da inflação, e compararíamos Dilma com Cristina K., pois são tão iguais e transparentes como água de esgoto…

Aqui, na Argentina, os kirchneristas inventaram um “Dia del Veterano de Guerra e los Caídos em las Islas Malvinas” para desviar o foco da roubalheira generalizada no País, e do último escândalo envolvendo um filho e uma sobrinha da Presidente. O quadro é semelhante ao que ocorre no Brasil, e o discurso de Cristina repete o mesmo chavão sobre a Democracia, às liberdades e contra a corrupção…

Tudo igual como um caminhão carregado de soja… O El Clarín traz uma página internacional com Dilma, sem uma palavra sobre a corrupção e o descontrole da economia; apenas novas promessas, juramento de que vai cortar gastos. E a repetitiva falácia de que lutou e foi presa para garantir a democracia que os brasileiros têm hoje…

Ambas, Cristina e Dilma, são bonecas falantes e, pelas mentiras, ostentam um avantajado nariz de Pinochio… Pensando nelas, volto à distante infância e juventude quando as famílias s se juntavam para malhar o Judas – incorporando um personagem escolhido entre políticos condenados pelo povo por mau comportamento.

Por tudo isto, na nossa Páscoa poderíamos nos unir aos “hermanos” argentinos para manter a antiga tradição, e pendurar no poste os judas dessas duas figuras sinistras que nos envergonham pela mentira e nos revoltam pelo cinismo…

 

Manuel Bandeira

Balõezinhos

 

 

Na feira do arrabaldezinho

Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:

— “O melhor divertimento para as crianças!”

Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres,

Fitando com olhos muito redondos os grandes balõezinhos muito redondos.

 

 No entanto a feira burburinha.

Vão chegando as burguesinhas pobres,

E as criadas das burguesinhas ricas,

E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.

 

 Nas bancas de peixe,

Nas barraquinhas de cereais,

Junto às cestas de hortaliças

O tostão é regateado com acrimônia.

 

 Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras,

Os tomatinhos vermelhos,

Nem as frutas,

Nem nada.

 

 Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos de cor são a única mercadoria útil e verdadeiramente indispensável.

 

 O vendedor infatigável apregoa:

— “O melhor divertimento para as crianças!”

E em torno do homem loquaz os menininhos pobres fazem um círculo inamovível de desejo e espanto.

 Saiba mais sobre Manuel Bandeira aqui

 

Fagner

https://youtu.be/9rYwWUlXRiI?list=PL23646A11AC2342C0

Rainer Maria Rilke

O Cego

 

Ele caminha e interrompe a cidade,

que não existe em sua cela escura,

como uma escura rachadura

numa taça atravessa a claridade.

 

Sombras das coisas, como numa folha,

nele se riscam sem que ele as acolha:

só sensações de tato, como sondas,

captam o mundo em diminutas ondas:

 

serenidade; resistência –

como se à espera de escolher alguém, atento,

ele soergue, quase em reverência,

a mão, como num casamento.

 

(Tradução: Augusto de Campos)

Biografia de Rilke aqui

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