Arquivo do mês: abril 2015

Gilberto Gil – Tempo Rei

  • Comentários desativados em Gilberto Gil – Tempo Rei

Elizabeth Bishop

CADELA ROSADA

[Rio de Janeiro]

Sol forte, céu azul. O Rio sua.
Praia apinhada de barracas. Nua,
passo apressado, você cruza a rua.

Nunca vi um cão tão nu, tão sem nada,
sem pêlo, pele tão avermelhada…
Quem a vê até troca de calçada.

Têm medo da raiva. Mas isso não
é hidrofobia  é sarna. O olhar é são
e esperto. E os seus filhotes, onde estão?

(Tetas cheias de leite.) Em que favela
você os escondeu, em que ruela,
pra viver sua vida de cadela?

Você não sabia? Deu no jornal:
pra resolver o problema social,
estão jogando os mendigos num canal.

E não são só pedintes os lançados
no rio da Guarda: idiotas, aleijados,
vagabundos, alcoólatras, drogados.

Se fazem isso com gente, os estúpidos,
com pernetas ou bípedes, sem escrúpulos,
o que não fariam com um quadrúpede?

A piada mais contada hoje em dia
é que os mendigos, em vez de comida,
andam comprando bóias salva-vidas.

Você, no estado em que está, com esses peitos,
jogada no rio, afundava feito
parafuso. Falando sério, o jeito

mesmo é vestir alguma fantasia.
Não dá pra você ficar por aí à
toa com essa cara. Você devia

pôr uma máscara qualquer. Que tal?
Até a quarta-feira, é Carnaval!
Dance um samba! Abaixo o baixo-astral!

Dizem que o Carnaval está acabando,
culpa do rádio, dos americanos…
Dizem a mesma bobagem todo ano.

O Carnaval está cada vez melhor!
Agora, um cão pelado é mesmo um horror…
Vamos, se fantasie! A-lá-lá-ô…!

1979

Saiba mais sobre Elizabeth Bishop aqui

Paulinho da Viola – Onde a dor não tem razão

  • Comentários desativados em Paulinho da Viola – Onde a dor não tem razão

007 – Licença para Matar

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Nos países totalitários é comum escritores serem forçados a escrever louvaminhas aos governos e até perfis de ditadores. Temos casos conhecidos e outros denunciados pelo escritor Howard Fast no seu livro “O Deus Nu”, descrevendo o terror vivido pela intelectualidade da URSS sob o stalinismo.

Atualmente, os caricatos herdeiros de Stálin não se amofinam em copiar essa triste experiência, não só reprimindo – como em Cuba e na Venezuela – mas, também comprando a consciência de quem a põe no balcão de negócios sujos da política… Por chaleirismo, massageando o ego do então presidente Lula, as empreiteiras corruptas financiaram um filme fantasiando a vida dele.

No meu caso, escrevo em obediência ao pensamento que Gandhi legou aos espíritos livres: “O único ditador que eu aceito é a voz silenciosa da minha consciência”. Então, a minha banda panfletária exigiu um texto sobre a resistência à PEC 171/93, que reduz a maioridade penal de 18 anos para 16 anos.

Será uma resposta aos vaga-lumes que pontuam nas redes sociais acendendo a luz do besteirol e depois as apagando e a si próprios. Um deles me promoveu à “elite branca” e outro disse que a defesa da PEC 171/93 “é coisa da direita”. Essas esquerdas de boutique, famélicas por uma causa, esgotaram os temas carnavalizados pelos líderes, e se aproveitam do tema em pauta no Congresso.

Ser contra a esta medida saneadora dá um atestado de demagogia humanista – presente no discurso político –, ou de – humanismo faturável – das centenas de ONGs e MAVs que mamam nas fartas tetas do governo populista.

Os chicaneiros que defendem os dimenores infratores dão de bandeja às personalidades psicóticas em formação, licença para matar, como o fabuloso serviço de espionagem britânico MI-6, dá ao seu agente especial 007, Bond, James Bond… Esta fantasia da melhor linhagem do romance policial britânico saiu dos livros do escritor Ian Fleming que, mesmo depois de morto, teve novas aventuras do seu personagem escritas por Kingsley Amis e Raymond Benson.

O imaginário agente secreto de Fleming, James Bond, conhecido pelo código 007, ganhou imensa popularidade nos países de língua inglesa e, levado ao cinema em

1962, conquistou o mundo. Teve atores famosos como Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton e Pierce Brosnan e o último, Daniel Craig. Sean Connery, “agente secreto a serviço de Sua Majestade” no primeiro filme da série, “O Satânico Dr. No”, contracenou com a belíssima Ursula Andress.

Todavia, só na ficção é conhecida a licença para matar. E é o que defendem os profissionais da simulação humanística ou os inocentes úteis que os seguem. Fazem uma proposital confusão entre dois conceitos, “maioridade penal” e “responsabilidade criminal”.

Ao defender a PEC 171/93, ninguém quer criminalizar as crianças e os adolescentes, numa generalização do absurdo. O que se defende é uma pena corretora para os infratores. Vê-se o delito, não a idade do delinqüente.

“A Origem” dessa configuração penal vai completar 30 anos agora, em 2015. Nasceu com a Carta de Pequim (1985)e foi confirmada com a Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989, ambos da ONU.

Estes preceitos não estabeleceram idades mínimas para julgamento e punição de criminosos menores de 18 anos, deixando para os  Estados Nacionais essa definição, com base em sua cultura.Alemanha, Espanha e França possuem idades de inicio da responsabilidade penal juvenil aos 14, 12 e 13 anos; e Cuba, para desmoralizar a esquerda festiva, aos 16.

No começo do mês, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, afirmou em Natal (RN), que é a favor da diminuição da maioridade penal. Seguiu a inclinação do Rio de Janeiro, que o elege, com 88% da população favorável à responsabilidade penal para menores criminosos.

Pela primeira vez, não combato frontalmente nos meus artigos o PT-governo, embora no seu nível intelectual abaixo da média, a presidente Dilma pressionada por tendências partidárias deu uma entrevista contra a PEC 171/93. Mas é isso o que se espera de quem se deixa idiotizar.

 

 

Miles Davis – Blue in Green by

  • Comentários desativados em Miles Davis – Blue in Green by

Paulo Hecker Filho

O PEITO POÉTICO

Tenho versos, tenho versos!
Tenho-os pelo corpo todo!
Versos florescem como vermes
de meu peito poético
às minhas mãos e aos pés.
Nascem-me como bolhas na fervura.
Versos, versos, arco-íris de versos!
Não sou alma, não sou valente,
não faço parte do partido comunista.
Invento-me tudo isto ou não me invento.
Estou no mundo, não me pertenço.
Tenho um peito poético, ora bolas!
Sou um viveiro de versos e mais nada.

 

Mais sobre Paulo Hecker Filho aqui

  • Comentários desativados em Paulo Hecker Filho

Billie Holiday – Summertime

  • Comentários desativados em Billie Holiday – Summertime

VAMOS ÀS RUAS!

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

“Senhor Deus dos desgraçados! / Dizei-me vós, Senhor Deus, / Se eu deliro… ou se é verdade/ Tanto horror perante os céus?!…”  (Castro Alves)

Revoltamo-nos ao assistir a soltura dos mensaleiros, condenados por corrupção ativa e livrados da pena de formação de quadrilha por uma firula jurídica. O indulto de Natal livrou o corrupto José Genoíno pela letra fria da Lei. Mas alguém poderia ter pedido a devolução do dinheiro surrupiado dos cofres públicos no Mensalão. E ninguém o fez.

Será que o mesmo ocorrerá com os assaltantes do Petrolão? Confio que não, se o PRG Rodrigo Janot não mentiu ao dizer: “Não é possível que os políticos não saibam a origem do dinheiro que abastece seu partido e sua campanha”.

No “inquérito mãe” da Operação Lava Jato estão denunciados dois governadores, 12 senadores e 34 deputados e ex-deputados federais. Mas neste País de meu Deus, de tanta infâmia e covardia, parlamentares só podem ser presos se condenados ou flagrados em crime inafiançável.

Desta vez, na roedura das ratazanas da Petrobras, está tudo presente e evidente, com os agentes políticos, operadores de lavanderia de dinheiro, o percentual dos corruptos nas propinas e as “doações legais”. Tudo, exceto a coragem para julgar e prender o grande responsável pela roubalheira, o pelego Lula da Silva.

Até as calçadas da Rua Pouso Alegre, 21, em Ipiranga, endereço do Instituto Lula, na capital paulista, sabem do envolvimento do Pelegão. Era ali que os donos e representantes das empreiteiras corruptoras (ou corrompidas?) desfilavam levando agrados para despertar o interesse de Vacari – tesoureiro do PT – e conseguir contratos na Petrobras.

As moscas do banheiro daquele centro de corrupção zumbem em torno das chantagens de Lula, Okamoto e Vacari na atividade criminosa montada para arrebatar o patrimônio das empresas estatais e fundos de pensão.  Ali se criou o esquema que submeteu a Petrobras aos desígnios totalitários do Partido dos Trabalhadores.

Esta extorsão está prestes a ser denunciada pelos executivos de construtoras presos. Daí vai aparecer a saga trapaceira de Lula, das conferências remuneradas promovidas pelo cartel das propinas, das viagens ao Exterior em jatos particulares e das consultorias financiadas pelo BNDES.

Porém, Lula ficou de fora das denúncias, assim como Dilma, que presidindo o Conselho Deliberativo da Petrobras é responsável pela compra criminosa da Pasadena e outros atos ilícitos. Sem a ajuda da PF e do MP, não será fácil provar que essa dupla malfeitosa escapou porque o PT-governo manipulou a lista que a Procuradoria Geral entregou ao STF.

Denunciam essa maquinação Renan Calheiros e Eduardo Cunha presidentes do Senado e da Câmara com a autoridade que lhes foi concedida legalmente. Se for mentira ou verdade, cabe à Justiça investigar.

A subtração de Lula é graças ao inexplicável medo das esferas jurídicas responsáveis por aplicar a lei; e, quanto à livrança de Dilma, deve-se a uma filigrana jurídica incorporada à Constituição de que ela só poderá ser investigada por ações funcionais praticadas no exercício do mandato.

Por essas deformidades políticas imperantes, exigimos a renúncia de Dilma – com a qual todos ganhariam, seus opositores e ela própria. Não há alternativa para quem ama o Brasil: Vamos às ruas no dia 12 de abril, triplicar as manifestações de 15 de março.

Que o poeta da libertação, Castro Alves, quebre o mármore da estátua e volte à vida para cantar conosco: “A praça é do povo como o céu é do condor”.

Antero de Quental

Evolução

Fui rocha em tempo, e fui no mundo antigo
tronco ou ramo na incógnita floresta…
Onda, espumei, quebrando-me na aresta
Do granito, antiquíssimo inimigo…

Rugi, fera talvez, buscando abrigo
Na caverna que ensombra urze e giesta;
O, monstro primitivo, ergui a testa
No limoso paúl, glauco pascigo…

Hoje sou homem, e na sombra enorme
Vejo, a meus pés, a escada multiforme,
Que desce, em espirais, da imensidade…

Interrogo o infinito e às vezes choro…
Mas estendendo as mãos no vácuo, adoro
E aspiro unicamente à liberdade.

Saiba mais sobre Antero de Quental aqui
  • Comentários desativados em Antero de Quental

Legião Urbana – Via Láctea

  • Comentários desativados em Legião Urbana – Via Láctea