Arquivo do mês: setembro 2014

Dylan Thomas

A MÃO AO ASSINAR ESTE PAPEL

 

A mão ao assinar este papel arrasou uma cidade;

cinco dedos soberanos lançaram a sua taxa sobre a respiração; duplicaram o globo dos mortos e reduziram a metade um país;

estes cinco reis levaram a morte a um rei.

 

A mão soberana chega até um ombro descaído

e as articulações dos dedos ficaram imobilizadas pelo gesso;

uma pena de ganso serviu para pôr fim à morte

que pôs fim às palavras.

 

A mão ao assinar o tratado fez nascer a febre,

e cresceu a fome, e todas as pragas vieram;

maior se torna a mão que estende o seu domínio

sobre o homem por ter escrito um nome.

 

Os cinco reis contam os mortos mas não acalmam

a ferida que está cicatrizada, nem acariciam a fronte;

há mãos que governam a piedade como outras o céu;

mas nenhuma delas tem lágrimas para derramar.

 

( tradução: Fernando Guimarães)

 

Biografia de Dylan Thomas aqui

Gato Barbieri – Yo Le Canto a La Luna

 

Biografia de Gato Barbieri aqui

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MENTIRA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

                                                           “Não é permitido irritarmo-nos com a verdade”
                                                                                                                                         Platão
                                                                                                     

São Tomás de Aquino oficializou na Suma Teológica, século 13, os sete pecados capitais que o papa Gregório Magno definiu, com base nas Epístolas de São Paulo. São: a avareza, gula, inveja, ira, luxúria, soberba e preguiça. É curioso que não conste entre eles, a mentira…

Sem medo de pecar, os lulo-petistas – muitos deles ateus praticantes – se converteram nos últimos 12 anos, porque é através da mentira que o PT constrói o seu projeto de manter o poder por 20 anos.

Parece que a militância petista adquiriu o vírus prescrito pelo festejado cronista Pitigrilli: “a mentira é contagiosa como a gripe. Onde haja um mentiroso, todos mentem pelo contágio”. Quem seria melhor do que Lula como responsável pela epidemia?

Na campanha para a reeleição, Dilma Rousseff discursa: “Vou investir 100% do lucro do petróleo na Educação”, contrariando o relatório da Petrobras à CVM que antevê prejuízo de R$1.346 bilhão da estatal no 2º semestre.

Esta, porém, fica no varejo das mentiras de Dilma no balaio dos PACs, das 6.000 creches, dos 800 aeroportos, da escola pública de qualidade, da saúde à beira da perfeição e da crise econômica internacional produzindo no Pibinho…

O médico Arthur Frazão, estudioso dos distúrbios de personalidade, aponta a mitomania como uma tendência compulsiva pela mentira. E a diagnostica como uma doença, mentira obssessivo-compulsiva.

Para o doutor Frazão, na mitomania o mentiroso obssessivo-compulsivo mente para tirar vantagens, e nunca admite suas mentiras. Tem, porém, plena consciência do seu hábito de mentir, mas não se constrange quando suas mentiras são descobertas.

Também o cientista alemão Anton Delbrück afirmava que a mentira compulsiva é uma doença, seria a “pseudologia fantástica”, uma patologia em que o hábito de mentir extrapola limites sociais (e políticos) aceitos.

A contaminação da mentira na família lulo-petista é um fato científico. Quem não se lembra da história de Zé Dirceu morando não-sei-quantos anos com uma mulher sem revelar sua verdadeira identidade? E de Zé Genoíno inventando uma enfermidade para não cumprir a pena imposta pelo STF? E do próprio transmissor da doença, Lula da Silva, dizendo e se desdizendo que não sabia de nada a respeito do Mensalão?

Dizia Bismarck: “As pessoas nunca mentem tanto como antes de uma eleição”, palavras que constatamos verdadeiras, diante dessa pandemia de mentiras. No caso de Dilma, se agrava na campanha reeleitoral a contaminação viral da gripe lulo-petista.

Inventa obras inacabadas e até invisíveis, exibindo-as no balcão fraudulento da propaganda eleitoral do PT. Engendrou para Aécio Neves um esquema de corrupção num aeroporto mineiro; e, sem nenhum pudor, usou a educadora “esquerdista” Neca Setubal, para acusar Marina de se apoiar em banqueiros. Neca é dona de apenas 1,3% das ações do grupo Itaú, e, incrível, participou da campanha do “poste” Fernando Haddad…

As acusações feitas aos adversários são imposturas transparentes. Vai a um pequeno aeroporto no interior das Minas Gerais, enquanto financia mais de US$ 150 milhões em aeroporto de Cuba com dinheiro público, sem prestar contas à Nação; e mexe com uma educadora, parente de banqueiro, quando o seu governo dá à banqueirada nacional e estrangeira lucros jamais vistos neste País.

Quando Dilma repete, como um disco de vinil furado, promessas que não cumpriu durante todo o governo, e as vantagens que o pré-sal trará com os lucros por vir dele, levanta suspeita, porque a tragédia do mentiroso é que, mesmo falando a verdade, ninguém acredita nele… Essa obsessão-compulsiva dela revela a gigantesca fraude do momento: É ela própria, Dilma, uma mentira de Lula.

William Carlos Williams

AS ÁRVORES BOTTICELLIANAS

 

O alfabeto das

árvores

 

vai desmaiando na

canção das folhas

 

as hastes cortadas

das finas

 

letras que escreviam

inverno

 

e frio

foram iluminadas

 

com

pontas de verde

 

pela chuva e o sol –

As regras simples

 

e estritas dos ramos

retos

 

vão sendo alteradas

por ses de cor

 

pinçados, por cláusulas

devotas

 

os sorrisos de amor –

. . . . . . .

 

até as frases

desnudas

 

se moverem como braços

e pernas de mulher sob o tecido

 

e em sigilo o louvor

entoarem do desejo

 

e do império do amor

no estio –

 

No estio a canção

canta-se por si

 

acima das palavras surdas –

 

(tradução:  José Paulo Paes)

Biografia de William Carlos Williams aqui

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Heraldo do Monte

Sylvia Plath

ESPELHO

Sou prata e exato. Eu não prejulgo.
O que vejo engulo de imediato
Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto.
Não sou cruel, tão somente veraz —
O olho de um deusinho, de quatro cantos.
O tempo todo reflito sobre a parede em frente.
É rosa, com manchas. Fitei-a tanto
Que a sinto parte de meu coração. Mas vacila.
Faces e escuridão insistem em nos separar.

Agora sou um lago. Uma mulher se inclina para mim,
Buscando em domínios meus o que realmente é.
Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustre e a lua.
Vejo suas costas e as reflito fielmente.
Ela me paga em choro e agitação de mãos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã sua face reveza com a escuridão.
Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha
Salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.

(tradução de Vinicius Dantas)

B

Biog

Biografia de Sylvia Plath aqui

ABREU E LIMA

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Um dos livros de história romanceada do Brasil que mais me comoveu foi “Dezessete” do jornalista, escritor e poeta paraibano Eudes Barros. Por ele passam a exploração colonial portuguesa e os heróis nordestinos lutando pela liberdade.

Descreve a Revolução de 1817 cujo motivo é semelhante à saga de Tiradentes nas Minas Gerais: A derrama, na região das minas; e os pesados impostos sobre a exportação do algodão produzido nos estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Para encher os cofres da corte de João VI, transmigrada para o Brasil por causa das guerras napoleônicas, os ruralistas foram achacados, na melhor expressão do termo.

Assim, organizaram-se com os cidadãos de Olinda e Recife para uma reação independentista, que eclodiu em março de 1817. A Igreja teve uma grande importância no movimento, pregando as idéias iluministas de igualdade e liberdade nascidas da revolução francesa e conquistaram a Europa.

José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima, que largou a batina para casar-se, continuou sendo chamado de Padre Roma, e foi um dos chefes da revolução de 1817. Esta, fracassada, levou-o à prisão e à morte. Deixou um filho, um jovem militar de nome Abreu e Lima que, perseguido pelo poder dominante, foi obrigado a abandonar o País.

Abreu e Lima alistou-se como capitão nas tropas de Bolívar, que lutava pela independência dos países andinos. Esteve nas vitórias que libertaram a Colômbia e a Venezuela, e nesses países é reconhecido como um herói.

Nos sombrios dias do narco-populismo que atravessamos, seu nome foi conspurcado numa repugnante parceria de Lula da Silva e o finado Hugo Chávez, que inventaram a instalação de uma refinaria em Pernambuco, com seu patronímico.

O projeto da Refinaria Abreu e Lima é um típico conto-do-vigário. Chávez prometeu investir nele não-sei-quantos bilhões de dólares, e Lula, através do BNDES outros tantos. O dinheiro da PDVESA – Petróleo de Venezuela S.A., nunca chegou ao Brasil e o BNDES esfarelou o investimento na peneira da corrupção que se instalou na Petrobras.

A Refinaria Abreu e Lima custará três vezes mais do que qualquer projeto semelhante em qualquer lugar do mundo, graças a roubalheira desenfreada dos pelegos que privatizaram a Petrobras para o lulo-petismo.

Muitas denúncias caíram no vazio até o último 7 de setembro, o Dia da Pátria, quando estourou como uma bomba o pedido de delação premiada do ex-diretor da estatal, Paulo Roberto da Costa. Os estilhaços causaram polvorosa nos círculos governamentais. E Costa tornou-se um arquivo vivo de um esquema de corrupção jamais visto no País.

Tudo começou na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que revolveu as relações do doleiro Yousseff, com hierarcas do PT e Paulo Roberto da Costa. Descobriu-se um oligopólio das maiores empreiteiras do País, comprovadamente corruptoras, pagando propinas milionárias ao PT, governadores e parlamentares seus aliados.

Envolvidas nas acusações estão às construtoras Camargo Corrêa, Odebrecht, OAS e Mendes Júnior antigas e generosas doadoras de campanhas eleitorais. E a Refinaria Abreu e Lima representou um ponto de convergência do escândalo, pois o delator era responsável por ela, indicado por Lula da Silva.

Como ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, Costa foi responsável pela obra da refinaria pernambucana, campeã em esgotamento de verbas. Ele documentou e sabe de tudo que se passou ali, razão pela qual deixou Lula desesperado, viajando às pressas para participar em Brasília de uma “reunião de emergência” convocada pela presidente Dilma Rousseff. Coincidentemente, usou um jatinho da empreiteira Andrade Gutierrez.

Com as manhas da pelegagem, Lula propôs a adoção de uma linha ofensiva de discurso, e mesmo com Dilma constrangida, chamar urgentemente a amiga Graça Foster para propor-lhe o costumeiro “pedido para sair” da presidência da Petrobras. Ainda há muitas coisas por vir, sacudindo e desmistificando a já combalida Era Lula.

Desse turbilhão de criminalidade lulo-petista, resta aos patriotas brasileiros dignificarem Abreu e Lima, herói de três pátrias, varrendo para sempre, pelo voto, os que enlamearam seu nome.

Dylan Marlais Thomas

MORTES E ENTRADAS

Quase às vésperas incendiárias
De várias mortes próximas,
Quando alguém ante os despojos de quem mais amaste,
E desde sempre conhecido, tenha de abandonar
Os leões e as flamas de sua volátil respiração,
Quem dentre os teus amigos imortais
Elevaria o som dos órgãos do pó inventariado
Para lançar e cantar os teus louvores,
O que mais fundo os invocasse conquistaria a sua paz
Que não pode se afogar ou se esvair
Sem fim junto à sua chaga Nas muitas e alienantes dores
conjugais de Londres.

Quase às vésperas incendiárias
Quando diante de teus lábios e chaves,
Fechando, abrindo, se entrelacem os estranhos assassinados,
Aquele que é o mais desconhecido,
Teu vizinho, a estrela polar, sol de uma outra rua,
Mergulhará em tuas lágrimas.
Ele há de banhar teu sangue chuvoso no másculo oceano
Que percorrerá teu próprio morto
E fará girar sua esfera fora de teu fio de água
E entupirá as gargantas das conchas
Com todos os gritos desde que a luz
Começou a jorrar através de seus olhos tonitruantes.

Quase às vésperas incendiárias
De mortes e entradas,
Quando próximo e estranho, ferido nas ondas de Londres,
Hajas procurado a tua tumba solitária,
Um inimigo entre muitos, que bem sabe
Como cintila o teu coração
Nas trevas vigiadas, pulsando entre furnas e ferrolhos,
Arrancará os raios
Para tapar o sol, mergulhará, galgará tuas teclas sombrias
E fará definhar os ginetes para que recuem,
Até que aquele despojo adorado
Avulte como o último Sansão de teu zodíaco
.

.(tradução: Ivan Junqueira)

Bio

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Willie Dixon – Walking The Blues

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Paulo Mendes Campos

PESQUISA

                   Tempo é espaço interior. Espaço é tempo exterior.
Novalis

A gaivota determinada mergulha na água
Verde. Há um tempo para o peixe
E um tempo para o pássaro
E dentro e fora do homem
Um tempo eterno de solidão.
Muitas vezes, fixando o meu olhar no morto,
Vi espaços claros, bosques, igapós,
O sumidouro de um tempo subterrâneo
(Patético, mesmo às almas menos presentes)
Vi, como se vê de um avião,
Cidades conjugadas pelo sopro do homem,
A estrada amarela, o rio barrento e torturado,
Tudo tempos de homem, vibrações de tempo,
                                  [ vertigens.

Senti o hálito do tempo doando melancolia
Aos que envelhecem no escuro das boîtes,
Vi máscaras tendidas para o copo e para 
                                  [ o tempo.
Com uma tensão de nervos feridos
E corações espedaçados.
Se acordamos, e ainda não é madrugada,
Sentimos o invisível fender do silêncio,
Um tempo que se ergue ríspido na escuridão.
Cascos leves de cavalos cruzam a aurora.
O tempo goteja
Como o sangue.
Os cães discursam nos quintais, e o vento, 
Grande cão infeliz, 
Investe contra a sombra.

O tempo é audível; também se pode ouvir a
                                        [ eternidade.

 

Biografia de Paulo Mendes Campos aqui

 

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