Arquivo do mês: setembro 2013

BUENO DE RIVERA

OS DESTINOS URBANOS

 

O tráfego é previamente fixado

e todos os sensatos vivem o seu minuto.

 

Onde está o louco para um discurso

sobre os acontecimentos futuros?

 

Ah! se pudesses, dormirias

sob as árvores da praça, sem cuidados,

te banharias em público, comerias

o teu pão na calçada…

 

Vives no tempo dos relógios. Os teus passos

são contados, tuas horas são rações

minguadas na fome de ser livre.

E impaciente esperas numa esquina

um mágico que te indique

a porta, te mostre a claridade e ordene a fuga!

 

Onde estão os mágicos?

Dormem.

E o louco dos comícios?

Morto.

Morto o pássaro, o lírio extinto,

calado o mar,

o coração do homem pulsa

sob as pedras.

 

Biografia aqui.

Chamadas de 1ª página nos jornais desta 5ª-feira, 19.set.13

ESTADÃO – STF decide por novo julgamento e conclusão fica para 2014

VALOR – “Embargos reabrem julgamento”, diz jurista

ZERO HORA – Mensalão, o retorno

O GLOBO – STF mantém impunidade de mensaleiros até 2014

C. BRAZILIENSE – Aos vencedores, a pizza

ESTADO DE MINAS – STF: Doze Réus e outro julgamento

FOLHA DE SP – STF decide julgar de novo parte dos crimes do mensalão

J. DO COMMERCIO (PE) – Nova chance para mensaleiros

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Mário de Andrade

Serra do Rola-Moça

 

A Serra do Rola-Moça

Não tinha esse nome não…

Eles eram do outro lado,

Vieram na vila casar.

E atravessaram a serra,

O noivo com a noiva dele

Cada qual no seu cavalo.

 

Antes que chegasse a noite,

Se lembraram de voltar.

Disseram adeus para todos

E puseram-se de novo

Pelos atalhos da serra

Cada qual no seu cavalo.

Os dois estavam felizes,

Na altura tudo era paz.

 

Pelos caminhos estreitos,

Ele na frente ela atrás.

E riam. Como eles riam!

Riam até sem razão.

A serra do Rola-Moça

Não tinha esse nome não,

As tribus rubras da tarde

Rapidamente fugiam

E apressadas se escondiam

Lá embaixo nos socavões

Temendo a noite que vinha.

 

Porém os dois continuavam

Cada qual no seu cavalo,

E riam. Como eles riam!

E os rios também casavam

Com as risadas dos cascalhos

Que pulando levianinhos

Da vereda se soltavam

Buscando o despenhadeiro.

 

Ah, Fortuna inviolável!

O casco pisara em falso.

Dão noiva e cavalo um salto

Precipitados no abismo

Nem o baque se escutou.

 

Faz um silêncio de morte.

Na altura tudo era paz…

Chicoteando o seu cavalo,

No vão do despenhadeiro.

O noivo se despenhou.

 

E a serra da Rola-Moça

Rola-Moça se chamou.

 

Biografia aqui.

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Chamadas de 1ª página nos jornais desta 4ª-feira, 18.set.13

ESTADÃO –Na véspera da sessão do STF, Dilma pede ‘serenidade’

VALOR – Decisão pode levar julgamento a 2014

ZERO HORA – STF não deve assar pizza, diz ministro

O GLOBO – Ministros cobram rapidez em julgamento de recursos

C. BRAZILIENSE – A imagem do Supremo em xeque

ESTADO DE MINAS – Novo julgamento com outro STF

FOLHA DE SP – Em SP, maioria rejeita a reabertura do mensalão

J. DO COMMERCIO (PE) – Último voto define hoje o destino de mensaleiros

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Lêdo Ivo

O cavalo

 

 

No campo matinal

um cavalo assediado

pelo zumbir das moscas

mastiga avidamente,

o capim do universo.

Os insetos volteiam

no anel azul do mundo

– esfera sem passado

nos ares momentâneos.

Não há mitologia

espalhada na relva

que é verde, sem caminhos,

longe das longes terras.

E o cavalo sobrado

da inenarrável guerra

e da paz defendida

à sombra das espadas

mata a fome no campo

onde não jazem mortos

nem retroam clarins.

Sua crina estremece.

E seus cascos escarvam

a plácida planície

coberta pelos pássaros.

Já sem fome, relincha

para os céus que não guardam

as fanfarras e flâmulas

e a fumaça da História,

e se muda em estátua.

 

Biografia aqui.

Chamadas de 1ª página nos jornais desta 3ª-feira, 17.set.13

 

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Augusto dos Anjos

A louca

 

A Dias Paredes

 

Quando ela passa: – a veste desgrenhada,

O cabelo revolto em desalinho,

No seu olhar feroz eu adivinho

O mistério da dor que a traz penada.

 

Moça, tão moça e já desventurada;

Da desdita ferida pelo espinho,

Vai morta em vida assim pelo caminho,

No sudário de mágoa sepultada.

 

Eu sei a sua história. – Em seu passado

Houve um drama d’amor misterioso

– O segredo d’um peito torturado –

 

E hoje, para guardar a mágoa oculta,

Canta, soluça – coração saudoso,

Chora, gargalha, a desgraçada estulta.

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Chamadas de 1ª página nos jornais desta 2ª-feira, 16.set.13

ESTADÃO – Último voto do STF pode livrar réus do mensalão

VALOR – Perfil garantista de Mello remonta a Collor

ZERO HORA – Mensalão: Ministro diz não se sentir pressionado para dar voto

O GLOBO – Governo e oposição querem fim do mensalão ainda em 2013

C. BRAZILIENSE – Julgamento do mérito deve ficar para 2014

ESTADO DE MINAS – Semana decisiva para Corte

FOLHA DE SP – Acolher recurso não significa absolvição, diz Celso de Mello

J. DO COMMERCIO (PE) – Mello deve se aposentar após decisão

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Barros Pinho

Aviso prévio

 

 

o sonho

uma borboleta

 

quando menos

se espera

a gente acorda

 

e vai-se

embora

sem deixar

aviso prévio

 

Biografia aqui.

ARTIGO

Vergonha multiplicada por muitas vezes mil

MIRANDASA (E-mail: mirandasa@uol.com.br )

Há uma expressão antiga, mas atualíssima, que joga ao redor de qualquer situação infamante, para quem quiser vestir a carapuça, o dito “é uma vergonha alheia”. É o que infringirá aos brasileiros o STF com a duvidosa concessão de recursos infringentes aos condenados do Mensalão.

Será uma vergonha multiplicada por muitas vezes mil diante da comunidade internacional.

Ansiosamente eu me seguro na frase “Ainda há juízes em Berlim” imortalizada por François Andrieux, no conto em versos, “O Moleiro de Sans-Souci”.

Baseou-se o poeta, na história lendária que se passou na Prússia no reinado Frederico II –  “o Grande” – conhecido na História como “déspota esclarecido”, por que além de notável estrategista militar foi um mecenas para os artistas e intelectuais da sua época, entre eles Voltaire.

O caso veio à idéia de construir um castelo em Potsdam, num vale aprazível da região, para o seu repouso. Um moinho de vento cobria parte da paisagem e o moleiro se recusou a abandonar o local, desprezando dinheiro e sinecura. Um puxassaco de Frederico instigou-o a castigar e expulsar o homem.

O soberano então mandou trazer o moleiro à sua presença e disse-lhe que queria comprar a propriedade, mesmo podendo tomá-la. Em resposta, ouviu do teimoso a frase “Como se não houvesse juízes em Berlim…” Frederico, compreensivo, deixou o moinho estar como estava.

Ninguém pode ter a certeza do que decidirá o ministro Celso de Mello com o seu voto no processo da Ação Penal 470, que se complicou pela politização do caso pelo PT-governo para salvar os quadrilheiros do seu partido já condenados pelo próprio Supremo,

Essa politização (ou ideologização, como querem alguns) deixa claro o que legou ao Direito Positivo Ruy Barbosa: “O pior de todos os juízes é o escolhido pelo governo, empenhado, em assuntos políticos, nas decisões judiciais”.

São alguns ministros, devedores da prebenda governamental, que levaram o STF a essa situação, apegando-se ao regimento interno da Corte, mesmo superado pela legislação vigente e a Constituição.

O voto faltante de Celso de Mello poderia corresponder ao argumento de milhões de brasileiros que crêem que ainda há juízes em Brasília. Serão magistrados que se levantam contra a impunidade dos criminosos que desviaram milhões de reais do Erário para manter um partido no poder.

Criminosos que usaram de artifícios antijurídicos e culpáveis, aplicando golpes para obter empréstimos públicos fraudulentos e comprar apoio ao governo Lula de parlamentares picaretas.

Por mais fanáticos que os pelegos do Partido dos Trabalhadores e de organizações satélites sejam, não têm condições de negar o protesto popular pela punição exemplar dos doze réus já condenados. E acho que assim deve estar vendo o ministro Celso de Mello, detentor do voto de Minerva.

Seria uma ‘vergonha alheia’ acolher uma chicana, desmoralizando irreparavelmente a Justiça no nosso País.