Arquivo do mês: maio 2013

Marisa Alverga

CERTEZA

Quando
Este amor for passado
E só a saudade restar
Como epitáfio gravado
No mausoléu do tempo,
Por certo lembrarás alguém
Que te quis bem,
Pois ninguém sendo amado
Como tu és,
Poderá deixar
De amar também.

Biografia de Marisa Alverga aqui.

ALEX POLARI DE ALVERGA

FOICES

 

E fosse o vento

como rajada

fio de foice

rente ao horizonte

cortando espigas e auroras.

E fosse fosco

o vidro que nos separasse

da paisagem

assim semeador

vulto impreciso pelas grades

colher o que?

que fímbria de esperança

que migalhas de posteridade

disputar com os ratos?

 

Biografia de Alex Polari de Alverga aqui.

Chamadas de 1ª página nos jornais de hoje, sábado, 25.mai.13

O GLOBO – CPI da Petrobras revela revolta da base

EST. DE MINAS – Dengue: MG tem mais de 125 mil casos e 70 mortes

ESTADÃO – ‘Toma decisão política quem tem voto’, diz Barroso

C. BRAZILIENSE– Ministro do STF defende o fim do voto secreto

ZERO HORA – Leite adulterado: Um vereador no centro da fraude

FOLHA DE SP – Dinheiro do caso Maluf é devolvido a SP após 15 anos

J. DO COMMERCIO (PE) – Planalto entra em campo contra CPI

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DEÍFILO GURGEL

Os Fantoches

 

O fantoche obedece cegamente

ao comando do manipulador: 

um tempo de sorrir e estar contente,

um tempo de chorar e sentir dor.

 

Mas, a face não muda. A gente sente 

olhando em seu olhar, seja o que for 

de morte e solidão, a inconsistente 

vida a que uma outra vida dá calor.

 

O homem dos fantoches é um sucesso: 

— Distinto público, eu agora peço… 

(Silencia a ululante patuléia).

 

A lágrima e o sorriso controlados

nos cordéis habilmente disfarçados. 

(Os fantoches no palco ou na platéia?).

 

Biografia de Deífilo Gurgel aqui.

Chamadas de 1ª página dos jornais de hoje, 6ª-feira, 24.mai.13

O GLOBO – Dilma indica Luís Barroso para o STF

EST. DE MINAS – Falta de acordo atrasa Comissão da Verdade

ESTADÃO – PMDB dá apoio decisivo para criação de CPI da Petrobras

C. BRAZILIENSE– Procurador-geral da República pede fim do voto secreto

ZERO HORA – Atravessador detalha fraude do leite

FOLHA DE SP – Após seis meses, Dilma indica ministro do STF

VALOR – Barroso vence forte disputa pelo Supremo

J. DO COMMERCIO (PE) – FGTS das domésticas pode chegar a 11,2%

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Adalgisa Nery

Poema natural

 

Abro os olhos, não vi nada

Fecho os olhos, já vi tudo.

O meu mundo é muito grande

E tudo que penso acontece.

Aquela nuvem lá em cima?

Eu estou lá,

Ela sou eu.

Ontem com aquele calor

Eu subi, me condensei

E, se o calor aumentar, choverá e cairei.

Abro os olhos, vejo um mar,

Fecho os olhos e já sei.

Aquela alga boiando, à procura de uma pedra?

Eu estou lá,

Ela sou eu.

Cansei do fundo do mar, subi, me desamparei.

Quando a maré baixar, na areia secarei,

Mais tarde em pó tomarei.

Abro os olhos novamente

E vejo a grande montanha,

Fecho os olhos e comento:

Aquela pedra dormindo, parada dentro do tempo,

Recebendo sol e chuva, desmanchando-se ao vento?

Eu estou lá,

Ela sou eu.

 

Biografia de Adalgisa Nery  aqui.

Chamadas de 1ª página nos jornais de hoje, 5ª-feira, 23.mai.13

O GLOBO – Ditadura militar: Governo rejeita rever Anistia

EST. DE MINAS – Vacina contra gripe em BH vira tormento

ESTADÃO – Cabral ameaça romper com Dilma

C. BRAZILIENSE – Câmara aprova internação involuntária de viciados

ZERO HORA – Índios querem duplicar sua área no Estado

FOLHA DE SP – Alckmin culpa governo Dilma por ‘epidemia’ das drogas

VALOR – Remessas de lucro pioram déficit externo

J. DO COMMERCIO (PE) – Relator propõe FGTS maior para domésticas

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Hilda Hilst

É crua a vida. Alça de tripa e metal

 

Nela despenco: pedra mórula ferida.

É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.

Como-a no livor da língua

Tinta,  lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me

No estreito-pouco

Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida

Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.

E perambulamos de coturno pela rua

Rubras, góticas, altas de corpo e copos.

A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.

E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima

Olho d’água, bebida. A Vida é líquida.

 

Alcoólicas (1990)

 

Biografia de Hilda Hilst aqui.

Adélia Prado

Briga no Beco

 

Encontrei meu marido às três horas da tarde

com uma loura oxidada.

Tomavam guaraná e riam, os desavergonhados.

Ataquei-os por trás com mãos e palavras

que nunca suspeitei conhecer.

Voaram três dentes e gritei, esmurrei-os e gritei,

gritei meu urro, a torrente de impropérios.

Ajuntou gente, escureceu o sol,

a poeira adensou como cortina.

Ele me pegava nos braços, nas pernas, na cintura,

sem me reter, peixe-piranha, bicho pior,

[fêmea-ofendida,

uivava.

Gritei, gritei, gritei, até a cratera exaurir-se.

Quando não pude mais fiquei rígida,

as mãos na garganta dele, nós dois petrificados,

eu sem tocar o chão. Quando abri os olhos,

as mulheres abriam alas, me tocando, me pedindo

[ graças.

Desde então faço milagres.

 

Biografia de Adelia Prado aqui.

ARTIGO

Atraso na MP dos Portos e 2 Eduardos conflitantes

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Entre os disparates permanentes e ininterruptos do PT-governo na sua incompetência e flutuante ideologia, assistimos à novela do marco regulatório do setor portuário, que o lulo-petismo combateu quando FHC tentou implementá-lo.

Assim se passaram 11 anos do primeiro intento privatista, tendo no permeio uma exdrúxula, demagógica e incompetente intervenção do ex-presidente Lula da Silva, com um decreto que impediu, por falso nacionalismo, investimentos e modernização dos portos.

A MP dos Portos veio atrasada e apressada, tendo como protagonistas dois Eduardos, o deputado Eduardo Campos e o senador Eduardo Braga. Além das posições conflitantes, mostraram uma contradição: Campos, deputado, defendeu o princípio federativo; Braga, senador, que deveria fazê-lo, defendeu o centralismo totalitário.

Vi, com total isenção, Eduardo Campos reivindicar a autonomia dos estados para gerir os seus portos, demandando, como bom pernambucano, a gerência do Porto de Suape; do outro lado, Eduardo Braga como tarefeiro do PT-governo, foi obrigado a recuar no seu relatório, permitindo aos Estados e municípios controlarem seus terminais portuários.

Nos capítulos que se sucederam assisti a debilidade dos articuladores de Dilma no Congresso, e a derrota acachapante da ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman – que arrogantemente afirmara não ceder qualquer item da MP original.

Apesar de um final feliz para os governistas o processo legislativo foi escandaloso, com subornos pela liberação de emendas parlamentares, enfrentamentos pessoais de deputados e o aviltamento do Senado ao Palácio do Planalto.

O Senado foi tão subalterno que até mesmo seu voto sofrerá veto a alguns artigos da MP que aprovou. Dilma, fazendo o diabo a perseguir a reeleição, não tocará na emenda que garantiu a presença integral dos serviços prestados pela Receita Federal, ANVISA e Ministério da Agricultura.

Entretanto, ávidos da centralização, setores lulo-petistas encastelados no Planalto pensam em trair a concessão federativa, impedindo que as novas licitações sejam feitas pelo Estado ou município, como poder concedente.

A rasteira que preparam obedece à cultura da pelegagem sindical ansiosa pelo faturamento político, pessoal ou grupista. Pouco importa aos pelegos a chiadeira dos companheiros estatistas.

É certamente necessária e de certa maneira urgente, a privatização dos portos para garantir o escoamento da produção, não somente para exportação como na circulação interna. Isto, porém, não deveria ser a custo da desmoralização do Poder Legislativo.

A aceleração para aprovar esta MP dos Portos sugere que o seu conteúdo não deveria ser apreciado condizentemente. Restam dúvidas quanto à proposição original: era realmente honesta ou trazia contrabandos no seu conteúdo?

A independência e a harmonia entre os três poderes da República são fundamentais para a Democracia, e devemos preservá-la. Parece-me, porém, que o PT-governo usa as Medidas Provisórias como ferramenta da sua marcha batida para um golpe de Estado.

Será que parlamentares sujeitos às ordens ‘de cima’ foram industriados a fazer inclusões ilegítimas no texto, dando margem aos vetos? Sem medo de errar, afirmo que mais de 80% dos parlamentares que aprovaram a MP desconhecem a realidade portuária e o próprio conjunto das providências que aprovaram.

Com a corrupção irradiada em todas as esferas do poder, as suspeitas permanecerão. O crescimento econômico não se resume a portos; como a infraestrutura é indigente, será que virão novas MPs para cada uma das malhas da rede econômica? Como tratar dos aeroportos, ferrovias, rodovias, enfim, dos meios de escoamento da produção? Assistiremos a reprise da repugnante negociação no Congresso?