Arquivo do mês: março 2011

Artigo

O Discurso do Rei e a gagueira política

MIRANDA SÁ E-mail mirandasa@uol.com.br

O filme “O Discurso do Rei” não foi feito para qualquer um, mas foi muito bem feito e merecedor dos oscars que recebeu. O resumo das bases do Império Britânico em momentos difíceis da política internacional, e os bastidores do trono, são mostrados com isenção e clareza, mesmo para quem não foi (ou não é) um bom estudante de História.

Na esteira da historicidade, um paradoxo: enquanto as nações européias mergulhavam na angústia de optar entre dois regimes, o fascismo itálico-germano e o comunismo soviético, o rádio vivia sua idade do ouro.

Como a televisão hoje, o rádio ocupava o lugar nas salas de visita, e, na sofreguidão em que acessamos a Internet para receber informações, o horário do noticiário atraía as atenções até nos bares e salões de bilhar.

Críticos mais acurados e historiadores sempre precavidos diante da contemporaneidade viram na fita o rádio como principal protagonista. Hitler usava-o com excepcional destreza, e Stálin criou um programa para levar um aparelho radiofônico a todas as casas da URSS.

N’ “O Discurso do Rei” o príncipe Albert Frederick Arthur George, gago, enfrentava os microfones com extrema dificuldade e por causa dessa deficiência não queria ser rei, coroado por renúncia do irmão, Edward, duque de Windsor, e a imposição do conselho imperial.

Aplaudindo a fita, divagamos sobre a gagueira, esse embaraço fônico, cuja origem até hoje dá trabalho aos médicos e cientistas.

Os gagos atraem a atenção dos que os cercam. A dificuldade de se expressar, mastigando as consoantes e ruminando as vogais é motivo de aflição e dó para a maioria das pessoas; para os maus, razão de hilaridade.

Ocorre que o distúrbio físico, segundo uma escola da psicanálise, é fácil de contrair e igualmente fácil de curar. Outros temem que a gagueira, como problema emocional, provoque um surto entre os que convivam ou conversem com um gago.

Em verdade, a grande maioria dos gagos se liberta do problema, adquirindo segurança em si próprio (como no caso de George VI) voltam a falar com desenvoltura, como ocorreu com várias personalidades da História, Moisés, Demóstenes, Aristóteles, Isaac Newton, Charles Darwin e Churchill.

Demóstenes foi considerado o maior orador da Antigüidade Clássica e a sua cura da gagueira ficou famosa. São poucos os alfabetizados que não ouviram falar que ele enchia a boca com seixinhos e, na beira-mar fazia discursos, repetindo as palavras mal pronunciadas à exaustão, até que conseguiu falar correta e empostadamente.

Como todos os embaraços corpóreos teem os seus correlatos comportamentais, temos, a meu modo de ver, a gaguez política, não fruto de problemas da infância ou timidez diante de determinadas situações ou conflitos afetivos.

A gagueira política é produto da insinceridade, desfaçatez e hipocrisia de muitos espertos que ocupam funções públicas, pelo voto ou compadrio. O vídeo televisivo que tudo revela, mostra com clareza quando um político pratica o popular “enrolation”.

Mal saídos de uma campanha eleitoral, assistimos nos programas da Justiça Eleitoral centenas de exemplos de atrapalhação; e, nos debates de cargos majoritários, visíveis abalos diante de questões mal resolvidas.

É inesquecível a cara da atual presidente Dilma Rousseff quando ouviu uma pergunta sobre o aborto, tema que ela já havia abordado, mas estava sendo remexido por grupos religiosos; seu adversário, José Serra, liberal e ex-ministro de FHC, se perturbou quando falaram de privatização..

Dilma e Serra não gaguejaram tanto quanto o fizeram outros candidatos, dezenas de fichas sujas, atribuindo-se honradez e honestidade, mentindo descaradamente diante do eleitorado…

Primeiras páginas_28.mar.11

O GLOBO – Fraudes no Saúde da Família

FOLHA DE SÃO PAULO – Corregedora de Justiça critica fraudes de juízes

O ESTADO DE SÃO PAULO –  Rebeldes avançam rumo à cidade de Kadafi

CORREIO BRAZILIENSE – Golpes no INSS com ajuda de lei

VALOR ECONÔMICO – União vai usar resolução do Senado contra guerra fiscal

JORNAL DO COMMERCIO (PE) – Dilma lança hoje em BH o Rede Cegonha

ESTADO DE MINAS – Brecha do INSS permite abuso nas pensões

ZERO HORA – Metade dos que recorreram ao STF não obteve mandato

Opiniões

Estilo Dilma

Mesmo dando continuidade às políticas de Lula, Dilma terá de encontrar seu estilo, ser capaz de galvanizar o povo e de delegar a gestão. (Renato Janine Ribeiro)

Líderes e seus limites

Em regimes presidencialistas, os políticos eleitos para o cargo mais alto mandem bem menos do que as pessoas comuns pensam. (Daniel Piza)

Blog-Jornalismo_Notícias de Hoje

Em 4 anos, R$ 662 mi desviados do SUS – Investigações do Ministério da Saúde de da Controladoria Geral da União atestam que, de 2007 a 2010, pelo menos R$ 662 milhões foram desviados do Fundo Nacional de Saúde, que financia o SUS. Entre as fraudes estão hospitais parados, pagamentos irregulares e superfaturamento. O prejuízo pode ser maior, pois só 2,5% das verbas transferidas para o fundo foram fiscalizados.

Réus ganham força e caso do mensalão é esvaziado – Uma série de articulações deve esvaziar totalmente o mensalão -o crime de formação de quadrilha, citado como central do esquema, vai prescrever na última semana de agosto. Réus que aguardam julgamento estão recuperando força política, ocupando cargos importantes em ministérios.

Sarney, o último a saber – Da biografia autorizada de José Sarney emerge um personagem que não sabia da doença de Tancredo Neves às vésperas da posse, não foi consultado sobre o Ministério que mais tarde herdaria e descobriu o fracasso do Plano Cruzado ao escutar uma conversa no banheiro. Sarney chama Ulysses Guimarães de “político menor”.

Marinha queria matar guerrilheiro, diz documento – Documentos do Comando da Marinha mostram que, no começo da década de 1970, havia a determinação prévia de matar os integrantes da guerrilha do Araguaia, e não apenas derrotar o maior foco da luta armada contra a ditadura. O Ministério da Defesa não comentou.

Inflação alta traz de volta velhos hábitos – Aumento do custo de vida começa a ressuscitar fantasmas como a famosa maquininha de reajustar preços em supermercados e a estocagem de alimentos. Nos restaurantes, cardápios são rasurados com frequência.

Donos usam laranjas em licitações de rádios e TVs – Levantamento feito pela Folha mostra que empresas abertas em nome de outras pessoas (laranjas) são frequentemente usadas por especuladores, igrejas e políticos para comprar concessões de rádio e TV em licitações do governo federal. Entre os “proprietários” há funcionários públicos, donas de casa e enfermeiro, pessoas com renda incompatível com os negócios. De 1997 a 2010, o Ministério das Comunicações ofereceu 1.872 concessões de rádio e 109 de TV.

Dúvidas sobre a Copa e as Olimpíadas – Os preparativos para a Copa e as Olimpíadas preocupam setores da sociedade civil, principalmente quanto ao legado que os megaeventos deixarão ao país. O custo dos estádios já cresceu 57,6%.

Recife mais caro – Preços sobem acima da meta de 4,5%, estipulada pelo BC e, apesar de o fenômeno ser racional, para a classe média a pressão parece maior. Um resultado diretamente ligado ao crescimento do PIB, mais acelerado que a média do País.

Felicidade à venda – Se as pressões da vida moderna deixam o brasileiro com o astral baixo, a indústria farmacêutica é só alegria. No ano passado, as vendas de remédios para combater depressão movimentaram US$ 647,8 milhões no país. Isso representa aumento de 138,5% em cinco anos. Entre os grandes consumidores, o salto só é menor que o da China. Desde o lançamento da fluoxetina no fim da década de 1980, o mercado avançou com a quebra de patentes e a disseminação do uso desses medicamentos.

Consumo no Centro-Oeste é o que mais cresce no Brasil – Os brasileiros que vivem em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e no Distrito Federal foram os que mais ampliaram os volumes de gastos com alimentos, bebidas e artigos de higiene e limpeza em relação às demais regiões em 2010 ante 2009, revela pesquisa da consultoria Kantar Worldpanel. A enquete, que visita semanalmente 8.200 famílias no País para fotografar o consumo, mostra que o desembolso dos lares do Centro-Oeste com uma cesta de 65 produtos cresceu 18% em 2010 em relação a 2009. Foi a maior variação entre as regiões e acima da média do País (10,4%).

Minas confisca R$ 530 milhões da máfia do ICMS – Bens de organizações criminosas que fraudaram a principal fonte de recursos do governo estadual foram incorporados aos cofres públicos. Lista inclui fazendas, casas, terrenos, carros importados, computadores e até pedras preciosas. Rombo do ICMS chega a R$ 28 bilhões. Estado de Minas teve acesso à relação dos mil maiores devedores.

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Necessária prevenção

Central nuclear de Angra vai rever segurança de encostas

A Eletronuclear vai contratar uma consultoria externa para reavaliar o risco de desabamento das encostas em torno das usinas atômicas de Angra dos Reis, informam Carla Rocha e Paulo Motta. O monitoramento de deslizamentos é contínuo, bem como os investimentos em obras de contenção. Mas, como admite a empresa, as tragédias do Japão -a tsunami que gerou a crise nuclear- e da Região Serrana do Rio -onde montanhas se desmancharam- ensinaram que o inimaginável acontece. “Essa reavaliação independente é para dar mais tranquilidade. Em todo o mundo, as usinas estão analisando qualquer possível vulnerabilidade”, diz Pedro Figueiredo, diretor de operações da Eletronuclear. O inimaginável já ocorreu em 1985, quando uma avalanche soterrou o Laboratório de Radioecologia, ao lado da usina.

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Falta de segurança

Mortes em obras do PAC estão acima dos padrões

Quarenta trabalhadores já morreram em 21 grandes obras do PAC, como hidrelétricas, rodovias e refinarias, nos últimos três anos. Só nas usinas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, houve seis mortes. Em 2010, a “taxa de mortalidade” nas 21 obras alcançou 19,79 por 100 mil trabalhadores, considerada “altíssima” pelo consultor da OIT no Brasil, Zuher Handa. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Paulo Safady Simão, admite que “as obras estão em ritmo muito acelerado, e as companhias não estão treinando pessoal”.

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Primeiras páginas_27.mar.11

O GLOBO – Central nuclear de Angra vai rever segurança de encostas

FOLHA DE SÃO PAULO – Donos usam laranjas em licitações de rádios e TVs

O ESTADO DE SÃO PAULO – Réus ganham força e caso do mensalão é esvaziado

CORREIO BRAZILIENSE – Inflação alta traz de volta velhos hábitos

JORNAL DO COMMERCIO (PE) – Ficha Limpa: 24 Estados podem mudar bancadas

ESTADO DE MINAS – Minas confisca R$ 530 milhões da máfia do ICMS

ZERO HORA – Dilma altera rota da política externa

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Mischa Maisky – Bach

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Leia aqui sobre Mischa Maisky

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Artigo

Pode, no Brasil, haver oposição para valer?

MIRANDA SÁ, jornalista (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

No campo libertário do Twitter mantive com a comunicadora @silvianetto um debate sobre o convite da presidente Dilma Roussef ao sociólogo e ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, para o almoço oferecido a Obama.

Silvia defendeu a ida, achando que é hora de FHC entrar na cena “pop”. Eu discordava; via o contrário, com a recusa de Lula em comparecer. Um opositor junto ao governo lhe daria armas para apontar em seu espelho distorcido e grande rival, como leviano e oportunista, desmerecendo-o.

O caso é que a intelectual paranaense @silvianetto tinha razão. O Sociólogo é uma personalidade única, não pode ser confundido com a oposição. Eu me auto-critiquei junto a minha debatedora.

Registro que considero imperdoável o capítulo da reeleição que FHC protagonizou, mas não lhe nego a armadura intelectual e moral que veste. Sua ida ao almoço de Obama e o brinde trocado com Dilma, valorizaram-no.

A oposição é um caso à parte. Nenhum dos seus líderes pode vacilar; devem atuar dentro do princípio que diz que “a mulher de César não precisa apenas ser honesta, mas parecer honesta”.

Não temo enfrentar as críticas que fatalmente virão (como chegam desde que voltei a escrever artigos) ao declarar que não me conformo com a oposição parlamentar. Vejo-a desnorteada, frouxa e inconsciente da sua função – agora definida pelo senador José Agripino ao escrever que “quem não vence eleições deve exercer o papel de oposição, fiscalizar o governo de modo responsável, e propor alternativas”

O modo responsável de comportamento não é votar em Tiririca para a Comissão de Cultura, nem em Maluf e Jaqueline Roriz para fazer a reforma política… Não é calar-se ao ver a Comissão de Ética punir Erenice Guerra com uma advertência, nem ver mensaleiros desfilarem impunes no Congresso.

A oposição parlamentar precisa atuar em várias frentes e saber distinguir quando mira no Poder Executivo precisa mensurar a representação de Dilma – em começo de governo e diferente de Lula. Deve estudar a política econômica analisando-a para discutir com segurança os seus erros, desvios e riscos.

Outra frente é a disputa pela opinião pública, precisando diferenciar-se da massa governista, enfrentando e ferindo a maciça propaganda governamental. Cada ação, cada discurso, cada entrevista, não suportam improvisos. Os princípios ideológicos e programáticos deverão ser uma marca registrada.

Faz-se necessária uma visão comum e homogênea sobre a reforma política, lembrando que os 44 milhões de eleitores que votaram como oposição ao governo Lula e ao lulo-petismo, não podem ser decepcionados.

É duro para o político profissional fazer oposição. Por isso, não gosto de políticos profissionais, crendo que a carreira política não necessita de “profissionalismo”, mas de vocação e sensibilidade.

Finalmente, é preciso olhar a História. Do Império até hoje, passando pela República Velha, ditaduras civis e militares e até o arremedo do que foi a “Nova República”, tivemos uma oposição honesta, sem colaboracionismo, nem oportunismo. Isto é o mínimo que esperamos da atual oposição. Que seja para valer..