Arquivo do mês: setembro 2008

Comentário (II)

Cuidado com seu voto!

Bertolt Brecht, dramaturgo e poeta alemão, falecido em 1956, dizia que “o pior analfabeto é o analfabeto político”. Nos dias que antecedem o pleito eleitoral de 5 de outubro, cabem reflexões.
O Ibope entrevistou 805 pessoas em Porto Alegre e 65% dos entrevistados afirmaram não saber o nome de seu candidato sufragado há quatro anos. Como fiscalizar a atuação, se não lembram de quem cobrar? Como ver se o político honrou o mandato, se não lembram quem mereceu o seu voto? Será desinteresse, alienação ou analfabetismo político?
Em pesquisas anteriores, 57% dos entrevistados já reiteraram não se interessar ou se interessar muito pouco por política. Diz Brecht: “Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas”.

Vilson Antonio Romero, jornalista (vilsonromero@yahoo.com.br)

ECONOMIA

Dólar cai 3% no dia e fecha a R$ 1,906

O dólar comercial fechou em forte queda de 2,95% nesta terça-feira, a R$ 1,906, mas ainda assim acumulou uma alta de 16,8% em setembro, maior valorização mensal em seis anos. A queda do dólar no dia refletiu a expectativa dos investidores quanto à aprovação do pacote de socorro ao setor financeiro nos Estados Unidos. No pregão anterior, a moeda saltou 6%, com a rejeição do plano pelo Congresso americano.

UolEconomia

A Crise

O grande problema hoje do mundo é a falta de liderança nos Estados Unidos. As bolsas podem se recuperar, o crédito voltaria a fluir algum dia, mas como interromper o clima de pânico que domina os mercados nas últimas horas se a maior economia mundial está desgovernada? George Bush já não governa nem mesmo o próprio partido. O mundo precisa interromper a escalada de medo.

Depois de um dia trágico em todos os mercados, a economia mundial continua sob o domínio do pânico. Pânico, em economia, é o pior elemento. Ele provoca vendas desordenadas de ativos, reações irracionais. Isso sim é que quebra um sistema bancário, havendo ou não razão para isso. A torcida é para que hoje, feriado judaico nos Estados Unidos e sem votação no Congresso, as autoridades americanas se organizem minimamente.

O economista Ilan Goldfajn acredita que um dos problemas é que a administração Bush e os defensores do projeto não conseguiram convencer, ainda, os integrantes do Congresso de que uma crise no mercado financeiro atinge brutalmente a economia real.

— A bolsa é apenas o mais visível dos sinais da crise; o pior é invisível, mas mais letal: a paralisia no mercado de crédito. Ninguém empresta a ninguém hoje.
Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, acha que o mercado está vivendo um movimento perigoso de desmonte de posições, e que ainda há chance de que se faça alguma coisa pelo Congresso.

— Mas o tempo está ficando cada vez mais curto.

O mercado está apostando que quarta-feira um novo projeto pode ser apresentado ao Congresso, desde que com modificações, mas a Câmara dos Deputados não tem sessão marcada antes de quinta. Os mercados financeiros estão dependurados num trapézio sem rede de segurança.

Leia o comentário de Míriam Leitão na íntegra clicando abaixo.

PAÍS SEM GOVERNO

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Fonte: chargeonline.com.br/Duke

Míriam Leitão comenta

Rejeição mostra nova crise, a política

Os mercados financeiros estão sob a síndrome do pânico. Quando isso acontece, as reações não são racionais. A queda de ontem nos Estados Unidos, no Brasil e pelo mundo afora foi exagerada. O ensaio de alta que houve na manhã desta terça-feira na Europa também faz pouco sentido.

Ontem o raciocínio era que a rejeição do pacote na Câmara era o fim do pacote de socorro e o fim de tudo. Não era. Agora há a idéia de retomar a votação pelo Senado. A votação pode até ser retomada, mas não haverá solução mágica.

O processo de votação vai recomeçar no Congresso, mas permanecem as razões que levaram à derrota na votação de ontem. Há uma rebeldia na base republicana. Foram os republicanos que derrotaram o governo. Isso acontece porque há o colapso da autoridade do presidente Bush nesse final de mandato. Todo governo chega ao final fraco, mas Bush não comanda nem seu próprio partido.

É uma crise de crédito, uma crise de confiança, mas é uma crise política também. Essa é uma mistura perigosa, porque trata-se de uma crise financeira aguda e de uma falta de liderança política. São dois fios desencapados.

A crise está se espalhando. Outros bancos em outros países da Europa estão sendo chacoalhados, como na França, pelos mesmos motivos: a aplicação dos bancos em ativos duvidosos.

Assista clicando ao lado Crise.

Artigo publicado no JH1ªEDIÇÃO

Pela liberdade de imprensa, sempre

MIRANDA SÁ, jornalista
E-mail: mirandasa@uol.com.br


Nunca é demais defender a liberdade de imprensa porque entre as liberdades asseguradas pela democracia o direito do povo à informação é fundamental. No Brasil, onde ainda engatinhamos na planície dos direitos da cidadania, temos de positivo o que nos assegura a Constituição.

A Lei Magna deveria estar presente no cotidiano de todos os brasileiros. Estuda-la no currículo escolar deveria ser um dever da escola fundamental e o seu conhecimento uma obrigação na vida pública.

Defendo a tese de que cada família deve possuir um exemplar da Constituição, temos um, na nossa casa, bem visível na estante. E como é um domicílio de comunicadores, jornalistas e musicistas, estamos sempre folheando o livrinho que traz o oferecimento de um querido amigo, Lavoisier Maia.

Quando vamos ao artigo 5º, temos garantida a liberdade de expressão e informação, basilares para garantir uma imprensa livre. No item 5 deste artigo encontramos: “É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de indenização por dano material, moral ou à imagem.”.

No item 9, temos: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. E o item 14 encerra a substância do jornalismo numa verdadeira democracia: “É assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte quando necessário ao exercício profissional.”.

É impossível que o ministro Nelson Jobim, um advogado esperto, ex-parlamentar e ministro aposentado do STF desconheça isto. Ele jamais poderia sugerir que um jornalista revele suas fontes. Isto independe de uma lei, mas de atentar contra a Constituição.

Na situação que se nos depara, é constrangedor que Jobim não esteja sozinho, atrás de si, abanando os rabos, os sabujos do lulismo-petismo sempre dispostos a enquadrar a mídia, “controlando” a imprensa e “disciplinando” os jornalistas…

Essa aberração já foi tentada uma vez com a proposta do PT-governo de criar-se um Conselho Nacional de Imprensa, que caiu por terra sob a pressão popular. Desta vez a coisa fica mais desatinada, pois a preocupação que move o lulismo-petismo é defender o banqueiro Daniel Dantas, que não é flor que se cheire.

Dão-se às mãos ministros e juízes somando argumentos contra a quebra do sigilo telefônico durante as investigações policiais. Os suspeitos perambularão incólumes com o apoio do Executivo e do Judiciário.

Até entendemos que o Executivo, sob influência dos lobistas de Daniel Dantas assuma esta posição, e ninguém melhor do que Nelson Jobim para executar esta abjeta tarefa. É triste, porém, ver-se o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, participar disto.

Mendes foi envolvido na história por um grampo armado contra si, e a revelação de uma conversa mantida por ele com o senador Demóstenes Torres. Quem pode afirmar que não se tratou de uma armação para envolvê-lo no imbróglio? Mas ele entrou na história e dá força ao projeto anti-grampo que traz no bojo o atentado contra a liberdade de imprensa.

Cabe-nos perguntar o que fez o Poder Judiciário quando o ex-ministro Antonio Palocci quebrou criminosamente o sigilo do caseiro Francenildo? O que fizeram os magistrados para punir as cuecas e maletas cheias de dinheiro suspeito? E porque os mensaleiros e sanguessugas flanam impunes, rindo do tempo e da Justiça?

Agora mesmo, no caso do Grupo Opportunity, porque o STF não toma medidas contra as remessas ilegais de dinheiro para o exterior? E se omite diante da volta desse dinheiro, como se estrangeiro fosse, para gozar vantagens tributárias?

Não são somente os arapongas e os grampos oficiais, oficiosos e particulares que deveriam angustiar os homens do poder, até pela banalização deste crime contra o Estado de Direito. Pior, muito pior é a omissão deles próprios quando alguém ameaça a democracia rasgando a Constituição.

FRASE DA VEZ_1/30

“O grande problema, na crise, é que os EUA não têm um líder”.

Miriam Leitão, jornalista

OPINIÃO

Pela primeira vez, o capitalismo enfrenta crise global sem ter adversário. Não há movimento social e político capaz de confrontar o capital e sua forma de distribuir riqueza. E a premissa desmorona: não há harmonia preestabelecida entre capitalismo e democracia.

Marcos Nobre, jornalista

NOTICIÁRIO

Divergências marcam novo acordo da língua portuguesa
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou ontem, na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. A mudança é motivo de desacordo entre os próprios acadêmicos, a exemplo de Arnaldo Niskier e Carlos Heitor Cony. “A língua é feita pelo povo”, diz Cony.

Endividamento em alta
O endividamento das famílias brasileiras mais do que dobrou desde 2003, passando de 12,2% para 26,5% da massa salarial. O comprometimento de renda com o pagamento da dívida também passou de 22,9% para 31,3% no período.

Lula já admite ‘pequeno aperto’ para o Brasil
O presidente Lula admitiu que a crise americana vai reduzir o crédito no mundo e que pode causar “um pequeno aperto” no Brasil. Mas disse que o país não pode ser vítima do cassino montado em Wall Street. O ministro Guido Mantega disse que a falta de crédito pode prejudicar exportações. Analistas já prevêem que o PIB de 2009 ficará abaixo de 3%.

Governo nega pacote
Minutos depois de o plano americano ser rejeitado no Congresso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou que o governo brasileiro esteja costurando algum pacote anticrise. Mas reconheceu que os investimentos podem ser prejudicados pela escassez de crédito internacional O presidente Lula pediu responsabilidade dos EUA.

Desmatamento sobe 133%; Incra lidera ranking
O desmatamento na Amazônia em agosto foi 133% superior ao verificado em julho. Foram 756,7 km2, área que equivale a mais da metade da cidade de São Paulo. Assentamentos federais de reforma agrária são os seis primeiros do ranking dos cem maiores desmatadores da Amazônia. Multado em R$266 milhões, o Incra vai recorrer.

Nacionalizações avançam na Europa
Depois da compra de 49% do belgo-holandês Fortis, no domingo, governos europeus anunciaram ontem novos socorros a instituições. O governo britânico nacionalizou a carteira de hipotecas e empréstimos da Bradford & Bingley, a Alemanha deu crédito à gigante hipotecária Hypo Real Estate e até a Islândia estatizou o banco Glitnir, terceiro maior do país.

DÁ PARA ACREDITAR?

Governo reitera solidez da economia brasileira

Enquanto o agravamento da crise financeira provocava estragos nos mercados, várias autoridades vinham a público para se manifestar em defesa dos fundamentos da economia brasileira, na tentativa de acalmar os investidores. Minutos depois de o Congresso dos Estados Unidos rejeitar o pacote de socorro ao sistema financeiro norte-americano, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o país está preparado para enfrentar a turbulência internacional. Para o ministro, o plano do governo dos EUA deve ser aprovado “em uma segunda votação”.